CAPÍTULO 8 – A SELEÇÃO

Um murmúrio coletivo de admiração seguiu o grupo de crianças, conforme adentravam no majestoso saguão da escola.

Asgore piscou na direção de Frisk, apresentando animadamente cada parte do trajeto.

— Esse é o Corredor Sul. Ele leva em direção as escadarias e ao Salão Principal. É lá que vocês serão selecionados – apresentou, sempre lançando uma piscadela ou um amável sorriso para os alunos.

—Seu pai é sempre tão simpático assim? - cochichou Frisk, achando graça.

Asriel revirou os olhos, rindo.

— Você nem faz ideia. Todo mundo acha ele o maior bobão – cutucou o queixo, pensativo – pensando bem, acho que a suspeita geral está certa.

Embora as palavras pudessem indicar o contrário, havia um quê de orgulho e carinho no comentário do jovem cabrito. Era impossível não perceber o quanto Asriel admirava o pai.

Frisk sentiu-o, porém, empurrá-la levemente para o lado, e identificou o motivo. Chara  finalmente havia surgido em meio à multidão de estudantes, caminhando a apenas alguns centímetros de Asriel.

— Você quer parar? - ralhou.

Viu-se na mesma posição defensiva, porém, quando avistou um pequeno crânio marchando alguns metros á esquerda. Reconheceu a figura pequena e desagradável de Sans, o revenant que conhecera no Beco de Snowdin.

— Prontinho – Asgore proferiu, abrindo um grande par de portas adiante – chegamos!

Todas as crianças bradarem em uníssono, maravilhadas com o imenso salão, onde jpá haviam, reunidas, outras dezenas de monstros mais velhos, ainda abaixo da idade adulta.

No fim do salão, dispostos em uma única mesa, encontravam-se vários monstros mais velhos, que aguardavam pacientemente a chegada dos novos estudantes. Sentindo-se sorrir, Frisk avistou a figura imperiosa de Undyne, sua guardiã, sentada juntamente de outros professores.

Sentado pomposamente na maior cadeira da mesa de monstros adultos, desfrutando de uma taça de vinho, encontrava-se uma idosa e barbuda tartaruga, vestida em elegantes trajes, que combinavam com a cor azul de seu chapéu-coco.

Por alguma razão, Frisk o achou estranhamente familiar. E lhe inspirava uma inusitada reverência.

— Quem é aquele? - indagou.

Chara surgiu do outro lado, sobressaltando os dois.

— Você não o conhece? - arquejou, admirada – ele é Gerson. È um dos monstros mais poderosos do Underground! Dizem que ele lutou a vida toda para defender o subterrâneo da magia das Trevas. Também é o diretor da escola – deu saltinhos para enxergar melhor a mesa dos professores – parece ainda mais impressionante de perto.

Frisk abriu a boca, pensando no que comentar. Nesse momento, no entanto, Gerson se ergueu, levantando sua taça na direção dos recém-chegados.

— Sejam bem-vindos, novos alunos! Bem vindos á escola de magia de Hogwarts! - cumprimentou os monstrinhos, sorridente – dentro de instantes, vocês serão selecionados para suas Casas! Espero que gostem da escola, façam amizades e se dediquem para se tornarem grandes monstros no futuro!

O olhar do monstro varreu os rostinhos ansiosos, até parar no de Frisk. A menina sentiu a estranha impressão de que Gerson estava olhando bem além de seu exterior pequeno e ansioso.

Undyne retirou-se da mesa, portando um longo pergaminho, com o qual posicionou-se ao lado de uma banqueta. Nele, repousando de modo quase penoso, encontrava-se um amarrotado e velho chapéu de bruxo.

Não foi preciso pedir silêncio. Imponente e reverberante, a voz da monstra marinha ecoou limpidamente pelo salão, interrompendo quaisquer cochichos instantaneamente.

— Este é o Chapéu Seletor – pousou a mão esquálida sobre o chapéu – vou chamar cada um de vocês pelo nome. Vocês virão até aqui, e ele o selecionará para suas Casas – abriu o pergaminho, começando a chamar os novos alunos – Kideon, clã Barka.

Um pequeno e amarelado monstro bípede, sem membros superiores, correu animadamente ate a banqueta, enquanto Undyne lhe colocava o Chapéu na cabeça.

Um dos rasgos do adereço se abriu magicamente, exclamando em alto e bom som.

— GRIFINÓRIA!

A mesa da extrema direita explodiu em palmas. Feliz, o monstrinho se juntou aos demais.

Undyne prosseguiu a chamada, erguendo um olho descoberto para o grupo.

— Chara… - guinchou, parecendo reprovar a denominação – invulgar.

Chara ofegou, dirigindo-se lentamente até a banqueta.

— Hunf – bufou Asriel – dada a peste que é, já imagino onde vai cair.

O Chapéu Seletou abarcou os cabelos curtos da menina. Após um breve segundo de silêncio, o objeto voltou a bradar.

— SONSERINA!

Foi a vez da mesa da extrema esquerda aplaudir, enquanto Chara, vermelha e ofegante, corria para se sentar com os novos colegas de Casa.

— Viu só? - o garoto torceu o focinho – não deu outra!

Apesar de tudo que ouvira de negativo sobre aquela Casa, ainda assim, Frisk não conseguia encarar Chara de maneira igualmente reprovadora. Por algum motivo, ela realmente havia gostado muito daquela inusitada invulgar.

Enquanto Asriel ainda resmungava aos eu lado, a garota observou Undyne chamar outros alunos.

— Sans, clã Wingding!

Viu Sans, ostentando seu característico sorriso desdenhoso, encaminhar-se até o Chapéu. O tecido de suas abas mal chegou a encostar no crânio do pequeno esqueleto.

— SONSERINA!

Mais uma salva de aplausos da mesa da Sonserina. Curiosamente, para confusão de Frisk, Chara pareceu mortalmente aborrecida por Sans ter caído na mesma Casa que ela.

Por fim, ouviu-se o nome de Asriel.

— Asriel, clã Dreemurr!

Asriel deu uma apertada aflita na mão de Frisk, antes de tomar coragem e dirigir-se até Undyne. Asgore, afastado dos demais, arfou alto o bastante para que a menina ouvisse, torcendo as mãos uma na outra, com a expressão ansiosa.

A monstra assentiu para Asgore, colocando gentilmente o Chapéu sobre as orelhas felpudas do garoto. Asriel estava tão nervoso que mal disfarçava o tremor em cima do banquinho.

Por fim, houve o anúncio.

— GRIFINÓRIA!

A mesa da Grifinória explodiu em vivas. Aliviado e sorridente, Asriel desceu da banqueta, acomodando-se na mesa de sua nova Casa. Um orgulhoso Asgore aplaudiu vigorosamente dos eu canto.

Frisk assistiu a chamada prosseguir. Surgiram algumas crianças monstras que não havia reparado antes, com fisionomias distintas e impressionantes. Uma menininha de cabeça flamejante, cujas labaredas verdes quase incendiaram o chapéu, foi a primeira selecionada para a Corvinal. Dois gêmeos, cujos rostos lembravam muito o de pipas listradas, foram igualmente selecionados para a Grifinória.

Houve mais alguns selecionados… duas coelhinhas da Lufa-Lufa, um monstrinho, semelhante a uma coruja azulada, selecionado para a Sonserina… e então, finalmente…

— Frisk, invulgar!

A reação foi avassaladora. Olhares e cochichos acompanharam o erguer surpreso da cabeça de Frisk.

— Frisk? Aquela Frisk?

Gerson voltou a fitar a criança, subitamente interessado no contrair tenso das mãos da garota. Da mesa da Sonserina, Frisk percebeu Sans estalar as juntas das falanges, com um olhar de puro ódio.

Timidamente, a menina foi até o banquinho, sentindo olhares espantados sobre si. Sentou-se silenciosamente, vendo Undyne baixar a cabeça, lhe lançando um raro sorriso tranquilizador.

— Está tudo bem – disse, antes de colocar o Chapéu Seletor sobre a cabeça de Frisk.

Admirada, a criança sentiu o chapéu lhe apertar suavemente a testa, sussurrando baixinho em seu ouvido. Pera como se apernas ela pudesse ouvir os murmúrios do objeto encantado.

— Hum… interessante. Sagaz, inteligente. Cheia de empatia e altruísmo. Audaciosa… e como é audaciosa – riu-se o Chapéu – com uma coragem excepcional. E tem algo mais… ago que poucos aqui possuem. Uma qualidade rara… um poder inigualável. Você tem determinação – pontuou solenemente— onde eu devo colocá-la, jovem Frisk?

— Sonserina não. Sonserina não – falou baixinho a menina.

— Não? - o Chapéu disse, surpreso – mas você tem um potencial imenso… está destinada á uma grandeza irreverente. Sonserina iria expor a grandeza dentro de você – Frisk meneou a cabeça – não? Bem… se não vai mudar de ideia… então é melhor que seja…

E foi feito o anúncio que ninguém esperava.

— LUFA-LUFA!