Criminal Contact escrita por Escritor Anônimo


Capítulo 4
"O Cemitério é sua Casa"




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No escuro nada se via.

Gotas de água escorriam do teto e caíam sobre o chão áspero, provocando pequenos barulhos.

A respiração ofegante aumentava a cada segundo, como se seus pulmões pudessem parar de funcionar à qualquer momento.

Deu um último soco na estreita porta de ferro, dessa vez sentiu uma dor nos pulsos.

—Emilly... - murmurou dobrando os joelhos no chão.

—Por favor. - disse Emilly encostando as costas na porta. - Não quero acreditar que alguém possa ter nos trancado aqui de propósito.

Uma gota de suor escorreu de sua testa.

Um barulho foi ouvido e a porta de ferro estremeceu, fazendo Emilly levantar-se.

—JULIE? EMILLY? - Vanessa gritou batendo na porta do Jazigo.

—VAN! - gritou Julie. Se contorceu ao lembrar-se da mensagem que recebera à alguns minutos.

—Alguém prendeu a porta com um pedaço de madeira. - disse Vanessa.

—Pelo amor de Deus, nos tire daqui. - disse Emilly.

Logo a porta se abriu em um solavanco. Julie pulou para trás, quase acertando a cabeça de Melanie.

—Ah deuses, obrigada. - disse Emilly abraçando Vanessa.

—Não viram quem fez isso? - ela perguntou.

—Não. - Julie respondeu. - Mas acho que isso tudo foi apenas uma armadilha de —Fox. 

—Pelo menos chegamos antes de Mary. - disse Emilly.

—Então...quem matou a Hannah? - Vanessa perguntou.

Antes que pudessem dizer algo, Vanessa gritou ao ver a cabeça pendurada no teto.

—Que merda é essa? - perguntou.

—Estamos pisando no túmulo de Melanie Roberts. - disse Julie.

—Não pode ser. - disse Vanessa. - Por que os pais dela a enterrariam aqui? Eles nem moram em East Lake.

Caminhou até o crânio e o olhou atentamente, iluminando-o com a lanterna de seu celular.

É falso. - disse. - Isso daqui é uma boneca qualquer.

—O que?! - perguntaram em uníssono.

Fox só queria nos assustar. - disse Vanessa. - Não deve nem ao menos saber quem realmente matou Hannah.

Julie desdobrou a foto que pegara e a mostrou à Vanessa.

—Encontramos isso. - disse.

Vanessa observou a foto. Seus olhos pareciam ter aumentado, e suas expressões eram de medo.

—Isso não é real. - disse. -Fox pode ter alterado essa foto em algum computador. Eu já contei a verdade para vocês.

—Só vamos sair daqui, por favor. - disse Emilly.

As três meninas saíram do jazigo e fecharam sua porta. Enquanto tentavam endireitar o cadeado, um barulho parecido com um click ocorreu, mas fora tão baixo que nenhuma delas ouviu. Emilly olhou para uma estátua de uma mulher trajando mantos esbranquiçados. Ao desviar o olhar, duas orelhas alaranjadas como de uma raposa se levantaram atrás da estátua. 

—Não vamos conseguir. - disse Julie. - Deixa isso aí.

—Julie tem razão. - disse Emilly à Vanessa.

—Vamos embora. - disse Vanessa largando o cadeado.

—Olá, meninas. - disse um homem aproximando-se por trás delas.

As três viraram-se.

—Ei, lembro-me de você. - disse o homem. - Te vi naquela festa com sua mãe.

—Quem é você? - perguntou Vanessa.

—Detetive policial Aiden Marshall. - disse retirando um distintivo banhado em ouro de seu bolso. Nele era possível ler "Delegacia Municipal de East Lake".

Nenhuma das meninas disse algo pois já sabiam do que se tratava. Não haviam comentado sobre isso até agora. Sabiam que a hora chegaria, mas tinham medo do que isso poderia ocasionar.

—Vocês não precisam se assustar. - disse Aiden guardando seu distintivo. - Só por favor me sigam até à delegacia.

—Você não pode nos levar assim sem nem explicar o que está acontecendo. - disse Vanessa mentindo para si mesma.

—É sobre o assassinato de Hannah Johnson. - respondeu. - Agora por favor, venham comigo. Sua amiga Catherine e os pais de cada uma de vocês estão esperando na delegacia.

As três olharam-se. Seus olhos quase podiam dizer "Socorro". Mas por que elas teriam medo? Não tinham feito nada, não é mesmo? Seus nomes haviam sido escritos pelo corpo de Hannah, mas não fora elas, então por que teriam medo?

Ao passar perto de um lixo, Julie pegou a foto de Vanessa e a jogou fora. Não podia levar provas que incriminassem sua amiga para a delegacia. Seria como dizer "Por favor, prenda-nos, Vanessa a matou e nós somos cúmplices".

Pelo cemitério ainda era possível notar algumas pessoas - que foram ao enterro de Hannah - chorando. Judith havia voltado para debaixo da enorme árvore. Seus olhos estavam inchados e sua pele pálida. Alex Hemmings observava de longe. Ele odiava Hannah, mas ela morreu em sua casa, precisava ter um pingo de compaixão e ir ao enterro. E assim fez.

Mary permanecia ajoelhada na terra úmida onde sua filha havia sido enterrada. Parecia ter ignorado a mensagem que -Fox a enviara. Talvez achasse ser apenas um trote, não teria sido a primeira vez. Na noite passada, recebeu uma ligação de um homem afirmando ter visto Hannah andando pelas ruas. As pessoas não têm compaixão, fazem piadas com o sofrimento alheio. É a nossa infeliz sociedade.

Na delegacia estava Catherine sentada em um sofá marrom. Ela mexia as pernas de forma impaciente.

—CATH! - gritou Julie entrando pela porta de vidro do local.

—Ai, que bom que vocês chegaram. - disse Catherine abraçando suas amigas.

—FILHA! - gritou Elise correndo para abraçar Emilly.

—Você está bem, filha? - perguntou Meredith abraçando Julie.

—Por favor, vamos entrando. - disse Aiden. - Quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminaremos a conversa. - Deu uma pausa. - E teremos respostas sobre a morte de Hannah.

—Estamos ligando para um advogado. - disse o pai de Emilly.

—Senhor Carter, não creio que isso seja necessário. Como eu disse, isso é apenas uma conversa com as meninas. - disse Aiden abrindo a porta de sua sala. - Não precisam ver como uma investigação.

As quatro meninas se olharam assustadas e entraram na sala. Sentaram-se uma ao lado da outra em um sofá preto. Vanessa olhou ao redor e notou uma pequena televisão à esquerda.

—Vanessa, Catherine, Emilly e Julie, certo? - perguntou Aiden.

Balançaram suas cabeças afirmando.

—Vocês tem quantos anos? 

—Nós três temos quinze, Vanessa dezesseis. - disse Emilly.

—Vocês estavam na festa. - disse Aiden.

—Estávamos.

—Não foi uma pergunta. - disse Aiden. - Eu sei que estavam.

Vanessa revirou os olhos.

—Ei, desculpe-me. Não quis parecer grosso. 

—Pois eu acho que foi exatamente isso que você quis parecer. - disse Vanessa.

—Você é a...

—Vanessa. - disse. - Vamos logo, faça suas míseras perguntas.

—Olha só garotinha, eu sou uma autoridade, então peço que por favor diminua seu tom. - disse Aiden.

Vanessa esticou suas pernas e jogou seu corpo para trás, no encosto do sofá.

—Vocês eram amigas de Hannah Johnson? - Aiden perguntou.

—Não acho que amigas seja a palavra adequada. - disse Emilly.

—Ela era apenas uma colega de classe. - disse Julie.

—Aquela garota era uma vadia. - disse Vanessa.

As meninas olharam para a amiga, que desviou o olhar.

—Então vocês não se davam bem com Hannah? - perguntou Aiden.

—Ela nos ofendia sempre que podia. - disse Catherine.

—Como eu disse, era uma vadia. 

Aiden fez algumas anotações em um caderno azul em sua mesa.

—Deixe-me tentar entender. Hannah praticava bullying com vocês quatro, exato? 

Vanessa odiava admitir, mas sofrera bastante nas mãos delicadas e com unhas de porcelana de Hannah. Assim que entrou na escola, por volta do quinto ano do ensino fundamental, Hannah espalhou boatos pela sala de que Vanessa era uma bruxa. Eram todos crianças. Crianças têm medo de bruxas. E as crianças - como Vanessa gostava de chamá-las, malditas - passaram a rejeitá-la. Nunca é fácil passar por provocações, ainda mais quando se está sozinha.

—Hannah e aquele grupinho de vacas. - disse Emilly. - Eu diria que elas estragaram uma boa parte do meu ensino fundamental.

—E os professores? Não tomavam nenhuma providência em relação à isso? - perguntou Aiden fazendo mais uma anotação.

—Ninguém se importa se você sofre bullying ou não. - disse Catherine. - As pessoas só começam a se preocupar quando já é tarde demais.

—Estaria insinuando o assassinato do provocador? - perguntou Aiden.

—Há! Não acredito. - disse Vanessa. - Agora está dizendo que nós a matamos?

—Estou falando sobre suicídio. Depressão. Problemas psicológicos. - Catherine respondeu.

—Eu não disse isso, Vanessa. - retrucou Aiden.

As meninas ficaram em silêncio.

—Vocês já devem saber. - continuou Aiden. - Mas seus nomes foram escritos com carvão no corpo de Hannah.

—Vai dizer agora que nós a matamos e ainda assinamos?! - disse Vanessa. - Ah, que lindo. Hannah Johnson é como um muro em que você deixa sua marca registrada.

Aiden tossiu ignorando Vanessa.

—Têm alguma noção de quem possa ter feito isso? - perguntou. - Alguém que quisesse a Hannah morta, e que colocaria a culpa em vocês.

—Não. - disse Emilly.

—Descobrir quem foi é o seu papel, não nosso. - disse Vanessa.

Aiden levantou-se de sua cadeira irritado mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma mulher entrou na sala e chamou por ele.

—Podem ir. - disse. - Mas se tiverem qualquer suspeita de quem tenha sido, por favor me procure. 

Então saiu da sala.

—Dá pra acreditar nele, cara?! Só faltava ter nos levado presa. - disse Vanessa.

—Você precisa ter cuidado com o que fala. Ele é um policial. - disse Catherine.

—Ah, ótimo. E a liberdade de expressão? Onde fica?

A pequena televisão presa à parede com um suporte de ferro começou a chiar. As meninas olharam assustadas para o aparelho e quase que no mesmo instante, a tela ficou preta e um vídeo começou a ser exibido.

—O que é isso? - Julie perguntou.

No vídeo haviam quatro pessoas correndo por uma floresta. Trajavam-se com burcas pretas e cada uma usava uma máscara. Uma idêntica à Vanessa, outras à Emilly, Catherine e à Julie.

—Que merda é essa? - perguntou Vanessa.

Catherine olhou ao redor procurando o controle da televisão mas não  achou.

—Ei, Vanessa, vamos matar uma pessoa hoje? - perguntou a menina vestida de Julie no vídeo.

—Claro. Podemos matar a Melanie. Ninguém gosta dela mesmo. - "Vanessa" respondeu.

A música de fundo lembrava antigos cânticos caipiras do Texas.

As meninas do vídeo correram até um galpão de madeira. No telhado havia mais uma pessoa com máscara, esta semelhante à Melanie.

Olha ela. Vamos subir no telhado e empurrá-la. - disse "Emilly" rindo.

—Haha, Emilly, você é um barato. - disse "Julie" dando um tapinha nas costas de sua amiga.

Gente, vamos parar de conversinha e vamos pegar a Melanie. - disse a menina representando Catherine.

—Faz isso parar, por favor. - disse Emilly fechando os olhos.

As meninas do vídeo subiram no telhado usando uma escada que estava encostado na galpão e empurraram "Melanie". A menina caiu no chão e se fingiu de morta. Uma pessoa vestida de raposa apareceu e jogou tinta vermelha em cima de "Melanie" como se fosse sangue.

Ei meninas, o que acham de queimarmos ela, ein? - disse "Vanessa".

Que ótima ideia, amiga. Eu adoro um churrasquinho. - disse "Julie".

—Isso parece um programa de TV bizarro. - disse Catherine.

As meninas no vídeo saíram saltitando felizes. A tela escureceu por alguns segundos e então apareceu uma foto. As quatro meninas - dessa vez de verdade - à quatro anos atrás arrastando o corpo ensanguentado de Melanie.

—COMO? - gritou Emilly.

Uma música de rock começou a tocar muito alto. Uma frase com letras brancas apareceu em cima da foto.

Todo mundo tem segredos. Uma pena que o de vocês podem as levar para a cadeia. -Fox. 

—NÃO. NÃO. NÃO. - gritou Catherine.

A música foi ficando mais alta.

—FAZ ISSO PARAR. - gritou Julie.

Aiden começou a andar em direção à sua sala. 

Vanessa começou a procurar pelo controle da televisão.

—SE ALGUÉM VIR ISSO. - gritou Emilly.

Aiden olhou para as meninas pelo vidro da porta.

—ALGUÉM FAZ ALGUMA COISA. - gritou Vanessa.

Aiden abriu a porta.

—Que barulho é esse? 

E então a música parou e a televisão desligou.

As meninas se olharam e respiraram fundo.

—O que foi isso? - Aiden perguntou.

As meninas pegaram suas bolsas e correram para fora da sala, deixando Aiden sem entender nada. Saíram da delegacia com seus pais e não mencionaram sequer uma palavra. Estavam nervosas, preocupadas e com medo. As horas foram passando e as meninas pareciam não ter coragem de ligar umas para as outras. Não queriam falar ou talvez estivessem com medo demais para isso. Catherine e Julie acabaram quebrando o silêncio e marcaram de ir em uma cafeteria próxima. 

—Oi. - disse Julie.

—Olá. - respondeu Catherine.

Ao se abraçarem, desabaram em choro.

—Por que estão fazendo isso conosco? - Julie perguntou.

Catherine não conseguiu responder. 

—Olá, meninas. - disse Chelsea se aproximando. - Quanto tempo.

As duas limparam suas lágrimas com as mãos.

—Aconteceu algo? - Chelsea perguntou.

—Me diz você. - respondeu Julie. - Mora em Oak City, o que te trás à East Lake? Ou mais precisamente ao enterro de Hannah?

—Ela era uma amiga. - disse Chelsea.

—Ah. 

Julie não conseguia confiar em Chelsea. Passou apenas uns quatro dias com ela no acampamento, e a garota conseguiu ser quase tão vadia quanto Hannah.

—Ei, você não precisa ter raiva de mim. - disse Chelsea. - Nos conhecemos numa época muito difícil da minha vida. Eu era uma pessoa horrível.

—Ah.

—Foi bom ver vocês. - disse antes de ir embora. Percebera que as meninas não queriam conversa. - Até.

—Até. 

—Ela é minha suspeita número um. - disse Catherine.

Julie assentiu com a cabeça.

—Ela estava no acampamento quando...você sabe. - disse Catherine. -Se ela realmente for amiga de Hannah pode estar fazendo isso porque acha que nós a matamos.

Julie abaixou a cabeça e respirou fundo.

—Eu e Emilly encontramos uma foto da Vanessa na noite em que Hannah morreu. - disse. - E olha que engraçado, na foto ela segura uma faca.

Quando disse engraçado, uma lágrima escorreu de seus olhos castanhos.

—Você está brincando. - disse Catherine chocada.

—Queria estar. 

—E onde está essa foto? - perguntou.

—Joguei no lixo.

—VOCÊ ESTÁ LOUCA? - gritou Catherine. - Se alguém achar essa foto...

—Eu joguei a foto na lixeira do cemitério. - disse Julie.

—O mesmo cemitério que a vítima foi enterrada e que —Fox aprisionou você em um jazigo. - disse Catherine. - Ah, e não podemos nos esquecer que nesse jazigo tem uma pessoa que nós matamos.

 -Eu não tinha pensado nisso.

—Precisamos pegar essa foto rápido.

As duas saíram da cafeteria correndo e foram até o cemitério.

Não muito longe da cidade estava Judith caminhando pela calçada. Passou em frente à uma loja de conveniências e olhou para uma menina ruiva que estava no caixa. A garota a fez lembrar-se de sua prima, Hannah. As duas sempre foram muito próximas. Dividiam brincadeiras, conversas e segredos. Hannah morrera e levara todos os segredos de Judith consigo. Mas a triste menina não enxergava assim. Judith acreditava ter sido seus segredos que enterraram Hannah. Aquela garota fez tanta coisa em tão pouco tempo, magoou tantas pessoas, cometera tantas ilegalidades, e vejam só, ela tinha apenas dezesseis anos.

—Judith? - perguntou Michael observando a menina parada em frente à loja.

Ela virou-se.

—Michael? Michael Campbell?

—Meu Deus é você mesma. Quanto tempo. - disse abraçando a menina. - Ah, e eu sinto muito pela Hannah.

—Todos nós sentimos. - disse Judith.

—Mas e ai? Vai ficar em East Lake até quando? - perguntou.

—Alguns meses. - respondeu. - Imagino o quanto tem sido difícil para a tia Mary. Vim para ajudá-la.

—Entendo. - disse Michael. - A gente pode sair qualquer dia desses. Pôr o papo em dia.

—Seria bom. 

—Seria. Ãhn, eu preciso ir. - disse Michael. – Até outra hora.

Judith deu um sorriso.

Michael caminhou pelas quietas ruas de East Lake. Parara em frente à sua casa com paredes de cor azul e notou que seu celular tocara. Olhou quem era e desejou estar enganado.

—O que você quer? - perguntou Michael atendendo à ligação.

—Cara, a polícia...eles estão investigando tudo isso. - disse a pessoa do outro lado da linha. Pela voz rouca talvez fosse um homem.

—E?

—Cara, eles vão me achar. Você precisa me ajudar. 

—Isso não é problema meu. - disse Michael.

—Ah, é sim. Se eu cair, você cai junto.

Michael encerrou a ligação e guardou seu celular.

—Filho? - perguntou Meredith abrindo a porta de casa. - Achei ter ouvido sua voz.

—Ah, oi mãe. - disse entrando em casa.

—Sua irmã não está com você? - perguntou.

—Não a vi hoje. Mas ela deve estar na casa de alguma das meninas.

Levemente preocupada, Meredith sorriu. Talvez chorasse se soubesse onde sua filha realmente está. "Na casa de alguma das meninas". Não era totalmente mentira se for levado em conta que Melanie Roberts é uma menina e que agora o cemitério é sua casa.

—Você lembra qual foi a lixeira? - perguntou Catherine iluminando o rosto de Julie com a lanterna de seu celular.

—Foi alguma qualquer perto do túmulo da Melanie. Só precisamos procurar. - respondeu.

—Precisamos achar essa foto rápido. O cemitério fecha daqui a pouco e não quero passar minha noite ao lado de Hannah e Melanie.

—Calma Cath. - disse Julie. - Vamos sair daqui bem antes de fechar.

Estavam procurando pelas lixeiras quando uma forte luz - como de um refletor - iluminou as paredes do jazigo de Melanie. Julie e Catherine olharam assustadas para o clarão. Tentaram seguir com o olhar de onde vinha a luz. A claridade diminuiu e na parede foi refletida uma foto. Vanessa, Emilly e Julie tentando trancar a porta do túmulo de Melanie - que elas arrombaram mais cedo. Com letras vermelhas uma mensagem foi refletida por cima da imagem.

Violação de sepultura é crime, vadias. Piora bem mais quando a polícia descobrir quem matou Melanie. —Fox. 

—Vadia. - disse Catherine. Ao virar para sua amiga, notou que ela chorava.

—Por favor, para com isso. - suas lágrimas não paravam de cair. - Eu não aguento mais.

Catherine abraçou sua amiga.

—Vamos quebrar essa merda. 

Seguiram a luz até uma moita onde estava o retroprojetor. Julie abaixou-se para desligá-lo. Ao levar uma pancada em sua cabeça, caiu na grama úmida. Catherine virou-se para trás. Antes de sentir a pancada e cair pôde ver alguém fantasiado. Roupa predominantemente laranja. Uma raposa.

Vanessa estava em casa e não tinha nem noção de onde estariam suas amigas. Olhou seu celular e não havia nenhuma ligação perdida ou mensagem então abriu seus braços e jogou-se em sua cama. No exato instante em que relaxou com a cabeça em seu travesseiro, seu celular tocou.

—Sério isso? - disse para si mesma antes de se levantar e atender a ligação.

—VAN? - gritou Julie ao telefone.

—Oi? Julie? O que foi? 

Fox nos deu uma pancada na cabeça para que desmaiássemos. - disse Julie ofegante. Parecia estar correndo.

—Desmaiássemos? Quem está com você? - perguntou Vanessa.

—A CATH. - respirou mais forte. - NÓS ACORDAMOS E ESTAMOS SAINDO DO CEMITÉRIO.

—Cemitério? O que raios vocês estão fazendo no cemitério? 

—JULIE, NÃO PEGAMOS A FOTO. - gritou Catherine.

—NÃO PODEMOS VOLTAR LÁ. - gritou Julie.

—Pelo amor de Deus, o que está acontecendo aí? - perguntou Vanessa.

—CATH, VOLTA AQUI. - gritou Julie. Sua amiga voltara correndo para onde levara a pancada. - VANESSA É NOSSA AMIGA. NÃO PODEMOS FAZER ISSO COM ELA.

—CATHERINE! - gritou Julie. - Ah, droga. Vanessa por favor, chama a Emilly e vem pra porta do cemitério.

—Ãhn? Mas... ah que legal, ela desligou. - disse Vanessa.

Pegou um casaco e desceu as escadas. Mandou uma mensagem para Emilly enquanto isso.

—Mãe, preciso ir à casa da Julie. - disse Vanessa. - Ela precisa de ajuda com um trabalho.

—Está na hora do jantar, filha. - disse Ashley.

—Por favor, prometo que não vou demorar. - disse.

—Tá. Não chegue tarde.

—Ah, obrigada. - disse Vanessa dando um beijo na testa de sua mãe. - Chama o Samuel e tenham um jantar romântico.

Saiu pela porta correndo e foi até o cemitério - que fica à algumas quadras de sua casa. Ao chegar na porta viu Julie e Catherine correndo até ela.

—Ai meu Deus. - disse Vanessa. - Me expliquem o que aconteceu.

—GENTE. - gritou Emilly atravessando a rua. - O que está acontecendo?

—Aquela foto da Vanessa, Em. - disse Julie. - Eu a deixei no cemitério, então eu e Cath viemos pegá-la. 

—Mas então, -Fox apareceu com um retroprojetor refletindo uma foto de vocês arrombando o cadeado da sepultura de Melanie. - continuou Catherine.

—Merda. - disse Vanessa e Emilly quase que ao mesmo tempo.

—E então fomos atrás do aparelho e -Fox nos fez desmaiar com uma pancada na cabeça. - disse Catherine.

—Que desgraçada. - disse Vanessa.

—O que é isso na sua perna, Julie? - perguntou Emilly.

Julie olhou para baixo e viu sangue escorrendo de sua coxa. Levantou um pouco sua saia e viu cortes em sua perna provavelmente com alguma faca ou lâmina de barbear.

Vanessa virou um pouco a cabeça para a esquerda e notou que os cortes formavam um código.

OC 101

—O que isso quer dizer? - perguntou Catherine.

—Os créditos do celular de -Fox acabaram? Agora ela vai me usar como...papel? - perguntou Julie.

—Precisamos ir à polícia. Isso tudo já está ficando sério demais. - disse Emilly. - Olha só o que —Fox fez na perna da Julie.

—Não acho que devíamos ir à delegacia. - disse Vanessa. - Contar das mensagens é o mesmo que confessar que matamos Melanie.

—Você diz isso porque não é você que virou o novo bloco de anotações de  —Fox. - disse Julie.

—Gente, sério. - disse Catherine. - Vamos contar para a polícia. Temos provas de que estamos sendo ameaçadas. 

—Não precisamos contar das mensagens referentes àquela sexta-feira. - disse Emilly.

—Tá. Façam como quiser. - disse Vanessa.

As quatro foram juntas até a delegacia. Pararam em frente à grande escada de mármore da entrada. Um alto barulho de sirenes começou a ecoar. Três carros policiais estacionaram em frente à delegacia.

—O que é isso? - perguntou Catherine.

—Policial 001, encontramos o culpado do caso 3206 - disse um policial saindo de um dos carros com um rádio nas mãos. - Câmbio.

—LICENÇA. LICENÇA. - gritaram dois policiais saindo dos carros. Eles fizeram com que as meninas chegassem para o lado.

—O assassino, senhor. - disse o policial com o rádio. - O que matou a jovem Hannah Johnson. 

Um policial abriu o porta-mala do carro e retirou o acusado. A boca de Vanessa abriu quase que sem ela perceber. Ficou chocada.

Primeiro viu os olhos azuis bem chamativos. O cabelo loiro caído sobre seus olhos. E a touca cinza que usava.

As quatro meninas olharam.

—Não! - disse Julie.

Vestia uma calça preta rasgada e uma camisa acinzentada. Ao passar algemado pelas meninas deu um sorriso torto. Nenhuma delas tinha intimidade com ele, Catherine por exemplo, nunca nem chegara a falar com o garoto. Ela apenas o vira algumas vezes andando pelos corredores do Instituto East Lake. Ou então na noite da festa.

Lá estava ele. O assassino de Hannah Johnson.

Andrew Robinson.


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