A Vampira e o Tenor escrita por Nívea Raimundo


Capítulo 6
Péssimo Romance




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— Podemos ir? Já deu já essa festa – reclamou Piero, após algum tempo.

—Sério que você vai se abater por essa maluca que deu para reaparecer? – retrucou Dário, sentando no braço do sofá e dando um soco de leve no ombro de Piero – Sabe o que eu vi nela que você não percebeu? – Piero olhou confuso para Dário, que então respondeu – Problema! Tem uma placa luminosa na testa dela dizendo “Problema: Se Afaste”. Não vale nem para uma noite.

—E você nem sabe nada sobre ela além do nome! – completou a namorada de Max – Vai saber se ela não é uma criminosa, envolvida com a máfia ou coisa pior!

Piero ponderou as palavras que seus amigos lhe diziam, sabendo que eles tinham razão. O que ele sabia sobre Jane? Ela ainda era a maluca que invadiu o ônibus do Il Volo em 2013, fugindo de um namorado. Possivelmente o cara com quem viu Jane trocando olhar era o tal namorado. Não sabia se ela tinha família, o que ela faz da vida para sobreviver. Então por que ele sentia que algo nela ainda valia à pena? Nem ele mesmo sabia responder, e não conseguiria balbuciar uma resposta incoerente aos amigos preocupados. Decidido, pegou as chaves do carro e pôs nas mãos de Dário.

—Toma, eu pego um táxi e amanhã você deixa o carro em casa. Eu vou deixar minha conta paga. – levantando do sofá, se despediu dos amigos e começou a se dirigir ao caixa do bar que ficava no ambiente comum, já mais vazio aquela altura da festa.

****

—Onde está o líder? – perguntou Jane, encontrando Breat, um dos vampiros do clã Brooklin que vieram com ela e Christopher à festa na área comum, com os humanos que estavam liberados para alimentação. Breat não precisou apontar para que Jane encontrasse Christopher com o olhar, se alimentando de duas vítimas ao mesmo tempo.

—Ele está nervoso com você, por ter deixado a reunião. – comentou Breat, fazendo Jane bufar em resposta.

“Quanto drama”, pensou Jane, não respondendo Breat e andando na direção de Christopher, tendo o caminho interrompido pelo anfitrião da festa.  Jane e Christopher conseguiram trocar olhares, porém logo o vampiro desaparecera de sua vista novamente – Você me atrapalhou!

—Sabe, gosto de mulheres com seu gênio. Lembra-me a vampira que me transformou cerca de 200 anos atrás, antes de ela fugir para América. Acho que você já ouviu falar dela, Katherine Pierce. – Truzzi riu ao perceber que ganhara a atenção de Jane naquele momento – Desde então eu tenho uma queda por mulheres parecidas por ela.

—Duas novas para você: Katherine está morta e não estou interessada. – respondeu Jane, desviando de Truzzi, porém o vampiro a segurou pelo braço. Irritada, Jane acabou mostrando suas presas ao anfitrião da festa – Já matei bons negócios por bem menos. E saiba que Christopher não é nada para me impedir.

—Eu sei, mas e sobre aquele rapaz ali? – perguntou Truzzi, apontando para Piero que acabava de chegar à fila do caixa. Jane recolheu as presas, trincando o maxilar. – O que você é capaz de fazer pelo seu favorito do Il Volo? – Truzzi completou sua pergunta mostrando a Jane uma pulseira Vip preta com um brilho maligno os olhos. Prestando atenção em Piero, percebeu que ele estava sem nenhuma pulseira, além de alguns vampiros começando a cercá-lo.

—Inferno... - reclamou Jane, após não conseguir mais ignorar a situação e se deixando vencer pelo instinto de proteger Piero. Não demorou muito em alcançá-lo, e antes que ele percebesse, Jane se postou ao seu lado de como uma predadora reivindicando a caça, afastando os vampiros que por respeito, sabendo quem ela era, se afastaram. Viu Truzzi rindo debochadamente para ela, e desaparecendo na multidão. Se amaldiçoando, Jane se virou para Piero, que já a olhava confuso. – Hey...

—O que você está fazendo? – perguntou Piero, pois havia percebido a estranha movimentação ao seu redor, mas pensando ser movimentação de fãs ou imprensa italiana, havia permanecido com os olhos no IPhone, coincidentemente digitando sobre Jane no grupo de WhatsApp que tinha com Ignazio e Gianluca.

—Eu estava afastando uns paparazzi... – mentiu Jane, dando os ombros e fazendo sua melhor expressão inocente – Eu estou indo embora, te vi na fila, talvez você pudesse me dar uma carona?

Piero não respondeu, ainda olhando confuso para a vampira, até chegar sua vez no caixa. Estranhou Jane não ter pagado, mas não quis pensar no assunto. Os dois se mantiveram em silêncio até sair do bar. Na rua, Piero sentiu sua cabeça rodar e ficar pesada. Ele havia bebido, mas não o suficiente para esquecer instantaneamente do que havia feito na festa. Procurou pelas chaves do carro e se assustou por não encontrá-las, e estranhou estar sozinho na rua, na companhia da garota que havia sido apenas uma lembrança há algum tempo.

—Jane? O que você está fazendo aqui? – perguntou Piero surpreso por ver Jane, mas com a sensação que não era a primeira vez naquela noite que havia encontrado a garota. Ele pediu um segundo, mandando uma mensagem para Dário, perguntando onde ele e os demais estavam e que havia perdido as chaves do carro. “Você bebeu o que na fila do pagamento? Você me deu as chaves e decidiu ir embora da festa.” – Que estranho, não me lembro disso.

—Eu te dou uma carona para casa, que tal? Assim podemos conversar. – sugeriu Jane, pegando Piero pela mão e se dirigindo até um rapaz do outro lado da rua que acabava de sair do carro. Olhando nos olhos do rapaz, Jane o compeliu – Que bom te encontrar! Empresta seu carro e sente-se naquele banco e não saia até eu voltar com seu carro novamente.

Tomando as chaves para si, Jane destrancou o carro e enquanto Piero sentava no banco do carona, a vampira fez uma varredura pelo olhar para se certificar que pelo menos até aquele momento, sua barra estava livre. Assim que entrou no carro, Piero lhe indicou o caminho e Jane pisou no acelerador, dirigindo o mais rápido que o carro podia agüentar. Os dois permaneceram em silêncio durante parte do trajeto, um sem saber o que dizer ao outro.

—Eu não sei como agir com você. Minha primeira reação é fugir. – disse Jane, quebrando por fim o silêncio – Se eu fosse esperta, me afastaria de você.

— Você bagunçou minha mente naquele ano... – repetiu Piero, inconsciente de que já havia dito a mesma coisa para Jane, porém a fazendo rir dessa vez - Parece ser um dano permanente, porque aqui está você, reaparecendo do nada, e estou feliz ao invés de estar sei lá... Indiferente.

—Pelo visto não sou a única inconseqüente nessa história. – zombou Jane, trocando olhares com Piero, fazendo o tenor sorrir confiante para ela. Eles voltaram a ficar quietos, ligando o rádio para que o silêncio não fosse tão desconfortável.

Ao chegarem próximos a Naro, Piero passou a indicar o caminho até chegar a sua casa. Jane estacionou alguns metros de distância, a pedido de Piero, para não chamar atenção e acordar alguém de sua família. Ainda sem conseguir falar, Jane e Piero permaneceram se encarando dentro do carro, cada um pensando no que deveria dizer, nas perguntas que Piero precisava fazer, e Jane nas desculpas que precisava dar a ele.

—Eu senti Piero, mas eu passei por alguns problemas nesses anos, precisei... Parar de sentir, qualquer coisa. – responde Jane, literalmente lendo a mente de Piero, e olhando para frente, para não encarar o olhar do rapaz. – Te reencontrar criou uma rachadura nesse muro onde eu escondi meus sentimentos, e em 2013, você causou esse mesmo efeito em mim. Só que eu não sou só isso...

—Eu quero saber o que você é, Jane, o que você tem. – interrompeu Piero, pegando nas mãos de Jane e fazendo a vampira olhar para ele – Eu preciso saber, porque é insanidade eu me sentir tão preso até quando havia te esquecido, e eu não sei nada sobre você. 

Jane se soltou de Piero, do cinto de segurança que ainda a segurava e saiu do carro, sentindo-se sufocada. “O que é isso, meu Deus? O que eu faço com isso? Eu precisava tanto da Nádia aqui, maldita Katherine Pierce e sua história que levou ela de mim”, pensou Jane, sentindo o mesmo desespero que havia abatido sobre ela quando se deu conta de que a chave de sua humanidade em cerca de 400 anos havia se resumido à sua criadora e ao menino do Il Volo que havia lhe causado curiosidade. Olhando Piero se aproximar, Jane decidiu fazer a única coisa que poderia dar ao garoto naquele momento, indiferente dele perceber, com sua velocidade sobrenatural, Jane se jogou nos braços do rapaz, beijando-o por fim. Piero correspondeu ao beijo com a mesma intensidade, prendendo Jane ao seu corpo o mais forte que podia com medo que ela desaparecesse, o fazendo acordar novamente de um desejo que havia se mantido em segredo pelo subconsciente. Sentindo sua natureza aflorar devido à intensidade do momento, Jane se afastou de Piero, ficando de costas ao garoto.

—Melhor você entrar, logo vai amanhecer e eu preciso voltar – disse Jane, voltando a ficar de frente a Piero. – Devolver o carro, sabe.

—Claro. Mas isso vai ser um Adeus novamente? – perguntou Piero, se aproximando novamente de Jane, e passando a mão pelos cabelos da vampira, segurando-os com delicadeza. Jane olhou direto nos olhos de Piero, pensando em compelir o garoto a esquecê-la, mas ela não estava pronta para isso. Respondeu Piero beijando-o novamente.

—Não será, mas não se preocupe em me procurar, eu encontro você. – e deixando Piero com essa promessa, Jane voltou ao carro com seu andar seguro, sorrindo para o tenor, mas também pensando em como lidaria com essa a situação e a que provavelmente a esperava no hotel onde estava hospedada.

Piero ficou olhando Jane se distanciar com o carro, sentindo-se anestesiado com o sentimento que fazia seu coração bater acelerado e o cérebro zonzo ao mesmo tempo. Sim, era loucura que ele, Piero Barone, alguém público, se envolvesse com alguém que nem sobrenome parecia ter, mas ele não conseguia se importar com esses detalhes agora. Ele só queria enfim viver esse sentimento com a mulher que vinha atormentando seus pensamentos até no subconsciente.


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