Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 3
II. Problema


Notas iniciais do capítulo

Gente linda, gente boa, gente bela!

IMPORTANTE: Gente, os capítulos II e III se inverteram, e pra resolver isto - nem o pessoal do site conseguiu -, eu tive que inverter as informações. Agora está certinho MAS eu acho que se voltar ao normal, vai se inverter de novo, e isto significa que os REVIEWS também! Só pra deixar avisadinho :*

Bom, aqui lhes apresento o garoto mais suspeito que a gente respeita!

Boa leitura *-*



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Maio

A noite trouxera a luz resplandecente da lua no céu, lutando por notoriedade com o silêncio decorrente das ruas vazias. As cortinas de pano que cobriam as janelas desgastadas pelo tempo balançavam com o vento forte que contra elas chocava. Como consequência, um carrinho de brinquedo caiu no chão do quarto desprovido de luz elétrica, despertando de forma nada sutil o homem de cabelos escuros.  

Sentado na cama, Nathan focou os olhos esbugalhados nas venezianas abertas antes de desviá-los para a fonte do ruído, seu brinquedo de infância. Fechou os olhos, ligeiramente aliviado ao lembrar-se de que estava na casa dos pais. Colocou os pés descalços no piso frio, seguindo então até o carrinho pequeno que havia caído de cima da cômoda. Agachou-se com um suspiro, juntando-o e colocando-o onde estava previamente. Com a pacata luz da lua que entrava em sua janela, pôde observar com nostalgia os demais brinquedos que costumava usar em sua infância dispostos em fileira na cômoda branca.  

Assim que um arrepio subiu à sua nuca devido à corrente de ar que pela janela entrara, Nathan piscou os olhos antes de virar nesta direção, forçando os pés cansados a caminharem até lá. Com o intuito de fechar a janela, afastou a cortina e dirigiu as mãos geladas até esta. Um movimento, porém, chamou sua atenção antes que o fizesse. Estreitou os olhos, pensando se estaria a imaginar coisas ao focá-los no que havia se movido em seu jardim.  

De seu antigo quarto, localizado na parte direita da casa de seus pais, podia ver perfeitamente – o quão perfeita a visão pode ser desprovida da luz do sol – a figura locomover-se na lateral da casa. Estava parcialmente escondido entre as folhagens que sua mãe costuma cuidar, poucos centímetros longe da cerca de arame que os separava da residência do vizinho. Nathan estava suficientemente distante do objeto de sua atenção devido à altura do segundo andar da casa, no entanto, isto não o impedia de encarar com espanto a pessoa que invadira o terreno de seus pais.  

Inclinou-se inconscientemente, uma das mãos afastava a cortina e a outra apoiava-se no parapeito da janela, a curiosidade e o assombro apenas aumentando ao passo que notava a estranheza da situação. Poucos segundos depois, o ser em questão locomoveu-se de forma peculiar em direção aos fundos de sua casa, de onde Nathan não tinha perspectiva de sua janela.  

Estaria o sujeito agachado ou ele era mesmo pequeno?  

Sem esperar um segundo, Nathan deslocou-se em direção à porta de seu quarto, abrindo-a com brusquidão. Os pés descalços não faziam ruído algum em comparação à sua respiração, que acelerava junto das teorias em sua mente. Desceu as escadas com rapidez, os olhos já acostumados com o breu do local. Passou pela cozinha com o intuito de chegar à porta que dava aos fundos da casa. Praticamente grudou o rosto no vidro ao dar uma olhada, nada podendo enxergar, antes de abrir, por fim, a porta.  

O silêncio era mais ameno no exterior, os sons de grilo e da movimentação de folhas, devido ao vento, inundando o local. Deu alguns passos em frente, descendo os cinco degraus antes de seus pés pisarem na grama, os olhos escuros disparando até onde sua visão podia alcançar. Estreitou-os quando avistou uma sombra atrás das pequenas árvores que cresciam perto do muro. Não demorou muito para distinguir a forma do corpo que escondia-se de forma agachada.  

Estancou no lugar ao ver os olhos da criatura brilharem com a luz da lua, embora não pudesse ver a cor neles estampada. Incapaz de movimentar-se um centímetro, desprovido de coragem, limitou-se a observar os movimentos alheios. Ou melhor, a falta deles. A mente de Nathan voava, imaginando se tratava-se de um ladrão, um fugitivo ou um sanguinário. Até mesmo a parte mais remota de si revirou-se ao cogitar a hipótese da estranha criatura não ser humana, devido à maneira incomum de se locomover. Reprovou a si mesmo por sequer ponderar à respeito.  

Antes que seus instintos pudessem reagir, pôde enxergar o sujeito cair para o lado quase que em um pulo, só então tirando os olhos brilhantes de si. Nathan automaticamente deu um passo atrás, tentando entender a situação quando, de repente, enxergou os pêlos eretos de Dorothea enquanto ela corria em direção ao pátio vizinho. A presença da gata próxima ao corpo do estranho devia tê-lo assustado, percebeu Nathan, fazendo com que perdesse o equilíbrio e caísse ao lado. Desviou os olhos então, para o garoto assustado que novamente escondia-se na penumbra da noite.  

Não fora rápido o suficiente para impedir Nathan de notar que o garoto não devia ter mais de doze anos. Não fora rápido o suficiente para que escapasse de seus olhos os trapos que vestia, bem como a sujeira que inundava seu corpo. Tampouco fora rápido o suficiente para que escapasse de sua percepção a ferocidade nos olhos alheios.  

Pensando que, se entrasse em casa para ligar para a polícia ou o juizado de menores, o garoto não mais estaria ali quando voltasse, Nathan manteve-se em seu lugar. Estranhou o fato do menino não haver corrido ou tentado escapar pelo muro atrás de si. O brilho nos olhos atentos ainda fazia-se visível, desconfortando Nathan pela atenção voltada à si, incapaz de decifrá-lo.  

Nathaniel franziu o cenho, testando ao dar um passo à frente, lembrando-se apenas agora de que possuía voz.  

— Garoto? — Perguntou com a voz rouca devido às horas sem utilidade. — Você está bem? — Deu mais um passo. Não obteve resposta. — Eu não vou machucá-lo — tentou, dando mais um passo em frente. No entanto, uma fisgada de dor espalhou-se por todo seu pé, o choque fazendo com que demorasse a entender que havia pisado em algo cortante. — Caralho! — Resmungou, alto o suficiente para sobressaltar o jovem à sua frente.  

Nathan não importou-se com o fato, no entanto, sentando-se rapidamente na grama para ver o sangue pulsante escapar por entre a abertura em sua pele. Soltou um murmúrio de dor, xingando-se mentalmente. Não podia acreditar que houvera esquecido de juntar os cacos da garrafa que caíra da sacola no dia anterior. Ergueu os olhos para o garoto, agora descoberto novamente das sombras que as folhas lhe proporcionavam. Havia dado um passo ao lado, a cabeça levemente inclinada ao desviar os olhos selvagens do rosto alheio para o pé machucado deste.  

Nathan segurou a respiração ao perceber o rosto que havia saído das sombras, incapaz de enxergar a expressão neste. Não sabia se as manchas em seu corpo e roupa eram apenas sujeira ou sangue também, devido à falta de luz. O menor deu meio passo em sua direção antes de curvar o corpo novamente, o cenho franzido espelhando o do homem sentado à sua frente. Assemelhando-se aos movimentos de um macaco, o garoto aproximou-se o bastante para que Nathan pudesse ver ao menos um pouco da forma de seu rosto. Não tão nítidos quanto estariam na presença de luz, entretanto, pôde observar as sobrancelhas escuras, o nariz proporcionalmente posicionado acima dos lábios entreabertos.  

O mais novo ergueu a mão suja em direção à Nathan que, metade fascinado e metade receoso, limitou-se a alargar os olhos. A criatura excêntrica, como preferiu chamá-lo mentalmente, encostou os dedos gelados em seu pé, levando um pouco de sangue com eles. Aproximou, então, os dedos sujos do próprio rosto, analisando com atenção o líquido antes de desviar os olhos novamente para o homem de pijama sentado ao chão.  

— Quem é você? — Nathan deixou a pergunta escapar em um murmúrio, ciente de que a mesma inundara sua mente desde que o havia avistado de sua janela. Inconscientemente, sabia que o garoto havia entendido o que falara, embora o mesmo se limitasse a franzir o cenho mais uma vez. 

Novamente, não obteve resposta alguma além do olhar primitivo.  

A luz forte às costas de Nathan penetrou violentamente no escuro confortável abaixo da lua, deixando o garoto tão incômodo a ponto de voltar arrastando-se para detrás das folhagens. Escondera-se novamente. Porém, mais uma vez, não fugira.  

— Nathaniel? — A voz de sua mãe sobressaiu a constante comunicação dos grilos.  

Bastante certo de que o garoto não escaparia, girou o rosto em direção à sua mãe, tentando fazer os olhos acostumarem com a luz da lâmpada de fora. O corpo rechonchudo estava coberto por um roupão, os cabelos curtos já cinzas caídos ao lado do rosto preocupado. Abraçou o próprio corpo devido ao vento e desceu os degraus em direção à grama, confusa.  

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ela, os olhos azuis bastante alargados. — O que faz na grama? Se machucou?  

Nathan balançou a cabeça, voltando os olhos para a sombra atrás das folhagens antes de colocar as mãos no joelho, impulsionando-se para levantar. Deixou o pé direito no ar antes de voltar o rosto à sua mãe, agora próxima o suficiente para que pudesse sentir seu perfume.  

— Encontrei um amigo — falou de forma baixa para a mulher, que arregalou os olhos ao desviá-los ao redor do pátio. — Não sei o que lhe aconteceu, mas devemos ajudá-lo. Tenho certeza de que não será um perigo para nós, não se preocupe — completou sem saber de onde vinha sua certeza, olhando novamente para os dois pontos brilhantes quase perto ao chão, indicando que o garoto estava agachado novamente.  

— O quê? — Perguntou a mulher de idade, já alterada, incapaz de encontrar a terceira figura entre eles. — Nathan — sussurrou ao segurar o braço do filho, assustada —, do que está falando? 

— Espera — respondeu Nathan à ela, afastando-se em direção às pequenas árvores. 

Acercando-se devagar, Nathaniel deu passos pequenos – mancando – até alcançar a fonte de sua extrema curiosidade. Não surpreendeu-se quando percebeu que o menino não havia se movido nem um pouco ao ver que se aproximava. Havia ganhado sua confiança, talvez quando mostrou-se vulnerável ao cair e machucar o pé. Parou a poucos centímetros do garoto peculiar, observando-o levantar-se, mantendo-se em pé ainda com os joelhos levemente dobrados. O médico, então, estendeu sua mão à ele em uma tentativa de lhe incentivar a sair do escuro. Foi frustrada, no entanto. O garoto cravou os olhos em sua mão antes de erguê-los à si, inclinando levemente a cabeça com o cenho franzido ao tentar entender o que exatamente o homem queria que ele fizesse com sua mão.  

— Nathaniel? — A voz sussurrada de sua mãe chegou aos ouvidos de ambos, sobressaltando o menor. Os olhos desacostumados da mulher mais velha eram incapazes de encontrar a fonte da atenção do filho em meio às folhagens. 

— Shh, está tudo bem — disse Nathan para o menor, dando passos atrás para ver se ele entendia que devia seguir-lhe. — Venha.  

Aos poucos, o garoto deu alguns passos hesitantes em direção à luz, reação que sacou um suspiro surpreso da mulher mais velha em frente à porta dos fundos. Não era para menos. Ambos podiam ver o estado deplorável do garoto, intensificado pelo olhar escuro e desconfiado deste.  

Os cabelos escuros e extremamente bagunçados combinavam perfeitamente com os olhos, embora ainda não se pudesse ter a certeza se eram castanhos ou negros. Muco escorria pelo nariz sujo perfeitamente alinhado. A boca trincada continha traços de sangue, visíveis pela luz que sua mãe acendera, assim como parte de sua bochecha direita e sua testa. A clavícula e joelhos acentuados, os braços e pernas finos, assim como o rosto, apenas confirmavam que o garoto era magro demais para seu tamanho, embora fosse pequeno. O sangue que havia em seu rosto também sujava os vestígios da pequena bermuda que usava, única vestimenta em seu corpo, bem como os braços e pernas. Estes estavam cobertos por escoriações.  

Nathan inclinou a cabeça, percebendo que a maior parte do sangue no corpo do menino havia já coagulado, indicando que não eram tão recentes quanto pareciam. A coloração vermelha recente concentrava-se mais em seu joelho esfolado, do qual escorria uma longa linha líquida até a canela. Com um suspiro, Nathan virou-se para a mãe, que por sua vez, tinha uma mão cobrindo a boca e os olhos azuis cravados no imundo menino.  

— Acho que temos um problema — anunciou o filho, voltando então os olhos ao garoto selvagem. 

 


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, a ideia da fic é meio louca! Mas eu também sou, então estou de boas ahahahha

Aqui já posso dizer que uma das inspirações para escrever essa história foram as sombras no jardim em frente à minha casa durante a noite. Geralmente minha gata pede pra entrar ou pra sair e eu tenho ir ali fora, então me ocorreu algumas vezes a hipótese de haver alguém escondido entre as sombras. Uma ideia nada animadora para a madrugada, devo dizer ahahahhaah

Mas enfim. Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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