Bella respirou fundo, pensado no que responder ao marido. Ela tinha a possibilidade de mentir, mas sabia que provavelmente ele havia escutado a conversa. Ainda sim, sempre havia a alternativa de mentir, porém, preferiu optar pela verdade.
— Você estava ouvindo nossa conversa? - Perguntou sem baixar os olhos.
— Não propositalmente. – Explicou, passando as mãos no cabelo. - Quando comecei a pegar no sono, vocês começaram a conversar - Respondeu dando de ombros - Mas então? Por que não me contou? - Insistiu
— Eu não sei - Hesitou - Só não queria que ninguém soubesse! – Respondeu, tencionando as mãos.
— Mas, por quê? – Questionou confuso. Simplesmente não entendia.
— Na verdade, eu não confiava nela e se as pessoas soubessem que ela é minha irmã, iriam começar a querer saber do meu passado - Explicou suspirando.
— Posso entender isso. Agora sei o porque sempre tive a impressão de que ela me lembrava alguém. - Edward disse se aproximou. - Você falou algo sobre ter sido expulsa. - Ele voltou a lembrar
— Eu não quero falar sobre isso! – Ralhou, se agitando e saindo dos braços dele, mas foi segurada e obrigada a encara-lo. Ele queria a verdade. A merecia.
— Para com isso! - Edward falou sério, mas suas mãos eram gentis. - Você sempre diz que não quer falar sobre o seu passado, mas não tocar no assunto, não vai fazer com que ele desapareça! – Ralhou verdadeiramente irritado com a falta de confiança dela e para sua surpresa, Bella olhou para baixo e começou a chorar.
Ele apenas suspirou e a abraçou forte.
— Pare de fugir, Bella. – Sussurrou, contra o topo de sua cabeça. - Você precisa enfrentar isso!
— Eu não gosto de me lembrar. – Respondeu soluçando. – Isso machuca! – Ao ouvir suas palavras, Edward sentiu vontade de parar com o assunto, mas sabia que se não a fizesse falar naquele momento, corria o risco de nunca mais ter a oportunidade.
— Mas as vezes, temos que enfrentar o que nos assusta e machuca, Bella. Para enfim, esquecer - Aconselhou, ela fungou e se afastou de seu abraço, encarou seu rosto e mordeu o lábio inferior, em claro sinal de nervosismo
— Minha mãe engravidou de mim cedo demais. – Começou a contar. - Ela era uma adolescente pobre que se encantou por um cara rico e lindo. Achava que iria viver um conto de fadas, até se descobrir grávida e ele a abandonar - Bella botou uma mexa do cabelo pra trás - Eu não o conheci e nem ao menos sei seu nome, ela não falava dele. –Explicou.
— Nunca tentou encontra-lo? – Perguntou e ela negoou.
— Tudo o que sei sobre ele é isso, e apenas porque ela jogou na minha cara que eu estraguei a vida dela - Parou e riu debochada. - Minha mãe achava que um dia ele iria assumi-lá - Balançou a cabeça negando - Continuando, ela me teve, vivíamos eu, ela e a minha vó. Nosso relacionamento nunca foi muito bom - Disse dando de ombros e suspirando.
— Como era? - Edward questionou
— Minha mãe praticamente me ignorava, eram poucas as palavras que trocávamos. Éramos pobres e minha vó tinha problemas de saúde e tinha que cuidar de mim. Nós vivíamos de sua aposentadoria e do salário de garçonete da minha mãe. Eram tempos difíceis, sabe. Mas quando eu tinha seis anos, ela arranjou um namorado que com poucos meses se tornou seu marido.
— Rápido assim? – Indagou, arqueando a sobrancelha.
— Rápido assim. Minha vó morreu logo depois, então éramos só nós três. - Bella passou os braços ao redor de seu próprio corpo e voltou a chorar, quando Edward estendeu os braços para toca-la, ela se afastou ofegante e pulou da cama
— Não quero que você me toque! – Gritou se afastando. Sua pele parecia ainda mais pálida e seus olhos estavam assustados. - Eu... eu - Ela gaguejou e ele franziu o cenho - Eu só preciso falar tudo de uma vez, mas não me toque!
Ela foi para o canto do quarto, caminhando de um lado para o outro. Seus soluços cada vez mais altos, quando ela se encostou na parede, encarando o chão.
— Tudo bem, eu não vou tocar você. – Respondeu gentilmente. Continue – Pediu.
— Foi quando o meu inferno começou. Phill era um homem machista e arrogante, mas era dono de uma auto elétrica que dava algum dinheiro, não muito. Não o suficiente para deixá-lo rico, mas o suficiente para sustentar a gente sem minha mãe precisar trabalhar, o que pra ela era maravilhoso. Ele se achava meu dono, na frente da minha mãe fingia que era meu pai e me obrigava a chamá-lo assim, mas por trás ele... - Ela parou, botou as mãos na cabeça, enquanto escorregava pela parede, abraçando as próprias pernas, enquanto se balançava levemente, sem nunca o encarar - Ele ficava me tocando com aquelas mãos nojentas e ia pro meu quarto no meio da noite.
Os soluços dela eram insuportáveis para Edward, mas ele sabia que ela precisava falar.
— Ele me fazia pegar no pênis dele e botar na boca. – Cuspiu as palavras, enquanto sentia seu estomago se revirar. - Eu juro que não me insinuava pra ele! Eu juro que não gostava! - Bella murmurava as palavras, como se falasse sozinha e ao escutar isso Edward não se conteve. Correu até ela, tocando seu braço.
— É claro que você não se insinuava, Bella! Por Deus! Você tinha quantos anos? Seis? Você era uma apenas criança! – Gritou indignado. Estava com ódio de toda aquela história e sentia seu corpo ficar rígido e tremer.
Ela puxou os braços bruscamente e ele se lembrou de não toca-la. Agora entendia o porque dela não querer que ele a tocasse naquele momento. Bella o empurrou com o pé, em um pedido mudo que ele se afastasse e foi isso que ele fez.
— Logo minha mãe ficou grávida e veio Renesmee, foi tudo tão diferente! Tão o contrário do que aconteceu comigo! Minha mãe era louca por ela, mas isso não me fazia odiá-la, eu a amava com todas as forças que tinha no meu corpo de oito anos. As coisas só pioraram depois disso. – Acrescentou, olhando para o chão, com os olhos vazios. - Os toques se tornaram penetração, e ficava cada vez pior. Ele me rasgava de todas as formas que podia. Apenas porque podia. Ele rasgava a minha alma e infância Eu vivia presa dentro de casa, sem amigos ou qualquer contato que não fosse a escola. Renesmee chorava muito e isso o irritava ainda mais. De uma forma o outra, era sempre eu que pagava por essa raiva que ele sentia. Muitas vezes eu tive que cuidar dela, porque a minha mãe só pensava em ir no salão, gastando o dinheiro daquele porco. Eu era só uma criança, cuidando de outra! - Ela parou e Edward estava estático apenas a escutando
— Bel... - Ela o interrompeu balançando a cabeça
— Me deixa terminar! - Pediu e ele assentiu - Isso durou até que eu tivesse vinte anos, dia após dia, até eu não agüentar mais. Não podia mais! Então chamei a minha mãe e contei tudo a ela - Bella engoliu em seco tentando conter o choro.
— O que ela fez? – Questionou, já imaginando a resposta.
— O que você acha? – Perguntou com escárnio. - Minha mãe se levantou e me deu um tapa - Edward abriu a boca surpreso e Bella riu sarcástica – Mas acredite, isso foi o que menos doeu. O pior foi ver que nos olhos dela, não havia surpresa. Ela sabia de tudo. Ela sempre soube de tudo e nunca fez nada! Pior que isso, foram as palavras dela. Me chamou de vadia e disse que eu sempre me insinuei pra ele, que a culpa é minha por aquela desgraça, que ele era homem e tinha a carne fraca, disse também que me queria bem longe da casa dela, que eu não viveria mais no mesmo teto que ela. No outro dia eu estava jogada na rua sem saber o que fazer da minha vida, porque eu não tinha dinheiro nem pra comprar um pão e muito menos, alguém que me acolhesse - Ela levantou a cabeça e o encarou seria, quase fria.
— Foi aí que você começou a se prostituir! - Ele afirmou e ela assentiu
— Sim, James já me conhecia, porque ele era cliente da auto elétrica do Phill. Ele me viu jogada em uma calçada e me ofereceu o serviço. Eu não tive escolha. Era isso ou morrer de fome, então eu aceitei. - Ela deu de ombros - O resto você já sabe - Bella se levantou ainda fungando.
— Por que eu tenho a impressão que você não me contou tudo? - Ele perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Eu não quero mais falar disso, está bem? Você sabe o resto! Eu conheci Kakashi, me casei com ele, ele morreu e agora estou aqui, não tem mais nada! - Ela abriu os braços irritada.
— Como era lá? – Perguntou, decidindo desviar do assunto. Pelo menos por enquanto. - Na boate em que você trabalhava – Acrescentou querendo saber mais a fundo sobre a vida dela.
— Eu não quero mais falar disso, Edward! - Gritou e entrou no banheiro, batendo à porta e se trancando. Edward suspirou e passou as mãos no cabelo, decidindo não insistir.
Saber de tudo aquilo tinha sido o suficiente por um dia. Ele ainda sentia o gosto amargo de saber de todo o sofrimento dela, e estava entalado, então fechou os olhos e deixou as lágrimas que tanto segurou descer.
Edward encostou sua cabeça nos joelhos, irritado consigo mesmo. Sua consciência o condenava. A mulher que estava trancada no banheiro, chorando alto, tinha sido forçada vida inteira e quando finalmente ela estava em paz, ele a tinha forçado a se casar com ele.
Se sentiu o pior dos homens. No fim, ele tinha feito a mesma coisa que Phil, obrigando-a a se manter naquele casamento, ao qual ela nunca quis.
Com o passar do tempo, o choro de Bella diminuiu, Edward já não podia escuta-lo, então se levantou indo para cama. Já era muito tarde e se sentia cansado. Todas as informações que ela tinha dito a ele, ainda pesavam sobre seus ombros.
Cerca de uma hora depois, quando Edward já dormia, Bella saiu de dentro do banheiro. Havia tomado outro banho, mas se sentia cansada e triste. Mas ainda sim, era como se um peso dentro dela tivesse sumido. Fazendo com que se sentisse aliviada, talvez por finalmente botar aquilo pra fora. Estava encostada contra a porta, vendo o marido dormindo.
Ela suspirou, vendo a expressão abatida dele. Se sentou na cama e logo deitou, se enroscou a ele e percebeu ele se remexer.
— Bella? - Ele perguntou sussurrando rouco.
— Estou aqui. - Respondeu da mesma forma, suspirando. - Me abraça! - Pediu dengosa e ele a abraçou apertado, juntando os dois corpos e beijou o topo de sua cabeça.
— Durma, minha Bella - Edward disse e ela fechou os olhos, deixando que um sono sem sonhos a envolvesse.
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Bella abriu os olhos se sentindo mole, e quando virou pra trás, percebeu que Edward não estava mais lá. Resmungou e se sentou na cama, passando as mãos na cabeça e no rosto, respirou fundo decidindo se levantar.
Fez sua higiene matinal e desceu. Era cedo demais e com certeza tinha dormido apenas três ou quatro horas no máxima. Se rosto estava inchado pelo choro de horas antes.
Ao entrar na sala, avistou Edward sentado junto a mesa do café, sozinho. Lentamente se aproximou e o abraçou por trás, mas o sentiu enrijecer o corpo. Ela apenas ignorou aquilo, se sentando ao seu lado.
— Bom dia.- Ela desejou o analisando, mas ele parecia diferente.
— Bom dia - Retribuiu o cumprimento, apenas encarando sua xícara e ela franziu o cenho.
— O que aconteceu? - Questionou e ele a encarou - Você está estranho. - Completou quando ele não disse nada, ela decidiu falar. - Olha... - Ela hesitou e sentiu seus olhos se encherem de lágrimas - Eu não devia ter te contado tudo aquilo! - Disse e levou as mãos ao rosto, o cobrindo.
— Ei! - Ele a chamou, tocando seu braço. - Isso não tem nada a ver com você, Bella! É comigo, está bem? Eu sou o problema aqui!
— Como pode ser? – Questionou confusa.
— Depois de saber tudo aquilo, eu pensei bem. - Ele a soltou e respirou fundo - Eu não posso mais continuar te obrigando a viver nesse casamento. Eu me sinto tão monstro quanto ele – Respondeu e Bella franziu o cenho, perdida.
— O que você quer dizer com isso? Está acabando com o nosso casamento? É isso? - Perguntou exaltada.
— Bella... Eu não estou acabando com o nosso casamento! Eu estou te deixando livre das minha ameaças, livre para quando você quiser ir embo... - Ele parou ao ve-lá se levantar e sair pisando duro. Ele a seguiu suspirando e abriu a porta do quarto, que ela tinha acabado de bater em sua cara. Ela estava furiosa e ele completamente perdido!
— Você é um estupido! – Gritou, ficando de costas pra ele - Eu me abro com você, conto os meus problemas e no outro dia você quer acabar com o nosso casamento?! - Vociferou irritada e ele bufou impaciente, a segurando pelos ombros, a obrigando a encara-lo.
— Por Deus! Eu não estou acabando com nada! Eu estou te dando uma escolha, Isabella! A escolha de ficar ou ir! Você passou a vida toda sendo forçada por aquele verme! E depois eu continuei a forçando! Sabe o que isso faz comigo?
— Não, Edward! Eu não sei! – Voltou a gritar. – O que isso faz com você? Como isso pode afetar você?
— Isso me deixa incapaz de viver comigo mesmo! Eu me sinto tão imundo quanto ele. Um monstro como ele! - Os olhos de Bella já estavam banhados de lágrimas e os de Edward também.
— Você não é como ele! - Ela sussurrou e se jogou em seus braços, soluçando. - Não se compare a ele, por favor. Nunca mais se compare com ele. – Pediu e Edward suspirou, a apertado em seus braços. - Você quer que eu vá embora? - Ela perguntou insegura. A verdade é que tinha medo da resposta.
— É claro que não, Bella! Você sabe que não - Disse a apertando mais em seus braços e aspirando seu cheiro, o único que era capaz de acalma-lo.