Pottertale - O Encontro de Dois Mundos escrita por FireboltVioleta


Capítulo 28
Memória




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Frisk estava hipnotizada.

Ver os dois ali, a poucos metros dela, vivos – mesmo que aquilo fosse apenas em uma memória – tirou todo ar dos pulmões da garota.

Sentindo os olhos marejarem, a criança observou-os em silêncio, maravilhada. Eles eram mais extraordinários do que havia imaginado.

A mamãe era tão linda… e o papai era tão imponente…

Ela ofegou, debruçada, ouvindo-os conversar.

— Você não tem medo? - sussurrou Fraya – eu vou entender se você…

— Shhh – o lobo riu, tapando a boca rubra da moça com sua pata – já conversamos sobre isso. Moraremos  na superfície.

— É perigoso. Sabe disso – a jovem replicou, num tom tristonho – não há lugar seguro na superfície para pessoas como nós, meu amor. Aqui… estamos em casa.

As orelhas de Thread baixaram, e o monstro revirou os olhos.

— Ela também vai precisar conhecer os humanos, Fraya. Eles também serão parte dela.

Foi quando Frisk, baixando o olhar, reparou no corpo de Fraya. Embora não tivesse se apercebido antes, agora via com clareza o ventre protuberante da moça.

Ofegou, espantada.

— Eu sei, eu sei – houve um guincho assustado da parte de Fraya – mas… com tudo que anda acontecendo…

Thread segurou-lhe a bochecha, suspirante.

— Está bem… vamos ficar em Underground por um tempo. Depois, quando nossa filha nascer, decidimos isso com mais calma.

Fraya jogou-se nos braços dele, o abraçando.

— Obrigada, Thread!

O lobo gargalhou, apertando-a contra seu corpo, antes de se ajoelhar, plantando um carinhoso beijo na barriga de Fraya.

Sobressaltada, Frisk viu o cenário ao seu redor girar novamente, modificando-se num turbilhão de cores.

Tentando outra vez se recuperar da vertigem, Frisk lacrimejou, apertando os olhos. A luz clara a cegou por um momento, fato que fez com que demorasse a focalizar o pequenino quarto de bebê adiante.

Thread e Fraya encontravam-se debruçados no berço branco, sorrindo e entreolhando-se. Uma terceira figura – uma criancinha monstra - se juntou à eles, analisando o interior do pequeno leito, com seu único olho descoberto.

A menina sentiu-se sorrir ao reconhecer Undyne.

— Ela é tão fofinha! - arrulhou a peixinha.

— Sim – Thread emitiu um resfolegar de ternura – é a nossa garotinha…

Ouvir aquela frase carinhosa fez Frisk estremecer. A criança conteve um soluço, desejando, mais do que nunca, poder se aproximar e tocar a mão brincalhona do pai.

Hesitante, aproximou-se alguns passos do berço.

Arquejou quando viu sua versão recém-nascida. A Frisk bebê era minúscula, tanto que poderia facilmente ser erguida dali apanas por uma das mãos de Thread.

A criancinha remexeu-se, balançando a diminuta mãozinha aleatoriamente no ar. Seus dedinhos encontraram o dedo azulado de Undyne, e sua palma fechou-se ao redor do polegar da pequena monstrinha.

Undyne abriu um largo sorriso – um sorriso que Frisk já conhecia muito bem, e que a fez sentir seu afeto pela professora aumentar vertiginosamente.

— Eu vou cuidar dela, Fraya – prometeu a garotinha, sacudindo os cabelos rubros – nunca vou deixar ninguém fazer mal a ela… eu prometo!

Houve uma nova mudança de cenário. Já se acostumando com os solavancos das memórias, a garota logo estabilizou-se, balançando a cabeça para ambos os lados.

Ainda estava no quarto, mas este já não se encontrava claro. Uma penumbra agourenta recobria as paredes, como um prelúdio de uma tragédia que estava por vir.

Ouviu, a alguns passos fora do corredor, um grito terrível coalhar o ar, feito o corte afiado de uma adaga assassina.

— AVADA KEDAVRA!

Houve o som de algo se formando no ar. Um abrulho alto, de ossos que se chocavam.

E então. Uma explosão descomunal, cuja luz emergiu do corredor, iluminando o quarto por alguns segundos.

Passos apressados se seguiram. Atônita, Frisk viu Fraya adentrar correndo dentro do quarto, fechando a porta atrás de si, embalando freneticamente seu bebê nos braços.

Sem sua varinha, conjurou com dificuldade uma barricada de espadas carmim, que prenderam-se contra os batentes da porta, e encolheu-se no canto do cômodo, ofegante, abraçando angustiada sua pequena filha.

Fraya gritou - em coro com a Frisk real – quando a madeira da porta cedeu, caindo com um estrondo contra o chão do quarto.

Dali, surgiu a figura misteriosa que havia aterrorizado Frisk nos seus piores pesadelos.

Embora se assemelhasse com um esqueleto, qualquer associação com aquele tipo de monstro terminava ali.

Encapuzado, trajando vestes negras, o monstro ergueu uma das mãos, cuja palma – bizarramente perfurada – virou-se na direção de Fraya.

A face pálida, os olhos heterométricos, as lacerações grotescas, e o sorriso distorcido que estagnava sua face tornavam a visão de Gaster absolutamente aterrorizante.

O rosto contraiu-se, emitindo um riso seco, desprovido de qualquer emoção.

— Pare de fugir, Fraya. Sabe que não pode vencer – sibilou, num chiado rouco, como um rádio fora de sintonia.

O som fez Frisk se arrepiar.

— Deixe-a em paz – soluçou a moça, desolada – você não vai machucá-la!

Não houve nenhuma mudança na expressão medonha de Gaster. Ele aproximou-se, ainda erguendo a mão.

— Está bem…. sendo assim… - grunhiu – não há motivo para deixá-la viva.

A cavidade na mão de Gaster brilhou num laivo azulado. Paralisada, Frisk ergueu a cabeça, vendo algo de dimensões anormais formar-se no ar.

Um gigantesco crânio abriu sua mandíbula de dentes mortais, provocando uma luz cegante em seu interior.

Impotente, Frisk simplesmente paralisou-se, assistindo aquela terrível cena, sem poder fazer nada para impedir.

— AVADA KEDAVRA!

Surgiu uma nova explosão.

Fraya gritou.





Frisk ergueu-se, arfante.

Reconheceu a cama em que estava deitada, e olhou ao redor, trêmula, identificando o ambiente calmo da ala hospitalar do castelo.

— Que…? - ofegou.

Soluçou, angustiada. O que tinha visto, naquelas inesperadas memórias, havia mexido com cada pedaço de sua alma.

Ver os pais… ver seu passado… e a morte deles, nas mãos do monstro que havia ceifado suas vidas. Havia sido demais para Frisk.

Arrependeu-se de não ter sequer tentado tocar aqueles ecos distantes, que um dia haviam sido os corpos de seus pais.

A saudade doeu em seu peito.

No entanto, aos poucos, ela se deu conta de que seu transe não havia passado despercebido. O que havia acontecido? E como aquelas memórias haviam surgido em sua mente?

Surpreendida, virou o rosto na direção contrária, ao ouvir o suave batucar da bengala de Gerson.

— Olá, jovem Frisk.

























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