Natalie

Era quase noite quando eu saí do meu chalé, estava testando meus poderes de dominação de aves com o Lou, meu amigo pavão, quando me lembrei de que veria Dimitry na fogueira daqui a pouco.

A fogueira do acampamento era alta, hipnotizante, tão bela, cada fagulha me enchia de sentimentos reconfortantes e era isso o que eu mais precisava. Foi o único  momento em que o Acampamento Meio-Sangue se assemelhou com um acampamento comum, a fogueira e as músicas ( apesar de não ser muito comum as pessoas cantarem sobre as aventuras dos deuses).

Dimitry estava distante, mas ainda sim no meu campo de visão, quando ele finalmente me viu, acenou e veio falar comigo. Assim que ele se aproximou eu comecei:

— Você estava errado sobre o chalé.

— O que? - ele disse meio perdido.

— O chalé não estava vazio. Hera o decorou.

— Segunda coisa incomum do dia.

Nós rimos.

— Ela até me deixou uma carta de orientação, não sei se devo mostrá-la Quíron.

Eu lhe entreguei a carta.

— Hera não detalhou, mas disse que o Olimpo está um caos, isso pode ser muito ruim. - ele disse após ler a carta.

— Verdade, embora acho que Sr. D. e Quíron já saibam disso. Outra coisa me incomoda, ela disse que meus pais fariam tudo por mim e para eu nunca ter rancor deles.

— Isso você terá que perguntar à eles, geralmente os pais fazem tudo pelos filhos mesmo. - ele sorriu.

— É, claro, talvez eu esteja meio paranoica. - eu ri. - É até meio difícil não estar depois de toda essa mudança na minha vida.

— Te entendo. - Dimitry meu deu um tapinha leve  no braço e sorriu. - Mas sempre torcemos pelo melhor não é mesmo?

— A vida é cruel demais para ser tão pessimista.

Conversamos mais um pouco durante a noite sobre minha família.

— Minha mãe é super fã da banda Fleetwood Mac, que nomeou meus irmão gêmeos de Stevie e Nikki.

Dimitry gargalhou.

— Jura?

— Sim. - eu ri. - Qual é a fabulosa história do seu nome?

— É em homenagem ao meu bisavô que fazia parte do movimento hippie. E o seu?

— Que lindo. O meu pai sempre sonhou com esse nome caso tivesse uma filha.

— Eu também escolheria um nome tão lindo. Principalmente pela Natalie Portman. - ele riu.

— Idiota! - eu ri batendo nele.

Então, Dimitry ficou me olhando como se ele estivesse em transe por cinco segundos e apenas cinco segundos nunca foram tão longos.

— O que está olhando? - eu disse timidamente. _ Não é nada. - ele desviou o olhar. - Melhor voltarmos para os chalés antes que as harpias apareçam.

— Te vejo amanhã na arquearia?

— Hã, claro. Até amanhã. - ele disse.

— Até amanhã.

Durante o resto da noite eu tive um sonho, um pesadelo na verdade.

Eu estava sendo perseguida por uma forma humanoide bizarra e gigante, eu mal conseguia avistar o rosto, se é que essa coisa tinha um.

A figura estava furiosa, destruía tudo ao seu redor.

O sonho mudou

Eu vi Hera em uma ilha, ela estava sentada em uma rocha e batia o pé esquerdo compulsivamente na areia branca, parecia inquieta, e como se ela pudesse quebrar a ‘quarta parede do sonho’, Hera se virou para mim como se eu estivesse bem à frente dela.

— Eu preciso da sua ajuda, Natalie!

Foi tudo o que ela disse, mas foi o bastante para me assustar, o seu olhar transmitia todo o pânico que eu conhecia. Os olhos arregalados, a pupila dilatada. Algo a perturbava.

O sonho mudou novamente.

Meu pai estava em sua loja de gelatos junto com minha mãe e meus irmãos Stevie e Nikki, eles sorriam felizes como sempre, atendendo alguns clientes, quando meu pai se virou para mim. (Olha a quarta parede sendo quebrada de novo)

— Quando você estiver morta poderemos ser felizes de verdade. - ele sorriu estranhamente.

Aquele não era meu pai. Não era a voz do meu pai. Ele sugou minha mãe e meus irmãos para eu não sei onde.

Acordei com essas palavras ecoando em minha mente. Lou estava ao pé da cama, me olhando preocupado.

— Estou bem amiguinho. - menti.

Hera

Hades não voltou, o que me deixou apreensiva com essa situação do Olimpo, eu estava sozinha e sem respostas, em um lugar que nem conheço.

Ouvi um barulho estranho.

— Quem está aí?

Eu sei, eu sei, gritar “tem alguém aí?” é muito filme trash de terror, mas foi impulsivo, pois, deuses, eu esperava que não tivesse ninguém aqui.

— Oi querida, lembra-se de mim?

— Gaia?

— Eu diria em carne e osso, mas seria inadequado devido a minha situação.

O barulho era a própria terra, a Mãe-Terra se comunicando comigo.

Zeus

Os deuses desertores estavam abandonando o Olimpo, eles não poderiam permanecer no mesmo lugar que eu.

Afrodite se despediu de Hefesto, lhe perguntou se ele tinha certeza da escolha que fizera, ele apenas acenou com a cabeça.

— Venha Afrodite! - disse Ares.

— Tchau, meu bem. - Afrodite beijou Hefesto e foi com Ares, meus dois filhos se encararam agressivamente.

— Então,  qual é o plano? - disse Ártemis.

— Creio que poderíamos parar com as picuinhas. - disse Atena. - Essa divisão do Olimpo nos enfraquecerá.

— Não diga bobagens, Atena. Hera começou e eu vou apenas terminar.

— O que ela fez foi inaceitável. - disse Deméter.

— Hera tem que pagar. - disse Hefesto.

— E vai! Se ela quer se vingar de águas passadas, eu também irei. Ela tentou assassinar muitos de meus filhos. Eu farei o mesmo com a filha primogênita de Hera. Tudo na mesma moeda.