Azul & Âmbar escrita por Haylea


Capítulo 3
Bônus: Alec e sua vida solitária cercada de gatos




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Interessante a forma como a vida parecia funcionar. Como ele saberia que ao sair de casa naquele dia seria para vivenciar algo assim? Ainda podia sentir fundo em sua alma, o fascínio, a atração quase irresistível em sentar perto e falar “Oi, eu sou Alec. Quer conversar lá fora?”. Mas a timidez e o medo da rejeição acabaram levando a melhor.

Agora ele estava deitado na cama, escrevendo sobre os sentimentos estranhos que o assolaram e sobre o fato de, mais uma vez, ter feito perfeitamente seu papel de covarde. Era só falar. Uma combinação eficiente e básica de comunicação. “Era só ter aberto a droga da boca, Alexander!”, seus órgãos pareciam ter se unido para repetir essa mesma frase desde que chegara em casa. Jogando a cabeça no travesseiro com um gemido de frustração, rememorou os acontecimentos da tarde.

~ * ~

Alec já estava na biblioteca por cerca de duas horas, quando ele entrou. Inicialmente, concentrado no problema de matemática que não conseguia resolver, nem chegou a perceber qualquer coisa de diferente. Até que começou a sentir-se observado. Por instinto, levantou a cabeça e olhou para os lados, procurando. O quê? Ele não sabia. Percebeu um homem parado na porta da biblioteca, olhando ao redor. Por um instante, seus olhos se encontraram. Azul e âmbar. E sentiu uma espécie de puxão que o direcionava para o homem a sua frente. Ele até podia jurar que foi esse puxão o catalisador para que o outro fosse sentar em uma cadeira próxima a sua. Então o jogo de “olhar quando acha que o outro não está olhando” deu início. E ele percebia o rosto avermelha-se um pouco toda vez que era pego.

As horas pareciam arrastar-se, e Alec só percebeu que a perna estava se mexendo de cima para baixo quando sentiu a dor no joelho. Havia batido na quina da mesa. Envergonhado, Alec percorreu com os olhos o ambiente para ver se alguém tinha visto, enquanto massageava discretamente o local machucado. Para seu alívio, ninguém havia percebido e respirou mais aliviado.

Voltou sua atenção para o desconhecido. Pressentia estava diante de algo que poderia potencialmente mudar todo o rumo da sua vida. “Falar ou não falar? Eis a questão.”, pensou consigo mesmo, mordendo o lábio. O ruim de ser tímido é que você  gostaria de fazer ou falar coisas e acaba por desistir pelo medo de julgamento ou rejeição e o garoto percebia que dessa vez não seria diferente. Sua imaginação corria solta: imagens de sua velhice solitária e cercada de gatos assolavam seu campo de visão.

De repente, Alec sentiu que havia chegado a seu limite, passou a mão no cabelo e respirou fundo, tentando controlar a ansiedade. Resolveu que não adiantava ficar naquele “E se...”. A necessidade de falar com o homem tornou-se mais forte. E quando Alec finalmente levantou a cabeça para olhar o desconhecido atraente nos olhos e dizer um humilde “Oi” enquanto torcia para não levar um fora, encontrou a cadeira vazia. Desesperou-se. E olhou freneticamente ao redor procurando por ele, encontrando-o quase na porta de saída da biblioteca. Com um último olhar em sua direção, Alec viu o homem sair.

De imediato, a sensação de fracasso tomou conta e ele ficou cerca de meia hora torturando-se por ser tão covarde, balançando a cabeça em um “não” de puro asco por si mesmo. Com a sensação de que toda a sua vida havia mudado de curso somente com aquele único encontro, verificou o relógio de pulso e acreditando que já estava na hora de ir para casa, recolheu seu material, assinou o livro e foi embora com o coração estranhamente pesado. Amanhã voltaria para aquela biblioteca e procuraria pelo homem bonito de olhos âmbar. E nos dias que se seguiriam também.

~ * ~

Nem que tivesse que percorrer todas as bibliotecas do país, Alec o acharia. Um luxo que poderia se dar já que além de trabalhar meio período na empresa do pai, também poderia contar com a ajuda dos mesmos. Riu ao imaginar a felicidade deles ao descobrirem que, finalmente, se interessara por alguém para algo mais do que só uma noite.

Tivera sorte ao nascer em uma família compreensiva que não se importara muito quando se assumira bissexual e o incentivará a desenvolver suas preferências e personalidade de maneira mais livre e equilibrada. Seu pai sempre dissera que ele fazia jus ao nome que sua mãe, professora de História e apaixonada pelo período antigo, lhe colocará, Aléksandros — que adaptado para a língua atual ficara Alexandre ou Alexander — um protetor, mas também um conquistador. E apesar da timidez, Alec sabia exatamente o que queria e como consegui-lo.

“Me aguarde”.


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