Entremeios escrita por DrixySB


Capítulo 4
Conversas paralelas


Notas iniciais do capítulo

Daisy tenta consolar Fitz enquanto Bobbi e Hunter conversam a respeito de Will



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Sentada despreocupadamente em uma cadeira giratória um tanto ruidosa, Daisy tagarelava sem parar. Naquele momento, Fitz ainda conseguia vislumbrar algo da boa e velha Skye que conhecera anos antes e que não tinha nem mesmo uma remota ideia de seu passado. Era bom ver como ela permanecia essencialmente a mesma, ainda que houvesse mudado tanto nos últimos anos. Inclusive, tendo adquirido poderes.

O único porém, é que ela estava sendo deveras irritante.

— Sério, eu não sei o que a Jemma viu naquele cara... – ela refletiu por um momento antes de prosseguir – bem... Não é que ela tenha visto algo de fato, ele era o último homem daquele planeta, ok. Mas ela jamais ficaria com ele neste mundo. Definitivamente, ele não é o tipo da Simmons. Quer dizer, ele é chato, tedioso, não ri de piadas. Eu tentei contar uma piada pra ele... Não sei se ele é lento para entender ou se simplesmente não gostou… Provavelmente, tenha sido a segunda alternativa, mas independente do caso, ninguém merece ficar com uma pessoa sem senso de humor. Ainda mais alguém tão doce e divertida quanto a Jemma. E ele está sempre de cara amarrada, anda pelos corredores bufando, reclamando da comida, nunca está satisfeito...

— Ele reclama porque a comida faz mal a ele... Não está acostumado depois de mais de uma década sem ingerir alimentos frescos – Fitz observou, respirando fundo e contando até dez mentalmente, procurando se concentrar única e exclusivamente na mão robótica de Coulson que ainda carecia de alguns ajustes finais. Porém, o tagarelar incessante de Daisy estava lhe fazendo perder a paciência.

— Mesmo assim. O cara é ingrato. Fala mal do playground, diz que é muito fechado e claustrofóbico... – ela revirou os olhos.

— Não é mesmo o ambiente ideal para que alguém, na condição dele, se recupere – ainda que incomodado com aquele colóquio, Fitz mantinha o semblante plácido e o tom de voz ameno.

— Bem, você se lembra como a Jemma ficou quando retornou. Não podia ficar em meio a muita gente, pois isso a distraia. Qualquer ruído parecia alto demais. Se ele sair, vai sofrer com todo o barulho e agitação da cidade. A própria Jemma já disse isso a ele e, adivinha? Ele rolou os olhos como sempre. Sério, nunca vi alguém tão mal-humorado. Como eu ia dizendo, ele não faz o tipo dela. Eles só ficaram juntos porque... Bem, sei lá! Era a única coisa que podiam fazer para passar o tempo naquele planeta. Ela não tinha escolha, achava que nunca mais iria voltar. Mas JAMAIS ela ficaria com ele aqui, na Terra. Não estou dizendo que ele não tem uma boa aparência porque, de fato, ele tem. Ainda mais pra alguém que passou fome e sofreu outras privações em um planeta inóspito e isolado durante tantos anos, mas...

— Daisy! – Fitz a interrompeu bruscamente, alteando o tom de voz e lançando um olhar contundente em sua direção – não está ajudando. Se era essa a sua intenção, eu sinto muito, mas... Não está sendo bem-sucedida.

— Oh, me desculpe – a inumana mordeu os lábios, um tanto constrangida diante da aspereza de seu amigo.

No silêncio que se seguiu, ela o observou, meio sem se dar conta. Fitz estava trabalhando, aparentemente muito concentrado, mas o pouco que Daisy conseguiu capturar de seus olhos – tão opacos, desprovido do brilho de outrora – era certo dizer que a cabeça dele se encontrava em outro lugar.

— Sabe, eu não sei o que deu em você e na Jemma. Depois que transaram, eu esperava que fossem se abrir mais um com outro... Sem duplo sentido aqui, mas o caso é que vocês se afastaram ainda mais - a inumana comentou de modo casual.

Atônito diante daquelas palavras, Fitz tornou a olhar para Daisy. Os olhos ligeiramente saltados e os lábios entreabrindo-se gradualmente. Foi então que ela se deu conta de que tinha falado algo que não deveria.

— Oh, me desculpe... A Jemma me contou e... Ela não fez por mal. Precisava desabafar e... Garotas conversam sobre essas coisas, você sabe - ela gaguejou.

— Ok, eu entendo – Fitz a interrompeu outra vez, agora mais ríspido do que antes – entendo porque a Jemma sentiu necessidade de te contar, mas... Daisy – ele olhou profundamente em seus olhos – eu não quero ser desagradável, mas agradeceria se... Bem, se não...

— Se metesse na vida de vocês. Sim, claro – ela balançou a cabeça freneticamente, ajeitando sua postura na cadeira em uma vã tentativa de parecer mais séria e madura – sinto muito, Fitz.

— Tudo bem! – disse, procurando esconder sua frustração diante de tudo o que estava acontecendo ao seu redor e que era simplesmente impossível ignorar.

— Se quiser conversar... – ela encolheu os ombros.

— Eu estou bem. De verdade – O engenheiro lançou um sorriso para a sua amiga, mas a melancolia presente em seu olhar não passou despercebida por ela. Subitamente, os olhos de Fitz desviaram da inumana para a figura que se encontrava na entrada do laboratório. Seu semblante esmoreceu.

— Oi, Fitz... Daisy... – Will cumprimentou a ambos, ainda parado na soleira da porta – será que eu poderia… Conversar com você? – disse, dirigindo-se ao engenheiro.

— Claro. Entre! – Fitz respondeu, disfarçando o repentino desconforto que se abateu sobre ele.

— Ah, bem... Eu tenho que treinar com a May – Daisy levantou-se da cadeira, inventando uma desculpa qualquer – sabem, ela ainda me obriga a treinar mesmo depois de tudo. Mesmo depois de adquirir meus poderes, enfim... Eu já vou! – concluiu ao perceber que já estava se tornando inconveniente. Sorriu forçosamente para Will ao cruzar com ele na porta, mas ele não devolveu seu sorriso. Assim que deu as costas a ele, a inumana revirou os olhos e sussurrou “chato!” ao mesmo tempo em que andava na direção da sala de treinamento.

*

— Olha lá! Ele está indo fazer terrorismo psicológico com o Fitz.

Bobbi, que até então tinha sua atenção inteiramente voltada para a tela do tablet – lendo respeito de novos inumanos que Daisy havia rastreado com o auxílio de Mack e de uma sofisticada tecnologia desenvolvida por Fitz – ergueu o olhar na direção de Hunter. Este se encontrava de pé, recostado no batente da porta. De onde ele estava, tinha uma visão privilegiada do laboratório de Fitz e Simmons.

— De quem está falando?

— Do babaca cara de porco. Ele está indo lá, ao laboratório, atormentar o Fitz – o mercenário apontou naquela direção com uma cólera desmedida – sério, Bobbi, eu vou lá impedi-lo.

Ela revirou os olhos.

— Por favor, Hunter! Não se meta.

— Eu tenho que...

— Tente e eu te derrubo em um minuto – ela o cortou abruptamente.

A fúria com que Lance encarava o astronauta cedeu espaço à confusão no exato momento em que ele tornou o olhar na direção da ex-esposa. Sua expressão alterou-se gradativamente. Agora, Hunter parecia pasmado.

— Seria capaz?

— Quer pagar pra ver? – ela o desafiou, arqueando as sobrancelhas.

Olhando uma última vez na direção em que Will e Fitz conversavam, Hunter respirou fundo, então caminhou com passos vagarosos até onde Bobbi se encontrava, sentando-se em uma cadeira próxima a ela.

— Eu odeio esse cara, você não?

— A mim, parece um sujeito bem decente – respondeu Bobbi com certa indiferença, novamente preocupada em consultar no tablet a lista de nomes e a localização dos inumanos recém-descobertos.

— Decente, o cara de porquinho? Você só pode estar louca.

Ela olhou de esguelha para ex-marido, controlando-se para não perder a paciência com ele.

— Não tem respaldo para odiá-lo, Hunter. Mal o conhece.

— Mas ele é um imbecil. Nem é preciso conhecê-lo bem para descobrir isso. Ele nos olha como se fôssemos de outro planeta.

Bobbi riu.

— De certa forma, dá para entender.

— O que eu quero dizer é que ele parece se sentir superior a nós.

— Coisas da sua cabeça.

— Acha que estou inventando isso? - ele encarou a ex-esposa com um ar inquisitivo.

— Ah, Lance – ela pousou o tablet sobre o colo – você está baseando essa afirmação em seu pré-conceito sobre ele. Sério, eu admiro a sua amizade e lealdade por Fitz, mas isso é ridículo e está passando dos limites. O próprio Fitz o trata de maneira digna.

— Hey! Isso não tem nada a ver com o Fitz. Eu não vou com a cara dele porque ele me encara como se eu fosse um inseto.

Bobbi franziu o cenho diante das justificativas rasas que o mercenário apresentava para explanar seu ódio por Will.

— Ok, eu não gosto do jeito dele e também não gosto do fato de ele estar no meio de Fitz e Simmons. Satisfeita? – Hunter despejou as palavras, não se preocupando mais em omitir o real motivo de seu desprezo e repúdio. Ele não poderia mentir para Bobbi, afinal.

Ela balançou a cabeça, reprovando aquela atitude.

— Não devemos nos meter nisso, Hunter. A Jemma sabe o que é melhor pra ela.

— O Fitz atravessou a porra do universo para salvá-la...

— Como eu disse – Bobbi alteou o tom de voz, o cortando – Jemma sabe o que é melhor para ela. E é perfeitamente capaz de tomar suas próprias decisões.

Lance revirou os olhos e sacudiu os ombros com indiferença.

— Não sei por que trouxeram esse cara daquele planeta desgraçado pra cá. Ele já tinha até se acostumado a viver naquele lugar mesmo - comentou, sem atentar para a gravidade contida em suas palavras.

O dedo de Bobbi, que deslizava pela tela do tablet, parou de modo abrupto no exato instante em que Hunter proferiu aquela sentença de maneira tão irresponsável. A agente ergueu a cabeça a fim de fitar o ex-marido novamente.

— Não pode estar falando sério, Hunter! Ouça a si mesmo. Por Deus, ele é um ser humano!

— OK! – ele gritou – eu fui longe demais. Eu não quis dizer isso...

— É bom mesmo! – Bobbi rebateu, com uma nota acentuada de censura em sua voz, ainda sem tirar os olhos dele.

— Não me olhe assim, docinho. Só queria que as coisas... Enfim, que as coisas fossem mais fáceis para Fitz e Simmons – ele jogou as mãos para o alto – já me cansei de vê-los sofrer. E o Fitz... Bem, ele é o cara mais decente que já conheci e não estou acostumado com caras decentes.

Bobbi conteve uma risada.

— Odeio vê-lo nessa bad vibe.

— Aposto que ele está em uma vibe melhor do que aquela em que se encontrava semanas atrás, sem saber do paradeiro da Simmons. Agora ele sabe que ela está viva, bem e conosco. Pode ter certeza de que isso já é o suficiente para acalentar seu coração e deixá-lo mais alegre

— Alegre, mas não feliz. Você sabe que ele ama a Simmons.

— Sim, eu sei. E se você me perguntar, a verdade é que torço por ela e Fitz. Mas torno a repetir: essa é uma decisão que só cabe a ela – De súbito, uma conversa que tivera com Jemma poucos dias atrás retornou com força à sua mente. Uma conversa na qual nem todas as palavras proferidas foram exatamente amistosas...

— Não quero nem ver se ela escolher o cara de porco.

Bobbi espantou aquela lembrança ao ouvir novamente a voz de Hunter.

— Primeiro, já pode parar com o apelido. É infantil da sua parte. Segundo, eu acho que o Fitz vai entender o lado da Simmons. Ele quer a felicidade dela. Isso é… Nobre, louvável. Fitz é um sujeito incomparável.

— Eu sei disso, mas ele vai sofrer... Ter que ver aqueles dois juntos. Argh!  O pensamento me embrulha o estômago.

Desta vez, Bobbi não conseguiu comprimir o sorriso. Ela achou até mesmo admirável o quanto Lance se preocupava com o amigo. Tomada por um repentino afeto diante da lealdade de seu ex-marido, a agente tomou a mão dele na sua, entrelaçando seus dedos em um gesto suave e carinhoso.

— Acho que não vai precisar ver isso. Tenho uma estranha certeza de que é o Fitz o escolhido – ela tornou em um tom ligeiramente conspiratório.

Os lábios de Hunter se crisparam em um sorriso sincero.

— Mas eu ainda não suporto o fato de aquele sujeitinho ter ido perturbar o Fitz - comentou, irritado.

Sacudindo a cabeça e colocando o tablet de lado, Bobbi levantou-se e dirigiu-se à porta. De lá, espiou discretamente Fitz e Will que conversavam no laboratório.

— Então... Ele não merece uma surra? – indagou o mercenário, estralando os dedos, como se estivesse se aprontando para um ataque.

Bobbi suspirou profundamente antes de responder.

— Não parece haver nenhum traço de hostilidade ali. O que estou vendo são dois homens adultos conversando – ela se virou na direção do ex-marido – coisa que você também deveria ser.

Claramente ofendido por aquelas palavras, Hunter lançou-lhe um olhar pungente para o qual ela não deu a mínima atenção. Pelo contrário; dando de ombros, ela tornou a se sentar com o tablet em mãos.

— Se você está dizendo – ele tornou com ironia.

— Seria melhor se voltássemos ao trabalho. Temos dúzias de relatos sobre inumanos. E devemos nos preparar para chegar até eles antes que forças sombrias o façam. Se é que você me entende.

— Não se preocupe – disse Hunter, batendo continência – a HYDRA não chegará nem perto deles.


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Notas finais do capítulo

Pra variar, o capítulo ficou longo demais e dividi em dois. A conversa entre Fitz e Will fica para o próximo ;)



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