Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 14
XIII. Sem saída


Notas iniciais do capítulo

Gente linda, gente boa, gente bela! *0*

Perdão pelas demoras para postar os capítulos, ok? Mas quero que saibam que não irei desistir da história, apesar dos pesares de minha vida chata!
"Lucca" é meu xodó, assim como vocês ♥

Boa leitura! *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/728013/chapter/14

Novembro

— Não sei do que você está falando — disse o homem de cabelos grisalhos, um sorriso de canto em sua boca. Usava uma roupa social, e tinha uma aliança em sua mão esquerda. 

Lisa Clark e Grace Collins se entreolharam em uma comunicação silenciosa antes de voltarem os olhos para a sala interior de interrogatório. A psicóloga e a agente federal estavam observando em silêncio o interrogatório que se desenvolvia atrás do vidro, Luke Hemming no comando.  

— Não sabe? — perguntou o agente, as sobrancelhas claras erguendo-se em uma falsa surpresa antes que se sentasse novamente em frente ao sujeito. — Engraçado. Um de seus subordinados, o... — Tomou uma pausa para juntar sua planilha na mesa e checar o nome. — O doutor Kress afirmou que nunca havia posto os olhos no "garoto selvagem". 

— Kress está falando a verdade, assim como eu — falou ele, colocando a mão no peito como se estivesse ofendido com as dúvidas de Hemming acerca de si.  

No entanto, foi a vez de Hemming de deixar aparecer um sorriso de canto.  

— Ele afirmou isto antes de eu sequer mencionar o garoto — contou, cruzando os braços, com a sobrancelha arqueada. — O que é um tanto surpreendente, já que eu não sabia que cientistas eram psíquicos também.  

A postura do Dr. Robert Miller cedeu minimamente antes que ele desse de ombros.  

— Kress é um idiota, agente — comentou, estalando a língua —, mas não é burro. O Ph.D do rapaz é bastante prova disto. O país inteiro sabe que vocês estão investigando as origens do garoto, é muito óbvio que as investigações inconvenientes — falou, enfatizando a última palavra —, em meu laboratório, têm a ver com este caso.  

— Deixe-me ver se eu entendi, doutor — disse Hemming com ironia. — Você está me dizendo que, apesar de viver praticamente vinte e quatro horas por dia em seu precioso laboratório, não viu garoto algum. Nem você e nem sua equipe — acrescentou, vendo-o assentir com a cabeça de forma pacífica. No entanto, Hemming não parou. — Apesar do laboratório ficar na divisa entre Cherub Field e Amoran e afastado de ambas as cidades, perigosamente próximo da floresta — falou, vendo o pequeno sorriso de Miller tornar-se em lábios pressionados com seriedade e irritação. — Muito, mas muito próximo de onde ocorreu o incidente de sete anos atrás. Ou seja, próximo de onde Lucca passou boa parte dos últimos anos. — Luke escorou-se em sua cadeira, o cenho franzido. — É isto que está me dizendo?  

O cientista deixou um sorriso espalhar-se por seu rosto à medida que balançava a cabeça negativamente, divertido com a situação. Hemming teve de apertar os punhos por debaixo da mesa com o intuito de não pular em Miller e apertar o seu pescoço.  

— O empenho de vocês, agentes federais, me impressiona de verdade — disse ele, cruzando os braços em cima da mesa. — Sim, é exatamente isto que estou dizendo. Somos cientistas empenhados, agente, e sequer temos tempo de sair porta afora e observar a linda paisagem destas florestas imensamente magníficas. Vamos mudar o futuro da nação com nossa pesquisa, e isso não requer tempo livre. Pelo contrário, Hemming — contou, o sorriso irritante ainda flutuando em seu rosto. — Fico aliviado, no entanto, que o garotinho tenha agentes tão determinados atuando na resolução de seu caso. Ele tem sorte, o que traz uma imensa paz ao meu coração.  

Hemming, sem sequer esperar a última palavra proferida por Miller, levantou-se e chocou seu punho contra a mesa com uma irritação absurda. O semblante sombrio, tomado de impaciência, não fez com que o sorriso do cientista sumisse. No entanto, fez com que o mesmo recuasse para trás o suficiente para encostar as costas na cadeira.  

— Ele não é um simples garotinho! — esbravejou, o rosto tomado pela cor avermelhada.  

— Luke? — A voz de Grace tomou conta do pequeno interrogatório, a partir do sistema de som, chamando a atenção do irritado agente. — Pode vir aqui um instante?  

Hemming fechou os olhos ao inspirar fundo antes de pôr os pés a caminhar em direção à porta da divisa. Fechou atrás de si e deixou escapar uma inúmera quantidade de insultos para o ar.  

Lisa foi a primeira a falar.  

— Luke, se estressar não vai ajudar em absolutamente nada — disse ela, aproximando-se. — Acalme-se e volte lá dentro. Ele pode sorrir o quanto quiser e fingir que nada está acontecendo, mas tanto ele quanto a IDL estão em maus lençóis. Nós podemos não ter toda a informação, mas temos o suficiente para arrancar dele o que precisamos saber. E ele sabe disso, Luke — falou, os olhos azuis nos de Hemming. — Ele sabe disso. Tudo em sua postura, em sua fala e em sua provocação é uma forma que ele encontrou para tirar o seu foco. Confie em mim. Eu não tenho tantos títulos honorários sem motivos — completou, com certo humor.  

Hemming suspirou, pondo as mãos na cintura, antes de assentir.  

 O Dr. Robert Miller era o chefe da corporação de pesquisa em genoma, a chamada DNAtional Inch Laboratorian, ou IDL. O laboratório era uma unidade pessoalmente fechada, dedicada à todo tipo de pesquisa inimaginável de genética, todos supostamente com aprovação do governo. Apesar de estar localizada em uma das propriedades rurais de Amoran e usufruir de uma grande quantidade de solo, água e energia, a IDL não era muito conhecida, porque não gerava exatamente lucros com seu trabalho. Devido também à sua localização afastada, passava despercebida, não fosse o escândalo no qual se meteu alguns anos anteriormente.  

Haviam cerca de duzentos empregados no laboratório, entre eles, os chefes de departamentos, os cientistas renomados, os estagiários, o pessoal dos equipamentos e aquele dedicado somente às áreas externas do mesmo. Mesmo que somassem um número grande de pessoas, o tamanho e a extensão do laboratório equivalia à necessidade de pelo menos oitocentos trabalhadores. Este número era devidamente ignorado pela corporação. Praticamente toda a equipe havia sido cuidadosamente escolhida não apenas de todo o país, mas de diversas outras partes do mundo. Os únicos originários de Amoran e Cherub Field, no entanto, eram os faxineiros externos.  

— Luke, você vai ter que esquecer a nossa suspeita da participação deles no acampamento e focar no caso. — Grace pronunciou, relanceando o homem do outro lado do vidro. — Nós podemos voltar à isto depois, mas agora precisamos saber se eles tiveram algo a ver com Lucca, especificadamente. Você vai ter que mencionar o rumor e o husky, Luke. Ele só vai falar se tiver medo da exposição da IDL novamente.  

A localização da IDL foi o primeiro que chamou a atenção do Departamento de Doubleville, já que estavam fazendo uma análise detalhada de tudo que havia perto da floresta. No entanto, toda a bizarria do laboratório era gritante demais, os instigando a ir mais longe na investigação. O estranho laboratório tinha a permissão de testar suas pesquisas de genoma em ratos laboratoriais, mas isto parece não ter sido o suficiente.  

Em 2008, os rumores das atrocidades cometidas na IDL espalharam-se para além das pequenas cidades, tornando algo de conhecimento no país. Uma das estagiárias que trabalhava na IDL espalhou que o laboratório abusava de suas permissões, indo além de ratos laboratoriais. O rumor dizia de forma indireta que os cientistas seriam capazes de fazer experiências em quem tivesse que fazer, para uma análise mais precisa das pesquisas. Poucos dias haviam passado antes que um vídeo de uma câmera escondida vazasse na internet, mostrando cachorros em celas pequenas, machucados ou dopados. Foi o ápice para que um processo caríssimo se fizesse contra o laboratório, custando muito de seus direitos e, por pouco, não causando o fechamento da unidade laboratorial.  

Hemming torceu o nariz ao ler a notícia antiga, percebendo que a data acusava um ano após o acampamento de Amoran. Se a cidade soubesse que IDL fazia experimentos em animais sem permissão e soubesse que isto não seria tão prejudicial para a cidade, fazia sentido deixar que os rumores se espalhassem pelo país. Afinal, eles precisavam, à todo custo, deixar o Acampamento desvanecer completamente da boca da população, bem como das notícias. O que seria melhor que um rumor para apagar outro rumor?  

Luke ajeitou seu uniforme, depois de relancear Lisa e Grace, entrando novamente no cômodo com Robert Miller. Este deixou um riso sair pelo nariz assim que o agente sentou-se à sua frente.  

— Quanto tempo, agente — disse ele, com ironia. — Até onde eu saiba, você não pode me manter aqui por muito tempo.  

— Não será necessário, Miller — retrucou prontamente. — Você logo será liberado. Eu só tenho algumas poucas perguntas para terminar.  

— Vá em frente, Hemming, não tenho nada a esconder.  

— Cachorros — falou Hemming, franzindo o cenho. — Eu admiro a coragem de usar cachorros para experiências bizarras como as que vocês fazem. Até porque, estes são uns dos animais de estimação mais queridos pela humanidade — continuou, fazendo-se de confuso. — Não se preocupou com a possibilidade de isto vazar, chamando a atenção da imensa quantidade de pessoas que lutam pelo Direito Animal?  

Pela primeira vez em seu interrogatório, a cara de Miller fechou. Parecendo extremamente irritado com o assunto, estalou a língua.  

— Isto é um assunto enterrado, Hemming — disse ele, coçando a barba. — E é um assunto que não diz respeito à sua investigação. Não tenho o porquê falar nada sem a presença de um advogado.  

Luke permitiu-se sorrir, satisfeito com a reação alheia e com a menção ao advogado. Isto era sinal de que o nervosismo havia começado.  

— É claro, doutor. — Riu ele, mexendo em sua planilha. — Formado em Medicina, não? Você realmente é um doutor — falou ele, com humor. — Primeiro, médico e logo, cientista. Genética Médica, é isto? Genética Molecular — murmurou, os olhos claros em seus papéis antes de erguê-los e deparar-se com um cientista irritado. — Era só uma curiosidade minha, sobre os cachorros. Eu gostaria de saber o motivo antes de entregar esta história, mais uma vez, para a imprensa.  

O rosto irritado de Miller mudou, a boca abrindo-se devagar ao passo que os olhos se alargavam. Franziu o cenho ao piscar diversas vezes, incrédulo.  

— Do que está falando? — inquiriu, o corpo indo para frente de tal maneira que chocou-se contra a mesa.  

— De seus cachorros experimentais, Miller — respondeu Luke, os braços cruzados. — Você sonhou alto, não foi? Não juntou cachorros de rua, os quais ninguém sentiria a falta. Você usou cachorros de raça para os experimentos, como o famoso Husky Siberiano. Tem a ver com a genética ou apenas com a beleza deles? — sussurrou, provocativo.  

— Todos os animais reclamados pelo Direito Animal foram soltos, assim como fomos ordenados, agente — disse ele, tornando com o tom manso. — Não pode fazer acusação alguma sem provas e eu garanto que não as terá.  

— Ah, eu aposto as minhas bolas que você se certificou que não haja provas — retrucou Hemming, o tom ameaçador. — Mas sabe o que eu acho? Eu acho que você, ao perceber que os rumores haviam se alastrado, deu um jeito de se livrar dos animais deformados que lá havia. Não podia se livrar de todos, não? Afinal, haviam provas de que cachorros estavam sendo usados para pesquisas. Você se livrou dos animais que salvariam a sua bunda do fracasso total e o deixariam apenas com uma multa.  

— Você pode achar o que quiser, Hemming, mas eu...  

— Ainda não terminei — interrompeu o loiro, com um sorriso de escárnio. — Mas eu também acho que você não pensou em tudo. Não pensou que, talvez, sem a sua permissão, outros de seus subordinados tomassem a liberdade de fazer algo a respeito, como, por exemplo, soltar para a floresta alguns de seus cachorros. — Miller franziu os lábios, dando-se conta de onde Hemming chegaria. — Céus, eu não duvido que tenha sido a própria estagiária que fez a gravação das jaulas que os libertou. Estou certo, Miller? Havia algumas de suas cobaias faltando?  

Miller inflou as narinas, os olhos fixos na mesa, balançando a cabeça negativamente. Ergueu os olhos para Hemming, mas nada se atreveu a dizer. Hemming, então, puxou algumas fotos do meio de suas planilhas, colocando-as na mesa. Arrastou-as até que estivessem em frente ao cientista.  

— Estas são algumas fotos do amigo de Lucca — pronunciou Hemming, vendo o assombro passar pelos olhos de Miller. — Esteve com o garoto durante algum tempo nas florestas. Haviam três cachorros, disse ele. Este foi o único sobrevivente. — Apontou para a foto em que aparecia o rosto de Sassenach. — Você sabe, sobrevivente dos produtos químicos usados neles. Não? — perguntou, erguendo a sobrancelha. — Sabe como eu sei que é um dos seus? Pelas cicatrizes — disse, apontando para a foto da barriga do husky. — Não tenho provas, Miller, como você deve perceber. Tenho apenas meu instinto e meu instinto não mente. Mas eu estou imaginando que você não queira que eu erga essa dúvida nas mídias. A dúvida de que eu estou falando a verdade. De que o melhor amigo do pobre órfão, do garoto perdido que todo mundo conhece devido à mídia, é sobrevivente de uma experiência bizarra da DNAtional Inch Laboratorian.  

Do outro lado do vidro, Grace dava um gritinho ao perceber o rosto derrotado de Miller e Lisa se permitia rir da cena, focando os olhos no rosto ameaçador de Luke e a expressão assombrada de Miller.  

— O que você quer? — perguntou o cientista, em um tom ríspido.  

Era tudo o que Hemming precisava ouvir, inclinando-se para frente em um vulto.  

— Eu quero saber tudo o que você sabe a respeito de Lucca — falou de forma rápida, impaciente. — Quero saber também quem foi que calou a sua boca com relação ao Acampamento. Porque eu duvido muito que, estando tão perto daquela vila, nenhum de vocês foi capaz, durante anos, de perceber que havia algo de errado há menos de cinco quilômetros de vocês.  

Miller soltou um riso pelo nariz, balançando a cabeça de forma igualmente impaciente.  

— Não sei nada sobre o acampamento e já disse que não sei nada sobre o garoto — reclamou, irritado. — Eu nunca saio para a parte traseira de nossa propriedade, estou sempre envolvido com meu trabalho.  

— Não acredito em você — esbravejou Luke ao se levantar. — Está duvidando que eu torne público isto aqui? — Apontou para as cicatrizes de Sassenach. — Eu não tenho nada a perder, Miller, você é que tem!  

Miller passou as mãos pelos cabelos, nervoso.  

— Eu sei disso, mas não estou mentindo! Você tem que acreditar em mim — implorou, gesticulando muito com as mãos. — Nunca havia visto o garoto antes! Nunca!  

— Nunca ouviu falar também? — perguntou o agente, aproximando-se como um gato. — Ninguém de sua equipe mencionou um garoto sobre as proximidades de sua propriedade? Ninguém comentou que ele passava ali ou, talvez, que o alimentava de vez em quando? Ninguém com um coração bondoso, quem sabe, que o dava água durante as semanas? Ninguém?   

A mudança de expressão de Miller teria passado despercebida se não se tratasse do agente Luke Hemming com ele naquela sala. Ele sorriu de canto, impedindo um "não" que estava prestes a sair da boca do cientista ao falar:  

— Desembucha, Miller — falou, sério. Ao perceber o silêncio do homem que suava frio, acrescentou em tom rude: — Agora! 

— Está bem, está bem — resmungou o homem, ajeitando sua gravata. — Ouvi algumas vezes o pessoal discutir se estavam alucinando ou não ao ver algum tipo de criatura rodar a propriedade — contou, remexendo as mãos. — É tudo que eu sei.  

Hemming relanceou o vidro espelhado com um suspiro antes de abaixar-se e pegar o homem pela gola da camisa. Ouviu um grito abafado antes de jogá-lo contra a parede, fazendo um baque soar pela pequena sala.  

— Você vai me contar tudo o que sabe, por bem ou por mal — resmungou, apertando o pescoço de Miller.  

— Luke! Luke, pare! — A voz de Lisa invadiu o cômodo assim que ela e Grace adentraram o mesmo. — Você está maluco?  

— Fale logo! — resmungou, puxando o braço que Grace houvera segurado.  

— Hendrix! Jason Hendrix! — Gritou o homem, assim que Luke frouxou o aperto em sua garganta. — Jason Hendrix é o faxineiro. Ele trabalha do lado externo e não tem permissão de entrar no laboratório. — Em seguida, tossiu, fazendo com que Luke frouxasse ainda mais o aperto. — Ele trabalha todos os dias ali, com certeza sabe de algo! Ele vive ali fora! Se alguém alimentou o garoto, com certeza foi ele! Foi ele!  

Hemming o soltou em seguida, passando as mãos pela roupa do cientista para alinhá-lo.  

— Ora, não foi tão difícil. Foi? — perguntou, inclinando de leve sua cabeça ao observá-lo.  

O agente, então, girou o rosto para suas duas companheiras, deparando-se com dois pares de olhos alargados para si. Deu de ombros, sorrindo, antes de erguer os braços.  

— Fui pago para obter as informações que preciso. — Arqueou uma das sobrancelhas. — E eu fiz um trabalho da porra!

 

Dois dias depois

— Sim, eu o vi — respondeu o senhor de maneira irritada, com o cenho franzido. — Ele aparecia de vez em quando, mas eu nunca o enxerguei direito. O garoto era rápido e era arisco, igual um gato. Nem que eu quisesse chegar perto dele, não conseguiria sem ser atacado, selvagem do jeito que era! 

Jason Hendrix era um senhor de idade, e a irritação constante do mesmo parecia estar completamente concentrada em uma ruga eterna entre suas sobrancelhas. Vestia roupas simples e lhe faltavam alguns dos dentes. Não foi necessária qualquer ameaça antes que ele desembuchasse, como se estivesse pedindo para se livrar logo das informações. 

— Você viu um garoto mal vestido e agindo de maneira peculiar nas proximidades de seu local de trabalho — falou Grace, estreitando os olhos — e não fez nada a respeito? Um garoto que aparentava estar sempre sozinho e que estava visivelmente anêmico. 

Lisa impediu que Hemming interrogasse Jason Hendrix, colocando desta vez, a agente Collins no comando. Não estava nem um pouco interessada em vê-lo jogando na parede mais algum suspeito. Sabia que Grace Collins era mais sensata que isto. 

Hendrix fez uma careta, abanando com a mão. 

— Ora, não me venha com essa, menina — resmungou ele. — Me tratar como se eu fosse um vilão aqui. Sei bem como isto aqui funciona. Vocês estão com as mãos coçando para algemar alguém e como eu sou pobre e velho, sou a oportunidade perfeita — falou, um pouco de saliva saltando de sua boca na última palavra. 

Grace fechou os olhos, limpando o rosto com a mão. 

— É claro que não vamos prender gente inocente, Sr. Hendrix — retrucou ela, impaciente. — Estou curiosa à seu respeito, porque... Quando uma pessoa vê um menor de idade desacompanhado e no estado em que se encontrava, a primeira coisa a se fazer é ligar para a polícia ou para o Juizado de Menores. Estou curiosa a respeito do motivo que o levou a não fazer nada disto e pelo contrário, manter essa informação para si mesmo durante anos. 

Hendrix inclinou-se na mesa, as rugas em seu rosto aprofundando-se. 

— Por que você acha, criança? — perguntou em resposta, observando os traços bonitos de Grace que, apesar de haver passado dos trinta, aparentava bem menos. — Meu chefe é um filho da puta. Ele deu claras ordens de que, qualquer coisa que pudesse atrair a atenção da mídia, devia ser erradicada. 

Collins franziu o cenho, interessada. 

— Erradicada? — perguntou, inclinando a cabeça. 

Hendrix soltou uma risada esganiçada, lambendo os lábios logo após. 

— Posso ser um simples faxineiro, garota, mas tenho que lidar com lixos químicos também. Você sabe que eles inventam um monte de porcaria para as pesquisas deles, não sabe? Várias delas não são permitidas pela fundação da biologia de não sei o quê — falou, gesticulando com a mão. — Eu tenho que erradicá-las. 

— O que isso tem a ver com o garoto? 

— O que tem a ver é que, além das porcarias deles, se algum cachorro atravessasse suas propriedades na época do escândalo, por exemplo, eu tinha que erradicá-los também — falou, erguendo a sobrancelha sugestivamente — para não chamar a atenção. 

Collins fechou a boca que havia sido aberta, engolindo em seco. 

— Matá-los? — perguntou, sabendo a resposta. 

— É claro, menina — disse ele, desgostoso. — Se o patrão não tem dó de cachorros, de gente também não. Mas eu não sou assassino algum, madame — acrescentou rapidamente, mexendo o dedo indicador em sua direção. — Eu não matei o garoto, mas não podia fazer nada para ajudá-lo. 

Collins estalou a língua, relanceando o vidro espelhado antes de voltar os olhos para o senhor. Balançou a cabeça, incrédula. 

— Robert Miller lhe ordenou que matasse o garoto? — perguntou, incrédula. — Nestas palavras? 

Hendrix coçou a barba, fazendo uma careta. 

— Não exatamente — admitiu, vendo a agente revirar os olhos. — Mas ele disse para nos livrarmos dos empecilhos, e o garoto era um empecilho. Eu apenas cheguei à conclusão sozinho. Miller sequer acreditou nos boatos de que havia um garoto na floresta, mas deixou claro o que devia ser feito com tudo que pudesse ser usado contra eles. 

— Sr. Hendrix... — começou Collins, impaciente. 

— Eu sou um faxineiro, garota — resmungou ele. — O salário de qualquer emprego que haja para mim na cidade é metade do que eu ganho ali. Ganho o dobro no laboratório. Jamais sacrificaria meu emprego, nem que isso signifique que eu tenha que limpar, além da sujeira, os podres daquele pessoal! Não sou idiota! 

— Sr. Hendrix — atrapalhou Collins, impaciente. — Tem algo que você possa nos fornecer que não seja uma mentira e seja de ajuda? 

Hendrix soltou um grunhido, relanceando a porta, claramente impaciente para que pudesse ir logo embora. 

— Eu não alimentava o garoto, nem eu nem ninguém — esclareceu, escorando-se na cadeira. — Os lixos eram sempre revirados. — Collins franziu o cenho. — Sei disso porque eu tenho que organizá-los e não gostava nada quando tinha que fazer isso duas vezes — resmungou, fazendo uma careta desgostosa. — Claro que era o garoto que os revirava, não haviam mais cachorros por ali, se é que você me entende. — Arqueou uma das sobrancelhas, logo rindo da careta de Collins. 

A Dra. Clark automaticamente aproximou-se do vidro espelhado, como se isso a fizesse escutar ainda melhor. Hemming, ao seu lado, franziu o cenho, contendo a vontade de sacudir o homem e fazê-lo vomitar toda a informação de uma vez. 

— O senhor está dizendo que a alimentação do garoto se dava a partir dos lixos do laboratório? — perguntou Collins, com o estômago revirado. 

A ideia de Lucca revirando lixos para ter o que comer a deixava tonta, mesmo depois de ter visto com os próprios olhos tudo o que o garoto houvera passado. O que mais a incomodava, no entanto, é que esta seria uma explicação razoável para a sobrevivência de Lucca durante aqueles anos, bem como todas as infecções e contaminações alimentares do garoto.

— Brinquedos é que ele não estava procurando, criança — retrucou, ainda com certo humor em sua voz. — Ora, não me olhe assim! Não era de todo ruim. Seria ruim se ele mexesse nos lixos químicos — acrescentou, rindo do próprio humor —, mas ele não era tão burro assim. Os lixos dos laboratórios continham comida, agente — disse, apontando para o distintivo de Collins, como se recém se lembrasse que estava falando com uma agente federal. — Cientistas — disse ele, estalando a língua —, sempre malucos. Passando o dia inteiro naquele lugar, com suas porcarias... 

— Sr. Hendrix — interrompeu mais uma vez, as narinas infladas. — Se sabia que o garoto estava passando fome, por que não o alimentou? — esbravejou, furiosa. — Se não podia chamar a polícia, podia ao menos tê-lo ajudado! Como pode ser tão filho da puta? 

Hendrix revirou os olhos, cruzando os braços. 

— Mal tenho comida para mim e minha família, garota, e quer que eu alimente outra boca? — perguntou de forma retórica, estalando a língua mais uma vez. — Até parece! Se ele quisesse ajuda, ele pediria para alguém! Se quisesse ajuda, teria ido para a cidade e saído daquele matagal! Soube se virar durante anos sozinho, não era um completo idiota! Não saiu dali porque não quis — reclamou, irritado. 

Collins inspirou fundo, fechando sua pasta de informações com força. 

— Algo mais, Hendrix? — perguntou, o mandíbula cerrada. 

— Sim — disse ele, cruzando os braços. — Eu recebo alguma coisa pela colaboração, não é? 

Collins ergueu uma das sobrancelhas, um sorriso debochado no rosto. 

— Claro — respondeu, juntando sua pasta. — Nossa profunda gratidão. 

Então, deu as costas em um movimento rápido, abrindo a porta da divisa e fechando-a atrás de si com força, ignorando os protestos do homem. Abriu os olhos que havia fechado devido à exaustão das informações, só então percebendo o silêncio do cômodo. 

Lisa tinha o olhar perdido, e Grace soube que sua mente estava trabalhando com sua psicologia aprendida. Hemming também estava quieto, apoiado na mesa, o cenho franzido com raiva. 

— Parece que descobrimos como Lucca sobreviveu tanto tempo — resmungou Lisa, o olhar perdido. 

Grace franziu o cenho, aproximando-se mais deles. 

— E quanto à água? — perguntou, olhando de um para outro. 

— Haviam algumas torneiras na propriedade — pronunciou-se Luke, dando de ombros. Ergueu os olhos para as companheiras com irritação. — Ainda assim, não sabemos o motivo de Lucca estar aqui quando claramente ninguém mais da vila está. Aliás, não sabemos porra alguma sobre esta merda de acampamento! — esbravejou, fechando os punhos. — Não sabemos qual mais foi o envolvimento da IDL ou da polícia de Amoran com aquela vila. — Balançou a cabeça, estressado e confuso. — O que diabos eles querem tanto encobrir? Eu podia entender que estavam tentando salvar a bunda da cidade, mas o caso de Lucca está indo muito além da cidade. Por que todos estão com as bocas coladas? 

Lisa e Grace não souberam responder, tão cansadas quanto Hemming da situação. Ele sentou-se no sofá, deixando a cabeça escorar-se na parede.

— Por que eu ainda sinto como se estivessem rindo da nossa cara? 

O silêncio que se instalou no cômodo deixou claro para os três o que nenhum deles queria admitir: não tinham a menor ideia do que fariam a seguir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que esperavam Lucca+Nathaniel, mas eu devia algumas explicações para vocês sobre nosso garoto misterioso haha.
Próximo capítulo vai trazer nossos garotos, não se preocupem! Me certifiquei disto ao juntar os dois interrogatórios! :3

PS.: Tô postando (ainda não atualizei) Lucca no Wattpad, assim como vou postar MoF! Se vocês tiverem conta, o link da minha está no meu perfil! Beijinho! :*

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! Yey! *0*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lucca" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.