Era final de semana, fui para academia tentar dar uma espairecida, já havia se passado alguns dias desde minha conversa com a Bella, e eu não tinha nenhuma notícia dela. Resolvi cumprir o que eu falei e estou dando espaço, um tempo para ela pensar, sei que era muita coisa para assimilar. Mas não sei até quando vou aguentar, preciso do seu perdão, preciso saber se ela ainda me ama. Uma certa noite depois da nossa conversa fui até o pub para conversar com a Alice, saber como estava a Bella, estava muito preocupado, a forma como a deixei, tudo que eu falei não foi nada fácil de se ouvir. Mas a Alice, ela é doida, assim que me viu se aproximar, ela veio e deu com a bandeja em cima de mim, por reflexo me virei e a bandeja acertou minhas costas. Nem tive tempo de me explicar. Ainda tentei falar para ela que eu só queria saber se a Bella estava bem, mas ela falou que não interessava e fez questão de jogar na minha cara que eu era o responsável por tudo de ruim que aconteceu na vida delas. Como se eu já não soubesse disso. Fui embora derrotado e com uma dor absurda nas costas.

Enquanto eu puxava ferro, minha cabeça não parava de pensar e em um certo momento percebi que talvez se eu conquistasse a confiança da Alice seria uma probabilidade de reaproximação da Bella.

Naquele mesmo dia, por volta das 04:00 da manhã fui ao pub, geralmente era esse o horário que a Alice saia, esperei do lado de fora para não correr o risco de tomar outra “bandejada” até que ela saísse.

— Alice! - Chamei assim que a vi, ela estava junto com um pessoal.

— O que você quer Edward? - Percebi um certo nervosismo na sua voz, fiquei Aliviado por não ter nenhum objeto pontiagudo ou cortante perto dela.

— Alice, por favor me escuta, eu só quero conversar com você. - Falei quase que implorando.

— Eu já te disse que não te interessa saber como está a Bella, para de insistir. - Ela foi se virando para ir embora.

— Não, tudo bem, eu entendo, se você não quer falar da Bella pra mim, ok eu respeito, mas por favor me escuta, só me escuta, vamos conversar…por favor. - Disse para ela entrando na sua frente, não podia deixar ela ir embora.

— Ai que saco! eu odeio esse meu coração mole, fazer o que? Eu sou uma boa pessoa né, e não aguento ver ninguém com esse olhar de “gato de botas”.-
Respirei Aliviado, eu tinha uma chance e era única não podia desperdiçar e comecei..

— Alice, eu sei que não fácil, mas eu gostaria que tanto você quanto a Bella entendessem que eu tive que contar a verdade, esconder que eu fui o responsável pelo acidente não era mais uma opção pra mim, eu cansei de fugir, e o fantasma desta parte da minha vida me assombrou por tanto tempo que finalmente depois de ter descoberto e contado a verdade, eu me sinto livre deste peso. De forma alguma eu quero justificar o que eu fiz, mas quero muito o seu perdão e o perdão da Bella.

— Sabe Edward, desde criança a Bella e eu fomos muito unidas, ela sempre foi aquela irmã mais velha que todas as minhas amigas tinham inveja, ela que cuidava de mim, enquanto nossos pais iam trabalhar, ela me ajudava nos deveres de casa, foi ela que me ensinou a andar de bicicleta, enfim ela sempre esteve presente na minha vida. Quando ela começou o ballet eu nunca a vi tão feliz, era o sonho da sua vida, ela dizia que um dia seria a bailarina mais famosa do mundo. Ahh, velhos tempos. - Disse Alice nostálgica, com um meio sorriso nos lábios e continuou

— A Bella foi sempre muito sonhadora, mas também muito realista e determinada sobre o que precisava fazer para realizar o seu sonho, lembro dela muitas vezes chegando em casa com os pés cheios de calos... ela chorava de dor, mas dizia que não ia desistir, que aquilo eram ossos do ofício e que uma grande bailarina tinha a beleza nos movimentos e a feiura nos pés. Ela nunca pensou em desistir, Até que nossos pais morreram e ela teve que assumir a casa cem por cento, fazia o ballet apenas a noite, começou a trabalhar como secretária em um escritório aqui no centro da cidade mesmo para pagar as contas, sabe Edward, ela nunca deixou faltar nada dentro de casa, sempre me deu tudo do bom e do melhor e por mais que ela falasse sempre que estava tudo bem, eu sabia que ela sofria por não conseguir se dedicar ao ballet como ela deveria se dedicar. - Percebi que Alice sentia grande admiração pela Bella, continuei calado só ouvindo.

— Foi quando aconteceu o acidente, aquele foi o pior momento das nossas vidas, você sabe como é Edward, ver a sua irmã, aquela pessoa que você tanto se orgulhava, se espelhava, se definhar? Porque foi exatamente isso que aconteceu. A Bella, se afundou em depressão, não se aceitava, quer dizer não se aceita até hoje. Ela só chorava, eu tive que me tornar irmã mais velha da minha irmã mais velha, você entende isso? Eu a ajudei a se readaptar, a superar a depressão. Mudamos de posição, tive que arrumar emprego, cuidar da casa e dela e mesmo assim o meu salário no pub não era o suficiente para pagar as contas da casa. Passamos tempos difíceis Edward, você não tem ideia. Mas enfim, a coisa ficou preta e a Bella decidiu arrumar emprego para ajudar com as despesas, fiquei feliz afinal ela estava reagindo, estava menos deprimida, um emprego seria bom em todos os sentidos. - Lágrimas escorriam pelo rosto da Alice, não a interrompi, queria conhecer mais essa parte da vida delas.

— Edward, na sua empresa existe algum deficiente físico empregado? - Me surpreendi como a pergunta

— Humm não sei Alice, nunca reparei nisso. - Respondi confuso e envergonhado por nunca ter reparado nisso.

— Sabe Edward, existe muito esse negócio de responsabilidade social, cotas para empregar pessoas com necessidades especiais e tal, mas isso é tudo hipocrisia. Bella, saiu para procurar emprego, chegava em casa quase todo dia derrotada porque ela não se “encaixava” nos padrões das empresas. Ela chegou até ir no antigo emprego mas o ex chefe dela falou que precisava de alguém para ajudar e não para atrapalhar. Enfim, foi muita porrada na cara que ela tomou. Até que eu depois de muito implorar consegui pôr ela para trabalhar no pub, mas confesso que ela é inteligente demais para ficar lá. Eu tenho muito orgulho da minha irmã Edward, mesmo com todos esses altos e baixos eu rezo para ser metade da mulher que ela é.

— Alice, eu realmente não sei o que dizer, você e sua irmã são realmente extraordinárias, e a cada palavra que você fala eu me sinto um lixo maior. Minha vida sempre foi regada a bebida, sexo e drogas, nunca tive limites, minha mãe é maravilhosa porém foi falha nesta parte porque ela sempre passava a mão na minha cabeça, as vezes me deixava de castigo, tirava meus cartões de crédito mas nada que algumas semanas de bom comportamento não resolvesse, e meu pai sempre foi muito ausente. Então, não sei acho que toda burrada que eu fiz na vida foi meio que uma forma de chamar a atenção dele. Não estou tentando me justificar, mas essa é a pura verdade. Mas eu mudei Alice e me arrependo de coração por todo o mal que causei a vocês mas infelizmente eu não posso mudar o passado, mas uma coisa eu garanto, eu posso dar um futuro maravilhoso para a Bella. Eu a amo Alice, de cadeira de rodas ou sem cadeira de rodas eu a Amo. Quero o perdão dela e o seu também afinal, vocês duas sofreram, mas também quero ficar com ela. Se ela não me quiser mais, ok eu respeito, afinal ela deve olhar pra mim e se lembrar de toda sua tragédia. Mas eu quero que me prometa que você vai continuar cuidando dela.

— Você a ama mesmo Edward? Ou você só está com remorso, querendo compensar o seu erro? - perguntou desconfiada.

— Alice eu amo a Bella como eu nunca amei ninguém na vida. Acredita em mim, por favor, eu só quero ver e fazer sua irmã feliz. Você se lembra que a pedi em namoro antes de descobrir a verdade?

— Lembro sim.

— Então Alice, acho que eu amei a Bella desde o dia que entrei naquele pub.

— Tudo bem então Edward, vou te dar mais esse voto de confiança, e te ajudar, mas quero deixar bem claro que se você estiver usando a minha irmã para sua consciência ficar mais tranquila e você a  fizer sofrer eu juro que te mato, e olha que eu aprendi na série “Dexter” diversas formas de matar com os mais requintes de crueldade e sem deixar rastros. Não vão descobrir seu corpo nunca. - Depois da bandejada decidi não duvidar de mais nada.

— Claro que não estou fazendo isso pela minha consciência Alice, faço isso pelo meu amor. - Disse contente.

Dei um grande abraço nela em agradecimento, não sei, sou filho único, mas meu afeto por ela cresceu tanto naquele momento que ficaria feliz em ter tido uma irmã com metade do caráter da Alice.  

Ofereci uma carona para ela que recusou, acho que ela tinha outros planos porque um carinha ficou esperando por ela enquanto nós conversávamos.

Era domingo, e logo pela manhã recebi uma ligação do Jasper, um amigo meu que morava fora de São Paulo mas que estava aqui para visitar os pais. Íamos almoçar fora. Sugeri que fossemos no mesmo restaurante que levei Bella em um dos nossos encontros, a comida é ótima, o ambiente agradável, enfim, eu gosto de lá. O Jasper é viciado em facebook, assim que chegamos ele postou onde estávamos, não gosto muito disso, mas relevei. Escolhemos uma mesa do lado de fora do restaurante e pedimos um chopp para começar.

Estávamos lá há algum tempo, era muita coisa para conversar, relembrar, conheço o Jasper desde os meus 9 anos de idade, crescemos juntos, ele sabia da Bella, era o único a quem contei.

Papo vai, papo vem, quando vejo a Alice subindo a rampa de acesso olhando pra mim e dando uma piscadinha e Bella logo atrás. Não é possível, essa Alice é muito esperta, ela realmente acreditou em mim, talvez eu tenha outra chance, pensei comigo mesmo. Fiquei em êxtase com esse voto de confiança e em ver a Bella, ela estava linda, meu coração acelerou.

Vi que Alice sentou em uma mesa que estava na mesma direção da minha, ela se sentou de costa pra minha mesa e Bella posicionou a cadeira dela na frente da irmã. Fiquei sem saber o que fazer, não sabia se ia até lá, se continuaria aqui sentado. Precisava pensar.

— Jasper, olha ali atrás. A Bella está sentada ali naquela mesa. - Falei pra ele quase num sussurro.

Ele se virou lentamente para tentar vê-la, fingindo que ia chamar o garçom…
— Nossa Edward sério, que coincidência cara... e aí irmão você vai fazer o que?

— Puta merda não sei.- Me sentia um adolescente naquele momento.

— Ela já te viu? - Perguntou ele curioso.

— Acho que não a Alice ta sentada bem na frente dela.

— Mano, pensa direito pra não estragar tudo, pelo que você me falou ela não tem motivo nenhum pra te perdoar, então vai com calma.

— É, eu sei. - Disse abaixando a cabeça.

Decidi não chegar nela, só fiquei observando e deixei rolar. Em um certo momento vi que Alice  se levantou, e foi para dentro do restaurante, Bella estava com a cabeça abaixada mexendo no celular, quando ela levanta a cabeça e olha diretamente pra mim. Meu estômago revirou, não sabia o que fazer, se cumprimentava, se ia até ela. Esperei para ver qual seria sua reação, ela continuou olhando pra mim por mais alguns segundos e depois desviou o olhar, percebi que ela ficou nervosa e surpresa ao me ver. Continuei encarando-a, de vez em quando ela olhava pra mim e ao ver que eu ainda a olhava, ela desviava o olhar rapidamente.

Alice voltou e se sentou novamente, me impedindo de continuar vendo Bella. Foi aí que tive uma ideia, não sei se ia funcionar, talvez um pouco adolescente demais, mas no amor e na guerra tudo é válido.

— Jasper você tem uma caneta aí?

— Pô cara, tenho não. - Disse ele apalpando os bolsos.

Chamei o garçom e pedi uma caneta emprestada.
— Mas pra que você quer uma caneta Edward? - Perguntou intrigado.

— Você vai ver Jasper. - Mantive o mistério.

Assim que o garçom me entregou a caneta, peguei um guardanapo e escrevi:
“Bella, fico feliz que você esteja bem.”

Entreguei o guardanapo ao garçom e pedi para que ele levasse até Bella.
— Nossa mano, de verdade em que século você vive. - Jasper debochou da minha cara e continuou… - Manda um whatsapp pra ela.

— Para de ser trouxa Jasper, eu sei o que estou fazendo. - Respondi meio sem graça, eu não sabia de nada isso sim.

— Se bem que... é bem sua cara esse romantismo todo, lembra uma vez no sexto ano que você se apaixonou pela Tânia, hahahaha, você dava flores para ela todo santo dia. Até que ela deu um pé na sua bunda, você chorava horrores - Disse ele dando altas gargalhadas.

Ri também com a lembrança e fiquei tentando observar a reação da Bella, quando vejo Alice vindo em direção da nossa mesa. Ela me entregou outro bilhete e tinha um sorriso de lado, parecia ter aprovado minha atitude e obviamente a Alice não seria a Alice se não parasse e cumprimentasse o Jasper, percebi olhares de interesse entre os dois.

Abri o bilhete ansioso para saber qual seria a resposta.
“Bem é uma palavra relativa Edward.”

Nossa ela tinha o poder de me deixar sem reação. Jasper que era psicólogo, fez uma observação que me deixou esperançoso.

— Edward, você não percebe cara, se ela não quisesse nada com você, seja se relacionar ou te perdoar, ela não teria nem se dado ao trabalho de responder. Ela teria jogado o bilhete fora ou até mesmo ignorado, mas ela respondeu, então de uma certa forma ela também se importa. Talvez esteja apenas insegura com essa reaproximação. Coisa que é perfeitamente normal.

Me animei com o diagnóstico do Jasper, talvez ele tenha razão, mas não posso ficar trocando bilhetinho com ela no meio do restaurante.

“Concordo com você, por isso me deixa reparar todo o mal que eu te fiz. Deixa eu te provar que você pode se sentir plenamente BEM, esteja com o celular ligado hoje a noite”

— Nossa mano você é muito emo mesmo. - Disse o Jasper tomando o bilhete da minha mão e lendo-o.

— Vai tomar no seu cú Jasper, me dá isso aqui. - Revidei tomando o bilhete de sua mão.

— Edward, não queria quebrar esse seu clima aí não, mas vamos embora?

— Beleza, vamos sim.

Pagamos a conta e fomos em direção a saída, parei na frente da mesa das meninas olhei para Bella peguei na sua mão sem falar nada entreguei o bilhete e finAlizei com um beijo em sua mão, me virei e fui embora.