A Vampira e o Tenor escrita por Nívea Raimundo


Capítulo 7
Arestas Soltas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/727398/chapter/7

Cantarolando “Grande Amore”, Piero entrou em casa e caminhou até seu quarto silenciosamente para não acordar sua família que estava dormindo e prestes a acordar já que estava quase amanhecendo.  Após tomar banho e estar preparado para enfim tentar dormir, Piero pegou o celular para limpar algumas notificações. Leu algumas mensagens do pessoal que fora a tal festa, e que aparentemente tiveram a mesma reação que ele ao sair do bar. “Você deixou o carro comigo porque mesmo?” Dario perguntou. Em seu grupo com Gian e Ignazio havia várias mensagens deles perguntando como que Jane foi parar na Sicilia e justo no bar onde ele estava.

“Eu acho que bebi demais, porque quando saí eu nem lembrava que havia encontrado Jane lá dentro. / Ela me deu carona até em casa e acho que agora ela não some mais...” digitou Piero, sabendo que só seria respondido mais tarde. Como será que ela o iria encontrar sendo que não havia trocado os números de celular? Será que ela ia terminar de vez com o Oriental da festa?

Perdido nesses pensamentos, Piero acabou adormecendo.

****

Ao voltar para frente do bar, o dono do carro continua sentado no banco onde Jane havia compelido ele a ficar. Com a expressão assustada, o rapaz respirou aliviado quando sentiu que seus movimentos haviam voltado e levantando num pulo, correu até seu carro, falando exaltado com Jane, que mandou ele entrar no carro, passando para o banco de carona.

—Eu vou levar você, você a polícia.. você...é bruxa,  eu não... – balbuciava o rapaz, não conseguindo dar a partida do carro devido ao nervoso.

—Calma, não precisamos da polícia, eu devolvi seu carro, não devolvi? – retrucou Jane, apoiando a mão esquerda na mão direita do dono do carro – Antes de sair, eu preciso de um café da manhã.

O rapaz olhou confuso para Jane, mas ao ver as presas e os olhos vermelhos, não teve tempo de gritar por socorro. Mordendo o pescoço da vítima, Jane quebrou o jejum desde que saíra da festa e acompanhara Piero até sua casa. Pensar em Piero impediu Jane de matar o dono do carro que emprestara. Hipnotizando o rapaz para dizer que foi atacado por cachorros, e com um pedido de resgate feito, Jane deixou o local e correu para voltar ao hotel. Ao chegar a seu quarto, Christopher que a esperava desde que saiu da festa, voou para cima de Jane, apertando o pescoço da vampira com toda raiva que estava sentindo.

—O que deu em você ontem? Era para você ter sido minha parceira ontem à noite e você resolveu brincar de tiete? – vociferou Christopher contra Jane, enquanto ela tentava se soltar dele.

—Me surpreende muito que você saiba quem ele é. – riu Jane, com a voz rouca por estar sendo enforcada. Num movimento rápido, Jane deslocou o braço com o qual Christopher a enforcava, conseguindo se livrar e acabando por cair no chão enquanto recuperava o ar. Christopher rapidamente recolocou o braço no lugar, e ao avançar contra Jane novamente, foi surpreendido com uma perna da cadeira feita de estaca pela vampira em questão de segundos. Apesar de ter sido atingido, Jane passara longe de seu coração – Qual problema, Chris? Qual o problema de eu ter preferido me divertir ao invés de tratar de negócios que na verdade não me interessam? Você sabe muito bem que minha tática de negociação é mais violenta. A burocracia para enganar os humanos é sua parte.

—Mas fomos juntos a festa, estamos juntos nos negócios aqui nesse país, você não tinha que ter sumido da forma que sumiu, e com um humano famoso. Que reputação o clã vai passar para os italianos? – retrucou Christopher, removendo a estaca com um urro de dor, e jogando a madeira no chão. Olhou com mais raiva para a parceira quando esta começou a rir descontroladamente. – Acha isso engraçado?

—Hilário, aliás, acho mais patético. Christopher, por favor, não me diga que você sentiu ciúmes, porque vou achar que você está religando sua humanidade por minha causa. – debochou Jane, ficando de pé e cruzando os braços. - A graça na nossa relação é que não temos nenhuma obrigação um com o outro. É por isso que estou aqui ainda.

—Quem sou eu para dizer o contrário, não é? Eu só esperava mais comprometimento com o clã, já que decidiu ser parte dele – respondeu Christopher, removendo a camisa ensangüentada e olhando ainda irritado para Jane – Tenho que finalizar uns assuntos ainda com o Truzzi e ele nos convidou para almoçar em sua casa. Recusar o convite está fora de questão.

—Não sou de recusar uma boca livre desde que tenha meu tipo sanguíneo favorito. – respondeu Jane, tirando a própria roupa e se jogando na cama, ficando apenas de calcinha e sutiã. – Ás 11 horas eu estarei pronta.

Christopher sentiu-se tentado a deitar na cama ao lado de Jane, e provocá-la até que ela ou cedesse a ele ou dissesse a verdade sobre o que acontecera com o humano famoso, mas antes que tivesse seu coração arrancado por aquela tentativa, Christopher saiu do quarto de Jane e foi para o seu pelas portas que conectavam seus quartos. Realmente ele se sentia patético perto de Jane, mas ele nunca admitiria ou deixaria isso transparecer. Ela não queria vê-lo da forma que após algum tempo dela como parte do clã ele passara a vê-la. Mas ele viu a forma como Jane olhou para Piero, e como ela havia protegido o rapaz quando Truzzi a ameaçara. E realmente aquilo o havia deixado com ciúmes e muita raiva.

****

“Então enfim você matou a vontade com a bendita maluca do ônibus, pode seguir em frente agora, amigão!” digitou Ignazio em resposta à mensagem que Piero, acordando o tenor. Piero se surpreendeu ao ver que já eram quase quatro horas da tarde e que ninguém o havia acordado. Leu a mensagem e antes de responder, aguardou ao ver que Gianluca estava digitando.

“Matou a vontade para valer?” perguntou Gian

“Não, só nos beijamos, mas se ela não tivesse ido embora, quem sabe” digitou Piero em resposta, e logo voltou a digitar “Mas ela estava com alguém na festa, ela estava muito resistente”

“Como assim?” perguntou Ignazio, com um emoticon confuso.

“Ah. Talvez não quisesse trair mais o cara que estava com ela. Mas me pareceu que ela não queria mesmo se envolver” respondeu Piero, sentindo o estomago afundar.

“Ela contou mais sobre a vida dela, o que ela faz, vocês trocaram os número de telefone?” perguntou Gian.

“Não. Ela só disse que me encontraria”

“Toma cuidado, Piero! Se ela for problema, não vai prejudicar apenas você.” Alertou Gian.

Piero respondeu apenas com um emoticon de sinal positivo, e de repente se sentiu abatido. Ele precisava viver. Viver aquela aventura com Jane. Só a noite passada não fora suficiente para ele, e Piero esperava que Jane sentisse a mesma coisa. Piero se levantou por fim, decido a voltar ao centro de Agrigento para tentar encontrar Jane por lá.  Antes de entrar no banho, verificou o celular que vibrara com uma mensagem de Dário “To indo deixar o carro aí”.

“Ok, na hora certa. Preciso voltar para o centro de Agrigento. Vai comigo ou tem compromisso?”

“Livre! Até daqui a pouco.”

Deixando o celular de lado, Piero enfim entrou no banho, deixando a água escorrer pelo corpo enquanto pensava no trajeto que poderia fazer para encontrar Jane. Passaria na porta dos hotéis próximos ao bar, lojas que sabia que os turistas visitariam, apesar de achar que aquela atividade poderia não estar na lista de afazeres de Jane. Alertado pela mãe que Dario já havia chego, Piero saiu do banho e se arrumou rapidamente.

—Filho, não vai nem tomar um café? Você chegou tarde e vai sair de novo? – reclamou Eleonora, que servia um café para Dario.

—É uma amiga que está na cidade, mamma. Fiquei de encontrá-la no centro, eu volto cedo, prometo! – respondeu Piero, beijando a testa da mãe, e puxando Dario, que terminou o café num gole e correu para acompanhar Piero. – O que você lembra da festa?

—Quase nada, ninguém está lembrando. – respondeu Dário, sentando no banco do carona, enquanto Piero assumia o volante e arrancava com o carro – Qual é a amiga que vamos encontrar Piero? Combinamos alguma coisa com alguém?

—Não...- então Piero contou a Dário seu reencontrou com Jane desde o encontro na porta da balada até a carona até sua casa, não poupando nenhum detalhe, e sentindo um deja vu ao ouvir Dário dizer que ela parecia ser o tipo de garota que carregava o letreiro “Problemas” na testa. – Provavelmente ela é problema, mas é meu problema, preciso resolvê-lo. Estou preso, entende?

—Não. – respondeu Dario, olhando Piero como se tivesse uma doença contagiosa – Mas fico do seu lado nessa para te impedir de fazer besteira.

Piero riu da afirmação do amigo, quando geralmente os papéis eram inversos, ou compartilhados. Sentindo um frio na barriga, o Tenor acelerou o carro para começar sua caçada por Jane no centro de Agrigento.

****

Às 11 horas Jane já estava de banho tomado e vestida para o tal almoço, tendo escolhido seu visual de sempre quando Christopher entrou em seu quarto: calça jeans, botas com salto de madeira, blusa e jaqueta de couro.

—Vai vestida assim? – perguntou o vampiro, que estava mais bem arrumado que Jane.

—E por um acaso se eu precisar arrancar a cabeça de alguém preciso me vestir a rigor assim? – rebateu Jane, arrumando a gravata de Christopher. Quando ele tentou se aproximar, a vampira se afastou. –Não estou com humor.

—Você não tem humor, Jane. Esse é o problema.

Afastando a mão de Jane, Christopher saiu do quarto, e Jane o seguiu, sentindo-se entediada com a reação de Christopher sobre a noite passada. Breat e Sully já os aguardavam no carro que haviam alugado e assim que todos entraram, partiram para o almoço com o ainda misterioso Truzzi, porém já odiado por Jane.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Vampira e o Tenor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.