Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 31
XXX. Cambios


Notas iniciais do capítulo

Gente maravigold do meu ♥

OLHA ESSE NÚMERO LINDO: XXX. Chegamos ao real oficial capítulo 30, descontando o prólogo né. Que coisa mais linda do mundo! :3

Cambios significa "mudanças" em espanhol. Queria ter escolhido outro idioma mas o Google Tradutor conseguiu ficar pior que antes agr e não confio nele. E tô com muito sono pra fazer uma pesquisa bonitinha hahahah. Se vocês souberem outro idioma, ou talvez até outro título pra esse capítulo, sou toda olhos.

Boa leitura! ♥



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Agosto

— Bom garoto!

Nigel o parabenizou, afagando os cabelos emaranhados de Lucca por um rápido momento, certo de que o garoto se afastaria caso se demorasse demais.

Era uma tradição de família que o velho Walker ensinasse os filhos a cortarem grama. Não queria deixar isto de lado, apesar de Lucca não querer chegar perto daquela máquina barulhenta. Por isto, Nigel decidiu que podia mudar um pouco a tradição para que a mantivesse, e o ensinou a aparar as ramificações e árvores que serpenteavam o jardim.

Para sua surpresa, apesar de desajeitado, Lucca pegou o jeito em pouco tempo. A tesoura para jardinagem era grande, mas depois de algumas tentativas, sua atividade surgiu efeito. Nigel sabia que as plantas não estariam muito bonitas nas mãos de Lucca, mas o importante é que o jardim não se transformasse em um matagal. E bom, que ele passasse por mais uma tradição de família.

Lucca se esforçou, tentando ao máximo deixar as folhagens simétricas, mas não obteve tanto sucesso. Nigel não parecia se importar, então ele não se importou também. Gostava de ficar lá fora, e o cheiro de terra e das folhas que caíam aos seus pés o traziam uma profunda sensação de conforto.

Sassenach dormia de barriga para cima no porche de entrada da casa

— Nigel! — chamou Abigail, saindo de dentro de casa para o pátio dianteiro. — Precisamos ir ao mercado antes do almoço.

Nigel levantou-se do tronco que servia de banco e caminhou até sua amada. — Quer levar o Lucca? — perguntou, desconfiado, relanceando o garoto ao longe.

Estavam apenas os três em casa, Gus e Nathan em Wingloush.

Os dois se encararam por um momento, pensativos. Já haviam arrastado Lucca pela cidade, é claro, passado alguns meses de convivência com ele. No mercado, no entanto, só haviam ido acompanhados de Lucca quando Nathaniel e Gus estavam juntos e ainda assim fora uma experiência ruim.

Mas o garoto tinha que aprender a viver em sociedade em algum momento. Se este não fosse o certo, então no próximo funcionaria. De qualquer forma, ele precisava de experiência.

— Lucca? — chamou a mulher, com um sorriso carinhoso ao observá-lo virar na direção dos dois. — Que tal uma aventura pela manhã?

*

Nathaniel recém saíra da cirurgia com um sorriso cansado no rosto, depois de haver salvado um homem quase impossível de salvar. Múltiplas lacerações, ossos quebrados e deslocados, perfurações e hemorragias internas, e o dito cujo, após um acidente de moto, estava vivo.

Antes que o médico pudesse tomar um respiro, alguém se materializou em sua frente. Piscou, confuso com a garota franzina de um metro e sessenta que parecia precisar desesperadamente de um pouco de comida. E de sono, devido às olheiras abaixo dos olhos.

— Dr. Walker?

— Pois não? — perguntou, percebendo que, pelo uniforme, ela também trabalhava ali.

— Eu... Estou ao seu serviço — esclareceu ela, com um sorriso de canto. — Meu nome é Olivia — disse, apontando para o jaleco. — Olivia Bell. Nós fomos apresentados alguns dias atrás? — tentou uma segunda vez, fazendo Nathan arquear as sobrancelhas. — Acabei de entrar no programa de residência médica.

— Ah, claro — apressou-se Nathan, já agoniado pela memória contrária à de elefante. — Claro. Você é uma das novas internas — murmurou, recordando-se, ao dar as costas e largar o prontuário no balcão antes de voltar-se à ela.

— Isso — confirmou, arqueando uma das sobrancelhas com humor. — O Dr. Russell me colocou ao seu serviço hoje.

Nathaniel assentiu.

— Venha comigo então, Dra. Bell — chamou, relanceando o jaleco dela uma segunda vez, antes de se dirigir ao pronto-socorro do hospital. — O que está achando das primeiras semanas?

— Está sendo supimpa! — afirmou, causando estranhamento em Nathan pela escolha de palavras, que a relanceou com diversão.

Olivia prontamente o seguiu pelos corredores, analisando-o com atenção. Ela possuía os cabelos tingidos de um tom louro avermelhado, e eles iam até os ombros quando soltos. Os olhos eram castanhos, a pele bronzeada e Nathan podia distinguir um furo em seu nariz, provindo de um piercieng. Não era muito comum e logo ele perceberia que não havia muita coisa comum em Olivia.

Quando deparou-se com ela, pensou que talvez fosse tímida ou retraída, talvez por sua aparência. Logo descobriria que a garota exalava deboche em suas falas, estava sempre atenta ao que aprendia, mesmo quando não parecesse estar, era perceptiva para detalhes e minada de conhecimento inútil para a medicina, o qual adorava compartilhar.

É claro que gostou dela.

Kellan também a observara com certa curiosidade e diversão, assim que foram apresentados. Trabalharam de caso em caso, maca em maca, paciente em paciente. Uma anotação atrás de outra, explicação atrás de outra, ensinamento atrás de outro.

Nathan, especialmente, se maravilhava com esta parte do serviço. No primeiro ano como residente, após o dito internato, estivera um tanto receoso de não ter conhecimento ou experiência o suficiente para ensinar os novatos. Nos anos seguintes, no entanto, só pudera aproveitar da magia de ensinar.

Absurdamente mágico.

*

Nigel chegara em casa carregando os sacos de compra com os outros dois, rindo-se ainda mais ao comentar o acontecimento do mercado. Lucca sorriu, ao vê-los rir, embora não estivesse tão por dentro da piada.

Lucca andara observando Dorothea ao longo dos dias, toda vez que a gata resolvia aparecer no pátio ou serpentear a casa, como se para provocar Sassenach, que enlouquecia. Nunca a houvera a atacado, ou tentado atacá-la, mas ficava louco toda vez que a farejava ou a enxergava por perto.

Dorothea, apesar de longe, havia sido a primeira experiência de Lucca com gatos. Por mais irônico que fosse, achava muito difícil de entender a gata independente, livre, arredia e antisocial, embora ela fosse a personificação dele próprio. Portanto, se via tão curioso a respeito dela quanto Sassenach também ficava.

Isto possibilitou o acontecimento chistoso do mercado.

É claro que ver o garoto perdido no meio da cidade era sempre curioso para os moradores, especialmente dentro de um mercado. Alguns se aproximaram, puxando conversa com o casal e até com ele próprio, mas a expressão de Lucca já os respondia que queria distância. Bom, ao menos para a maioria deles.

O Sr. Humphrey não pôde decifrá-lo tão bem, se aproximando para puxar conversa com os Walker, questionando sobre o garoto - aquelas mesmas perguntas inadequadas de sempre -, o que causou certo desgosto no próprio e nos Walker’s. Claro, com o tempo de convivência na cidade pequena, sabiam retrucar sem xingar, e com umas belas indiretas e sorrisos forçados, deram conta de ganhar a discussão mascarada de conversa banal.

Humphey, no entanto, tivera a brilhante ideia de afagar os cabelos de Lucca antes de sair, de forma semelhante à que Nigel fizera naquela manhã. Lucca se afastou o corpo no mesmo instante, sem tirar os pés do lugar e fez o que absolutamente ninguém esperava: sibilou.

O silvo, igualzinho ao que vira Dorothea performear, fez com que o Sr. Humprey fizesse um movimento semelhante ao seu de se afastar no susto. E então, pôs-se a caminhar para trás, sem reação, antes de dar as costas.

Nigel e Abigail, que estavam horrorizados, desviaram os olhares azulados das costas do homem - que olhava para trás vez ou outra antes de sumir de um corredor para o outro -, para o garoto ao seu lado que, aos poucos, retornava à posição anterior.

— Lo siento* — pediu, aquietado, ao perceber as expressões chocadas nos rostos dos tios. No mesmo instante, sem precisar ouvir em palavras, entendera de que não devia imitar os sons dos animais, por mais representativos que eles fossem.

Nigel e Abigail se entreolharam e, falhando em frisar os lábios para impedir o som do riso, começaram a rir.

Lucca, sem nada compreender, se limitou a encará-los com curiosidade e frustração. Como é que podia algo ser engraçado e chocante ao mesmo tempo? 

Garantiram que o choque foi pela surpresa e não por ele ter feito algo de errado, e que achavam ter sido uma reação válida depois do comportamento do Sr. Humprey, que sabia desde a primeira vez que os importunara, meses antes, que Lucca não gostava de ser tocado.

Pelo resto das compras e do caminho para casa, aos risos, o casal ponderou sobre como gostariam de poder sibilar antes que Lucca o fizesse. E, claro, que guardariam o susto do homem em suas memórias para o resto da vida.

*

— Walker! — chamou Russell, fazendo um gesto com a cabeça.

Nathaniel pediu licença, deixando o paciente nas mãos de Kellan, e dirigiu-se ao atendente com rapidez.

— Senhor?

— Que tal a Dra. Bell? — perguntou, apontando disfarçadamente para ela, que trabalhava com agilidade ao lado de Kellan em uma paciente.

Nathaniel sorriu. Todos os médicos internos eram meticulosamente analisados durante o primeiro ano deles. Todos o eram, mas Russell, como chefe de cirurgia, tal como os demais atendentes, gostava de respirar na nuca dos iniciantes por precaução.

— Ela está indo muito bem, senhor — contou Nathan, aproveitando a deixa para entregar o prontuário para uma das enfermeiras que ali passava. — Focada, inteligente e rápida para aprender.

— Bom — resmungou o mais velho, com um indício de sorriso. — Bom. — Então, relanceou seu estudante com o canto do olho. — E você, que tal?

Nathaniel piscou. — Eu?

— Sim, você. — Virou-se de frente para o médico. — Já escolheu sua especialidade?

Nathaniel desviou o olhar, agitado. Temia esta conversa e sabia que ela ocorreria, ainda mais se tratando de Russell, mas pensou que teria ainda algumas semanas antes dele puxar o assunto.

— Você entrou para o quinto ano da residência este mês, Walker — continuou, ao receber um silêncio como resposta. — O tempo está contado.

— Eu sei — murmurou o mais jovem, assentindo.

— Sei que é uma grande decisão, mas é para isto que vocês vêm se preparando ao longo desses quatro anos. — Nathan assente novamente, complacente. — Eu vejo que você tem um maior número de horas no pronto-socorro — continuou ele, pescando. — Se quiser ser um traumatologista, aqui você tem tudo para se especializar nesta área. É o melhor ensino que você poderia ter na região, Walker — acrescentou, e é claro que Nathan se sentia tentado. Russell sorriu. — E você sabe que o queremos aqui, não é?

Nathaniel assentiu. — Obrigado — agradeceu, com um nó na garganta. — Eu... Isto significa muito para mim, é claro que estou pensando a respeito.

Russell assentiu, encarando-o como se pudesse ver sua alma.

— Ao meu ver, não parece haver muito no que pensar. Talvez, se estiver pensando em nos abandonar... — brincou, arrancando um sorriso do mais novo. — Mas com relação à sua especialidade, acho que está bem claro que você pertence à área de Trauma.

Nathan forçou um sorriso, engolindo em seco.

Isto era fatídico. Amava a adrenalina do pronto-socorro, os casos da traumatologia e tudo que dizia respeito à área. Era a sua área. E o mesmo pensavam os colegas com os quais trabalhou.

Nathaniel era ágil, paciente, calmo mesmo em frente à desastres, características muito em conta quando se tem que trabalhar com emergências, estresse, pressa e pacientes assustados. Isto ocorria quase em totalidade em Trauma. E era, particularmente, muito admirado por Russell, com orgulho por havê-lo treinado e o acompanhado desde o princípio.

— Então o que está te segurando? — perguntou, ao observá-lo desconfortável.

A verdade é que a decisão era maior do que inicialmente imaginara.

Nathan sempre imaginava que devia aguentar um pouco mais, e um pouco mais, e um pouco mais. Primeiro, esperava se formar logo na parte teórica da medicina para poder respirar o ar esterilizado de dentro de um hospital. Depois, precisava esperar o primeiro ano como interno passar, e logo os quatro anos seguintes, e agora se dava conta de que teria que esperar sua especialização, esperar mais anos de estudos, mais especializações - caso sinta vontade -, mais pesquisas, mais cirurgias e mais infinitas horas de trabalho. E, ao se aproximar da etapa final que havia estabelecido - virar um atendente -, a ficha começava a cair.

Medicina não é o tipo de carreira no qual você pode estagnar, ainda mais como um cirurgião. Era o tipo de carreira que só tendia a tomar mais de seu tempo, e não menos, e que jamais cessariam os estudos relacionados à ela. Era o mais maravilhoso a respeito da medicina, o motivo pelo qual Nathan se apaixonara cada vez mais por esta área linda e fascinante, e seguia se apaixonando cada vez mais. Porém, também era o que fazia seu coração pesar ao pensar em sua família e, agora, em Lucca.

Seu tempo dedicado ao seu trabalho não mudaria tanto nos próximos anos, mas o que mudava nos últimos meses era a concepção de que a vida com tempo curto para gastar perto das pessoas que ama apenas se estenderia. E que mais de 50% de si não poderia ser dedicado a sua família e ao Lucca, porque estava reservado à medicina. Sempre estivera.

O que parecia relativamente fácil, escolher sua área de especialização, era um passo em direção à especialização em si. E este era outro assunto delicado, porque seu plano inicial não era desempenhá-la em Wingloush. Muito menos em Cherubfield.

Engoliu em seco.

Planos mudam.

— O tempo — murmurou, um tanto infeliz. Mas antes que Russell dissesse algo a mais, acrescentou: — Irei me decidir assim que estiver pronto, Dr. Russell.

Russell ainda lhe encarou por um tempo antes de assentir, sorrindo.

— Muito bem. — Relanceou o espaço vazio onde anteriormente estavam Olivia e Kellan, mas que já houveram saído para transportar o paciente para a sala de cirurgia. — Quero um relatório sobre a Dra. Bell mais tarde.

Nathaniel arqueou as sobrancelhas.

— Por escrito? — perguntou, surpreso.

Russell gargalhou. — Claro que não, garoto — falou, divertido, dando dois tapinhas em seu ombro. — Nos falamos no fim de seu expediente.

O homem, então, se retirou de forma silenciosa, deixando Nathan sozinho em meio ao caos da sala de emergência. Estivera em transe durante a conversa, e apenas após a saída de Russell, volvia a ouvir os aparelhos, os gemidos e gritos, além das palavras calmas ou apressadas dos médicos, e o som de passos e rodas de macas.

Nathaniel piscou, atendendo um interno nervoso que acenava por alguém mais experiente para acudir seu paciente em parada cardíaca. Correu até ele, os pensamentos embaralhando-se com seu conhecimento de medicina.

E, borrando o rosto de Lucca de sua mente, incorporou o médico em si ao se inclinar sobre o paciente:

— O que temos aqui?


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Notas finais do capítulo

OK, primeiramente: o foco do capítulo, na vdd, era no Nathan, mas ia ficar tão curtinho que resolvi pôr um dia cotidiano dos Walker junto hahahah.

Segundamente, eu ri muito escrevendo a parte do Lucca HAHAHAHHA. É que eu vi esses dias um meme que dizia algo assim: "gostaria de poder rosnar pras pessoas quando estivesse insatisfeito, a vida seria tão mais fácil" (não me julguem, não lembro se era bem isto). Aí eu pensei: hm, eu conheço alguém que faria isto e não sentiria um pingo de vergonha por fazer AHAHHAHAHAH. Também confesso que senti um pouquinho de inveja.

Edit: eu enviei tipo, às 7, e só agora percebi que o temporal travou a internet e não postou o capítulo. Que ótimo. Hahahaha.

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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