A Vampira e o Tenor escrita por Nívea Raimundo


Capítulo 2
Apanhada no Flagra




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—Papa, onde está a minha mochila de por roupa suja? Eu a joguei por aqui... – indagou Piero, procurando nos bagageiros superiores.

—Viu nos bagageiros debaixo? Eu lembro que você jogou alguma coisa por aí! – respondeu Gaetano, se aproximando do filho para ajudar.

O ônibus do Il Volo seguia viagem pela estrada até chegar a seu próximo destino no estado de Nova York. Gianluca e Ignazio dormiam em suas camas, assim como seus pais e alguns outros integrantes da banda que acompanhava o trio durante seus concertos. Piero se agachou então para procurar no bagageiro abaixo de sua cama, e nada achou lá. Quando se virou para abrir o outro bagageiro, abaixo da cama onde Ignazio dormia, levou um susto quando uma menina desesperada saiu rapidamente debaixo dele, mas acabou sendo contida por Gaetano que estava bem em sua passagem e a segurou forte.

Jane não podia se revelar ali para eles, e o susto de Piero acabara acordando Ignazio, Gian, e todos os passageiros do ônibus que foram ver o que estava acontecendo.

—Como você entrou aqui, menina? – perguntou alguém da banda, num inglês carregado, enquanto Gaetano soltava Jane e ficava ao lado do filho.

— Acho melhor ligar para a polícia! – comentou uma mulher, em italiano, que Jane assumiu que fosse a agente do Il Volo.

—Não, polícia não! Por favor! – pediu Jane, chegando até a mulher, e então a olhou diretamente nos olhos, utilizando sua habilidade de compulsão – Não ligue para a polícia.

—Então responde!  Como você entrou aqui? – perguntou Piero, segurando no braço de Jane e a fazendo se virar para ele.

Jane engoliu em seco ao olhar para Piero. Sentiu-se intimidada por ele, mas não como quando se sentia quando estava acuada em alguma confusão. –Enquanto não havia ninguém... Eu... estava fugindo e aqui foi o primeiro lugar que encontrei.

—Fugindo? Mas de quem? Se há alguém atrás de você, então é melhor ligar para polícia! Eles podem te ajudar! – falou Gianluca, e então começou a falar com o senhor que provavelmente era seu pai em um italiano rápido. Jane entenderia se não estivesse nervosa.

—Por favor, a polícia... só vai me atrapalhar! Não liguem para a polícia! Parem o ônibus e eu sigo a pé daqui! Não tem problema! Eu só caí no sono enquanto estava escondida! – disse Jane, olhando de um a outro, tentando decifrar suas reações.

—Estamos no meio da estrada, como você vai seguir a pé daqui? –exclamou Piero, e se virou falando em italiano então para a mulher – Barbara, será que...

—Não, Piero! Não! É perigoso! Ela cometeu um crime e invadiu o ônibus! – reclamou Barbara – A Policia tem que ser avisada.

—Eu não cometi nenhum crime! Eu só... estava fugindo do meu ex-namorado! – exclamou Jane, não entendendo o que Barbara dissera sobre seu crime.

—Seu crime foi ter invadido o ônibus, menina! – replicou Barbara, fazendo Jane contar mentalmente até 10 para não voar no pescoço da mulher – Está tarde, e estamos no meio da estrada. Quando chegarmos ao nosso destino, te levamos numa delegacia. Agora vamos dormir, todos. Senão amanhã vocês três ficarão com a voz alterada para o concerto.

Jane sorriu agradecida e aliviada. Pela primeira vez se sentira impotente para se livrar de um problema. Barbara pegou uns lençóis de um armário e entregou à garota, dizendo que ela podia se ajeitar no sofá. Aos poucos, e aos cochichos, todos os passageiros voltaram para suas camas, menos os próprios meninos do Il Volo e seus respectivos pais.

—Vamos dormir, ragazzi. Tem muito chão e muito show pela frente. – disse Vito, batendo nos ombros do filho, Ignazio, e acenando para os outros voltou para sua cama, sendo acompanhado de Ercole e Gaetando, que deram uma última chamada aos seus filhos. Os três rapazes continuaram olhando Jane, assim como ela os analisava.

—Bem, obrigada, ragazzi. Eu vou dormir! – agradeceu Jane, olhando cada um deles, e demorando o olhar em Piero, que não pode evitar um sorriso de canto para ela, e então se virou para ir.

Ignazio deu uma cotovelada em Piero, rindo e falando no dialeto que Jane reconheceu ser da região da Sicília, “Amor bandido, hã”, recebendo um belo palavrão em resposta. Os três rapazes continuavam a olhar furtivamente para Jane, enquanto ela tranquilamente se ajeitava no primeiro sofá que encontrara. Ainda rindo de Piero, Gian e Ignazio voltaram a se deitar e rapidamente pegaram no sono. Jane fechou os olhos, fingindo adormecer apesar de não sentir sono algum. Percebeu que o integrante que achara fofo continua observando-a após se deitar, ouvindo as batidas do coração se acelerar até pouco depois de finalmente adormecer.  Jane levantou e ficou ao pé ao lado dele, observando Piero caindo enfim no mais pesado.

“Tão... enigmático...”, pensou Jane, a respeito de sentir seu coração, até então sem sentimentos, acelerar estranhamente. Rapidamente voltou para o sofá, fingindo dormir enquanto calculava seus próximos passos assim que amanhecesse.

Amanheceu assim que o ônibus chegara à Nova York e começou a estacionar de frente ao hotel onde o Il Volo e sua banda se hospedariam. Jane já estava acordada e permaneceu sentada enquanto esperava que a agente, Barbara, vir falar com ela enquanto comandava a mudança do ônibus para o hotel.

—Você tem certeza de que não quer que chamemos a polícia? Você tem algum parente para quem pedir ajuda? – perguntou Barbara, assim que elas desceram após os rapazes do Il Volo, seus pais e sua banda, já com um tom de voz mais calmo.

—Está tudo bem, peço desculpas pelo transtorno que causei a vocês essaa noite, não foi minha intenção, juro! – exclamou Jan, segurando na mão de Barbara e novamente fixando seu olhar no da italiana – Você vai simplesmente me deixar ir. Sem comentar e pedindo aos demais que não comentem sobre o que aconteceu.

Barbara, compelida, aceitou a ordem, se despedindo de Jane e desejando boa sorte. “Vou precisar”, pensou a vampira. Assim que virou as costas, andando rapidamente antes de adquirir sua velocidade vampiresca, Jane ouviu ser chamada, ficando curiosa ao ver Piero correndo para alcançá-la. Ela parou de braços cruzados, esperando ele chegar até ela, e percebendo que um grupo de fãs provavelmente começava a se aproximar.

—Olha, eu já dei todas as explicações para a sua agente! Eu tenho para quem pedir ajuda, obrigada! – se adiantou Jane, não pretendendo, mas sendo rude com o italiano.

—Hey! Calma, bella! Eu vim... – Piero pausou, pensando nas palavras que poderia dizer sem que parecesse um menino inexperiente perto de Jane – Difícil expressar em inglês.

— Pode falar em italiano se quiser, eu entenderei! – disse Jane, arqueando a sobrancelha. Sabia que Piero estava se sentindo intimidado por ela, sentia no pulsar do sangue dele quais as intenções dele. E o que a surpreendia era estar pronta para corresponder a elas. “Que está acontecendo?”

—Eu vim te convidar para tomar o café com a gente, você deve estar com fome também. Posso reservar um quarto para você descansar. – disse Piero, em italiano, querendo se aproximar de Jane, mas ao também perceber a movimentação de fãs que se aproximavam, manteve a distância segura. – Você não precisa ir tão depressa, podemos te ajudar.

Jane sentiu uma guarda ser baixada naquele momento em que Piero lhe oferecia uma tentativa de simples segurança. Em um segundo, repassou em sua mente quando fora a última vez que haviam lhe oferecido proteção em seus quase 400 anos de existência. “A última foi exatamente quando me transformaram”, lembrou. Num movimento impulsivo, Jane abraçou Piero, que prontamente retribuiu o afeto. Ao se afastar, Jane segurou a mão do rapaz, sem fixar o olhar no dele.

—Eu vou ficar bem, Piero, não sem preocupe! – respondeu Jane, sentindo a necessidade de se afastar o mais rápido possível – A gente se esbarra por aí. O mundo é pequeno.

Sem esperar por resposta, Jane deu as costas ao italiano, e ao virar a primeira esquina, longe das vistas deles e das fãs que chegaram ao local, simplesmente desapareceu. Piero atendeu as fãs, mas rapidamente voltou para o hotel, sentindo-se estranho e inquieto com a possibilidade de não ver Jane.


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