Entremeios escrita por DrixySB


Capítulo 5
Direto ao ponto


Notas iniciais do capítulo

Enfim, Fitz e Will ficam frente a frente e conversam sobre o "elefante na sala de estar".



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O astronauta adentrou o laboratório com passos incertos, aproximando-se gradativamente de Fitz.

— Não estou te atrapalhando, certo?

— Não – Fitz apressou-se em dizer – sente-se! – continuou, solícito, indicando a ele a cadeira que Daisy ocupava minutos antes– posso te ajudar em algo?

Will reparou que o engenheiro continuava focado no que quer que estivesse fazendo, limitando-se a lançar breves olhares em sua direção. Ele puxou a cadeira e se acomodou ao lado de Fitz.

— Jemma me deu isso – disse, tirando o smartphone de dentro do bolso e o depositando sobre a mesa na qual o engenheiro trabalhava.

— Conseguiu decifrá-lo?

— Mais ou menos... É complicado. Jemma me disse para acessar a internet por ele e me atualizar, você sabe, no que eu perdi.

— E então...?

— A Terra está pior do que quando eu parti, anos atrás – o astronauta bufou.

Fitz não conseguiu reprimir um sorriso divertido.

— Boa sorte. Isto é, com o que vai descobrir.

— Já estou ansioso – devolveu, irônico – o problema é que... eu começo a mexer nisso e algumas horas depois, ele apaga.

— Aham, a bateria descarrega - comentou Fitz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E de fato parecia ser. Só não para Will que desconhecia aqueles aparelhos modernos.

— Mas aquele que Jemma me mostrou, no outro planeta, levou meses para descarregar… - tornou, confuso.

— Isso é porque ela usou uma das baterias aprimoradas por mim.

— Oh... Ela deve ter mencionado isso. Me lembro de ter ouvido alguma coisa nesse sentido… - ele tentou puxar pela memória.

— Bem – Fitz afastou-se um pouco de sua mesa, empurrando a cadeira para trás, e então abriu uma gaveta, retirando um objeto acinzentado e retangular de dentro dela – olha, pode ficar – disse, empurrando a bateria de celular para Will – essa é uma das aprimoradas. Vai durar por meses.

Will a tomou em sua mão, encarando como se fosse um objeto de outro mundo. E era, de certa forma. O engenheiro o observou, sem entender sua confusão, então se deu conta de que ele não fazia ideia de como colocá-la no celular.

— Veja, é assim – Disse, mostrando a ele como abrir o celular e inserir a bateria. Então, entregou o aparelho em suas mãos novamente.

— Obrigado – Will respondeu, ainda desnorteado por conta de toda a sofisticada tecnologia presente à sua volta – você quer dizer que todos os celulares têm baterias que duram menos de um dia, mas... Você aprimorou estas para que durassem por meses?

Fitz assentiu.

— Ah... É uma descoberta e tanto. Revolucionário, por certo. Deve ter faturado uma grana com isso – o astronauta falava pausadamente, soando levemente apático. Efeitos colaterais de sua estadia em Maveth.

— Digamos que... Meu futuro está garantido. Vendi meu invento para uma companhia high-tech de renome. Terei uma aposentadoria confortável e precoce, provavelmente. Sabe, a SHIELD não paga muito bem... – ele disse, entre orgulhoso e descontraído.

— E isso? – apontou, um tanto enojado para a mão sintética na qual Fitz trabalhava.

— É do Coulson.

— E por que ele precisa de uma?

— Talvez porque a original tenha sido decepada?

Will o encarou, ligeiramente atordoado.

— Peraí? Ele não tem uma das mãos? A dele é...?

— Sintética. Feita por mim.

— Wow! – o astronauta coçou a nuca, com uma interrogação no olhar, e tocou a mão robótica sobre a mesa, tentando vencer sua aversão – parece tão real.

— Obrigado! – Fitz tornou com sinceridade.

— Ela parece perfeita, por que continua trabalhando nela?

— Eu estou apenas fazendo melhorias, trabalhando em algumas especificidades para deixá-la o mais próxima do real possível e... Bem, como ele é o diretor da SHIELD e fã do Capitão América, eu pensei que seria uma boa ideia fazer isso... Além de um ótimo presente.

Will não sabia se ficava admirado ou perplexo diante do que estava vendo. O artefato robótico pertencente a Coulson e desenvolvido por Fitz lançava um escudo que muito se assemelhava a uma projeção holográfica. Era sólida, no entanto. Simplesmente impressionante.

— Excelente meio de autodefesa.

O astronauta ficou embasbacado.

— Incrível!

— Não posso dizer o contrário – disse Fitz, sem falsa modéstia.

Tomado pela curiosidade e visivelmente impressionado com o talento do jovem engenheiro, Will não conseguiu se conter, verbalizando a pergunta que inquietava sua mente.

— Sendo assim tão inteligente como é e tendo ganhado tanto dinheiro com essas baterias... Por que permanece na SHIELD se o salário não é dos melhores?

O engenheiro olhou para cima, refletindo antes de responder.

— Deve ser… Por amor.

— Oh! – Will achou ter compreendido o que ele quis expressar com aquela resposta – Jemma. – concluiu.

Fitz tornou a cabeça na direção do astronauta, atarantado.

— Não... Isto é, não foi isso que eu quis dizer... É que... A SHIELD é o meu lar. É como uma família para mim – pigarreou, atrapalhando-se um pouco na escolha das palavras.

— Entendi – Will baixou a cabeça – Sabe, eu acho que deveríamos conversar sobre isso – ele falou de uma vez, sem pensar muito.

Sabendo que era inútil resistir, Fitz afastou-se da mesa com um longo suspiro e recostou-se no respaldo da cadeira.

— Sobre o quê exatamente? – inquiriu, meio a contragosto.

— Jemma me disse que vocês não estão se falando muito.

O engenheiro desviou o olhar, encarando um ponto qualquer no chão.

— Eu quero dar espaço a ela. Não quero que se sinta pressionada a tomar alguma decisão... – respirou fundo antes de prosseguir – e, especialmente, não quero que tome uma decisão impelida pela gratidão.

Will ouviu em silêncio e sacudiu a cabeça, compreendendo aonde o outro queria chegar.

— Fitz, eu não sei se ela lhe contou toda a história... Sobre o que aconteceu no outro planeta. Mas ela nunca se esqueceu de você – disse, olhando profundamente nos olhos do engenheiro, de modo que não houvesse dúvidas de que estava dizendo a verdade – por vezes... Eu a ouvi dizer seu nome enquanto dormia – continuou, um tanto reticente e engolindo em seco – ela ainda sonhava com você.

— Por favor, Will – Fitz interrompeu, erguendo uma mão, sinalizando para que o outro parasse – me desculpe, mas a última coisa de que preciso é dessa imagem mental.

— Sinto muito – o astronauta cerrou os olhos, sacudindo a cabeça. Tanto tempo distante da Terra o fez esquecer que era necessário certa sutileza na abordagem de tópicos delicados – o que eu quero dizer... Bem, se ela ficasse com alguém por gratidão, e somente por gratidão… Seria comigo.

Fitz, que havia desviado novamente o olhar, desconfortável demais com aquela conversa para encarar o astronauta olhos nos olhos, ergueu a cabeça abruptamente e o fitou com um semblante surpreso.

— Não sei o que ela te disse, mas não é a mim que ela ama. Ela ama você - Will persistiu.

O engenheiro engoliu em seco, rememorando a conversa que teve com Jemma no laboratório antes de darem seu primeiro beijo. Afinal, ela havia dito, um tanto incerta, que amava Will.

— Como pode ter certeza do que ela sente? – Fitz indagou. Uma nota de ceticismo se destacando em seu tom de voz.

— Porque ela mesma me falou.

De repente, o engenheiro sentiu como se as palavras lhe escapassem. Sem saber mais como prosseguir com aquela conversa, limitou-se a ficar em silêncio.

— Me perdoe por perguntar – Will passou a mão pelo rosto, odiando a si mesmo por isso – mas vamos supor que, em um universo totalmente hipotético, ela viesse a ficar comigo... O que você faria?

A pergunta o pegou desprevenido. Ele suspirou, ponderando suas palavras antes de responder.

— A felicidade da Jemma vem antes da minha. Se ela estiver feliz, para mim, é o que importa. – o engenheiro encolheu os ombros – Quero que ela sempre se sinta livre para decidir o que é melhor para si – ele fez uma pausa antes de continuar – Mas eu também sou humano. E, sinceramente, preferia não ter de ver isso... De modo que me afastaria.

O outro meneou a cabeça, pensativo.

— Não te julgo por isso. Acho que é o que qualquer um faria – Will tornou, complacente, admirando a postura e sinceridade de Fitz – então... Espero que você e a Jemma... Bem, espero que conversem. Ela sempre deixou claro o que sentia... No outro planeta, ela não tinha escolha...

— Will, você vai me perdoar, mas... Eu acho que não é certo falarmos sobre a Jemma sem ela estar presente e sem que saiba que estamos conversando sobre ela. Espero que entenda.

— Oh... Claro! – o astronauta assentiu e desviou o olhar, meio sem jeito, percebendo que precisava treinar mais suas habilidades de comunicação. Era necessário ser mais comedido – obrigado por essa conversa, Fitz – disse, de maneira honesta.

— Disponha – o engenheiro respondeu com um sorriso enviesado e gentil.

Will já se preparava para sair do laboratório quando se lembrou do colar de Jemma em seu bolso. Virou-se e caminhou na direção de Fitz novamente, de modo a lhe entregar o adereço.

— Pode entregar isso à Jemma?

Fitz analisou o acessório por um instante, antes de tomá-lo em sua mão, surpreso que o astronauta ainda não houvesse devolvido à Simmons.

— Não está pensando em ir embora da base sem se despedir dela, não é? – ele franziu o cenho, fitando o outro com uma expressão inquisitiva e incisiva – isso a devastaria.

— Não! – o outro tratou de elucidar – de jeito algum. Eu só acho que, como foi você quem o encontrou naquele dia que foi me salvar... Você é quem deveria devolver a ela.

Ele recordou-se do momento em que encontrou o colar. Foi enquanto caminhava com Will em direção ao exato local onde o portal iria se abrir. O engenheiro tratou de pedir para que Will o guardasse em seu bolso de modo a devolver para Jemma mais tarde. Havia algo de simbólico naquele gesto. Agora Will conseguia perceber as nobres intenções de Fitz por trás daquele pedido.

— Ok! – Fitz concordou com simplicidade, ainda mantendo o objeto em sua mão.

Will rumou para a saída do laboratório, outra vez. Na porta, deu uma última olhada para Fitz por cima do ombro.

— Obrigado por ter me salvado. De verdade! Jamais poderei agradecer o suficiente.

Os cantos dos lábios do engenheiro se curvaram em um sorriso genuíno.

— Não foi nada.

Assim que o astronauta deixou o recinto, saindo de seu campo de visão, Fitz observou o colar de Jemma sobre a palma da mão, deslizando suavemente a ponta do dedo indicador pelo simples, porém elegante adereço. Respirando fundo e pensando acerca das palavras que Will acabara de lhe dizer, Fitz perguntou-se quanto de veracidade havia naquelas afirmações. Naquele momento, desejou que se tratassem da mais pura, genuína e irrevogável verdade.


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Notas finais do capítulo

No próximo, Jemma relembra um pouco mais do que aconteceu "naquela noite" entre ela e Fitz e a breve conversa que teve com Bobbi.



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