— Sarada, você precisa se concentrar. Controle seu chakra.

Minha menina. Agora com a sua menina.

Em frente à uma árvore antiga nos fundos de casa, a pequena se concentra e começa a dar passos incertos tentando subir no tronco sem usar as mãos. Sakura observa com a expressão rígida no rosto, mas os olhos cheios de orgulho.

— Eu vou cair… - Sarada se desequilibra mas Sakura já está segurando-a antes que chegasse ao chão.

— Vai cair, e vai se levantar. Mais uma vez.

Mebuki levantou-se da cadeira onde se sentava para observá-las e deixou que elas treinassem suas coisas de ninja. Riu sozinha tentando imaginar em como seria se ela também tivesse sido ninja e se o relacionamento entre ela e Sakura seria daquele jeito. Mas não, ela não era uma ninja e as lembranças construídas com a sua, não mais pequena, criança eram diferentes da vida que ela escolheu.

Se pegou olhando saudosa para uma das fotos em sua sala. Sakura mal havia completado um ano e já sorria em pé para a foto. Sempre fora tão precoce para a idade, já deveria saber que ela não seria como as crianças civis normais.

— Eu quero ser shinobi!

— Claro, querida. Acabe os legumes e pode brincar de shinobi mais tarde.

Ah, como ela era perfeccionista e sempre crítica sobre si mesma. Desde muito nova, se pegou pensando ao olhar a próxima foto em que ela usava a fita vermelha no cabelo. Preocupada com o que pensavam sobre si, mesmo tendo Kizashi e ela lhe dizendo quão linda era. Sempre tão insegura, algo que uma criança não deveria sentir, mas Sakura era diferente das crianças normais.

— Que laço bonito! Ganhou de um namoradinho?

— Ai, pai, claro que não! Ganhei de uma amiga da academia…

Enxugou uma lágrima quando pegou a próxima foto. Era a primeira vez que Kizashi e ela caiam na real e acreditavam que aquele era o caminho que ela escolhera. Sakura sorria tanto no dia de sua graduação na academia. Mebuki achou que não haveria como se sentir mais orgulhosa de sua filha.

— Eu consegui! E ainda fiquei na equipe do Sasuke-kun!

— Mas as coisas agora ficam perigosas, Sakura. Você terá que ir para missões longes de nós, ficar semanas longe da aldeia.

— Eu quero ser shinobi, mãe! Não precisa se preocupar comigo.

Como uma mãe não iria se preocupar com sua filha? Impossível. As missões dentro da aldeia eram ótimas, apesar de Sakura sempre voltar reclamando de ter sido arranhada pelo gato fugitivo, eram essas missões que acalmavam os corações dos pais. Mas uma hora viria a verdadeira missão e a angústia de todos os dias era enorme. Sakura nunca soube as noites que Mebuki passara acordada olhando o céu pedindo para tudo estar bem com sua menina. Confiava que ela era forte. Sabia desde o instante em que encarou aquele rostinho emoldurado por cachos rosados e olhos verdes tão expressivos que, apesar de demonstrar toda a delicadeza que as flores rosadas que inspiraram seu nome apresentavam, também possuía toda a honra e o amor que elas simbolizam. Alívio. Esse era o sentimento que inundava seu coração toda vez que a recebia nos portões.

— Mãe, está apertando muito!

— Céus! Está tão magrinha? Você não se alimentou nessa viagem! E esse machucado? Vamos para casa.

— Tínhamos que lutar por nossas vidas! A prioridade não era comer né, mãe?

Mas não apenas de missões um ninja vive. Mebuki viu muito mais do que os olhares de devoção de sua menina para o rapaz bonito da academia. Por um instante se confundiu, assim como os outros, de que aquele seria apenas um amor infantil. Bobo e com um fim certo. Entretanto, foi no momento em que o jovem rapaz abandonou a vila que percebeu que não seria assim. Alguns têm a sorte de encontrar um grande amor bem cedo e aquele era o destino de Sakura. Ouviu por noites o choro amargurado, sentiu a dor de sua menina sem saber o que fazer para ajudar. Queria ir atrás do menino Uchiha, queria arrastá-lo de volta para vila e acalmar o coração apaixonado de sua menina. Só que isso não cabia a ela. Os filhos precisam ter suas próprias lutas e Mebuki sabia que não poderia interferir naquela. Sentiu o medo de Sakura se afundar em si mesma e perder todo o brilho que sempre lhe acompanhou. Só que sua menina a surpreendeu mais uma vez. A foto feliz com o peixe vivo e o rosto cansado lhe fazia reviver aquilo.

— Mãe, Tsunade-sama irá me ensinar tudo! Eu vou me dedicar ao máximo para ser como ela. E aí sim poderei ajudar o meu time.

— Ficar horas ressuscitando peixe e sem comer? É assim que você acredita que irá se tornar melhor que Tsunade-sama?

— Mãe?! Eu estou falando de algo sério aqui!

— E comer não é algo sério? Ah, saudades do Naruto-kun!

— Ele está treinando arduamente com Jiraya-sama. Preciso treinar muito também para não ser um peso para ele. Tchau, mãe! Tenho que me encontrar com a Tsunade-sama.

Teimosa. Essa pequena palavra definia sua menina e sabia disso. Uma ninja mostrando um potencial gigante, a pupila da sannin lendária e quinta Hokage, amigos leais e uma adolescente que gostava de bater o pé. Lembrava-se bem de todos os bicos, dos momentos de discordância. Mas sabia que, no fim, ela sempre voltava reconhecendo seu erro e reafirmando seu amor, pois isso era algo que nunca a envergonhava. Amar. Por mais que sofresse, por mais que fosse doloroso, ela suportava sem negar o quanto amava. Sabia que ela via isso como um defeito. Como um ninja poderia amar assim? Ela precisava ser focada, sem emoções que pudessem a atrapalhar. Mas, como mãe e como mulher, Mebuki sabia  que ali estava a maior força de Sakura. Amar sem medo. Amar por ter escolhido aquilo e não deixar ninguém mudar sua cabeça apenas por não ser fácil. Corajosa também definia Sakura, mesmo que ela não acreditasse totalmente nisso. As fotos seguintes mostravam isso.

— O mundo unido! Apenas Naruto para conseguir esse feito.

— Até onde sei a senhorita também é uma heroína nessa guerra.

— Eu fiz apenas meu trabalho.

— Ah então aquelas pessoas ali gritando por você devem apenas está no Tsukuyomi.

A foto do casamento. Não sabia quem havia chorado mais quando a viu de noiva, se ela ou o marido. Sakura se tornara uma mulher, criara asas e sairia voando para criar a sua própria família. Eram lágrimas de saudade e alegria que os pais deixavam enquanto ela sorria emocionada esperando que eles se acalmassem. Aquilo era mágico, Mebuki pensou durante toda a preparação, enquanto estava presa no bunker durante a guerra, quase não tinha esperanças de estar viva para ver este dia, e ainda se lembrava do sonho que teve durante o Tsukuyomi, onde o marido levava a filha ao altar e nenhuma guerra se fazia presente.

— Você é a noiva mais linda que já vi!

— Mãe, você diz que sou linda desde que nasci.

— A mais pura verdade! Está feliz?

— Sim! Finalmente vou me casar com Sasuke-kun. Acho que nem acredito.

— Você merece toda a felicidade do mundo, meu amor. Sabe disso.

Olhou pela janela apenas para ver Sakura olhando sua filha subindo lentamente pelo tronco da árvore. Sua neta não precisava ter medo, ela havia puxado o talento de seus pais, mas ainda mais a persistência e esperteza de Sakura. E num quadro maior estava a foto de Mebuki com Sarada, recém nascida, em seu colo e Sakura ao lado olhando para a pequena de cabelos negros. Aquele momento parecia ser o ápice de quanto amor ela poderia sentir, não havia como amar mais, não havia como se orgulhar mais. Sakura era a melhor kunoichi, a melhor médica, a melhor filha, e agora seria a melhor mãe. Os olhos verdes de sua filha não deixavam dúvidas, iria proteger a sua filha do mal que habitava o mundo, iria usar sua força bruta para quebrar os obstáculos e o seu amor imenso para que não falte nada àquela pequena. Sakura seria a melhor mãe, e Mebuki tinha certeza apenas pelo olhar. Aprendeu que se Sakura quer, Sakura tem.

— Minha netinha!

— Ela não puxou nada da nossa família! Só tem os traços do Sasuke-kun.

— Você tem os cabelos do seu pai, mas a minha personalidade. Melhor se preparar para a adolescência dessa menina. Será tão rebelde quanto você.

— Ah, mãe! Eu nem dei tanto trabalho assim!

— Você terá uma ótima mãe, Sarada! Uma ninja famosa e uma mulher que sempre amou demais…

— Mãe…

— E sempre que quiser fugir da fúria dela pode fugir para a casa da vovó que eu te protejo.

— Mãe! Você deveria me ajudar a corrigi-la não?

— Claro que não. Avós servem para mimar!

Sarada jogou a kunai que usava para marcar o tronco da árvore e gritou um “Shanaroooo” vitoriosa.

— Eu consegui! Mamãe, olha!

— Meus parabéns! Agora mais uma vez.

— Aah…

Sakura riu e chamou a filha para baixo para que começassem mais uma vez. Mebuki sorriu com o sorriso gigante da neta, sabia o quanto ela valorizava aqueles momentos que tinha somente com a mãe.

— Psiu, dona Mebuki. Já estamos todos aqui.

Mebuki assustou-se, jamais se acostumaria com aqueles ninjas silenciosos. Naruto sorria com um presente em mãos e ao lado seu genro com o bolo que compraram. Todos os amigos de sua filha estavam atrás, ansiosos e animados para finalizarem aquela missão.

— Sarada e eu enrolamos o máximo que pudemos. Vamos, vamos…

Naruto foi o primeiro a gritar e todos riram por terem mesmo pego ela de surpresa. Mebuki abraçou-se olhando a cena, vendo cada um como se ainda fossem aquelas crianças cheias de energia que ainda não havia passado pelos horrores da guerra. Sakura sorria, e Mebuki sabia que era um sorriso de alguém que lutou muito para merecê-lo. Um sorriso de pura paz e felicidade. Foi pega de surpresa quando a viu ao lado do marido acenando para que se juntasse. O abraço não tinha a força de uma kunoichi, mas sim o de uma filha para com a sua mãe. E era tão forte e profundo que a fez segurar as lágrimas.

— Feliz aniversário, minha filha.

Por Pan e Mirys