Pottertale - O Encontro de Dois Mundos escrita por FireboltVioleta


Capítulo 2
A Visita da Guardiã




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DEZ ANOS DEPOIS

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— Frisk! Shepia! O almoço está pronto!

Taryan sorriu, vendo as duas crianças erguendo-se de um dos arbustos do jardim, saindo da moita repolhuda e galopando animadamente em direção á casa.

Ouviu a porta se abrir, e observou ambas as meninas adentrarem, dando falsas cotoveladas uma na outra.

A garotinha loura, de grandes olhos azuis, gracejou na direção de Taryan.

— Quem ganhou dessa vez, mamãe?

— Não sei – deu de ombros, tentando evitar a questão pela décima vez – andem... vão lavar as mãos. E não quero que causem outra inundação na pia.

Shepia revirou os olhos, tomando a dianteira e correndo em direção ao banheiro da casa, seguida por Frisk.

Na sua vez de higienizar as mãos, Frisk tomou um momento para se olhar no espelho do gabinete, soltando um longo suspiro.

Embora estivesse a poucas horas de seu décimo primeiro aniversário, a garota ainda parecia demasiada nova e pequena para a idade. Tinha o rosto delicado e redondo, cabelos castanhos curtos, cuja franja escorria suavemente por sua testa. Os olhos amendoados, levemente curvos, admiravam sue reflexo com inusitada curiosidade.

— Estou indo, tia! – disse ao terminar, saindo do cômodo e acomodando-se rapidamente na mesa da cozinha.

Frisk não se parecia em nada com Taryan ou Shepia – e sabia o motivo.

A “tia” – como Taryan a ensinara a chamá-la – lhe contara que a havia adotado, há mais de nove anos, logo depois que seus pais haviam morrido num terrível acidente.

Era tudo que a tia havia lhe contado. E qualquer outra pergunta sobre isso sempre havia sido evadida com murmúrios ou guinchos de censura da parte de Taryan.

Taryan havia decidido guardar as informações mais detalhadas para o futuro.

Desde o momento em que pousara seus olhos no pequeno bebê, há tantos anos, sabia que teria em mãos uma responsabilidade excepcional. Aquela não era uma criança comum. E, mesmo que não tivesse recebido aquela carta, com detalhes sobre o que deveria esperar, teria percebido o quanto Frisk era especial. Embora as demais pessoas não acreditassem, ela agora sabia da existência de outro mundo.

Mas havia se apaixonado por aquela garotinha. E aceitara-a em sua família, como se fosse sua própria filha. Era como se Frisk tivesse surgido para preencher o vazio que o marido havia deixado em seu peito, depois de morrer para um câncer terminal.

Poe esse e outros motivos, temia contar-lhe a verdade.

—- Ah, não. Repolho de novo? – Shepia torceu o nariz, enquanto a mãe distribuía a hortaliça cozida em seus pratos.

— É verde, é gostoso e é de graça. Cala a boca e come – ralhou Frisk, enfiando um garfo inteiro de repolho na boca.

A tia riu-se, afagando os cabelos da menina.

— Então, Frisk? Estavam se divertindo lá fora?

Frisk ergueu o olhar para Taryan, baixando o garfo de modo inusitadamente tenso.

— Sim...

Shepia sacudiu a cabeça, soltando um longo e aborrecido suspiro.

— Mas só depois que te encontrei dentro da moita – a garota comentou – os garotos estavam mexendo com ela outra vez.

Frisk viu a tia fechar os olhos, apertando os talheres na mão.

— Você fez de novo? – embora estivesse séria, a pergunta não era em tom de repreensão.

A jovem baixou a cabeça, sem graça.

— Foi sem querer, tia... eu e Shepia estávamos brincando... eu levantei o braço e... não sei... alguma coisa aconteceu com o irrigador! Juro que não mexi nele!

— Mas foi engraçado ver a cara do Wine Freana toda ensopada – Shepia deu um soco de brincadeira no ombro de Frisk – ah, qual é, Frisk! Não fique chateada...

Frisk sorriu, embora este mal chegasse perto de seus olhos.

Não era que se sentisse completamente infeliz. Sabia que Taryan e Sephia a amavam. Sabia que aquele podia ser seu lar.

Mas não se sentia bem ali. Não se sentia como uma humana comum. Era como se nem sequer fizesse parte daquele lugar.

As outras pessoas da comunidade a achavam estranha, por mais que tentasse se enturmar. Havia sido tirada da escola local depois de diversos incidentes bizarros, que Frisk nunca soube explicar por que haviam acontecido.

Taryan sabia disso. E por isso tentava manter Frisk longe dos demais. Não queria vê-la sofrendo, nem que ela se sentisse solitária.

Infelizmente, também sabia que aquilo nunca seria o suficiente.

— Tia Taryan... a senhora me acha uma aberração?

A mulher franziu o cenho.

— Claro que não, querida! – acarinhou o rosto de Frisk, perplexa – você é uma sobrinha maravilhosa, uma menina inteligente e muito especial. Por que eu acharia isso?

— Não sei – fungou, desanimada – ás vezes eu me sinto tão... esquisita. O que tem de errado comigo?

— Não há nada de errado com você, sua boba – Shepia riu, abraçando a prima – aqueles meninos não sabem o que dizem!

Shepia pegou um guardanapo, esfregando-o contra o ombro direito de Frisk. Taryan, dividida entre o riso e a reprovação, fitou Frisk soltar um grasnido de pânico.

— Para, Shepia!

A garota sorriu, cutucando a incomum queimadura avermelhada, em forma de coração, que Frisk possuía no ombro – até então recoberta por uma grossa camada de maquiagem.

— Tá vendo isso aqui? Isso é a marca das meninas especiais, que conseguem pular de uma árvore de três metros sem quebrar o pé!

Taryan gargalhou, afagando o topo da cabeça da filha.

— Shepia tem razão, Frisk – concordou com a cabeça – suas diferenças só te fazem ainda mais especial, querida. Nunca se esqueça disso.

O som da campainha sobressaltou a pequena família.

— Opa. Eu atendo – Shepia pulou de sua cadeira, encaminhando-se até a porta do hall de entrada.

— Quem será a essa hora? – Taryan vincou a testa, confusa – nunca recebemos visitas nesse horário!

Houve um gritinho de dor, uma bufada alta e o som da porta voltando-se a se fechar. Atônitas, Frisk e Taryan foram até o hall.

Chegando ali, viram Shepia esfregando uma das mãos, nitidamente assustada, na companhia de um vulto alto e encapuzado.

Taryan agarrou o atiçador que havia no corredor, erguendo-o na direção do inesperado visitante.

— Quem é você?

O encapuzado falou. Uma voz feminina, potente e levemente intimidadora.

— Peço perdão pela invasão indelicada, Taryan. Pessoas como eu não podem se arriscar a serem vistas por humanos.

Frisk observou a tia baixar o atiçador, boquiaberta.

A mulher baixou o capuz, finalmente revelando seu rosto, deixando os cabelos ruivos despencarem em cascata por suas costas. Frisk e Shepia deram vários passos para trás, absolutamente chocadas.

A monstra sorriu largamente, expondo cada um dos dentes afiados, vincando a pele escamada e cerúlea. O único olho exposto, de forte cor verde, fitava Frisk com imensa satisfação.

— Sou Undyne, guardiã de Waterfall, e professora da escola de Hogwarts – piscou afetuosamente, destoando a expressão feroz de seu rosto – e é um prazer te ver novamente, jovem Frisk.

 

 

 


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