A partir de 2017...

Começo do inverno na Europa. Na Sicília o tempo estava variando entre 5 à 15°C, porém o clima frio não impedia os jovens italianos de saírem e se divertirem quando havia a promessa de acontecer a festa do ano. Para Piero Barone, a atitude não era diferente. O jovem tenor italiano, de férias, se arrumava em casa na companhia de seus amigos para irem a uma festa que já estava acontecendo num bar na região central de Agrigento. Iriam na festa Piero, Dario, Max e namorada e mais alguns amigos que os encontrariam na própria festa. Apesar de terem sido convidados, Ignazio e Gianluca já haviam compromissos familiares, e iriam perder o evento.

—Estão comentando que essa já é a festa do ano! Um empresário podre de rico está celebrando um acordo feito com uns americanos. – contou Dário, olhando no celular as novidades da festa. – E como somos celebridades, recebemos a pulseira Master Vip.

—Estranho. Qual o nome mesmo desse empresário italiano? – perguntou Piero, terminando de arrumar o cabelo – Não me lembro de ter ouvido falar dele.

—Barto Truzzi. Ele não é da Sicilia, mas quis dar a festa aqui. Melhor pra nós! – comemorou Dario.

Piero celebrou a oportunidade com o amigo, e assim que ambos ficaram prontos, partiram para a região central onde aconteceria a festa. Chegando ao local, Piero e Dario esperaram a chegada dos demais amigos para entrarem no bar. Assim que todos chegaram, graças aos contatos de Dario e a fama de Piero, sua turma não precisou enfrentar a fila que já havia se formado, entrando direto na festa e recebendo a pulseira preta indicando que eram convidados da categoria Máster Vip.

— Bem vindos, e lembrem-se: O que virem na festa, fica na festa. Vocês não se lembrarão de nada quando saírem daqui. – disse o segurança, obviamente um vampiro, compelindo Piero, Dario e os demais sobre as instruções da festa a cada pulseira entregue. Naquele momento, eles só acharam o segurança estranho e engraçado, logo esquecendo o ocorrido, e começando a curtir a festa.

Apesar da proteção dos amigos para que pudesse curtir a festa em paz, Piero acabou sendo abordado por fãs italianas que estavam no local, o que começou a incomodar tanto a ele como seus amigos. “Elas não tem acesso à área Vip, vamos logo para lá”, disse Max, que segurava na mão da namorada, e liderou o grupo para onde poderiam curtir a festa com mais privacidade. O segurança que guardava a entrada checou a pulseira da turma, passando num idioma estranho a todos algumas instruções por rádio e logo liberando a entrada de Piero e os demais. O jovem tenor sentiu alguns olhares em sua direção, mas ali na área vip o pessoal parecia mais interessado em curtir a festa que abordar uma pessoa famosa. Piero começou enfim a curtir o evento com os amigos, dançando, bebendo, e com abordando e ficando despretensiosamente com algumas meninas, sendo imitado por Dário e outros amigos também solteiros.

—Vou até o bar pegar outra bebida! – anunciou Piero em voz alta para os amigos, recusando as ofertas de cartões – Por minha conta agora!

Após anotar no celular os pedidos, Piero começou a atravessar as pessoas para chegar ao bar. Olhando de canto, viu cenas íntimas de algumas pessoas mordendo pescoço de outras no meio da multidão, mas pensou serem apenas coisas da sua visão já um pouco turva das bebidas alcoólicas. Percebeu um tumulto a frente, devido à algumas garotas que dançavam em cima da mesa do bar. Ficando interessado no show, Piero parou para olhar, ficando ao invés de excitado, abismado ao reconhecer uma das garotas. “Jane?” ele disse para si, porém logo o olhar da garota cruzou com o dele, parecendo tê-lo ouvido chamar.

*****

—Instruções aos vampiros convidados: A alimentação em humanos sem pulseiras é liberada em ambos ambientes, sendo da consciência do vampiro as conseqüências de seus atos. Humanos com pulseiras Vips vermelhas estão liberados para consumo, sendo de extrema importância evitar a morte desses. Caso chegue a tal ponto, será da responsabilidade do vampiro transformar o humano em um de nós. Humanos com a pulseira preta Máster Black estão proibidos para consumo. Obs: Os humanos são compelidos a esquecer o que acontece na festa assim que a deixam. – leu Jane em voz alta para Christopher e mais dois vampiros do Clã que acompanharam o casal à Itália as instruções no convite para a festa que envolveria vampiros e humanos, dada por Barto Truzzi, o possível futuro novo sócio. – Chaatoo. Estamos mesmos restritos a área Vip?

—Somo os convidados de honra, apesar de não sermos os únicos de honra – respondeu Christopher, aparentemente chateado pelo fato da concorrência, ajudando Jane a fechar o vestido curto preto com detalhes em renda, e entregando brincos de presente à vampira – Feitos do verdadeiro vidro murano italiano, com detalhes em prata.

Jane aceitou o presente e colocou os brincos, se virando para olhar Christopher e beijá-lo rapidamente para agradecer o presente e logo tomando a dianteira dos rapazes para irem à festa. Como estavam hospedados próximo ao local, ao invés de carro usaram sua velocidade vampiresca para chegar ao bar, que já começava a formar fila de humanos do lado de fora pois ambos ambientes já estavam cheios.

Os vampiros do clã de Christopher e Jane começaram a circular para reconhecer o local enquanto os líderes eram recebidos por Barto Truzzi em pessoa, sendo guiados pelo anfitrião da festa à área vip, onde seriam tratados os negócios entre os vampiros convidados para a festa num canto reservado a eles. Perdendo a paciência com o “blá blá” dos negócios, e sentindo sua sede rasgar à garganta, Jane se afastou da reunião para se divertir na festa, sendo observada por Christopher e sem saber, pelo próprio anfitrião. Como de esperado, na área vip só havia humanos de pulseiras vermelhas ou pretas. Controlando seu instinto devorador, Jane passou a se alimentar de alguns humanos de pulseira vermelha, tomando cuidado para não drenar todo sangue de suas vítimas. Ficando animada com adrenalina que sua alimentação lhe causava, e passando a tomar alguns drinks, Jane se misturou à multidão, passando facilmente despercebida como mais uma humana entre os humanos. Se juntando a algumas garotas, Jane subiu sobre a mesa do bar para um show improvisado de dança. Enquanto dançava, procurava por mais pulseiras vermelhas até uma voz já esquecida chegar aos seus ouvidos.

—Não... – exclamou Jane para si mesma ao reconhecer a voz e o rosto que uma vez havia quase derrubado a parede que segurava suas emoções. Não sabendo como se sentir, Jane desceu da mesa, indo rapidamente de encontro ao jovem, pegando seu pulso e se aliviando ao ver a pulseira preta. – O que você está fazendo aqui?

—Sou eu quem te pergunto.  Você está no meu território! – respondeu Piero, rindo e caminhando até o bar para pedir as bebidas, sendo acompanhado de Jane, visivelmente transtornada.  Enquanto esperava as bebidas, Piero virou-se para Jane novamente, sabendo não conseguir conter a estranha felicidade que brotava em seu peito – É muito bom te reencontrar, Jane! Eu passei muito tempo pensando em você depois de...

—Eu sei... – completou Jane. A vampira olhou para os lados até focalizar o canto onde ocorria a reunião, que visivelmente já acabara. Procurou Christopher rapidamente com os olhos, e não o encontrou.  – Você está sozinho?

—Não, estou com uma turma, que está esperando essas bebidas!

—Ótimo! – exclamou Jane, sentindo-se estranha também. – Eu te ajudo com as bebidas.

Dividindo as bebidas em bandejas, Jane acompanhou Piero até sua turma, certificando-se de que todos estavam também com pulseira preta, “Essa categorização serve para algo, afinal”, pensou, ajudando Piero novamente na distribuição das bebidas. Ouviu Piero sussurrar para um de seus amigos (achando que ela não ouviria) que aquela era a famosa Jane de quem Piero falara anos atrás. Sentiu o amigo olhando para ela de cima abaixo, enquanto ela novamente olhava pela multidão até encontrar o olhar confuso e bravo de Christopher. Jane pegou o celular e digitou para o parceiro “Velho amigo”, e recebeu em resposta “Fechamos negócio, vou me divertir. Encontro-te depois”. Jane olhou novamente para Christopher, assentindo com o olhar para que ele fizesse o que bem entendesse.

—Obrigada pela ajuda em trazer as bebidas, podemos dividir a minha, você ficou sem uma para você! – disse Piero, se aproximando de Jane, e olhando para o lugar com Christopher acabava de desaparecer – Seu namorado, o oriental?

—Ah, é uma relação complicada. – respondeu Jane, pegando a bebida da mão de Piero, e olhando divertida para ele - Às vezes não, às vezes sim.

—E hoje? – perguntou Piero, e se aproximando de Jane, pegando de volta a bebida, sem soltar a mão dela.

—Hoje não sei, sinceramente. – respondeu Jane, olhando para Piero e suspirando. Estava impressionada em como ele havia ficado mais atraente desde 2013, além da postura madura. Poderia simplesmente matar a vontade naquela noite de ficar com ele, se aproveitando do fato que no dia seguinte ele não se lembraria, mas algo em sua mente a impedia de cair em tentação  – Eu preciso voltar agora, foi legal te reencontrar, Piero. Ver que você está bem.

—Já?! Achei que pudéssemos... Sei lá, eu tenho tanto para te perguntar, você bagunçou minha mente naquele ano! – exclamou Piero, não conseguindo conter as palavras, surpreendendo Jane com o desabafo. – Eu demorei muito para tirar você da minha mente, Jane! Não aconteceu nada, mas ainda assim alguma coisa aconteceu, eu sei que você sentiu também! Agora eu te reencontro... E você quer ir embora sem mais nem menos, de novo.

—Eu gostaria muito de te explicar tudo, mas eu não posso. Eu sinto muito! – respondeu Jane, sentindo um bolo de remorso subir a garganta. – Aproveite a festa com seus amigos, Ok? Eles valem mais a pena que eu, acredite. - Pedindo de desculpas, Jane sumiu novamente das vistas do cantor, desaparecendo na multidão.

—Inacreditável... – suspirou Piero, se jogando num sofá próximo, ao lado de Max e namorada, que olharam com pena.

De longe, Jane ficou olhando Piero enquanto procurava por Christopher e os demais vampiros do clã, querendo ir embora. “Que momento oportuno para te reencontrar”, pensou a vampira, acabando por rir sozinha.