Criminal Contact escrita por Escritor Anônimo


Capítulo 5
"Eu não a matei"




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 –Você está sendo preso pelo homicídio de Hannah Johnson.

As vozes ecoavam em sua mente. Há vinte minutos jantava em casa, agora caminhava por um imenso corredor. Os braços famintos de outros presidiários tentavam tocá-lo.

—Que? Que merda é essa? - resmungou.

Andrew era encaminhado até sua cela por um policial. Olhou para trás e se viu há alguns minutos, quando questionava o porquê de estar sendo algemado.

—Vocês não podem fazer isso. - gritou antes de ser jogado dentro do carro da polícia.

Parou de andar quando o policial abriu uma cela e o empurrou para dentro.

—Vadia nova na área. - disse um presidiário careca sentado no chão.

—E aí, bichinha! - disse outro que riscava as paredes de concreto com um pedaço de tijolo.

—Vocês não podem me deixar aqui. - disse Andrew ao policial.

Os dois homens dentro da cela riram.

Andrew olhou assustado para eles. Por um segundo desejou nunca ter ido àquela festa mas então lembrou-se que não fizera nada. Correu até a porta para fugir mas antes que pudesse ter colocado seus pés para fora, o policial fechou a cela e a trancou com uma chave.

—Mãos pra fora. - disse.

Andrew colocou suas mãos para fora da cela por entre as grades e o policial o soltou da algema.

—Não arrume confusão. - disse antes de ir embora.

—Por favor. - disse batendo na grade. - POR FAVOR. VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR AQUI. EU NÃO FIZ NADA.

Julie, Catherine e suas duas amigas resmungavam sentadas no sofá da casa de Vanessa. Emilly pôs os pés para cima de uma mesa de vidro no centro da sala.

—Isso é uma idiotice. - disse. - Devíamos ter continuado lá.

—Primeiro, tire seus pés da mesa. - disse Vanessa. - Segundo, não precisamos mais contar à polícia. Já sabemos quem matou Hannah.

—Isso não acaba com as mensagens de -Fox. — disse Julie.

—Andrew matou Hannah e com certeza iria querer botar a culpa em alguém. É exatamente o que -Fox tem tentado fazer. - disse Vanessa. - Isso me leva a crer que —Fox é ninguém mais ninguém menos que Andrew Robinson.

—Como ele saberia sobre aquela sexta-feira? - perguntou Emilly colocando os pés para cima do sofá.

—Tire os pés do sofá. - resmungou Vanessa.

—Eu estou nervosa, preciso pôr meus pés em algum lugar. - retrucou Emilly.

—Meu Deus gente. - disse Catherine. - Vanessa para de reclamar. E Emilly, coloca esses pés pro chão.

Emilly jogou suas pernas para fora do sofá e se levantou. 

—Tínhamos que ter contado à polícia. - disse pegando seu celular na mesa e indo em direção à porta.

—Ei, aonde você vai? - perguntou Julie.

—Pra casa. - respondeu. - Já que Vanessa tem tanta certeza de que -Fox está preso, posso voltar a ter uma vida adolescente.

—O que? Não. Precisamos fazer alguma coisa. Falar com o Andrew, sei lá. - disse Julie. - Ele não deveria saber sobre o Caso da Sexta-Feira.

—Como eu já disse umas duas vezes : Devíamos ter contado à polícia sobre -Fox. — disse Emilly abrindo a porta. - Agora se me dão licença, tenho séries para assistir. 

—Espera a pizza chegar, pelo menos. - disse Catherine.

—Não estou com fome. - disse Emilly saindo da casa e fechando a porta. - Até amanhã.

—Ela fez isso mesmo? - perguntou Julie indignada. - Saiu andando para assistir séries?

—Deixa ela, todas nós sabemos o quanto Emilly é dramática. - disse Vanessa.

—Eu concordo com ela. - disse Catherine. - Deveríamos ter falado com a polícia.

—E arriscar contar sobre o assassinato?  Não, obrigada. - disse Vanessa. - Isso tudo acabou, vocês vão ver. Andrew é -Fox.

A campainha da casa tocou.

—Ei, deve ser a pizza. - disse Julie. - Pega o dinheiro, Cath.

Vanessa correu até a porta. Antes de abri-la deu uma olhada para a pequena mesa no centro de sua sala.

—Cara, Emilly deixou marcas do pé dela na minha mesa. - disse indignada.

Emilly caminhava pelas ruas escuras de East Lake quando pingos de água começaram a cair sobre sua roupa. Em poucos minutos a chuva aumentou. Emilly pôs os braços por cima da cabeça - para impedir que molhasse seu cabelo - e correu.

Um carro de cor preta passou ao lado de Emilly. Passou pela menina e alguns metros à frente começou a dar ré. O motorista parou ao seu lado e abaixou a janela.

—Seus braços não vão impedir seu cabelo de se molhar. - disse Michael Campbell dando um sorriso torto. 

—Sério?! Eu jurava que meus braços eram um guarda-chuva perfeito. - disse Emilly ironicamente.

—Ei, entra aí. - disse Michael. - Te levo em casa.

—Você não precisa fazer isso. Minha casa é do outro lado da cidade. - respondeu Emilly.

—Como se East Lake fosse uma cidade gigantesca, né?!

Emilly sorriu e entrou no carro.

—Obrigada. - disse.

—Seu cabelo está definitivamente molhado. - disse Michael passando a mão em seus fios loiros.

Os dois riram.

—Olha, eu preciso te dizer que sempre reparei em você. - disse Michael virando na rua de Emilly. - Você é linda.

—Você repara em todas as meninas, Mike.

—Você é diferente. - retrucou.

—Tenho que certeza que também fala isso para todas. Sua irmã é minha melhor amiga. Cara, você é um galinha. - disse Emilly.

Michael ficou sem palavras.

—AH, DESCULPA. - gritou Emilly. - Eu não deveria ter falado isso. Sério, foi mal.

—Tudo bem. - disse Michael parando o carro em frente à casa de Emilly. - Mas podia me pedir desculpas com um beijo. 

—Errr...não. - disse Emilly. - Muito obrigada pela carona mas definitivamente não.

—Isso é por eu ser irmão da sua melhor amiga? - perguntou.

—Não. - Emilly respondeu.

—Ah, qual é. - disse Michael. - Eu sou o maior pegador dessa cidade.

—Como se East Lake fosse uma cidade gigantesca, né?! - retrucou Emilly.

—Haha, que engraçadinha. - disse Michael. - Mas sério. Nenhuma menina me diz não.

—Esse é o problema. - respondeu enquanto saía do carro. - Mais uma vez obrigada pela carona.

Michael não respondeu nada. Apenas acelerou o carro e foi embora. 

Antes de entrar em casa, Emilly resmungou. Já ouvira falar que Michael fosse um galinha mas chamá-lo disso na sua cara e ainda vê-lo paquerá-la fora um absurdo. Por um momento desejou nunca ter aceitado a carona.

—Filha?! - disse Elise levantando do sofá.

—Olá. - respondeu Emilly.

—Ai meu Deus, eu estava tão preocupada. - disse. - Te liguei diversas vezes e você não atendeu.

—Desculpa. Eu estava com as meninas.

—Tudo bem. Só atenda o telefone da próxima vez. - disse Elise.

—Atenderei. 

Vanessa, Julie e Catherine não aguentaram ficar nem mais dez minutos sentadas no sofá então foram para as suas casas. A noite fora longa, mais uma vez não conseguiram dormir. Só conseguiam pensar em Hannah, em -Fox, Melanie. Suas mentes poderiam explodir à qualquer momento.

Os primeiros raios de sol entraram pela janela do quarto de Julie, que tentou tampar a luz com seu travesseiro. Falhando miseravelmente, levantou-se e foi se arrumar para a escola. Os últimos dias tinham sido difíceis. Passou de uma simples festa na casa de Alex para um caso de chantagem e homicídio.

Como toda manhã, Julie bateu três vezes na porta do quarto de Michael antes de ir tomar seu café. Ele não trabalhava e nem estudava. Não fazia nada o dia inteiro à não ser beijar garotas quaisquer pela cidade. Enquanto Julie acordava cedo todos os dias e estudava muito para ser aceita em uma boa faculdade. Ela bate três vezes na porta do quarto de seu irmão porque sabe que isso o acorda, quando ela dá sorte ele não consegue mais dormir e não existe nada pior que acordar cedo sem motivos. Era apenas uma pequena provocação entre irmãos.

—Bom dia, mãe. Bom dia, pai. - disse Julie enquanto pegava uma caixa de leite na geladeira.

—Olá filha. - disseram em uníssono.

—Tem alguém que veio te ver. - disse Avery Campbell. 

—Quem? - perguntou.

Seu pai - Avery - balançou a cabeça em direção ao sofá onde se encontrava um garoto. O coração de Julie disparou quando o viu. Aqueles olhos azuis e as bochechas rosadas conseguiam mexer com ela.

—Henry. - disse. 

—Olá.

Os dois pareciam desconfortáveis. 

—Vamos para a aula? - perguntou Henry. - Eu preciso falar com você.

—Tchau, pai. Tchau, mãe. - disse Julie pegando sua bolsa e acompanhando Henry até a saída. - Tomo café na escola.

—Bem. Queria pedir desculpas por ontem. - disse Henry assim que saiu da casa. - Eu fui um babaca.

Julie abriu a boca para falar mas fora interrompida.

—Você estava certa. Foi ao velório. É uma forma de respeito e... - continuou Henry se embolando em suas próprias palavras.

—Tudo bem. - disse Julie aproximando-se de seu namorado. - Você só estava irritado por tudo que a Hannah já fez.

—Isso nem é tanto pela Hannah. - retrucou Henry. - É mais por eu ter te deixado sozinha. Devia ter te acompanhado.

—Já disse que tudo bem. - respondeu Julie aproximando-se do rosto de Henry. - Só não me deixe mais sozinha.

Henry suspirou.

—Então acho que temos um trato. - disse com seus olhos azuis fixos nos belos olhos castanhos de sua amada.

Se encararam frente à frente por alguns segundos antes que suas bocas se tocassem. Lentamente foram fechando seus olhos. O amor os envolvia de tal maneira que poderiam ficar ali por horas.

—Acho que vocês têm aula. - disse Meredith Campbell abrindo a porta de casa e vendo o casal se beijando.

—Ãhn? - Henry assustou-se. - Errr...

—Aham. Aula. - disse Julie. 

Os dois riram envergonhados e correram em direção à esquina.

Meredith soltou uma risada e fechou a porta. Olhou para seu marido sentado no sofá e soltou um suspiro.

—Esses jovens me inspiram. - disse indo em direção à Avery.

Os dois se beijaram. Com Julie na escola e Michael dormindo, os dois não teriam quem os atrapalhassem. Seus beijos duraram bem mais  que os de Julie e Henry.

Um pouco mais distante Catherine caminhava para a escola com sua pasta embaixo dos braços quando encontrara Judith. A prima de Hannah. Ou como ela gostava de chamar, garota bêbada do enterro.

—Olá. - disse a menina aproximando-se de Catherine. - Não sei se vai se lembrar de mim. Sou Judith. Estava no enterro de ontem.

—Ah, claro. Sou Catherine.

—Achei que fosse Caroline mas tudo bem. - disse.

Catherine riu.

—Bem. Eu queria me desculpar por ontem. Eu acabei exagerando na bebida. - disse Judith. - Você foi toda atenciosa comigo e eu fiquei te dando patadas, então me desculpe.

—Tudo bem. - disse Catherine. - Eu sei como é perder alguém que você ama muito. Meu pai morreu quando eu tinha seis anos.

—Eu sinto muito. 

—Também sinto pela Hannah. - disse Catherine. - Vocês eram muito próximas?

—Muito. Éramos aquele tipo de primas que poderiam ser irmãs. - respondeu. - Ela sabia tudo sobre mim e eu sobre ela. Talvez não tudo. Hannah era uma caixinha de surpresas. Uma doce caixinha de surpresas.

—Sim, ela era.

Catherine preferiu não falar mas doce não era exatamente a primeira palavra que lhe vinha à mente quando pensava em Hannah. Estava mais para demônio ou vaca. 

Judith olhou para a pasta nos braços de Catherine. Nela havia o símbolo esverdeado do Instituto East Lake.

—Estuda lá? - perguntou. - No Instituto.

Catherine fez que sim com a cabeça.

—Me transferi pra lá ontem mesmo. - disse Judith. - Conversei com meus pais e achei melhor morar alguns meses com minha tia Mary. Ela precisa de muito apoio.

—Isso é ótimo. - disse Catherine.

—Ei, será que eu poderia ir à escola com você? - perguntou.

—Claro, Judith. - Catherine respondeu.

—Pode me chamar de Judie.

—Como quiser.

As duas conversaram o caminho todo até a escola e Catherine só conseguia pensar como Hannah e Judith podiam ser tão amigas. Hannah era uma vadia nojenta, já Judith parecia um amor de pessoa. Hannah saía para beber todas as noites e transava com todos os caras da escola. Judith parecia tão inocente e meiga. Tudo bem que ela ficou bêbada em um enterro - Catherine quis dar ênfase no fato de ser um enterro - mas ainda assim a amizade entre elas era levemente estranha.

As quatro meninas encontraram-se na escola. Quase não trocaram olhares. Pareciam ter medo de que -Fox pudesse mandar alguma mensagem à qualquer momento. Permaneceram assim até a hora da saída, quando Vanessa foi até suas amigas e cochichou:

—Não precisamos mais ter medo. -Fox está preso. 

—Não acho que o Andrew seja -Fox, e se ele for, então temos todos os nossos segredos nas mãos dele. - disse Catherine. - Ele pode contar à polícia à qualquer momento.

—E aí, gostosas. - disse Ryan passando pelas meninas esfregando sua mão na saia preta de Vanessa.

Ryan estava no terceiro ano do ensino médio e era o líder do time de futebol americano da escola. Por ser o quarterback, se sentia o maior gostosão da escola. Quando não estava batendo em outros garotos por aí, tentava paquerar algumas garotas para transar com elas. Hannah e Ryan namoraram por um tempo - meses antes dela morrer.

—Você é um idiota. - disse Vanessa. -Não um idiota qualquer. O maior idiota dessa escola. Talvez de East Lake inteira.

—Tenho certeza que você adoraria transar com esse idiota. - disse Ryan dando uma risadinha seguida de um aperto de mão com um amigo. - É assim que se faz.

—Não, não é assim que se faz. - disse Vanessa. - Agora sai daqui.

—Qual é, gatinha.— disse Ryan aproximando-se de Vanessa. Em um movimento rápido, agarrou-a.

Vanessa soltou um grito.

Suas amigas se olharam sem saber o que fazer.

Vanessa empurrou Ryan e deu um soco em seu peito. O garoto riu e se virou para ir embora. Nesse exato momento, Alex Hemmings correu até Ryan e o empurrou. Antes que ele pudesse ver quem o tinha empurrado, Alex deu-lhe um soco no rosto.

—Há. - disse Ryan limpando o sangue que escorria de seu nariz com a manga de seu casaco. 

Vanessa arregalou os olhos e afastou-se.

—Ela te mandou sair daqui. - disse Alex.

Ryan riu e deu um soco no rosto de Alex, jogando-o no chão. Depois disso, foram socos atrás de socos até que o rosto de Alex estivesse completamente ensanguentado.

—Ai meu Deus, para. - disse Emilly.

—PARA, RYAN. - gritou Vanessa.

Alex abriu a boca para tentar respirar mas levou um soco em seu pescoço, prendendo sua respiração.

Emilly e Julie tentaram puxar Ryan para que ele parasse. Catherine gritava por ajuda desesperadamente. Mas Vanessa, ela apenas ficou ali parada olhando Alex sangrar. Não fez por mal. Apenas não conseguia se mover. Ela sempre fora famosa por ser intimidadora, causar medo nas pessoas mas onde estavam essas suas habilidades agora? Alex poderia ser morto à qualquer momento e ela não conseguia nem ao menos se mexer. Cada vez que o punho de Ryan levantava e ela conseguia ver o rosto de Alex, ela se lembrava de Hannah. Quando fora pendurada no telhado, seu rosto estava quase que totalmente desfigurado.

Vanessa gritou mas nenhum som saiu de sua boca. Diversos flashbacks vieram á sua mente. Via Hannah gritando. Via ela própria segurando uma faca. Via Hannah pendurada no telhado. Vanessa desejou não ter feito o que fez.

—O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? - gritou o coordenador da escola segurando os braços de Ryan. Seu grito afastou os maus pensamentos de Vanessa.

—Meu Deus, olha o que você fez com o garoto. - disse o coordenador arrastando Ryan pelo casaco. - Vamos até minha sala agora.

—E o Alex? - Julie perguntou.

—Vou mandar a enfermeira cuidar dele. - disse o coordenador.

—Por favor fala comigo. - disse Vanessa levantando Alex.

O garoto gemeu.

—Você não precisava ter feito aquilo. Eu conseguiria me safar dele. - disse Vanessa.

—Eu sei que conseguiria. - disse Alex em meio à gemidos e pausas para respirar.

—Eu vou ficar com ele. - disse Vanessa. - Vocês podem ir, se quiserem. 

—Você não precisa fic... - Alex dizia antes de ser interrompido por Vanessa.

—Eu vou ficar. - disse a garota.

—Eu preciso ir. - disse Catherine. - Minha mãe me pediu pra chegar cedo em casa. Teremos um almoço especial ou algo do tipo.

—Vou com o Henry. - disse Julie. - Quer vir com a gente?

—Não, obrigada. - disse Catherine. - Agora eu realmente preciso ir.

—Vou esperar a enfermeira com vocês. - disse Emilly à Vanessa e Alex.

—Obrigado. - disse Alex antes de cuspir sangue no chão.

Catherine pegou sua pasta e correu para a saída. Torceu para que Judith não fosse atrás dela. Precisava resolver algo e precisava estar sozinha. Ela odiava mentir para suas amigas mas dessa vez fora preciso. Sua mãe nem estava em casa e muito menos haveria algum almoço especial.

Catherine pediu um táxi e foi até a delegacia de East Lake - a mesma que fora na noite passa para denunciar -Fox. Ao entrar no local, foi até a recepção e pediu informações sobre como poderia visitar algum presidiário. Preencheu os formulários e esperou sua vez.

—Senhorita Catherine Hernandez. - chamou um policial.

Ele a conduziu por um estreito corredor acinzentado até uma pequena sala. Haviam duas cadeiras de madeira de frente para a outra separadas por uma pequena mesa de ferro. No teto havia uma pequena lâmpada que iluminava a mesa. Em uma das cadeiras estava sentado Andrew - usando um macacão laranja e com algemas nas mãos.

—Sem nenhum tipo de contato físico, por favor. - disse o policial enquanto saía da sala. - E vocês só tem cinco minutos.

—Quando me disseram que eu tinha visitas, achei que fosse meu pai. - disse Andrew.

—Acho que... bem... hm... você não deve nem me conhecer. - disse Catherine. - Somos da mesma escola. Eu estou no primeiro ano.

—Sim. Catherine, certo? - Andrew perguntou.

—Como sabe meu nome? 

—Hannah falava bastante de você e suas amigas. - disse Andrew.

—Vocês eram amigos? - Catherine perguntou.

—Ficamos algumas vezes mas nada além disso. - Andrew respondeu. 

—Ah.

—Não quero ser grosso. Mas por que veio até aqui? - Andrew perguntou.

—Você está sendo acusado de matar a Hannah... - dizia Catherine antes de ser interrompida por Andrew.

—Não. Eu não a matei se é isso que quer saber. - disse.

Catherine pareceu inquieta. Ela sentia que Andrew falara a verdade.

—E por que você seria um suspeito? - perguntou.

—Já fui expulso de três escolas. Já fui preso por pichar um hospital. Já fui mandado para dois colégios internos. - disse Andrew. - A polícia dessa merda de cidade prefere acusar alguém pelo seu passado do que realmente investigar o que aconteceu.

Catherine se sentiu desconfortável com os olhos azuis de Andrew. Eles pareciam penetrar sua alma.

—Seus pais já vieram aqui te ver? - perguntou. - Para resolver os assuntos com advogados.

—Minha mãe morreu no meu parto. - respondeu Andrew. - E meu pai não liga muito pra mim.

Catherine ficou sem ter o que dizer.

—O tempo de vocês acabou. - disse o policial voltando à sala.

—Se você não a matou, será solto. - disse Catherine levantando-se da cadeira. - Pode ter certeza.

—Eu não teria tanta certeza assim. - disse Andrew.

Um policial conduziu Catherine de volta à recepção da delegacia. A garota saiu e foi até a calçada para procurar um táxi. Ao ver um estacionado, foi até o carro.

—Olá, tem como me levar até depois da igreja? - perguntou Catherine.

O taxista não abaixou o vidro do carro mas abriu a porta de trás. A menina entrou meio assustada. Catherine tentou olhar para o rosto do taxista mas ele usava uma boina preta que escondia parte de seu rosto, deixando visível apenas sua boca esbranquiçada e sua pele pálida.

Catherine começou a suar frio quando o taxista virou à esquerda - quando na verdade deveria ter virado à direita - e seguiu por uma longa estrada.

—Minha casa fica para o outro lado. - disse Catherine.

—Vamos dar um passeio. - disse o taxista com uma voz um tanto rouca. 

—O que? - perguntou.

O taxista acelerou o carro.

—Por favor, para o carro. - disse Catherine.

—Parar? Não podemos parar. - disse o taxista.

—PARA ESSE CARRO. - gritou Catherine.

O taxista acelerou mais o carro e passou por uma placa que dizia Você está saindo de East Lake.

Catherine gritou e tentou abrir as portas do carro mas o homem já havia as trancado.

—POR FAVOR. - Catherine implorou.

—Não grite, por favor. - disse o taxista acelerando mais o carro.

Catherine olhou pela janela e viu que eles passavam por uma longa estrada de terra. Ao redor só havia mato e alguns lagos. Ela gritou e arrancou a boina do taxista para que pudesse ver seu rosto.

A garota gritou quando notou que o taxista usava uma máscara branca. Na região dos olhos haviam dois buracos e havia uma corda que prendia a máscara ao rosto do homem. Antes de se jogar no banco assustada, Catherine notou o cabelo preto do homem.

—QUEM É VOCÊ? - gritou.

—Não acho que você deva saber quem sou eu. - disse o homem.

Ao passar em frente à um lago, o taxista destrancou as portas.

—Foi um belo passeio. - disse o homem.

Catherine gritou e se jogou para fora do carro. Caiu no chão e machucou seu joelho e cotovelo. Antes que pudesse se levantar, o carro deu ré e voltou para a estrada.

A garota olhou ao redor e viu uma pequena casa de madeira ao lado do lago e correu até sua porta. Antes de arrombá-lá, bateu e gritou por ajuda. Seu interior era sujo e apertado - com apenas um cômodo -, além de possuir várias fotos de Hannah espalhadas pela parede. Fotos da garota dormindo; comendo; andando; indo para a escola; e a mais bizarra de todas, uma foto de Hannah nua agarrada com um garoto na cama.

Catherine olhou pela janela da casa e viu algo estranho boiando no lago então correu até um pequeno pier próximo. Ao olhar mais de perto notou ser uma mão. A garota desejou não ter se aproximado. Ligou desesperada para a polícia e correu para a casa de madeira.

Em poucos minutos haviam quatro carros da polícia em frente ao lago e umas vinte pessoas curiosas. Catherine sentou-se no chão e chorou.

—O que aconteceu? - perguntou Emilly se aproximando. Julie estava ao seu lado.

Catherine levantou o rosto cheio de lágrimas e disse:

—Um taxista me trouxe até aqui. Mas eu não sei quem ele era. Talvez fosse -Fox. E então... - suas lágrimas a interromperam. - Então eu encontrei essa mão na água e...

—Calma. - disse Julie levantando Catherine e a abraçando.

—CASO 3206. REPITO. CASO 3206. - gritou um policial.

As pessoas começaram a cochichar. 

—Onde está a Vanessa? - perguntou Catherine.

—Nós falamos que você tinha ligado mas ela ficou com o Alex. - respondeu Emilly.

—POR FAVOR. CASO 3206. - gritou novamente o policial.

—O que é isso? - Emilly perguntou.

As três ficaram boquiabertas quando viram dois policiais carregando uma maca com um corpo. A mão que Catherine viu era apenas a menor parte do que realmente estava naquele lago. O corpo estava nu e haviam cortes por todo ele. O cabelo era ruivo e a pele branca. Presa à cabeça havia uma máscara laranja de uma raposa. Os policiais pararam a maca em frente às meninas e retiraram a máscara.

Todos ao redor gritaram. A boca e o nariz deformados, os cortes na exata posição. Aquela era Hannah. Hannah Johnson. A mesma menina que fora enterrada na noite anterior. Os policiais se olharam assustados. Alguém retirara o corpo da jovem de seu caixão e o jogara no lago.

Os celulares das três meninas apitou - como se tivessem recebido uma mensagem. Retiraram-os de seus bolsos e leram as mensagens em suas mentes.

—O jogo não acabou, vadias. Ele está apenas ficando pior. Ah, e lembrem-se que se me dedurarem, quem vai pro lago são vocês. -Fox.

As três se olharam e engoliram à seco. Não podiam gritar ou ao menos mencionar a mensagem - haviam policiais por perto - então apenas guardaram seus celulares e observaram o corpo de Hannah e a máscara de raposa nas mãos de um dos policiais.


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