Sue voltou com uma mamadeira que aparentava ter chá dentro, ela se surpreendeu ao ver a forma carinhosa com que a patroa balançava a criança, limpou a garganta para avisar que tinha chego.

— Você vai dar? - Perguntou sacudindo a mamadeira

— Eu não sei se consigo, é melhor não -Bella respondeu, Sue revirou os olhos e apontou pra uma cadeira de balanço que tinha no canto do quarto, Bella suspirou e se sentou, sabia que a mulher era teimosa e no final sempre acabava fazendo o que ela queria, tinha Sue como uma mãe pra ela, a mãe que a sua não foi, ela quem consolava Bella em suas piores noites.

— Deite ele assim - Sue explicou o que ela deveria fazer e Bella aprendeu rápido, logo ela estava se balanço e dando a mamadeira para o pequeno que coçava os olhos aparentando sono - Eu nunca achei que a veria assim - Sue disse sorrindo de forma orgulhosa.

— Nem eu - Bella sussurrou, mas pra se mesma do que pra outra mulher, pelo tempo que tinha passado se prostituindo ela tinha feito dois abortos e o segundo tinha prejudicado seu útero o suficiente pra ela não poder ter filhos, não se orgulhava por isso, mas era o que deveria ter sido feito na época.

— Que gritaria era aquela lá embaixo? - Sue perguntou

— É uma longa história - Bella disse enquanto acariciava a testa de Kody que havia dormido, escutou passos apressados e uma Emilly descabelada, suada e com o bico na boca apareceu na porta do quarto

— Oi princesa mais linda - Sue dizia toda derretida indo até a garota que olhava pra Bella assustada - Você deveria estar dormindo agora, teve um sonho ruim? - perguntou e a menina assentiu esfregando os olhinhos - Não se preocupe a sua mãe vai te botar na cama - Sue falou encarando Bella que suspirou e se levantou com Kody, botou o garoto no berço que nem se mexeu e o cobriu.

— Senhora - Alyssa chamou

— Shiii, fale baixo - Bella mandou

— Me desculpe, mas o garoto não quer me deixar se quer tocar nele, não sei o que fazer - Bella respirou fundo e olhou para Sue

— Vamos - Ela chamou e saíram as duas e a pequena Emilly, que ainda estava no colo de Sue, atrás de Bella, ela entrou no quarto vendo o garoto encolhido no canto chorando, respirou fundo e se abaixou a sua frente estendeu a mão pra ele que não aceitou, Bella não era uma mulher de muita paciência então mesmo sem o garoto querer ela o segurou pelos braços e o botou de pé, ele gritou assustando a todos inclusive a pequena Emilly que começou a chorar tapando os ouvidos.

— Para com isso! - Bella mandou firme sacudindo o garoto - Ela vai cuidar de seus curativos e depois você vai tomar um banho entendeu? - o garoto negou com a cabeça, mas Bella o ignorou - Alyssa venha - mandou e logo a governanta estava lá ao lado tentando limpar as feridas do pequeno que se debatia, Bella cansada daquilo o pegou no colo a força e o levou para o banheiro.

— Bella ... - Sue falou

— Ele não quer deixar cuidar das feridas então vai tomar banho com elas mesmo - disse e ligou o chuveiro botando a criança embaixo do chuveiro que ainda se debatia, Bella tirou a roupa dele e deu banho, ao final o garoto já estava menos agitado, mas choramingava.

   Bella o vestiu reparando em cada hematoma que ele tinha, conhecia muito bem a maioria deles, porque em seu próprio corpo, se bem observado, era possível encontrar alguns deles, ela engoliu o bolo que se formou em sua garganta quando viu as marcas de cigarro nas pernas dele.

— Saiam - Ela mandou - SAIAM AGORA! - Ela gritou e logo foi obedecida, ela voltou o olhar para o garotinho que estava de cueca, e a parte de cima do pijama muito velho por sinal, pegou a calça e o vestiu - Quem fez isso? - perguntou calma

— Ninguém - Ele sussurrou rouco, ela suspirou e decidiu não pressiona-lo

— Qual o seu nome? - quis saber

— Yudi - ele respondeu

— Muito bonito seu nome - ela disse, o garoto não a encarava, ele fugia de seu olhar a qualquer custo

— O que é aborto? - ele perguntou e a encarou pela primeira vez, Bella sentiu seus olhos se encherem de lágrimas ao ver a dor que aqueles ônix carregavam, sentiu pena daquele garoto, um inocente no meio de toda aquela imundice que era o mundo.

— Não é nada - Respondeu, sabia que ele queria saber por ter escutado Edward falar em meio a briga - Não escute o que eles falam, eles são bobos - Ela avisou

— Você acha? - Ele aparentou surpresa com a fala da mulher

— Sim, eu acho - Afirmou - Está com fome? - perguntou

— Um pouco - Ele voltou a sussurrar - Ele vai me botar pra fora? - Yudi tinha os olhos cheios de lágrimas e pela primeira vez ela quis muito abraçar uma criança até tirar toda a dor que tinha dentro dela, ela não se conteve e puxou o garota pros seus braços, ele relutou achando estranho aquele contato, nunca tinha sido abraçado por ninguém, mas era uma sensação tão boa que ele a imitou a abraçando de volta

— Ninguém vai botar você pra fora - Ela disse

— Você promete?

— Prometo - ela afirmou limpando uma lágrima traiçoeira e respirando fundo - Agora vamos comer - chamou

   Bella desceu de mãos dadas com o pequeno Yudi que travou assim que avistou o pai de costa sentado à mesa, Bella o encorajou e depois de muito incentivo ele foi, Edward olhou pra ele com aquela típica cara de nojo, coisa que fazia ela ficar irritada.

— Você não quer dizer que ele vai comer com a gente né? -perguntou

— Claro que vai - afirmou ajeitando a criança na cadeira ao seu lado.

— Isso é ridículo - ele cuspiu recebendo um olhar fulminante da esposa, Emilly adentrou a sala de jantar um pouco tímida e meio hesitante fazendo com que todos a olhassem - Sente-se Emilly - Edward a incentivou e a garota apressou os passos, o homem a ajudou a sentar na cadeira que era alta o suficiente pra ela conseguir comer na mesa, o jantar foi servido e Bella botou o prato das duas crianças, Edward ajudava Emilly a comer e Bella se perguntava como ele era tão mesquinho a ponto de tratar os dois tão diferentes, ela ajudou Yudi que estava ainda muito retraído e com medo, o garoto já sabia comer sozinho, mas fazia muita sujeira.

— Amanhã tem o baile do Jasper, você vai? - Bella perguntou

— Vamos - Ele afirmou

— Acho impressionante essa sua mania de falar por mim - Ela rebateu sarcástica

— O que é? Vai fazer essa desfeita pra um amigo? - Ele perguntou já se irritando

— Não - Ela disse simplesmente dando de ombros, tinha um apresso especial pelo loiro, ele era um bom amigo.

...

    Bella encarava o livro em suas mãos enquanto suspirava, desviou o olhar para o relógio ao seu lado, sabia que Edward estava evitando vê-la, ele não queria ter que explicar tudo o que aconteceu a ela, então estava esperando dar um tempo até que ela fosse dormir, porém Bella já conhecia esses truques do marido e não cairia novamente, então fechou o livro e caminhou até o escritório, não bateu e deu de cara com o marido assistindo e com um copo de whisky na mão, bingo! Ela tinha adivinhado, ele só queria dar o tempo.

— Está querendo fugir da nossa conversa senhor primeiro ministro? - ela perguntou andando até a mesa dele

— Estou trabalhando Bella, não tenho tempo para bobagens - ele retrucou se recompondo do susto que levou aí vê-la entrar.

— Você não está trabalhando, está bebendo e fugindo dos problemas - Ela falou - Aliás, fugir de problemas é a frase que anda o definindo ultimamente não é mesmo? - Completou sarcástica, Edward suspirou encarando o teto

— Tudo bem, o que você quer saber? - Ele perguntou a encarando

— Tudo! - ela disse por fim, ele se ajeitou na cadeira indicando a outra pra que ela se sentasse.

— Não a muito o que ser contado - ele começou dando de ombros - Como todo homem eu visitava casa de prostituição, gostava do sexo com Victoria, ela era quente - Edward riu de lado ao ver ela revirar os olhos – com ciúmes querida? – Perguntou sarcástico

— Não seja ridículo – ela rebateu

— Continuando, eu a deixei sendo minha exclusiva por uns dois meses e pagava bem caro por isso, era um bordel luxuoso você sabe como essas coisas funcionam – ele deu de ombros – até ela vim me dizer que ficou gravida, minha vontade era de matá-la aquela puta tinha feito de proposito, me afastei e ela ficou me ameaçando queria que eu a assumisse e quando viu que eu não ia ceder decidiu me extorquir, me pedia horrores de dinheiro todos os meses, eu insisti até o fim da gravidez pra ela dar um fim naquela criança, mas no fundo eu sabia que ela não ia ceder, afinal era sua fonte de renda eu até pensava que ela tinha parado de se prostituir, mas pelo jeito eu estava enganado – Edward falava como se fosse tudo muito normal e as vezes Bella tinha medo desse jeito tão frio dele.

— E você já ao menos o tinha visto? – Ela quis saber

— Ela já tinha me mandado algumas fotos dele – respondeu dando de ombros

— Como você pode nem ligar assim, como se ele não fosse nada – perguntou

— Por que pra mim ele não é nada, bote isso na sua cabeça Bella, aquela criança é um erro, ele não deveria existir e nada e nem ninguém vai mudar isso, eu não me importo com isso – ele disse irritado

— Você é um monstro! – Acusou

— Não me faça ri – ele riu irônico – Olha pra você – ele apontou pra ela – quantos abortos você já fez? Dois? Três? Você já fez tantos que o seu útero nem presta mais, então não venha me dar lição de moral! – Bella o encarava se sentindo humilhada porque sabia que no fundo ele tinha razão, ela era tão monstro quanto ela – Não! Melhor, vamos falar do seu ex marido que você matou! – Edward estava irritado e pegava pesado com as palavras

— EU NÃO O MATEI PARA DE DIZER ISSO! – Ela se irritou batendo na mesa

— Não é o que as provas dizem minha querida – ele agora sorria

— Eu queria de todo o meu coração que você morresse – ela desejou

— Mas isso não vai acontecer – disse se levantando irritado e a encarando bem de perto – Eu não sou aquele velho nojento do Kakashi que você matou fácil pra ficar com tudo o que era dele!

— NÃO FALA DO KAKASHI COM ESSA SUA BOCA NOJENTA SEU VERME!

— O QUE É? VAI DAR UMA DE EX MULHER AMOROSA E RESPEITADORA! NÃO SEJA RIDICULA NA HORA DE MATAR ELE VOCÊ NÃO TEVE ESSE RESPEITO TODO! – Bella desferiu um tapa na cara dele e saiu pisando fundo do escritório – VADIA DESGRACADA! – Escutou ele gritar

    Ela entrou no quarto batendo a porta e a trancou, queria ver ele dormir com ela aquela noite, se jogou na cama com raiva e encarou o teto, pegou o travesseiro e botou no rosto se permitindo gritar e extravasar todo seu ódio, como detestava escutar ele falar assim dela, como detestava ouvir falar de seu passado e a cima de tudo como detestava o quanto o seu passado estava sempre querendo se fazer presente.

     Bella não percebeu que tinha dormido até escutar batidas altas na porta e ela sentir seu corpo reclamar, se sentou na cama ajeitando seu cabelo. Edward gritava e esmurrava a porta a xingando, ela sorriu travessa, sabia que a casa tinha outros quartos, porém só naquele estava as coisas pessoais do homem e isso incluía as roupas intimas e o celular, por sorte ela não sabia a senha se não ele veria só o que ela aprontaria com ele.

— ABRE ESSA PORTA AGORA BELLA! – Ele mandava do outro lado

— NÃO! – Ela retrucou

— NÃO UMA MERDA SUA MALDITA ABRE ESSA PORCARIA! – Ele chutou a porta que nem ao menos se mexeu, a madeira era da melhor que existia no país ela não quebraria facilmente.

— Não grite querido as crianças estão dormindo, acho bom você ir dormir e amanhã nós conversamos – ela dizia rindo sarcástica

— EU VOU MATAR VOCÊ BELLA! – Ela gargalhou vendo o quanto irritado ele estava

— EU AMO VOCÊ BABY, BOA NOITE! – Gritou

—  VAI SE FUDER! – Ele gritou de volta e saiu, Bella se jogou na cama gargalhando, era ótimo provoca-lo, sabia que ele não era um homem de muita paciência, mas por um instante se deu conta de que as crianças poderiam ter escutado toda aquela discussão, lembrou que o pequeno Kody tinha tido febre e torceu pra ele não ter acordado, praguejou se dando conta que estava sem baba, mas não podia sair e dar a ousadia de deixar o Edward entrar.

    Ficou parada por alguns minutos debatendo se ia ou não olhar o bebê, mas por fim suspirou e abriu a porta devagar, ela olhou para os dois lados do corredor e não o encontrou ali, saiu nas pontas dos dedos e quando chegou na porta do quarto da criança escutou passos, se virou rápido encontrando o vulto do marido pulando para dentro do quarto, ela correu até ele mas a porta foi fechada em sua cara e em seguida trancada, esmurrou a porta irritada.

— SEU VAGABUNDO ABRE ISSO EDWARD! – Ela podia escutar o marido gargalhar dentro do quarto, bufou irritada e se encostou a porta – DROGA! – Praguejou

— PARECE QUE O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO NÃO É MESMO MEU AMOR? – Ele dizia rindo

— SEU PORCO! – Ela grunhiu praguejando, de longe escutou o choro de Kody suspirou e decidiu deixar aquela palhaçada de lado.