A Sombra do Morcego escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 4
Capítulo IV - Face a Face


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. Gostaria de pedir desculpas pela imensa demora em postar novos capítulos. Mas graças a problemas pessoais, colégio, vestibular entre outros, tornou-se uma tarefa difícil escrever. Ainda mais escrever algo bom. Mas não se preocupem, daqui para frente os capítulos devem ser postados com uma maior frequência. Não garanto que outros hiatos não venham a ocorrer, todavia, torço para que não haja nenhum outro como este. Aproveitem o capítulo. Boa leitura!



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— Simplesmente perturbador!

Exclama Jack Ryder enquanto a câmera se move para focalizar o morcego gigante formado na frente da sede do Departamento de Polícia de Gotham City. À distância, o mesmo poderia ser tomado como uma massa uniforme. É unicamente quando se aproxima que torna-se possível notar que seres humanos o compõem. Sete ao todo.

— Os policiais estarão em breve resgatando os sete homens que estão ali pendurados formando o que parece ser um... Um Morcego! E bem ao topo, a cabeça, é... É Anthony Zucco! Um dos principais nomes a se citar quando o assunto é finanças aqui em Gotham City. – prossegue Ryder ao mesmo tempo em que o cinegrafista faz com que o foco da filmagem passe do repórter, para os policiais abaixo, alguns curiosos afastados pela faixa da polícia e os sete homens pendurados.

— Das duas uma. Ou você gostou da reportagem, ou está se tornando um fã assíduo de Jack Ryder. – digo ao passar próximo de Alfred que uma vez mais, sentado a frente dos computadores na caverna, assistia a reportagem feita a três dias demonstrando o que ocorrera a Anthony Zucco.

Três dias antes, Batman havia invadido uma propriedade privada nas docas, rendido seis homens e interrogado até a exaustão o conhecido financista, Anthony Zucco. Para alguns, um homem de respeito e grande habilidade na área de finanças. Para outros, um rato sujo que cuidava da circulação do comércio obscuro que enchia os bolsos de Falcone, e outros chefes da máfia, de dinheiro.

O fizera a fim de descobrir o máximo possível sobre o império criminoso de Carmine, e obtivera boas informações com isto. E outras um tanto quanto desagradáveis. Como por exemplo, o fato de que meu próprio tio, Phillip Wayne, fazia negócios com o mafioso, entregando-lhe armas que deveriam ir para o governo, em troca do bom nome da família Wayne ser mantido como um sinônimo de respeito e segurança para Gotham.

Finalizado, e devidamente registrado com um gravador o interrogatório, Batman resolvera elaborar uma pequena surpresa para os bravos, destemidos e corruptos de Gotham. Esta baseava-se em pendurar tanto Zucco como seus capangas na fachada do prédio sede do D.P.G.C. como uma mensagem bem clara. O interrogatório havia sido entregue tanto em um gravador, como em documentos detalhados para a Gazeta de Gotham - onde logo pela manhã do dia seguinte à ação, tudo foi publicado - quanto para o próprio Departamento de Polícia, onde os verdadeiros homens da lei poderiam fazer algum bem.

Anthony contara-me muito mais do que o que havia sido entregue ao público. No entanto, não era de meu interesse, ainda, tornar de conhecimento comum o envolvimento de meu tio com a máfia - averiguaria isto com calma - e muito menos alguns bons podres de Falcone. Os exploraria da melhor forma possível. Destruir a reputação e então, o homem.

— O senhor foi um tanto bruto com a mensagem que quis passar, Mestre Bruce. – retrucou Alfred erguendo-se da cadeira e voltando-se para mim.

— “Bruto” não é exatamente a palavra que eu utilizaria. – respondi seriamente.

— E qual seria?

— Direto, talvez.

— “Direto”? Pendurar sete homens espancados até virarem polpas na fachada do Departamento de Polícia da cidade formando um enorme morcego é um ato de extrema violência. Algo totalmente desnecessário!

— Você viu a reação que isto causou! Todos temem o Batman. É exatamente assim que quero que seja. Quero que cada monstro que ousa se aproveitar de Gotham saiba que há algo lá fora que não vai parar até caçar cada um deles e leva-los a justiça!

— Ao fazer isto, o Senhor se torna um monstro! E a justiça da qual fala? Morte?!

— Para se combater monstros, às vezes é necessário se tornar um. Além do mais, você me conhece. Sabe que não faria isso.

— Eu sabia que o senhor tinha medo do escuro quando criança. E olhe só agora. – Alfred diz isto abrindo os braços como que me orientando a olhar os arredores, para a caverna escura que agora habitamos – As pessoas mudam, Mestre Bruce. Torço apenas para que o senhor não mude para pior.

— Acredite Alfred... Esta é uma linha que não vou cruzar.

— Isso, o tempo dirá. Até lá... – meu mordomo estende a mim o jornal daquela manhã – Tenho certeza de que vai gostar que o medo que as pessoas estão desenvolvendo do Batman, vai aumentar consideravelmente após isto.

Pego o jornal de sua mão e leio a matéria que estampa a primeira página.

 

Anthony Zucco é encontrado morto em sua cela

Por Greg Lee

 

Três dias atrás, o renomado financista Anthony Zucco, foi encontrado pendurado na fachada do prédio sede do Departamento de Polícia de Gotham City junto a mais seis homens. Estes formavam um imenso morcego no local.

Zucco era conhecido por sua longa carreira com finanças em nossa gótica cidade. Seu nome era referência neste campo. Embora diversos rumores indicassem que o mesmo possuía relações obscuras com Carmine Falcone, que por anos sempre foi apontado como impiedoso chefe da máfia, embora nunca comprovado.

Anthony fora preso em razão de documentos e gravações que expunham os principais crimes cometidos por este. Material que foi entregue tanto a nosso jornal, a Gazeta de Gotham, como aos próprios policiais. Todavia, na manhã de hoje, Frank Boles, um dos homens da lei que passava próximo a cela do financista, encontrou o homem já falecido no chão. Um pequeno e afiado morcego de metal ensanguentado jazia a seu lado.

“Fiz minha patrulha como deveria. Como sempre faço. Esses miseráveis tem que ser vigiados, sabe? Passei pelo corredor de celas e Zucco estava vivo. Quando voltei ele já estava morto. Uma bela poça de sangue e... Um morcego de metal do seu lado. Se tem alguém que faria isso, seria aquela aberração! O tal de Batman!” Declarou Boles.

Seres humanos formando um morcego gigante, um morcego de metal ensanguentado próximo ao corpo de Zucco na cela de detenção da delegacia e a declaração de Frank Boles, tornam indubitável o fato de que o agora comumente conhecido vigilante Batman, seja apontado como o principal suspeito do assassinato.

O corpo de Anthony Zucco permanece no necrotério do Departamento de Polícia de Gotham City aguardando pela necropsia.

Volto-me para Alfred. Sua expressão é de fúria controlada. Este discorda completamente de muitas de minhas ações. Em boa parte, pois, de fato, não são apropriadas, mas necessárias. Mas também por sentir que caso tivesse tomado atitudes diferentes no passado, nenhum de nós se encontraria na situação atual.

— Não pode estar pensando seriamente que eu faria isto, não é? – indago-o pondo de lado em uma bancada o jornal que me entregara.

— O que eu acho neste momento não importa. Todavia, isto atrairá grandes consequências. A polícia não deixará que um maluco vestido de morcego continue nas ruas a desafiar seu poder e assassinando criminosos. – retruca Alfred sem olhar-me nos olhos, apenas fitando o chão.

— Alguém está abrindo espaço para a polícia tomar atitudes severas contra o Batman. Com justificativas. Preciso saber quem. Embora eu tenha uma boa ideia. – digo seguindo para o canto afastado da caverna onde a redoma em que meu traje estava contido se posicionava.

— Falcone?

— Há uma chance. No entanto, mesmo para Falcone, assassinar um associado de tantos anos desta forma...

— Para se manter no topo, não duvido. – Alfred declara no melhor de sua sabedoria.

Ponho o traje em poucos minutos. Aciono os motores de minha motocicleta através de um circuito no cinto.

— Vou até o D.P.G.C. Preciso examinar o cadáver de Zucco por mim mesmo. Se possível, descobrir quem realmente o executou e como. – declaro montando na motocicleta.

— Não há limites para seu desaforo, Patrão Wayne. Mas não esqueça, na cobertura de seu tio, hoje, às 18h, haverá um evento beneficente. Seu tio foi extremamente específico em solicitar sua presença. É importante que Bruce Wayne apareça. Afinal, sua vida pública deve ir além do Batman. Ou isto pode levantar suspeitas. – diz meu mordomo pondo as mãos atrás do corpo e erguendo levemente a cabeça enquanto fala. Algo que sempre faz quando deve fazer algum anúncio.

— Estarei lá. E, caso me atrase, será uma entrada e tanto, não? – digo sem aguardar resposta, disparando com a motocicleta através do trecho raso do riacho que levava para fora da caverna e uma região afastada da Mansão Wayne.

...

Em Burnley, ao sul, localizava-se o prédio sede do D.P.G.C. Construção de médio porte. Com um amplo estacionamento a sua frente. Altas colunas sustentavam a fachada na qual uma poderosa águia de asas abertas sustentava a sigla com o nome do local. O prédio fora recentemente reformado. Um agrado da prefeitura a seus bravos e destemidos. E uma forma de evitar acidentes. O local estava decadente. Refletindo especificamente a situação da lei em Gotham.

No telhado, um heliporto no canto esquerdo. Espalhadas pela extensão do local, saídas de ar. Uma porta, provavelmente trancada, conduzia para as escadarias. Um grande holofote logo ao centro.

Era próximo do entardecer, no entanto, o Sol estava pouco visível. Chovia e o céu assumia tons de cinza. O clima fazia com que poucas pessoas estivessem nas ruas. Estacionei a motocicleta em um canto escuro de um beco próximo. Estaria ao alcance para uma fuga rápida caso convocada. Feito isto, utilizei o arpéu até o topo de uma construção próxima. Fazendo uso das lentes especiais de meu capuz, procurei por oficiais no telhado que poderiam atrapalhar minha invasão. Não havia nenhum. Sendo assim, saltei da beirada.

Planei até o edifício. No topo deste arrombei uma das entradas de ar e entrei. A ventilação não era exatamente ampla. Mantive-me abaixado por boa parte do tempo. Em dados momentos, tive de me arrastar. Orientei-me pelo local através dos mapas presentes nos próprios registros do D.P.G.C. Os quais obtivera acesso a alguns dias, invadindo pelos esgotos. O projetor de hologramas falhava por vezes. Ainda um protótipo. Ao aproximar-me de meu destino, cessei movimentos. Era capaz de ouvir vozes.

— Acha que foi o Morcego? – dissera uma das vozes. Estranhamente familiar. Cansada, porém, ainda firme.

— Invasão nas docas? Checado. Homens pendurados formando um gigantesco morcego na fachada do nosso prédio? Checado. Anthony Zucco assassinado com um morcego de metal bem afiado? Checado. Olha, todos os sinais apontam para isso. E, se não foi, alguém está realmente investindo tempo em culpar esse cara. – respondeu outra voz. Esta não era tão conhecida. Um pouco rouca. Arrastava-se.

— Algo não cheira bem nisso tudo Bullock. – declarou a primeira voz.

— É. Esse cadáver, por exemplo. Olha Jim, nós já vimos muita coisa pesada nessa cidade. E se me recordo bem, nos arrependemos da maior parte. Uma só vez, vamos deixar isso de lado. Pela nossa saúde, hã? Principalmente porque acho que é um certo chefão do crime que está envolvido nisso. Um que o nosso gordo comissário, não vai querer que afrontemos. – retrucou o dono da segunda voz, cujo nome era Bullock.

— Tem razão. Vamos. É melhor não perdermos seja lá o que for que vai ocorrer no evento de caridade que Loeb tanto quer que apareçamos. – disse de forma contrariada Jim.

— Festas de gente rica me fascinam, mas, infelizmente, não vou poder ir. Uma montanha de papelada me espera. E se não preencher logo, Gillian arranca meu pescoço. Ou manda o Flass fazer isso.

— Tudo bem. Acho que vou só então.

— Jim... Traga alguns canapés para mim.

— Apague a luz Harvey.

Os passos de ambos indicavam que estavam se movendo para a saída do cômodo. O clique do interruptor. A porta batendo. Se foram.

Invertendo a posição de meu corpo no apertado sistema de ventilação, movo minhas pernas de forma a fincar apoio na tampa de saída. Com calma, aplico força crescente até sentir que um dos parafusos desta se solta. Feito isto, ela desliza, ainda presa, todavia, a passagem está aberta para mim. Mantenho-me imóvel por alguns instantes, tentando, através do som, constatar se alguém ouviu a ação. Não o fizeram.

O corpo que presumo ser de Anthony Zucco encontra-se logo ao centro da sala em uma das mesas de metal, coberto por um lençol branco. O ambiente é escuro e gélido, mesmo assim, sou capaz de observar as gavetas na parede logo em frente à entrada do cômodo, onde os corpos permaneciam armazenados. Nomes e números os identificam. Em uma bancada no canto direito, instrumentos estão organizados. Em meio a eles, um pequeno invólucro. Dentro deste, o batrangue supostamente utilizado no assassinato. Logo acima da bancada, três armários brancos de vidro fosco. A esquerda da sala, uma pia com diversos produtos químicos comuns de uma necropsia. Ao lado, outra bancada com uma balança, um freezer e mais alguns instrumentos.

— Visão. – pronuncio.

Movo-me para mais próximo da mesa central onde jaz o corpo. Ao erguer parcialmente o lençol, o suficiente para ver a face do cadáver, reconheço-o. E, de fato, tratava-se de Anthony Zucco.

— Penny-Um, estou dentro. Acabo de confirmar a localização do corpo de Zucco. Antes de chegar, havia duas pessoas conversando. Se não me engano, James Gordon e Harvey Bullock. – relato a meu mordomo na Caverna.

— Posso acompanhar o processo através das lentes de seu capuz, Mestre Bruce. Ouviu algo de interessante deles? – este retruca.

— Possuem dúvidas sobre quem fez isto. Ao contrário de muitos, não acreditam inteiramente que fui eu. Deixaram escapar que “um certo chefão da máfia” está envolvido.

— Falcone talvez. Embora, ele não seja o único nesse posto em Gotham atualmente. Por infortúnio.

— Vou avaliar o corpo.

Ergo o lençol até a cintura do falecido, deixando a parte superior de seu corpo exposta. Seu corpo está praticamente limpo, sem marcas de resistência ou escoriações. Com exceção dos braços e do pescoço.

Há pequenos arranhões nos braços, junto a uma escoriação, visivelmente causada por um forte aperto no local. Busco pelas mãos, não há sinais de autodefesa. Zucco não tivera a menor chance.

Seu pescoço apresenta uma escoriação. Forte aperto na lateral direita. Já na esquerda, apenas uma perfuração. Extremamente precisa. Atingiu a carótida. Verifico o resto do corpo.

As pernas do falecido não apresentam ferimentos. Todavia, seu calcanhar esquerdo sustenta um. O local onde prendi a corda para seu interrogatório. Prossigo com o resto da necropsia com o máximo de cuidado. Não há muito mais o que ver.

— Penny-Um, na escuta? Finalizei a avaliação. Ao todo, Zucco não sofreu grande trauma. Seu corpo está em bom estado. Pelo nível de decomposição, não diria que está falecido a muito mais que algumas horas. Há escoriações nos braços e na perna esquerda. O calcanhar mais precisamente. No entanto, estas foram causadas por mim. Os braços, no momento em que quebrei os vidros arrombando seu escritório nas docas e quando o ergui. O calcanhar pela corda no interrogatório. Mas o pescoço... Isto não fui eu. Há a marca de um forte aperto no lado direito. Combinando isto a perfuração que precisamente atingiu a carótida, presumo que tenha sido usado como apoio. Um assassinato rápido. O alvo sangrou até a morte. Sem rastros, exceto pelo... – finalmente digo a Alfred finalizando o exame.

— Batrangue supostamente utilizado para o assassinato. – ele completa.

— Exato. A marca no pescoço bate com o tamanho do utensílio. – resgato da bancada dos instrumentos o invólucro com o pequeno morcego de metal – Levarei para a Caverna a prova. Tentarei fazer algumas análises. Talvez conseguir uma impressão digital. Mas pelo nível de precisão do assassinato, duvido que quem o executou deixou muito mais do que isso para me incriminar.

— Excelente então. A festa de seu tio começa em dez minutos. Caso corra pode deixar a prova aqui e se arrumar a tempo. – Alfred alerta-me sobre o horário do evento beneficente.

— Chegarei atrasado.

— Nada de novo quanto a isto.

...

— Bruce, meu rapaz, que bom que pôde vir! – exclama Tio Phillip ao me avistar adentrando a cobertura. Este traja um elegante smoking preto. Seus sapatos de cor homônima brilham com o engraxe e refletem no chão reluzente. O cabelo cinzento cuidadosamente penteado para o lado. Os olhos, os quais a cor assemelhava-se a um céu nublado brilhavam com certa alegria. Aparentemente, a festa lhe estava fazendo bem. Embora, ainda aparenta-se aquele mesmo cansaço. À mão uma taça de espumante. Ou talvez esta seja o motivo de sua alegria.

É estranho estar em contanto com o mesmo em meio a tudo o que tem ocorrido. Em meio a tudo o que recentemente descobri. No entanto, o único ciente de tais coisas é o Batman, e não Bruce Wayne. Para o jovem Wayne, a ignorância, por enquanto, é uma bênção.

— É bom estar aqui Tio. Desculpe-me pelo atraso. – digo no melhor de minha simpatia. Modular minha voz e controlar minha linguagem corporal não foram as únicas coisas que Alfred me ensinara em nossas seções de teatro.

— Não há problema sobrinho. O importante é que você veio. – este declara dando leves tapas em meu ombro.

Sua expressão sofre uma mudança. A preocupação retorna.

— Sinto muito por como se deu nossa conversa no outro dia. Fui... Rude com você. Me desculpe.

— Não há com o que se preocupar. Entendo que a posição de CEO seja de grande responsabilidade. E estresse. – esboço um sorriso encorajador – Está tudo bem.

Ele sorri. E por alguns mínimos instantes, vejo meu pai, bem ali. A semelhança entre os dois era notável.

— Venha, venha. Há algumas pessoas que desejo que conheça. Acredito que no futuro terá de lidar muito com elas. Sendo assim, que tal já começar com uma boa relação desde já, hum? – Phillip declara pondo a mão em meu ombro e conduzindo-me através do local. Enquanto o fazemos, admiro os arredores.

Um imenso lustre de cristal enfeita e ilumina o local. No teto, ao redor deste, diversas pinturas foram feitas. Pinturas remetentes a história de Gotham, desde sua fundação até os dias atuais. A protagonista destas é a Torre Wayne. Painéis de vidro se estendem do teto ao chão, provendo uma visão privilegiada da cidade. Bem como é no escritório de meu Tio. Grandes mesas, cobertas por toalhas brancas ostentando belíssimos bordados, contam com diversas bebidas e os mais variados tipos de petiscos. Outras mesas, menores, para que os convidados se sentem, localizam-se em um canto do salão. Nos cantos igualmente achavam-se pequenos jardins. As mais exuberantes flores plantadas. Era quase inacreditável o qual ampla era a cobertura de meu Tio. E isto era apenas o Salão. Diretamente para quem adentra o local, havia um grande palco montado. Uma banda de músicos tocava melodias suaves que embalavam a noite. Acima deste, uma longa faixa de bordas azuis estendia-se. Nesta escrito em letra cursiva azul: “Empresas Wayne e Departamento de Polícia, unidos por uma Gotham City mais segura”.

“Evento beneficente”, penso comigo mesmo. É claro, parte do dinheiro doado vai para o bolso de Gillian Loeb, a outra para os mafiosos e uma pequena porção para o Departamento de Polícia. O quanto disto meu Tio sabia?

São inúmeras as pessoas que Phillip me apresenta. Políticos, jornalistas, empresários, executivos, oficiais da lei... Após certo tempo parecia que toda a Gotham estava naquela festa. Inclusive os corruptos. Uma destas evoca minha atenção.

— Bruce, este é Oswald Cobblepot. Descendente direto dos fundadores de nossa cidade. O nome de sua família é sinônimo de Gotham tanto quanto o nosso. – Phillip diz enquanto cumprimento o sujeito.

Oswald Cobblepot. Um dos nomes na lista de associados de Carmine Falcone. Um dos mais importantes, em verdade. Atuava como seu braço direito. O que o Romano sabia, Oswald igualmente o fazia. A qualquer lugar que seu chefe fosse, o seguia fielmente. Obediente como nenhum outro. Sua presença ali ressaltava algo muito desagradável das relações de meu tio. E sugeria como o próprio chefe da máfia poderia dar as caras na festa.

Cobblepot era magro e não muito alto. Teria um pouco mais de estatura caso não fosse ligeiramente corcunda. Um fato curioso sobre este era que um de seus pés era torto. O que fazia com que se locomovesse com dificuldade. Necessitando do auxílio de uma bengala por exemplo. Contudo, o objeto que fazia este trabalho era um guarda-chuva preto. O cabelo escuro lambido escondia-se por debaixo de uma grande cartola preta. Os olhos azuis pequenos. Um destes sustentava um monóculo. Nariz adunco e longo. Boca pequena de lábios finos. Trajava um smoking preto cuja a extensa calda por pouco não tocava o chão. Sapatos formais de cor homônima ao smoking, devidamente engraxados e brilhantes. Calçava luvas brancas.

— Devo dizer que é uma imensa honra conhecer o jovem prodígio. Bruce Wayne! Há! Mais bonito pessoalmente do que nas revistas ou televisão. E isso é algo a se destacar. – Cobblepot conservava um sotaque britânico. Apesar de nascido em Gotham, vivera boa parte de sua vida em um internato em Londres. O sotaque ficara.

— O prazer é meu. – “O cinismo também.”, penso enquanto aperto sua mão.

Com um leve sorriso nos despedimos do convidado e Phillip retorna a apresentar a quase todos na bendita festa.

— Você devia ter vindo Alfred. Acharia divertido. – contato Pennyworth através de meu comunicador quando rapidamente separo-me de meu Tio.

— Aprecio festas Mestre Bruce. No entanto, todo o tempo que possa utilizar para descanso, o farei. Além do mais, o filantropo aqui é o senhor. – este responde em tom sarcástico.

Rio em acordo com o que dissera.

— Estou surpreso pelo Prefeito Hill não estar aqui.

— O Prefeito teve de fazer uma viagem a Metrópolis para negócios. Negócios com uma de suas amantes suponho.

— Captou algo de interessante? – indago-o. Para a celebração havia levado uma escuta presa em meu tuxedo. Com tantas pessoas importantes reunidas em um só lugar, a possibilidade de ouvir algo que pudesse ser utilizado futuramente, tanto por Batman como Bruce Wayne, era altíssima.

— Eu aqui querendo descansar e o senhor trabalhando até mesmo em uma festa. Patrão Bruce, com todo o respeito, o senhor tem 21 anos. Apesar de não aparentar. Deveria estar se importando com muito mais do que o combate ao crime em Gotham.

— Com o que mais devo preocupar-me Alfred?

— Talvez em conhecer uma bela e agradável jovem para começar. Em sua idade, minha maior preocupação era saber qual das gêmeas Jenkins era realmente minha namorada. Deus sabe o quanto elas eram idênticas e como era fácil se confundir.

— Imagino. Alfred... Eu já conheci alguém. Alguém diferente. Mas isso é passado.

— A jovem do Monastério?

— Isso é passado. Esse tipo de empreitada é algo que, no momento, não posso me dar o luxo de investir.

— Existe um mundo além da Caverna, Mestre Bruce.

— Ele não é para mim.

— Conversando sozinho Senhor Wayne? – pergunta uma voz feminina e ligeiramente conhecida às minhas costas.

Ao virar-me, deparo-me com a mais nova âncora do Jornal de Gotham. Vicki Vale. O cabelo ruivo ligeiramente longo, ultrapassando pouco mais de seus ombros, como sempre, brilhando sob o efeito das luzes. Desta vez, este encontrava-se ligeiramente cacheado. Uma presilha perolada o enfeitava. Os olhos azuis atraíam facilmente a atenção, destacados pela sombra preta que os cercava. Os lábios finos coloridos de um belo vermelho. O vestido longo e rodado branco, ornamentado com lindos bordados a faziam destacar-se de uma forma agradável. Utilizava luvas que cobriam boa parte de seus braços. Consigo levava uma pequena bolsa de cor homônima ao vestido.

— Ora, ora. Se não é a mais nova âncora do Jornal de Gotham. Senhorita Vale, é um prazer vê-la pessoalmente. Pode me chamar de Bruce. – cumprimento-a cordialmente.

— Apenas se me chamar de Vicki. Infelizmente, minha carreira como âncora foi curta. Volto a ser repórter de campo. Uma das razões para estar aqui. Aliás, seu Tio, Phillip Wayne fez grande esforço para reunir todos estes convidados. E a imprensa. Pelo palco montado ali, presumo que um grande anúncio será feito. – Vale era veloz em expressar sua opinião. Em, de certa forma, invadir o espaço da pessoa com quem conversa e obter informações. Objetiva. Uma perfeita repórter.

— Posso dizer pouco. Meu Tio não compartilha muitas informações comigo. Não por enquanto.

— E o que o traz aqui esta noite Bruce? Outros eventos do tipo foram realizados nos... Onze meses em que está de volta. Não compareceu a nenhum.

— Tinha muito que resolver. Como sabe, estive, por muito, longe de Gotham. Para voltar, não havia tempo o suficiente para resolver tudo o que havia deixado para trás. Mantive-me ocupado.

— Imagino. E como é estar de volta em Gotham?

— Diferente. Bem diferente do que lembrava. Meu pai costumava dizer que a cidade tem vida própria, e por isso, jamais permaneceria a mesma por muito tempo. Acho que ele tinha razão nisto.

— Gotham está sempre em mudança, é verdade. Mas as que ocorreram nos últimos anos... Bem, não são das mais agradáveis.

Vicki expressa um singelo sorriso.

— É bom para a cidade ter de volta o filho pródigo. Talvez isto possa fazer alguma diferença...

Vale é interrompida pelo som da leve batida de um talher nas taças de cristal que Phillip apreciava ostentar. Este estava no topo do palco montado, pronto para fazer um anúncio importante.

— Meus caros amigos, esta noite é especial. É uma noite para demonstrar a importância, a essencialidade de algo em nossa tão amada cidade. O nosso Departamento de Polícia. E para isto foi organizada esta noite. Não apenas para que as Empresas Wayne, mas tantas outras fizessem generosas contribuições para munir nossos bravos e destemidos daquilo que necessitarão para manter nosso lar seguro. Ninguém melhor para falar disso do que nosso esforçado e competente comissário de polícia, Gillian Loeb!

Phillip anuncia isto enquanto executa um amplo movimento convocando Loeb para subir ao palco. O atarracado comissário devia ter chegado recentemente. Tenho certeza de que meu Tio faria questão de apresenta-lo a mim. A seu lado Gordon caminha. O cabelo ruivo desta vez devidamente penteado. Os olhos azuis, envoltos em visíveis olheiras, escondiam-se por trás das lentes de remendados óculos. Ainda conservava a barba, embora agora aparada. Trajava um sobretudo preto por sobre um terno de mesma cor.

— Obrigado, obrigado Wayne. – Loeb toma a palavra cumprimentando meu Tio e acenando para os convidados.

— É realmente muita bondade, de todos vocês fazerem isso. Não são tempos fáceis. É verdade, a criminalidade cresce. A brutalidade também. Mas meus homens e eu permanecemos firmes contra isso. Permanecemos firmes até mesmo contra a ameaça do Morcego. Batman! Um louco! Assassino! Que tirou de nós um homem íntegro, de excelente índole como Anthony Zucco. É para combater este tipo de situação que aceitamos de bom grado a doação de cada um de vocês e reforçamos os esforços da Força Tarefa liderada pelo Sargento James Gordon.  – com um movimento Loeb faz referência a Gordon, logo a seu lado, este unicamente acena com a cabeça - Eles irão capturar esta aberração e leva-la a justiça.  Não haverá telhado, beco ou bueiro em que este maldito possa se esconder. Nós o encontraremos e faremos pagar por seus crimes!

Ao finalizar seu enérgico discurso, Loeb cumprimenta Phillip uma vez mais, entre outros que ali estavam.

— Ouviu isso? – pergunto a meu mordomo via ponto.

— Alto e claro Mestre Bruce. Alto e claro. Imagino que isto não seja bom presságio. Se bem que até o momento o senhor não teve problema algum com esta Força Tarefa. – este responde.

— Não. Não tive. E não pretendo ter. Contudo não posso diminuir ou cessar meus esforços. Todas as raízes podres devem ser removidas.

— E com este novo assassino à solta... Duvido que ele pare em Zucco.

— Talvez tenha alguma conexão com Falcone. Como Gordon e Bullock comentaram. Ou outro mafioso. Ainda há a possibilidade de estar atuando só. Fazendo justiça com as próprias mãos.

— Como o senhor? Batman pode estar servindo de inspiração para alguém?

— Se sim, este é o último tipo de inspiração que desejo passar.

Nossa conversação cessa no instante em que vejo algo que não esperava de toda forma. Mesmo com a noção de que muitos haviam sido convidados para a festa.

— Bruce, venha cá! Quero que conheça o grande gothamita... – Phillip convoca-me.

— Carmine Falcone, ao seu dispor. – o homem estende-me a mão para cumprimentar-me quando já estamos próximos o suficiente.

A raiz mais podre de Gotham City, logo a minha frente.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por terem lido até o final. Em breve sairá o próximo capítulo. Fiquem bem, se cuidem.

Todos os personagens aqui presentes são propriedade intelectual da Editora DC Comics.



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