Pottertale - O Encontro de Dois Mundos escrita por FireboltVioleta


Capítulo 3
O Pedido de Aniversário




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Frisk sentiu-se congelar.

— Como…. e que…?

Undyne retirou a capa, suspendendo-a sobre o apoio atrás da porta. Sem o capuz, a monstra parecia demasiadamente magra, embora fosse visível que se tratava de alguém com relativa força física. Estava vestida com um tipo estranho de armadura de couro, que destacava ainda mais sua aparência imponente.

— Entendo sua confusão… - declarou, erguendo o olho descoberto para Taryan – e por isso estou aqui.

A mulher aproximou-se, recostando as mãos sobre Shepia e Frisk.

— Undyne? - sua voz destilava uma leve incredulidade – você veio de lá? Do subterrâneo?

— Subterrâneo? - Frisk ergueu a cabeça, sem entender nada – do que vocês estão falando, tia?

Taryan engoliu em seco.

— E… complicado, querida – lançou um olhar de censura para Undyne – não podiam ter avisado? Eu não disse nada à ela!

A monstra ergueu uma sobrancelha imperiosa na direção da humana.

Mesmo sem sequer conhecê-la, Frisk percebeu que Undyne não era o tipo de criatura que deveria ser desrespeitada de forma alguma.

— Vou cuidar disso – Undyne sibilou, ligeiramente rude – se assim permitir. Posso falar com a garota... a sós?

Shepia franziu o cenho, irritada.

— Não… a senhora pode dizer o que quiser pra ela na nossa frente!

= Shepia!

Para surpresa de Frisk, Undyne pareceu refrear um sorriso de admiração. A seu ver, a guardiã valorizava um ato de coragem, tanto quanto odiava interrupções alheias.

— Está bem, então.

— O que está acontecendo, tia? - guinchou Frisk – sobre o que ela está dizendo?

A prima parecia envergonhada.

— Lembra daquelas histórias que mamãe contava pra gente, Frisk? Sobre um mundo subterrâneo, cheio de monstros… - hesitou, antes de acrescentar – e magia?

— Sim – a menina sentia-se perdida – mas eram só contos de fada… não eram…?

Shepia baixou a cabeça timidamente. Frisk fitou Taryan, logo em seguida encarando a surpreendente peixe humanoide diante de si.

Já havia percebido a realidade. Mas ainda era algo extraordinário demais para que conseguisse acreditar.

— Não. Não eram, querida – a tia disse, enfim. E então, tentando desmanchar o clima tenso que pairava no ar, sugeriu – íamos arranjar uma festa de aniversário para Frisk – apontou para uma série de embalagens recostadas na entrada da cozinha - podíamos arrumar as coisas, e então você poderia… contar tudo a ela.

A monstra soltou uma risadinha impetuosa.

— Ora… e por que não disse antes?

Undyne retirou algo longo e fino da bainha de couro em sua cintura, gesticulando-o na direção do cômodo. Frisk sentiu seu queixo cair, observando as caixas e sacolas se abrirem sozinhas. Flutuantes, os artigos de festa começaram a emergir para fora dali, planando magicamente no ar, cada qual tomando seu lugar na decoração da cozinha.

Com um último floreio, Undyne terminou de encher e amarrar os balões coloridos sobre o gabinete, terminando o arranjo.

— Minha nossa – assobiou Shepia.

— Querida… pode me ajudar com o bolo?

— Mas mãe…

Taryan lhe lançou um olhar significativo e exasperado. Entendendo a mensagem, Shepia piscou, entrando na cozinha com a mãe.

Frisk virou-se para Undyne.

— Como… como você fez isso?

Undyne sorriu largamente.

— Magia. O mesmo tipo de magia que percorre seu corpo – sua voz tomou um tom mais sério e formal – você tem sangue monstro, Frisk.

A garota ofegou, perplexa.

— Não pode ser… - balançou a cabeça em negação – eu não posso ter… sangue monstro. Os meus pais…

E então, a ficha caiu.

Taryan jamais havia entrado em detalhes sobre a morte de seus pais. E agora, desconfiava finalmente do por que.

— Sim… seus pais – uma tristeza inesperada pareceu perpassar no olhar feroz de Undyne – eu os conheci. Sua mãe, Fraya, era uma humana extraordinária. Assim como você, ela era uma invulgar… uma humana nascida com poderes mágicos. Às vezes, alguns humanos nascem com a magia dos monstros, mesmo que nenhum dos pais seja um.

Frisk soltou um arquejo, abismada.

— E… meu pai…?

— Thread Fear— Undyne suspirou – um grande monstro. Fez parte da Guarda de Underground – ela recostou a mãos magra e gélida sobre o ombro de Frisk – entende agora? Estou aqui para te levar para onde realmente se sentirá bem. Um lugar onde você se tornará a invulgar poderosa que está destinada a ser.

— Mas isso é loucura! Eu não tenho poderes!

— È mesmo? - riu a monstra, incrédula – já não fez alguma coisa acontecer quando estava triste… ou zangada? Ou mesmo ansiosa?

Frisk quase respondeu que não, mas voltou a fechar a boca.

A verdade era que várias coisas haviam acontecido nos últimos anos. Coisas estranhas, sem nenhuma explicação.

— Sim – admitiu.

— Pois bem – a monstra assentiu – você aprenderá a lidar com a sua magia, como todos os monstros e invulgares de sua idade – por fim, Frisk notou Undyne lhe lançar um olhar realmente satisfeito – você é uma lenda viva, Frisk. E em breve saberá o por quê.

A voz de Taryan ecoou de dentro da cozinha.

— Já terminamos! Podem entrar!

Frisk adiantou-se, sentindo o coração martelando dentro do peito.

Seus pais tinham magia. Ela, Frisk, era parte humana e parte monstra. E agora, alguém que viera de um mundo no qual nunca acreditara lhe trazia a oportunidade de conhecer mais sobre seu próprio passado, e sobre quem ela era de verdade.

Taryan percebeu o que passava por sua cabeça, assim que adentrou na cozinha. A mulher suspirou, ajeitando uma última vez o bolo na travessa.

— Tia Taryan…

— Não precisa me pedir, Frisk – Taryan a encarou, levemente tristonha – eu devia ter te contado tantas coisas… seu lugar de verdade nunca foi aqui, querida – deu a volta na mesa, indo até Frisk, abraçando-a carinhosamente – você tem que ir, meu amor.

Emocionada, Frisk soluçou, retribuindo fortemente o abraço.

Undyne inclinou a cabeça, fazendo suas madeixas rubras penderem sobre o ombro. Manteve-se a alguns passos afastada, observando as duas humanas.

— Você poderá passar as férias aqui na superfície – disse, assim que Taryan a soltou – cuidarei bem dela, Taryan.

Shepia saltitou, interrompendo-as inesperadamente.

— Ah, andem logo. Queremos comer esse bolo!

Momentaneamente distraída pela prima, Frisk desatou a rir.

— Tomem quanto tempo quiserem – a monstra falou – aguardarei na sala – e, dizendo isso, retirou-se.

Ansiosa demais para prestar atenção à reservada festa de aniversário, Frisk foi pega de surpresa na hora do parabéns.

— Faça um pedido, Frisk – sussurrou a mulher, sorrindo.

Frisk fechou os olhos.

O que poderia pedir? Havia acabado de descobrir que não era uma humana comum. Saberia o que havia acontecido com seus verdadeiros pais. E finalmente encontraria seu verdadeiro lugar naquele mundo.

Era tudo que sempre havia desejado em sua vida. O que mais poderia querer?

A garota inspirou profundamente, e então assoprou as velas. Shepia e Taryan bateram palmas.

— O que você desejou? - a prima indagou.

A menina abriu um sorriso tímido.

— Amigos. Quero fazer amigos.

Taryan entreolhou-se com a filha, compreendendo.

— E você vai, meu anjo – beijou-lhe a cabeça – vai dar tudo certo.

E, por alguma razão, Frisk não hesitou em acreditar.





Undyne ainda encarava a lâmpada luminosa da sala, absorta em seus pensamentos, quando Frisk finalmente adentrou no cômodo. Puxava pela mão uma pequena mala de rodinhas, com algumas mudas de roupas e objetos pessoais.

— Tudo pronto?

Frisk assentiu, insegura.

— Senhora Undyne…

— Me chame apenas de Undyne, Frisk.

— Sim – murmurou, sem graça – eu só tenho essas coisas. E não tenho dinheiro para comprar… mais nada.

— Isso não é problema – a monstra deu de ombros – vamos pegar dinheiro para você no caminho, e mais algumas coisas das quais precisará.

A menina observou-a novamente trajar sua capa, voltando a ocultar o rosto com o capuz, e abrindo a porta do hall de entrada.

— Sabe – comentou – isso tudo parece um sonho.

Percebeu os lábios de Undyne se curvarem, reprimindo uma risada surpreendentemente zombeteira.

— Mesmo que fosse um sonho, Frisk… não significaria que não é real.

E, com esta declaração, segurou-lhe a mão, levando-a para fora da casa, rumo a um mundo até então desconhecido.


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