Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 23
XXII. Inconclusive


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora, gente! Eu digo e repito: eu sou como ex namorados, eu vou mas eu volto! Eu SEMPRE volto! AHAHHAHA (tô rindo mas tô nervoussa)
PS.: tava cansada e não revisei, então pode ser que hajam erros. :P

TRADUÇÕES das frases estrangeiras nas NOTAS FINAIS! Beijin :*

Boa leitura! *-*



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Março 

— Lucca — começou o xerife, cauteloso —, Lisa não pôde vir, mas pediu que eu fizesse algumas perguntas muito importantes para você. Tudo bem?

Lucca se encontrava na sala de interrogatório de Cherubfield, em frente ao xerife Gerard Henley, que possuía um bloco de notas em mãos. O menor estava sentado sobre as próprias pernas, embora esta posição em cima da cadeira já não fosse favorável depois de haver crescido alguns centímetros a mais, com os olhos desconfiados em Gerard. 

O motivo de sentir-se desconfiado vinha, também, da maneira como sua nova família reagiu quando o pequeno foi solicitado imediatamente até a delegacia da cidade. Era sexta-feira, estavam em casa, conversando - Lucca ouvindo - em família e aproveitando a companhia de Nathan quando o telefone tocou e o xerife solicitou um interrogatório urgente com Lucca. 

Se Abigail, Nigel e Nathan estavam desconfiados, aqueles que confiavam em tudo e em todos, então, com certeza, Lucca também estaria. Sem falar que o médico demoraria alguns dias para poder voltar para a cidade natal e teria que partir naquele mesmo dia, como havia avisado a todos. E Lucca estava ali, perdendo seu tempo para mais perguntas repetitivas. 

Optou por erguer os ombros, em silêncio, ao indicar algo como: e eu tenho escolha? 

— Ótimo. — Gerard sorriu, desviando o olhar para o bloquinho em mãos antes de relancear o vidro espelhado. — Lucca, preciso que pense um pouco a respeito da vila na qual morava. Preciso que...

Tomou uma pausa, unindo as sobrancelhas ao pensar em como desenvolveria as perguntas. Ao perceber a careta de Lucca, pensou que esta não era a melhor abordagem para o assunto. Suspirou, unindo as mãos em cima da mesa. 

Lisa Clark havia feito uma chamada de emergência para a delegacia de Cherubfield e requisitou o próprio xerife Henley para uma conversa. Aquilo, por si só, já era incomum, mas o pedido vindo em voz apressada e em tom baixo era ainda mais. O interrogatório precisava ser naquele instante, informou ela, o mais rápido possível, e ele precisava arrancar o máximo de informações a partir de Lucca quanto pudesse. 

Lucca estava cedendo, afinal, desde a volta dos interrogatórios. Ele estava cedendo cada vez mais nas últimas semanas, dando-se por vencido, provavelmente por querer dar o fora da delegacia o quanto antes, agora que já tinha uma família esperando por ele. Não seria tão difícil arrancar respostas dele, mesmo que não-verbais, e Lisa colocou toda a confiança em Gerard e nos olhos bondosos do homem. Sabia que ele era capaz de desempenhar este papel, sendo ele sua única esperança, mesmo que as perguntas que pediu que fizesse fossem um tanto agressivas. 

Apesar de Gerard desconfiar da maneira apressada da psicóloga forense, e ainda mais da maneira como ela frisou que ele não demoraria a entender o que estava acontecendo, ele confiava na mulher o suficiente para ir em frente. 

Seus homens estavam do outro lado da sala, os únicos que sabiam do pedido de Lisa, observando os dois pelo vidro espelhado do interrogatório. E a família, bastante desconfiada do ocorrido, estava na sala de espera, conversando a respeito dos possíveis motivos dos policiais para chamá-los até ali com urgência. 

— Vamos tentar de outra forma. — Sorriu, amigável. — Lucca, vou fazer perguntas e você só precisa dizer que sim ou que não. Lembra que já fizemos assim? — perguntou, mas Lucca continuava inexpressivo. — Aposto que Lisa também já fez perguntas desta forma. 

Lucca permaneceu em silêncio, o franzir entre as sobrancelhas desvanecendo aos poucos. Ele suspirou, tentando ajeitar-se na cadeira com uma careta, pelas pernas que começavam a adormecer pela pressão de seu corpo. Focou os olhos negros nos olhos castanhos de Gerard, como se assim consentisse. 

Gerard inspirou fundo antes de prosseguir. 

— No lugar onde você morava, com aquelas pessoas, na floresta... Havia você, seus pais e várias outras pessoas como vocês, que trabalhavam, comiam e dormiam... Bom, que viviam como você e sua família. Correto? 

Lucca piscou vezes demais, tentando seguir o raciocínio de Gerard. O homem permaneceu em silêncio, no entanto, os olhos pacientes em Lucca, indicando que ainda esperava por uma resposta verbal ou não-verbal do garoto. 

Lucca demorou, mas assentiu em seguida. 

Gerard suspirou, satisfeito, ao assentir também. 

— Você podia ver seu pai trabalhando, construindo armas, como disse à doutora Lisa. Correto? — Lucca assentiu novamente, desta vez, sem pestanejar. — Era só isto que ele fazia, construir armas? 

Lucca franziu o cenho, mas logo negou. 

— E o que mais ele fazia? Você consegue se lembrar? 

O garoto de origem indiana permaneceu em silêncio por tempo demais, pensando e pensando a respeito. A verdade é que seu pai fazia diversas coisas, assim como todos os habitantes na floresta, o tempo todo. Ninguém parava quieto, só para dormir. Pensava em como contar isto ao xerife, mas deve ter demorado tempo demais, visto que o homem tornou a falar. 

— Ok — murmurou Gerard, indeciso. Mirou o bloquinho de notas, onde ele próprio havia anotado os pontos que Lisa pediu para que fossem quitados no interrogatório. — Vamos ir por outro lado. Seu pai não trabalhava sozinho, certo? Haviam várias pessoas que trabalhavam com ele, não é? 

Lucca franziu os lábios, brincando com a beirada da mesa, onde a madeira começava a se descascar. Puxou uma felpa, e outra, e outra, ao suspirar. Então, assentiu, silencioso da forma como sempre foi. 

— Estas pessoas, que trabalhavam no Acampamento... Elas eram como você e como sua família — disse, os olhos procurando, sem sucesso, os olhos escuros do garoto. — Correto? 

Lucca ergueu os olhos por um segundo antes de baixá-los para a madeira novamente e assentir com a cabeça. Por dentro, Lucca estava dividido entre se sentir entediado até a morte com as perguntas repetitivas e sentir-se no meio de um redemoinho de nostalgias causadas pelas memórias que lhe forçavam a recordar. 

— Lucca, eu preciso que me diga se haviam pessoas diferentes no lugar onde você morava. — Isto pareceu chamar a atenção do garoto, que pausou o movimento das mãos e focou os olhos negros no xerife Henley. — Pessoas diferentes de você e de sua família. 

O silêncio e o olhar compartilhado durou por tempo demais, deixando Gerard desconfortável com os olhos penetrantes do adolescente à sua frente. A expressão de Lucca não era irritada, nem confusa, nem triste. Era indecifrável. 

Ele estava pensando. 

— Diferentes? — optou por perguntar, os olhos em Gerard. 

— Sim, diferentes. — O mais velho assentiu, confirmando. — Pessoas que não faziam o mesmo que vocês. Pessoas que talvez não trabalhassem como seu pai, ou que não fizesse o mesmo que sua mãe. Pessoas que talvez usassem roupas diferentes ou que agissem de maneira distinta do que a maioria de vocês. Pessoas diferentes — concluiu, erguendo os ombros. 

Gerard era um bom policial, aprendera com seu pai. Podia ser que a Delegacia de Cherubfield não fosse uma unidade policial super estruturada e que não tivessem o melhor treinamento nem os melhores recursos, mas eram todos bons policiais. Gerard especialmente.

E sendo um bom policial, não foi difícil compreender onde as perguntas de Lisa queriam chegar. Sendo um bom policial, já havia calculado a verdadeira dimensão do "Acampamento de Amoran" e do caso de Lucca. Já havia passado e repassado em mente e também em voz alta com seus homens e com seu pai tudo o que sabiam do caso, mesmo que boa parte das informações contidas pela equipe de I.E.C não fossem compartilhadas com eles. Sendo um bom policial, sabia que apenas uma organização grande poderia fabricar armas em um lugar que durara nove anos escondido entre as florestas de cidades pequenas e que conseguiria, mesmo quase descobertos, fazer com que tudo e todos desaparecessem no mesmo dia em que um tiroteio se instalou no local. Apenas uma organização que fosse tão ou mais grandiosa que a própria polícia. 

Sendo um bom policial, tinha noção de onde estava se metendo. Mas isto não impedia que sentisse receio pelo que talvez estivesse prestes a descobrir. E a adrenalina causada por todo o mistério que Lisa deixou no ar ao pedir que ele estivesse ali, naquele momento, com perguntas em mãos e os olhos em Lucca, deixava tudo ainda pior. 

E não estava preparado para as respostas. 

Lucca, por fim, assentiu. 

— Você sabe me dizer como estas pessoas agiam, como elas se vestiam, o que elas faziam ou diziam? — perguntou Gerard, inclinando-se involuntariamente na direção do garoto. — Como exatamente elas eram diferentes de vocês, Lucca? 

O adolescente piscou algumas vezes, franzindo os lábios em uma careta pensativa. A mente começou a voar, como se seu cérebro houvesse ficado leve aos poucos, a ponto de se sentir tonto, mas ele rapidamente forçou-a a voltar à realidade. 

— Papá construía armas — murmurou, voltando a mexer na mesa. O xerife Henley se limitou a esperar que ele continuasse. — Eles seguravam armas. 

Gerard arqueou as sobrancelhas, tentando compreender a linguagem do menino. Ao mesmo tempo, do outro lado do vidro espelhado, seus companheiros paravam as teorias por um minuto para raciocinar também. 

A porta que dava para o resto da delegacia estava seguradamente cerrada, e os três policiais observavam o interrogatório que se desenrolava na pequena salinha interligada. 

— Seguravam as armas para inspecionar o trabalho mecânico? — perguntou Tony, o mais jovem, para seus companheiros, sabendo que outros dois não podiam ouvir. 

Robert balançou a cabeça, negando. 

— Seguravam as armas para inspecionar o local — murmurou ele, fazendo com que Bea quase colasse o rosto no vidro, esperando por mais. 

— Eles resguardavam toda a área do Acampamento — sussurrou Bea, já compreendendo o que o garoto quisera dizer. 

Estava bastante claro na cabeça da policial. Uns trabalhavam dia e noite, e outros resguardavam o local com armas, caso alguém tentasse adentrar a vila ou caso alguém tentasse sair dela. Isto traria algum sentido ao fato de ninguém ter saído de lá por tanto tempo.

Um calafrio subiu a coluna da policial de cabelos presos. 

Gerard franziu o cenho, seguindo o mesmo raciocício de seus homens, mesmo que não os pudesse ouvir. Assentiu, com um sorriso mínimo para tentar parecer confiável, embora estivesse temeroso por dentro. Não podia demonstrar. 

— Eles caminhavam pela área com as armas nas mãos? 

Lucca demorou um tempo, os pensamentos enrolando-se, antes de piscar algumas vezes e assentir.

Era exatamente por isto que ele não gostava de falar. Quanto mais falava, mais se lembrava e quanto mais se lembrava, mais sentia o coração apertar e a respiração acelerar. 

— Lucca, preciso que você me diga o que mais eles faziam — pediu, inclinando-se levemente sobre a mesa. Encontrou os olhos negros, mas eles pareciam aéreos. — Preciso saber o que eles falavam, o que faziam, o que vestiam, ou como se portavam... 

Como se portavam? 

Os olhos negros desfocaram, e o xerife soube que ele estava se lembrando, enquanto o vinco na testa de pele morena se aprofundava mais e mais. Os lábios franzidos um no outro se separaram levemente, e a mão parou o movimento na mesa. 

Lucca estava aéreo. 

— Håll käften och flytta dig dit! Nu! — Ele quase podia ouvir, em sua mente, a voz grave que repercutia no local. Era como se estivesse lá de novo. — Håll käften! 

Levou os olhos novamente à Gerard, mas não mais o podia ver. As imagens confusas continuavam a voltar em sua mente, desenrolando-se como em um filme. Um filme de terror. E as vozes gritadas, os cheiros fortes e o tremor em suas mãos eram tão reais que ponderou se não havia voltado no tempo. 

— De kommer! De kommer! — gritava outro, causando mais comoção. — Vi måste komma ut härifrån! Nu!

Lucca cerrou a mão em cima da mesa, refletindo o movimento que havia feito lá no mais profundo de sua memória, ao apertar a mão alheia e tomada de suor. Ergueu os olhos e pôde ver o rosto do garoto que se recusara a lembrar até o momento. Ele possuía alguns centímetros a mais que Lucca, olhos verde-escuros, pele e cabelos de cores semelhantes aos seus. 

— Vai ficar tudo bem, Lucca — reforçou ele, apertando sua mão de volta, embora os olhos verdes quase estivessem saindo das órbitas e os lábios finos tremessem em nervosismo. 

— Lucca? 

Gerard franziu o cenho, percebendo a mão cerrada em cima da mesa, as narinas infladas e o peito que subia e descia do garoto. Os olhos negros já não enxergavam à sua frente, e o silêncio não enganava que o que se passava dentro de si era puro barulho. 

— Lucca! Lucca! — A segunda voz fez com que o garoto girasse o rosto para o outro lado, pondo os olhos em sua assustada mãe. — Aqui estás, mi amor! — Pegou seu rosto com as mãos geladas, olhando ao redor com pavor súbito. — Dáme tu mano y no te atrevas a alejarte de mi! — Usou a voz de brava, os cabelos crespos voando para os lados, enquanto pessoas passavam correndo por dela e esbarravam no corpo da mulher. — Venga! — Então, olhou para o menino que segurava a mão de Lucca antes de puxar ambos para longe, com brusquidão. — Tu también, Kai! 

E Lucca seguiu para a tenda, sem soltar a mão de nenhum dos dois, girando o rosto para todos os lados à procura do pai. Não estava em sua tenda, não estava onde seus olhos podiam alcançar. Estava trabalhando na cabana de equipamentos quando tudo começou e não saíra dali desde então. Antes de entrar na casa de panos, no entanto, os olhos negros focaram no homem de pele avermelhada pelo sol, cicatrizes no rosto e idade semelhante à de seus pais. 

Aquele homem com uma arma quase do tamanho do próprio corpo, que berrava ao tentar acalmar a comoção. Aquele cujo rosto trouxe um tremor à Lucca, porque podia recordar que a roupa daquele era diferente das demais. Diferente como Gerard pedia, mas um diferente que Lucca já conhecia. 

Ey, ty! — Apontou para longe, onde um grupo já se afastava. Um deles com uma mochila nas costas. — Ne dvigaysya!

— Visa dem! — berrou o outro, parecendo um tanto alarmado e indeciso, mas logo ergueu os ombros como quem diz: não tem jeito, fazendo sinal positivo para o outro e ajeitando a arma enroscada nos ombros. — Nu!

E então o som de disparos começou, seguidos dos berros e gritos desesperados de todos. Incluso o da sua mãe. 

— Lucca — repetiu Gerard, preocupado, ao estender a mão sobre a mesa e fechá-la no punho cerrado do adolescente. 

Com um piscar de olhos, Lucca voltou à realidade, os olhos negros finalmente pousando sobre o rosto preocupado de Gerard, que lhe encarava com cautela. 

— Lucca, está tudo bem — optou por afirmar, olhando-o nos olhos com confiança. — Está tudo bem. 

Lucca desceu os olhos para a mão sobre a sua, encarando-a por um instante ao lembrar-se de Nathaniel antes de puxá-la para seu colo. Juntou as sobrancelhas em uma expressão costumeira antes de cerrar os lábios, então ergueu o olhar para Henley novamente. 

E o mais velho soube o que viria a seguir. 

— Não quero. 

Gerard suspirou, vendo que ainda haviam alguns itens a quitar da lista e que apesar de Lucca ter revelado alguma coisa ou outra, eles ainda não haviam chegado onde ele queria. 

— Lucca...

— !— reforçou o adolescente, entredentes, com irritação. 

— Oh, droga — murmurou Robert, do outro lado do vidro, ao observar a reação que tanto conheciam do garoto. 

Gerard relanceou o vidro espelhado, vendo seu próprio reflexo ao fazê-lo, como se esperasse uma resposta de sua unidade que os observava de lá. Mas logo inspirou fundo e encostou as costas na cadeira. 

Lisa havia pedido que não desistisse e que fosse tão agressivo quanto pudesse ser com o garoto, e ele o seria. Não sabia o motivo pelo qual Lisa, logo a psicóloga, havia pedido tal coisa mas houvera percebido a urgência na voz da mulher e sabia que era importante que cumprisse seu papel. 

— Quanto mais rápido você me disser o que eu preciso saber — começou, em um tom calmo —, mais rápido vai poder sair daqui. 

A frase, que geralmente não teria efeito algum, acabou atingindo o íntimo de Lucca ao recordar-se de Nathaniel, do lado de fora das duas salas interligadas. E do pouco tempo que teria com o médico para vê-lo novamente apenas em uma ou duas semanas. 

Sempre sentia falta de Nathan, mas com o tempo esta necessidade de tê-lo por perto apenas aumentava de tamanho. 

Lucca murchou a expressão, deixando os ombros tensos caírem em rendição. Seu coração estava perdido em algum lugar de seu corpo e ainda sentia suas mãos tremerem, embora as tivesse fechado para que não o fizessem. 

Queria ir embora. 

— Eles não deixavam a gente irem longe — murmurou, contando o que lembrava. 

Gerard quase fechou os olhos de alívio e assentiu, percebendo que estava certo com o que pensara, aliviado que não tivesse que insistir ainda mais por informações. 

— E o que mais? — perguntou, sabendo que não poderia frouxar o aperto. 

Lucca forçou a memória falha, e estava claro em sua expressão que o fazia, mas a memória realmente era falha. Não conseguia lembrar-se da maneira como se vestiam, porque era semelhante à maneira como todos se vestiam. Bom, pelo menos a maioria deles. 

— Eles eram maus — murmurou, por fim. 

O xerife pôde perceber que ele estava se esforçando, e então sorriu, incentivando-o com um olhar atencioso. 

— Lucca, quantos deles haviam lá? 

— Não sabe — respondeu, sincero. 

— Haviam mais de vocês ou mais deles? 

Ele franziu o cenho, parecendo indeciso. Não sabia também. 

— Você lembra de algum nome? — insistiu, sem desviar o olhar castanho do olhar negro do garoto esguio. Ele juntou ainda mais as sobrancelhas, cada vez mais confuso com as perguntas. — Lucca, isto é importante. 

Gerard suspirou, começando a ficar nervoso. 

— Eles estavam sempre armados? — optou por questionar, depois de um tempo em silêncio. 

Desta vez, obteve uma resposta positiva, depois de pensada. 

Gerard brincou com o bloquinho de notas em mãos, relendo sua própria caligrafia com temor. Ponderou se não devia desistir da ideia forçada de Lisa e dar as costas. Lisa jamais perguntaria este tipo de coisa à Lucca se não estivesse sob muita pressão. E algo lhe dizia que não demoraria a descobrir o que é que havia de errado em Doubleville. 

Suspirou, optando por seguir em frente, antes de fazer a pergunta difícil, que saiu um pouco mais alta que um simples murmúrio. 

— Foram eles que atiraram em sua mãe? 

Desta vez, todo o semblante de Lucca modificou. A primeira expressão, tão rápida que Gerard não soube dizer se havia imaginado, foi de dor. E a segunda, que permaneceu em seu rosto já não tão magricela, era raiva. Lucca trincou a mandíbula, encarando a porta por um instante ao ponderar sair, antes de voltar os olhos raivosos para o xerife da pequena cidade. 

É claro que Gerard sentiu-se mal por haver seguido em frente com isto, mas agora não havia volta atrás. 

— Lucca, quem foi que matou sua mamãe? — perguntou em um tom mais ameno, para impedir que ele saísse como um vulto pela porta. A expressão no rosto do adolescente, no entanto, havia congelado daquela forma. E os olhos não desviaram dos castanhos nem por um segundo, nem um pouco intimidados pelo poder do xerife. — Quem foi, Lucca? Foi um deles? 

Do outro lado do vidro, Antony fazia uma careta agoniada ao observar o interrogatório. Relanceou os dois ao seu lado, com os olhos fixos na cena que se desenrolava na outra sala. Bea, no entanto, ergueu o olhar para o do companheiro com um suspiro. 

— Isto está ficando difícil de assistir já — comentou, pesarosa, antes de voltar os olhos para os dois.  

Gerard havia apoiado ambos os braços na mesa, demonstrando que não iria desistir de uma resposta. Não desta vez. 

— Por favor, tente se lembrar — pediu, os olhos suplicantes. — Se esforce um pouco. 

As vozes pareciam retornar com tudo para a mente do garoto de cabelos revoltados, mas ele as forçava para longe com toda a força que havia em si. Os olhos negros começaram a brilhar demais pelas lágrimas que começaram a acumular-se ali, deixando o xerife ainda pior do que se sentia. 

Mas Lucca não deixaria com que elas escapassem de seus olhos. 

— Foi um deles? 

A imagem de sua mãe, parando a correria por um instante para sorrir-lhe com carinho e lágrimas caindo dos olhos, voltou à sua mente. Os cabelos crespos, os olhos castanhos, a boca volumosa. Ela tinha o rosto vermelho pelo choro e nos olhos havia algo mais que Lucca não podia discernir. Não com apenas oito anos de idade. 

Lembrando-se, naquele instante, parecia que sua mãe sabia o que estava prestes a acontecer. Parecia que ela sentira, de alguma forma, que acabaria por morrer. 

Lucca, mordendo o lábio que começara a tremer, negou com a cabeça para o xerife. Isto trouxe confusão para todos que observavam o garoto, porque já parecia bastante claro que haviam sido os responsáveis pelo acampamento que houveram matado a mãe do pequeno garotinho de oito anos.  

— Foi um de vocês? 

Lucca nega novamente. Gerard franze o cenho, confuso. 

— Então quem foi? — perguntou Henley, em um murmúrio baixo, mais para si mesmo do que para o próprio Lucca. 

— Ele apareceu. — Lucca jamais se esqueceria daquele rosto. Os olhos castanhos do xerife focaram nos olhos enegrecidos, e ele franziu o cenho para a resposta, abrindo a boca com surpresa. Lucca completou, em um sussurro: — Ele também era mau. 

— Era um homem? — perguntou, apenas para vê-lo assentir.  — Ele apareceu naquele dia? Naquela hora? 

Mais uma resposta positiva. 

Gerard, então, baixou os olhos para a anotação que Clark pedira para que ele circulasse várias vezes. Engoliu em seco, os olhos nas próprias letras cursivas que formavam, entre ao menos cinco rabiscos circulares: colarinho branco

O homem, então, ergueu os olhos para Lucca, sentindo a respiração começar a pesar e o pulso começar a acelerar de antecipação. 

— Lucca — chamou, em um pouco mais que um murmúrio, nervoso —, ele vestia uma roupa parecida com a minha? 

As sobrancelhas escuras uniram-se, para logo os olhos baixarem até o fardo policial que Gerard usava. O distintivo, a identificação, as poucas condecorações. 

Lucca permaneceu com a atenção ali, ponderativo, os olhos pesando e a mente flutuando novamente, como se estivesse sendo jogado de um canto à outro de suas mais enterradas memórias. Piscou algumas vezes antes de erguer o olhar enegrecido para o xerife. 

Todo o silêncio, então, pareceu ensurdecê-lo. 

E ele soube. Ele soube antes mesmo que o garoto formulasse as palavras ou movimentasse a cabeça em um aceno afirmativo. Ele soube. 

No entanto, antes que Lucca pudesse respondê-lo, a porta da salinha foi aberta com brusquidão, sobressaltando ambas as figuras sentadas à mesa. Quatro pessoas passaram por ela, três das quais Gerard já conhecia. Lucca levantou-se como um gato arredio, afastando-se quase até o canto da salinha ao enxergar as quatro figuras imponentes no pequeno ambiente. 

Gerard, frustrado até a medula pela interrupção, levantou-se também, com o cenho franzido em uma careta de irritação. Céus, estava quase obtendo a resposta que necessitava do garoto, depois de tanto trabalho para arrancá-la dele! E agora, mesmo que conseguisse se livrar da "interrupção", o que era pouco provável, não conseguiria retomar a investigação de onde parara. 

— Senhor! Senhor, perdão, senhor — lamuriou-se Tony, entrando no cômodo entre os quatro agentes, daquele jeito atrapalhado dele, até parar em frente ao seu chefe. — Eu tentei impedi-los, mas... 

— Mas eles entraram como se fossem donos do local — completou Robert, furioso, ao invadir o ambiente atrás de Antony. 

— Lisa? — murmurou Gerard, com as sobrancelhas unidas, em tom de interrogação.

A mulher, bem arrumada em seu terno com identificação de psicóloga forense, tinha olheiras profundas nos olhos e expressão derrotada. Ela relanceou seus parceiros com um suspiro, e Gerard pôde ver que ambos também portavam as mesmas expressões vencidas. Hemming e Collins, vestidos em seus uniformes de agentes especiais da equipe de I.E.C, estavam lado a lado com a quarta figura em uma mesma vestimenta. O desconhecido era um tanto mais velho que Hemming, mas tinha a mesma postura e quase que o mesmo número de condecorações em seu uniforme. A expressão era de tédio, no entanto, como se estivesse levemente irritado de ter que estar ali. 

— Lucca — disse Grace, em um tom amistoso ao encarar o adolescente —, você pode sair agora se quiser. Tudo bem? 

— Por que o garoto foi chamado para um interrogatório repentino? — perguntou o homem, sério, ao fixar os olhos em Gerard. Este estreitou os olhos castanhos. 

— E eu devo dar satisfações dos interrogatórios que faço em minha delegacia à você por quê? — perguntou, cínico, sem baixar a guarda. Então, focou o olhar em Lisa, por quem nutria uma certa afeição desde que Lucca aparecera. — Clark, quem é esse cara? 

— Venha, garoto — disse Hemming, com um sorriso de canto, ao se aproximar de Lucca, que não havia se movido, e indicar a porta para ele. 

Mesmo relutante e curioso com a conversa entre os agentes - afinal, tudo aquilo se tratava a respeito de sua pessoa e ele sabia -, ele se deixou arrastar até a segunda porta da salinha, saindo por ela em seguida. 

— Eu sou o agente Gilbert, xerife — respondeu por ela, o homem, arqueando as sobrancelhas. — O delegado Bridget me enviou junto à equipe responsável pelo caso de Lucca para que me certificasse de que eles fizessem seu trabalho. Atrasado, por sinal — acrescentou, em tom de reprimenda, para os três outros agentes. — Acredito que eles estejam por trás deste interrogatório desavisado. Estou correto? — perguntou, trocando um olhar desgostoso com Lisa. 

Ele estava correto, na realidade. A verdade é que tudo acontecera tão rápido que nenhum dos agentes puderam comparecer em Cherubfield para conversar com Lucca. E mesmo que achassem tempo para virem, eles não tinham permissão para tal. 

Gerard, no entanto, não fazia parte da unidade de I.E.C. O xerife tampouco sabia o que estava acontecendo, então ele foi a alternativa perfeita. 

— Do que ele está falando? — perguntou, confuso e irritado, ao voltar o olhar para Clark. 

No fundo, Gerard já sabia que este era o momento que Lisa se referira, de que ele viria a compreender o motivo do interrogatório repentino. No entanto, não esperava, de forma alguma, que ouviria o que estava prestes a ouvir. 

— Lamento, Gerard — disse Lisa, forçando um sorriso, mas ele tornou-se triste ao relancear a cadeira onde Lucca estava sentado minutos antes. Soltou um suspiro. — O caso de Lucca — começou ela, relanceando o garoto antes de voltar os olhos para o xerife — está oficialmente arquivado. 

— O quê? — deixou escapar Bea, que permanecera ao lado do batente da porta, indignada. 

Gerard focou os olhos em Lisa, que lhe encarava com pesar, pensando que as coisas realmente fizeram sentido. Se o caso foi dado como morto, seja pelo motivo que for, eles não teriam permissão alguma de falar com Lucca antes que toda a papelada fosse resolvida e o caso arquivado estivesse firmado pelo próprio delegado. É claro que Gerard também teria sido privado dos interrogatórios, ele e toda a sua delegacia, mas era aí que entrava o ditado: o que os olhos não vêem, o coração não sente

O xerife não tinha nem uma puta ideia do que estava acontecendo, e nem teria até eles chegarem ali, e não tinha o porquê de levar alguma advertência por algo que não sabia. Lisa se certificou de que ele não soubesse, e também se certificou de que tirasse pelo menos mais um pouco de informações de Lucca antes que informação de "caso encerrado" se tornasse pública. 

Afinal, a partir daquele dia, qualquer interrogatório se tornaria, no mínimo, fora da lei. 

O caso estava morto. 

— Por quê? — perguntou, em mais do que um murmúrio, sem saber no rosto de quem focar. 

Hemming suspirou, colocando ambas as mãos nos quadris. 

— Todas as pistas nos levam à um beco sem saída — respondeu Luke, desgostoso. — É um desperdício de dinheiro, tempo e recursos que podíamos estar usando em um caso que realmente vá para frente. 

Mas assim que estas palavras saíram da boca do loiro, Gerard estreitou os olhos ao perceber que a fala era ensaiada. Era uma mentira, e a julgar pelo que acabara de descobrir a partir dos olhos selvagens de Lucca e pela maneira como todos estavam se portando, o xerife já imaginava o porquê. 

Era quase uma piada de humor ácido. É claro que eles encerrariam as investigações de um caso de corrupção policial desta dimensão. Eles não haviam desenterrado nem metade de tudo e quanto mais desenterrassem, a mais riscos estariam expostos todos e cada um dos envolvidos.

E ao pensar na maneira súbita como todo o caso havia sido dado como finalizado, bem como a manobra de Lisa ao conseguir um último interrogatório, Gerard só podia imaginar a merda que devia ter acontecido em Doubleville. 

Suspirou pesadamente. 

— Isto quer dizer que a investigação foi encerrada como inconclusiva —continuou o agente Gilbert, no lugar de Hemming, com o tom entediado. — Todo e qualquer movimento policial com o objetivo de forçar uma investigação será dado como ilegal. Todo e qualquer interrogatório com o garoto ou com qualquer outra pessoa com o intuito de resolver uma investigação que já não está em andamento está estritamente proibido. Isto quer dizer que vocês não podem e não devem continuar a levantar pedras atrás de... 

— Eu sei o que isto quer dizer — disse Gerard, firme, com uma veia pulsando em sua testa. Hemming deu um riso de canto por isto, também já estando de saco cheio do agente que houveram trazido nas costas, praticamente. — Eu sou o xerife desta delegacia e eu sei o que significa um caso arquivado

— Muito bem — disse o outro, assentindo. — Podem liberar o garoto e a família dele, e eu vou dar um jeito na papelada. Ordens do delegado de Doubleville que, caso você tenha se esquecido, é o encarregado de todo este processo investigativo, xerife — acrescentou ao perceber os olhos estreitos do xerife Henley, com uma sobrancelha arqueada. Olhou no rosto de cada um, como se esperasse algo, antes de pronunciar, por fim: — Com quem devo falar a respeito dos papéis? 

Em menos de minutos, cada equipe foi para um lado para dar um jeito de agilizar o processo e arquivar toda a papelada. Cada um com sua própria frustração. 

Gerard, depois de tomar alguns segundos em seu escritório, pensando e repensando sobre tudo, saiu porta afora atrás de Clark. Assim que avistou a mulher, em uma conversa sussurrada e apressada com os outros dois agentes especiais, fez um sinal para que ela se aproximasse. 

Trocou olhares com Lisa, que sorriu ao perceber o que os olhos castanhos lhe queriam dizer: houvera conseguido alguma coisa a partir de Lucca. 

Graças à Gerard, eles teriam mais algumas pistas para seguir, mesmo que por debaixo dos panos. Afinal, estavam proibidos de investigar mais sobre o caso, mas não é como se isto fosse impedi-los. E o delegado sabia disto, afinal, por este motivo é que mandou um cão de guarda, o agente Gilbert, que não estava envolvido no caso para mantê-los na linha. 

Gerard pegou-a pelo pulso e deixou um pedaço de papel dobrado na palma de sua mão, forçando os dedos finos a fecharem por sobre ele em seguida. Ele havia feito sua parte com majestia. Lisa segurou a mão do homem antes que ele se afastasse, sorrindo abertamente em seguida, como uma forma de agradecimento. 

Lisa foi a encarregada de informar a família, e quase chorou ao vê-los sentados naquele bando comprido, esperando por ao menos uma explicação sobre o que estava acontecendo. Apesar do claro alívio no rosto dos pais adotivos, havia uma expressão diferente no rosto de Nathaniel e Lisa soube que ele se sentia exatamente como todos eles. 

Era óbvio que todos queriam o melhor para Lucca, para Nathaniel era exatamente como os agentes federais: ele também queria justiça. 

Clark inspirou fundo e tentou explicar, à sua própria maneira, que ela faria de tudo para reabrir o caso. Ela e toda a delegacia de Doubleville. Eles não desistiriam tão fácil de Lucca, mas por ora, não havia nada legal que pudessem fazer que não envolvesse alguma informação que talvez pudessem sacar de Lucca. E não podiam sacar nada de Lucca, porque os interrogatórios foram dados como finalizados. 

Ou seja, haviam dado de cara com a parede. 

Nathan ficou tão frustrado que se levantou e começou a andar de um lado ao outro, tentando acalmar os nervos. Lucca observou a cena, sentindo-se estranhamente culpado, mesmo que não houvesse tido culpa alguma. Nunca havia visto o médico daquela maneira e não queria vê-lo nunca mais, percebeu, ao seguir-lhe com os olhos escuros. 

Em questão de minutos, os três agentes que estavam batalhando por meses por justiça em nome de Lucca tiveram que se despedir do jovem. Como se percebesse que eles não se veriam por um tempo, Lucca puxou Lisa pela mão, a última a se despedir, e segurou-a na sua por alguns poucos segundos. Os olhos azuis da mulher quase saíram das órbitas com o gesto, tão chocada que teve que segurar as lágrimas nos olhos quando caiu a ficha.

Os poucos segundos foram o suficiente para que ela entendesse a dimensão do simples toque. Sorriu, assentindo com carinho, antes que Lucca puxasse a própria mão de volta e pousasse os olhos em Nathan, sentado ao seu lado novamente. 

O médico sorriu fraco, percebendo que desde o abraço que haviam compartilhado, Lucca estava, pela primeira vez, tentando ter algum contato humano. Não que estivesse tendo muito sucesso, mas o fato de ao menos tentar já era um tanto chocante. 

Os três agentes sorriram e trocaram palavras gentis com os quatro membros da família. Lisa deixou claro que visitaria e que ligaria para certificar-se de que tudo vá bem. Grace parecia alheia à tudo, presa nos próprios pensamentos e eles não pareciam nada agradáveis. Luke tinha uma irritação concentrada entre as sobrancelhas que parecia não desvanecer nunca. Era o que mais estava frustrado com o caso encerrado como inconclusivo. 

Lisa parou em frente à família, com os olhos em Nathan, e com um suspiro, sorriu-lhe com fragilidade. 

— Lucca terá a justiça que merece, Nathan — disse ela, a expressão ficando séria enquanto os olhos brilharam com sinceridade. 

Nathan assentiu, mas a complementação da frase de Lisa, saída dos lábios de Hemming, trouxe um sorriso ao seu rosto. As palavras, sinceras e um tanto raivosas, deixaram claro que nenhum dos três deixaria a guerra sem lutar: 

— Nem que tenhamos que consegui-la à força.


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Notas finais do capítulo

FIM DE MAIS UMA ETAPA.
Gente, e agora? Hhahahahah. O que que vocês acham que acontece?

TRADUÇÕES:
1. Håll käften och flytta dig dit! Nu! - Cala a boca e ande até lá! Agora! (sueco)
2. De kommer! De kommer! - Eles estão vindo! Eles estão vindo! (sueco)
3. Vi måste komma ut härifrån! Nu! - Nós temos que sair daqui! Agora! (sueco)
4. Aqui estás, mi amor! Dáme tu mano y no te atrevas a alejarte de mi! Venga! Tu también, Kai! - Aqui está você, meu amor! Me dá sua mão e não se atreva a afastar-se de mim! Venha! Você também, Kai! (espanhol)
5. Ey, ty! Ne dvigaysya! - Ei, você! Não se mova! (russo)
6. Visa dem! Nu! - Mostre à eles! Agora! (sueco)

Ah, gente! Eu não sei se é permitido porque eu nunca fiz isso... Mas eu vou deixar os links de duas histórias que tão me encantando por demais da conta, mas que não são de minha autoria, aqui embaixo. Então, se vocês quiserem ler - se é que já não tão lendo -, eu super recomendo:
1) https://fanfiction.com.br/historia/754509/A_Musica_do_Silencio
2) https://fanfiction.com.br/historia/754466/Ode_aos_desafortunados/


Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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