Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 20
XIX. Indecifrabile


Notas iniciais do capítulo

Boa gente do meu coração! ♥

Queria agradecer às duas divinas criaturas que recomendaram "Lucca": Antinouxs e Kayonn! MUITO OBRIGADA, BENS! Significa muito pra mim! E chocolate pra vocês ♥

Boa leitura! *-*



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Fevereiro 

— Muito bem — dizia Nathan, sorrindo. — Agora me alcance o alicate — pediu, vendo os olhos de Lucca desviarem para a caixa de ferramentas e voltarem para si, confusos. — Aquela ferramenta que parece com uma tesoura. 

Lucca assentiu e entregou a ferramenta nas mãos de Nathan, que estava praticamente pendurado na escada prática. 

Abigail afastava-se das panelas do almoço, vez ou outra, para relancear os três homens da casa em função da construção de madeira, a partir da janela da cozinha. Achava curioso os diferentes estágios de vida em que os três se encontravam.

O marido, em seus repletos cabelos brancos e a expressão cansada depois de duas horas em função da mesma coisa. O filho, no auge da juventude, em seus vinte e oito anos, flexionando os braços com estusiasmo ao enroscar um dos parafusos com força na base de madeira. E o filho adotivo, o garoto perdido, na flor da idade, dando assistência com o rosto relaxado e os olhos curiosos. Abigail sorriu, pensando que devia lembrar-se de tirar uma foto mais tarde. 

A reconstrução da casa da árvore havia começado cerca de um mês e meio antes, com Nigel no comando. Nathaniel ajudava quando aparecia na cidade e as coisas andavam de forma duplamente mais rápida quando ele estava por perto. Lucca, apesar de não parecer, era de muita ajuda, ainda mais quando Nathan estava por perto. Abigail sentia que o garoto se esforçava mais, talvez para se mostrar capaz, quando o médico estava ao seu lado. 

Nigel se encontrava em cima da base da casinha, pregando as paredes da mesma, enquanto Nathan ficava encarregado da porta da casa, postado em cima da escada. Lucca havia ficado em solo seguro, no meio daquele monte de madeira e ferramentas, e entregava tudo que lhe era pedido. Vez ou outra subia na escada com Nathan, segurando algo que ele lhe pedia para facilitar o trabalho. 

— Olha só — dizia Nathan, limpando a testa com o braço —, estou começando a ficar com um pouco de inveja de você — falou, olhando para baixo. Sorriu. — Nem mesmo a minha casa da árvore era tão sofisticada! 

O riso de Nigel se fez presente, enquanto seu rosto aparecia próximo ao do filho, balançando a cabeça. 

— Devia mesmo — disse ele, espiando também o garoto na grama. — A casinha de Nathan era menor do que esta vai ser, Lucca. Você vai poder colecionar muito mais besouros — falou, rindo quando Nathan revirou os olhos. 

— Insetos são divertidos — resmungou ele, tentando convencê-lo. 

— Insetos picam — disse Lucca, lá embaixo. Nathan, perplexo, desviou os olhos para o garoto, que dava de ombros. Estreitou os olhos. 

— Nem mesmo você... — reclamou, mas o sorriso teimava em aparecer em seu rosto. 

Lucca permitiu-se sorrir também, entendendo a frustração do mais velho. Gostava de entender o que acontecia à sua volta. E gostava de entender Nathaniel, para variar um pouco. 

— Meninos, o almoço está quase pronto — avisou Abigail, aparecendo na porta da cozinha com um arquear de sobrancelhas. — Vão se lavar logo! 

Já cansados do trabalho duro, sequer se incomodaram em retrucar, os mais velhos descendo da árvore enquanto que Lucca os aguardava na grama. A casinha da árvore já tomava forma, e era certo que em pouco tempo já estaria pronta para o uso pessoal de Lucca. 

Como haviam apenas dois banheiros na casa, cada um enfiou-se em um, e Nathaniel esperou no quarto até que Lucca terminasse o seu. Retrucando que não queria e fazendo cara feia, Lucca desistiu ao ver que Nathan não cederia e encaminhou-se para o chuveiro.

A verdade era que Lucca adorava os banhos. Adorava ficar desprovido das roupas, livre e solto, e sentir a água morna na pele. O que não gostava era de ter que entrar embaixo do chuveiro, pelo costume de só tomar banho em dias de chuva, sem sabão ou shampoo. Uma vez que entrava, no entanto, não queria sair. Exatamente como qualquer garoto na infância. 

Depois de Nathan chamá-lo duas vezes, e Abigail gritar no andar debaixo sobre a comida que esfriava, Lucca saiu do banheiro com desgosto. Enfiou as roupas de qualquer jeito, como sempre o fazia, e entrou de volta no quarto, de onde Nathan o encarava com uma das sobrancelhas arqueadas. 

— Assim você acaba com toda a água do mundo, pequeno — falou, com um indício de sorriso no rosto. 

Lucca, talvez por não saber ou sequer pensar no que fazer, permaneceu em pé ao lado da porta. Arregalou os olhos minimamente com a ideia da água acabar, mas assim que o sorriso de Nathan aumentou, ele soube que não era verdade. 

— Vem, venha aqui — disse o médico, estendendo a mão para o garoto, com preguiça de levantar da beirada da cama. 

Lucca obedeceu prontamente, sem questionar, aproximando-se do mais velho que balançava a cabeça com incredulidade. Assim que aproximou-se o suficiente, viu que os olhos desaprovadores estavam presos em sua roupas que, aliás, incomodavam seu corpo delgado. 

— Já disse que a toalha serve para se enxugar — reclamou, levando as mãos para sua roupa e vendo o corpo dele retesar. Ignorou-o, mesmo assim. — É por isso que incomoda, a roupa toda está grudando em seu corpo! 

Lucca franziu os lábios, desgostoso. Entendia que tinha que se enxugar, não gostava de ficar pingando água, mas em todas as vezes que tentara, a toalha não havia servido de muito. Não gostava da ideia de ficar esfregando seu corpo até secar. Era cansativo, chato, e desnecessário. Podia simplesmente vestir a roupa e deixar secar naturalmente. Melhor, podia deixá-las de lado e ficar nu, como o fizera muitas vezes na floresta. Nunca houvera ficado sem roupas perto de outras pessoas, no entanto, não que lembrasse, então achava a ideia completamente desagradável. 

Mas não tanto quanto se enxugar com um pedaço de tecido. 

— Tira a camisa que eu seco para você — disse ele, levantando-se para pegar uma camiseta seca, já que a que o garoto usava já estava completamente úmida. — Ficar com a pele molhada e com roupa úmida no corpo faz mal, ainda mais no inverno. É isso que faz o nariz pinicar e a garganta doer mais tarde — explicou, não podendo abandonar seu lado de médico. 

Lucca retirou a camisa com agilidade, jogando-a na cama. Assim que o médico aproximou-se com a toalha, a ruga entre suas sobrancelhas aumentou consideravelmente. Nathaniel riu. 

Só então pôde perceber o quanto ele havia mudado mesmo, porque lembrava perfeitamente da imagem do garoto encolhido entre as folhagens, assim como o momento em que parou diante da luz. Era muito mais magro, e pelo peito, podia perceber então que também era bem menos desenvolvido. Desnutrido, lembrou, com tristeza. 

O corpo, ainda delgado, já não deixava transparecer de forma visível os ossos por trás da pele. Já haviam crescido poucos pêlos por seu abdômen, em especial abaixo do umbigo, e os ombros estavam mais largos. Os cabelos estavam curtos, devido ao corte mal feito de Nathan, e o rosto já não se assemelhava ao de uma criança de oito anos. 

O que nunca mudava eram os olhos negros e selvagens. E Nathan soube que eles nunca mudariam. 

— Posso ou não posso? — perguntou finalmente, indicando a toalha. 

Depois de relutar, Lucca permitiu que sua pele fosse seca. Tomando o maior cuidado do mundo em não encostar pele na pele, Nathan o fez de forma rápida. Juntou a camiseta que havia escolhido e enfiou na cabeça de Lucca, como um vulto, para que ele não tivesse tempo de reclamar. Mesmo assim, pôde ver o semblante insatisfeito do menor. 

— Agora venha aqui — falou, voltando a sentar-se na beirada da cama. Lucca aproximou-se e sua cabeça foi envolta pela toalha, com agilidade. Afastou-se em um pulo, enquanto Nathan gargalhava. — Ei, calma. Eu preicso enxugar os cabelos como da última vez, lembra? Senão vai molhar a camisa também. Venha logo, está pingando — chamou, estendendo o braço. 

— Eu nunca secava o cabelo — resmungou o menor, franzindo o cenho. 

— E sua garganta nunca doía também? — retrucou o médico, arqueando uma da sobrancelhas. 

Um beiço teimoso formou-se no rosto de Lucca antes de ele suspirar e aproximar-se mais uma vez. Nathan escondeu o sorriso para não deixar-lhe ainda mais irritado. 

— Nathan, você ainda não tomou banho! — acusou a mãe, assim que colocou o rosto para dentro do quarto. 

— Ainda não, este aqui está dando trabalho hoje — falou, indicando a cara feia de Lucca enquanto esfregava seus cabelos com a toalha. 

Abigail não conseguiu impedir o sorriso. 

— Ele não aprende, não é? — perguntou a mãe, balançando a cabeça. — Sempre temos que fazer esta função para que não pegue uma gripe. Não bastasse estar sempre sem calçados e com pouca roupa — desaprovou ela, ainda sorrindo. 

— Não é? — riu Nathan. — Então quer dizer que minha mãe pode secar-lhe os cabelos e eu não? É isto? — perguntou para Lucca, fazendo com que virasse o corpo para si, estreitando os olhos. 

Abigail apenas riu e retirou-se, sem esquecer, é claro, de gritar uma última vez sobre o almoço.

— Não — respondeu o mais novo, vendo o médico revirar os olhos com um sorriso. — Você secou meu corpo. 

— Então não posso secar os cabelos? — perguntou em resposta, divertido. — É muita coisa pra um dia só? — Riu, vendo que o menor ficou em silêncio. 

Sentado na cama, com as pernas abertas e Lucca em pé entre elas, Nathan enxugou-lhe o pescoço uma última vez e soltou a toalha na cama. 

— Pronto, assim já está bom — falou, observando os cabelos úmidos, apontando para direções diferentes.

Pensava seriamente que o secador de cabelo seria mais útil, mas se o som assustava o gato que havia tido na infância, certamente assustaria Lucca também. Jamais deixaria o médico chegar perto de si com aquele aparelho. 

Como Lucca não fez menção de sair do lugar, como sempre o fazia, Nathan inclinou a cabeça para obsevá-lo. 

— Tudo bem? — perguntou, vendo o rosto relaxado do menor. 

Lucca encolheu os ombros, mas continuou com os olhos escuros presos no rosto de Nathan, pensativo, o que deixou o mais velho ainda mais curioso. Suspirou uma vez, fazendo com que as sobrancelhas do médico arqueassem com a estranheza da situação. 

O garoto tinha o rosto relaxado, os ombros caídos e os olhos perdidos. Como não conseguia entender a sensação estranha dentro de si, preferiu ficar parado tentando desvendá-la ou esperar que passasse. Já sabia que podia confiar em Nathan, então não se preocupou com a pouca distância entre eles. Limitou-se a observá-lo. 

Nathaniel tinha a pele clara, o bronzeamento do verão quase completamente desvanecido, devido ao tempo que se passara desde a estação. Os olhos eram claros demais para a cor castanha-amarelada, e a barba negra, apesar de feita dois dias antes, já começava a aparecer no rosto bonito. Lucca ficara poucas vezes tão perto do médico, e assim que seus olhos escuros vasculharam os detalhes do rosto alheio, não pôde desviar o olhar. 

Permaneceu encarando seu rosto bonito e enquadrado, e os olhos amendoados que estavam alargados ao encarar-lhe com atenção, à procura de uma explicação sobre suas ações. Nathan sempre lhe encarava assim, como se cada gesto que fizesse fosse de extrema importância. Lucca não entendia e não sabia se o viria a entender um dia. 

— Lucca? — perguntou, sorrindo automaticamente ao perceber o quão adorável o garoto era com o semblante pensativo. 

O que estaria passando por sua mente?, se perguntava o mais velho.

A verdade era que nem mesmo Lucca sabia. Independente do que fosse, Nathan não quis quebrar o contato entre eles até que Lucca o fizesse. Esperou por um, dois minutos, sorrindo-lhe com carinho e estudando seu rosto indecifrável. 

Lucca não sabia se pensava em alguma coisa ou em coisa alguma. A sensação não havia passado, mas havia amenizado o suficiente para que ele pudesse quebrar a ligação. Logo, depois de longos cinco minutos, desviou o olhar, deixando Nathan em estado curioso. Sabia que tudo provinha diretamente de Nathan, então logicamente, era melhor que se afastasse para que tudo voltasse ao normal. 

— Tenho fome — murmurou Lucca, pensando na barriga que começava a fazer barulhos. 

— Tudo bem — murmurou Nathan de volta, passando uma das mãos por seus cabelos úmidos. Estranhou o fato dele não se afastar de seu toque, mas não reclamaria disto, obviamente. 

 No entanto, Lucca deu-lhe as costas e não virou para trás vez alguma antes de sair do quarto e descer para a cozinha. 

Apesar de sua mente dar voltas, Nathaniel percebia que nem toda a medicina do mundo seria capaz de desvendar os mistérios por trás dos olhos escuros do garoto. Sorriu com o pensamento, balançando a cabeça, antes de pegar uma toalha para si e dirigir-se, finalmente, para o seu banho. 


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Notas finais do capítulo

Não sei, comecei a escrever esse capítulo sem saber bem o que escrever e saiu assim! Hahahahha. Ia começar os interrogatórios e tudo o mais, mas pensei que eles mereciam mais um capítulo de paz, ao menos! :P

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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