— Amiga, por favor!

— Já disse que não vou, Hermione. Chame outra pessoa! — Astória respondeu.

Hermione estava encarregada de fazer a cobertura de uma exposição de artes no centro da cidade que ocorreria naquela noite, e como sempre tinha recebido dois ingressos para o evento. Por ser uma das mais talentosas entre as jornalistas do jornal, Hermione sempre tivera aquela regalia de receber um ingresso para um acompanhante, acompanhante este que sempre era Vítor, mas naquela noite ele não estava lá.

Pela falta de Vítor, Hermione viu-se tendo que ir ao evento sozinha e ela não gostava de andar desacompanhada. Então fora pedir a companhia dos amigos e a sortuda da vez era Astória.

— E você acha que eu não chamei? — Hermione colocou as mãos na cintura indignada.

— Então quer dizer que sou sua última opção? — Astória repetiu o gesto feito pela amiga.

— Não é isso! Eu pedi pra Lú ir comigo e ela disse que vai ir num jogo hoje com o Nev.

— De novo? Bulls dessa vez?

— Não, desta vez são os Lakers.

— Eles nunca vão se decidirem?

— Eles dizem que os dois são bons demais pra escolher um só... Mas isso não vem ao caso! Eles não podem ir, Draco também não e você...

— Draco não pode?

— Não. Disse que vai aproveitar sua noite de descanso pra adiantar alguns trabalhos dele.

— Que homem trabalhador esse meu namorado! — ela disse girando em sua cadeira de trabalho, voltando a ficar de frente para o computador — Chame o Ronald.

— O Ronald?

— É, ele mesmo. Não disse que fizeram as pazes? Vão juntos, oras.

— Não sei se ele vai querer ir comigo...

— Não vai saber se não convidá-lo.

— Mas eu queria que você fosse comigo!

— Já disse que não quero ir.

— Eu te odeio, Astória!

Hermione saiu a pisadas pesadas, deixando uma Astória que ria divertida para trás. Ela encaminhou-se até sua mesa e jogou-se em sua cadeira bufando. Ficou a encarar os ingressos que estavam em suas mãos pensando no quê deveria fazer... Poderia vender um dos convites, mas achava errado vender algo que tinha ganhado. Poderia dar ele para algum desconhecido, mas se fizesse isso teria que ir sozinha ao evento do mesmo jeito.

Ela respirou fundo e fechou os olhos e quando os abriu novamente, levantou-se e rumou para a seção de esportes. No meio do caminho ela ainda passou pela mesa vazia de Vítor que logo seria ocupada por outro jornalista, afinal, quando voltasse ele seria promovido e teria seu próprio escritório. Caminhou mais um pouco e o encontrou com os olhos vidrados no computador, a coluna encurvada desgrudada da cadeira e quando ele notou a presença dela, logo tirou os óculos que apenas usava para leitura e passou a encará-la.

— Acho que eu já te disse que faz muito mal ficar com a coluna desse jeito que você fica, não disse?

— Sim, já disse. Também me fez comprar estes óculos para facilitar minha leitura e não precisa ficar com o rosto perto do computador.

— Mas parece que não adiantou nada, não é? Esses óculos são novos? — ela perguntou segurando o objeto.

— São.

— Tenho um convite pra você.

— Convite?

— Sim... Eu sempre ganho um ingresso a mais para um acompanhante ir comigo aos eventos que cubro, você sabe né, essas coisas relacionadas à arte e cultura... Bem, você quer ir comigo?

— Eu?

— É, numa exposição de arte. Ninguém pode me acompanhar e eu não quero ir sozinha... Você quer ir comigo?

— Claro, claro! Seria incrível, fantástico... Quer dizer — ele pigarreou para disfarçar sua empolgação — Sim, eu vou. Quando será?

— É hoje à noite.

— Hoje à noite, ok.

— Ótimo. A gente se encontra lá, ok? Eu te passo o endereço e a hora por mensagem mais tarde!

— Ok.

— Obrigada, Ron. Até mais tarde!

Ela disse e saiu animada. E o ruivo ficara para trás um tanto surpreso, afinal, não imaginaria nem em um milhão de anos que teria a oportunidade de ter um novo encontro com Hermione.

— Me esqueci de devolver! — ela voltara rapidamente para devolver os óculos dele e saíra rindo.

E naquele momento Rony tivera certeza de que aquele não seria um encontro, pois quando ela esticou a mão para deixar seus óculos em cima da mesa, seu anel de noivado reluziu tanto que o fez sentir-se cego. Cegamente iludido.

(...)

— Chegou cedo! — Hermione disse ao ver Rony se aproximando dela.

Ela estava na entrada da galeria há aproximadamente cinco minutos quando o ruivo chegou antes do horário combinado e intimamente ela sorriu, pois ele só tinha duas maneiras de chegar num local: super adiantado ou mega atrasado - o segundo item era sempre o mais comum.

— Você também. — ele respondeu.

Hermione caminhou até ele e subiu na ponta dos pés para dar-lhe um rápido abraço que foi retribuído por Ronald. Quando se separaram os dois sorriram levemente envergonhados e analisaram um ao outro.

Hermione estava com um vestido preto de mangas longas e com um decote generoso em suas costas, que evidenciavam a falta de uma peça intima ali. O vestido ia até a metade de suas coxas, era justo e elegante. E a sandália de salto prateada que usava a deixavam alguns centímetros mais alta, não o suficiente para deixar de ser considerada baixinha pelo ruivo. A maquiagem em seus olhos era leve para evidenciar o vermelho em seus lábios e os cabelos estavam domados num coque muito bem feito.

Rony que dera uma pesquisada sobre o local do evento tratara de dar um jeito para parecer no mínimo arrumadinho para a ocasião. E depois de ver a produção de Hermione ele agradeceu mentalmente a sua mãe que fez questão de arrumar sua mala de roupas para a vinda à Nova Iorque, sendo assim ela o precavera de ter que ir alugar um terno as pressas. Era um terno simples, mas teria que servir para a ocasião. Era preto, assim como os sapatos sociais que usava, mas ele não se dera o trabalho de enrolar uma gravata em seu pescoço, então o paletó estava aberto, deixando à mostra a camisa branca que ele usava.

— Você está linda. — ele disse deslumbrado com a figura de Hermione.

Por conhecê-la desde menina ele sabia que ela nunca ligara muito para aparência, preferia cuidar de seus livros a de si mesma, totalmente o contrário de outras garotas. E aquilo o fascinava! A segurança que ela tinha sobre si própria era uma das qualidades que ele mais admirava nela. Mas com o passar do tempo, ela acabou por seguir o rumo de todas as outras jovens e tornou-se vaidosa. Não o suficiente para fazê-la não sair de casa sem quilos de maquiagem no rosto, mas o suficiente para fazê-la querer ficar ainda mais linda em ocasiões especiais, assim como estava agora. Mais linda que o comum.

— Obrigada! — ela agradeceu com um largo sorriso — Bem, já que chegamos mais cedo, vamos entrar e aproveitar mais, não é?

— Vamos. — ele respondeu saindo do transe em que estava ao fitá-la e ofereceu-lhe o braço para que ela se apoiasse.

Os dois encaminharam-se até a entrada da galeria e Hermione tirou de sua bolsinha clutch os convites dos dois e entregou-os para o segurança da porta que logo autorizou a entrada dos dois. Assim que cruzaram a porta, Rony ficou maravilhado com a sofisticação do local e Hermione rira da expressão dele.

— É nesses momentos que nos dá uma vontade de ficar ricos, não é? — ela disse.

— Esse lugar é incrível! — ele exclamou.

— Vamos, temos muito que olhar!

(...)

— Eu realmente não entendo esse negócio de arte! É cada rabisco valendo milhões... Eu poderia ficar rico facilmente com isso, até eu sei desenhar aquilo! — Rony estava declamando sua indignação para Hermione após saírem da galeria.

— É uma coisa mais conceitual, Ron. — tentou explicar — Você precisa ver além dos rabiscos.

— Desculpe, não consigo ver nada além de uma confusão de tintas naquelas coisas.

— Tudo bem. — ela riu — Mas não diga que não entende a arte só por não gostar de pinturas! Até eu não gosto muito das pinturas, mas as outras artes tirando as esculturas, todo mundo gosta!

— Será mesmo?

— Como pode uma pessoa não gostar de literatura, música, dança, teatro e cinema?

— Acredito que literatura, dança e teatro não sejam tão aclamados assim por todos.

— Como não? O que seria da Broadway sem eles?

— Também acho que preferem mais a música que esses outros três elementos na Broadway!

— Se é isso o que pensa... — ela deu de ombros e parou de caminhar, desgrudando-se do braço de Rony — Desculpe que eu não tenha um carro. Te convidei e ainda fiz você vir até aqui de táxi.

— Fique tranquila, foi muito legal ter vindo aqui.

— Será que foi mesmo?

— Foi.

— Mesmo com os rabiscos e tudo o mais? — ela perguntou e ele riu.

— Foi sim. Obrigado por ter me convidado, Mione.

— Eu é que agradeço por não me fazer vir aqui sozinha. Fico te devendo essa!

— Me lembrarei disso.

— Eu sempre recebo dois ingressos pra tudo, se tiver outra oportunidade eu te chamo para vir comigo de novo, o que acha?

— Seria brilhante!

— Ótimo! Agora tenho que me dedicar a escrever sobre a exposi... Olhe lá, está vindo um taxi! — ela correu para sinalizar e logo o táxi parou para ela — Minha casa fica para um lado e a sua para outro quer que...

— Não se preocupe comigo, pode pegar esse táxi!

— Tem certeza mesmo? Pode ir nesse se quiser.

— Fique tranquila. Pelo o que percebi, o que não falta aqui em Nova Iorque são táxis.

— Ok, então deixe-me ajudá-lo a pagar corrida... — ela disse já mexendo em sua bolsinha, mas ele segurou as mãos delas impedindo-a de procurar o dinheiro.

— Ficou louca? Eu nunca deixaria que você pagasse a corrida pra mim. Pode ir! Vá logo antes que sua corrida saia cara demais.

— Ok, obrigada Ron. — ela fechou a bolsinha e o abraçou — Tome cuidado, boa noite.

— Boa noite. — ele disse ao vê-la entrando no veículo e prontificou-se de fechar a porta para ela.

Pouco tempo depois que o táxi de Hermione saiu um novo aproximou-se e então ele pode voltar pra casa.