A Sombra do Morcego escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 2
Capítulo II - Imundície no subterrâneo


Notas iniciais do capítulo

Obrigado a todos que leram o primeiro capítulo e prosseguiram para o segundo. São vocês que fazem isso valer à pena.
E não se esqueçam de checar o predecessor de "A Sombra do Morcego", que é "Batman - Alvorecer".

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Fumar é um péssimo hábito. Entre os males causados pelo contato constante com derivados do tabaco estão cinquenta tipos diferentes de doenças, principalmente as cardiovasculares. Câncer, doenças respiratórias e envelhecimento precoce da pele. James Worthington Gordon, todavia, não parece se importar com isto.

É no topo do prédio sede do D.P.G.C. que o homem fuma um cigarro atrás do outro. De um edifício vizinho, devidamente trajado como minha noturna persona, apenas observo, refletindo sobre o que teria sido capaz de levar um homem bom e honesto a aliar-se com uma cobra como Gillian Loeb para caçar-me.

A chuva não dá trégua, porém, é fraca. As luzes da cidade dançam perante o olhar. Vapor emana de bueiros espalhados pelas ruas e das chaminés dos prédios. É por volta das 21h00min e, aos poucos, o trânsito de carros diminui. Um terrível e falso silêncio logo recairá.

Na noite anterior o Comissário de Polícia anunciara a criação de uma força-tarefa para perseguir e dar um fim definitivo a ameaça que o Batman representa. Porém, o responsável por comandar a mesma, para meu espanto, era James.

Gordon fora o policial que me socorrera logo após o fatídico incidente com meus pais. Fora ele quem assumira a responsabilidade das investigações para levar à justiça o culpado. Um dos que, de toda forma, tentara me mostrar que a vida não precisaria acabar ali.

Após retornar a Gotham City, ficara de olho nele. Avaliando suas façanhas em minha ausência, este demonstrara alta competência. Os jornais o tomavam como seu queridinho. Provavelmente, uma das razões pelas quais o Comissário o promovera a Sargento, afinal, Gillian não aparentava gostar muito do sujeito. Este, além de tudo, era um homem de família. Morava com sua esposa, Barbara Eileen Gordon, e filha, Barbara Joan Gordon. Possivelmente, haveria mais ocorrendo nisto do que, no momento, era capaz de ver.

Em onze meses, mesmo que à surdina, Batman fora uma força do bem. Quase qualquer um que se permitisse por certo tempo observar, poderia notar seu comprometimento com uma boa causa. No entanto, não era por um concurso de popularidade que estava ali. Tinha uma missão, uma promessa. Gotham seria salva. Não importando o custo. Não importando quem ficasse no caminho. Se Gordon se deixara levar e desejava interpor-se, pagaria por isto.

No entanto, esta não seria uma tarefa simples. Apesar de toda a observação, as informações que obtivera jamais seriam o suficiente para pôr atrás das grades, permanentemente, os podres seres que corrompiam Gotham. A melhor forma de obter mais destas seria invadindo uma específica rede, a do próprio Departamento de Polícia.

Esta localizava-se logo abaixo do prédio sede. Por sorte, os mapeamentos que executei das vias subterrâneas garantir-me-iam certa vantagem. A partir dos esgotos alcançaria a rede e inseriria o programa que havia desenvolvido, e carinhosamente apelidado de “Sanguessuga”, nos computadores. Absorvendo dados e os levando para a Mansão. Minha confiança residia no fato de que, tratando-se de uma ligação feita para uma instalação pública, o nível de criptografia seria baixo o suficiente.

— Penny-Um, na escuta? – pressionando o comunicador em meu capuz entro em contato com Alfred.

— Alto e claro Senhor. – responde-me.

— Vou invadir o esgoto agora. Mantenha-se no canal. Caso precise, pedirei para que envie-me os mapas.

— Como quiser Mestre Bruce.

Deixo-me cair do topo do edifício em que me encontrava. Utilizo a capa para planar até uma viela próxima de onde utilizaria um bueiro para acessar o subterrâneo. Lá pousando, levanto a tampa e entro. O terrível cheiro de detritos orgânicos invade meus pulmões.

— Gostaria de pedir para tomar cuidado onde pisa Senhor. Os túneis são antigos e rachaduras e buracos podem ser extremamente comuns. – mantém-me orientando meu fiel mordomo.

— Anotado. – replico enquanto pego de meu cinto um bastão luminoso.

— Peço-lhe igualmente Mestre Bruce para manter-se ao máximo longe das impurezas que encontrar. Lembre-se de quem vai ter de limpar seu uniforme.

Grunhi ignorando o último comentário enquanto seguia pela galeria.

Caso minha memória não falhava, logo estaria abaixo da sala na qual o centro da rede localizava-se. Não preocupava-me com qualquer tipo de companhia que não fosse a dos ratos ali em baixo, afinal, os policiais teriam mais à fazer do que tomar conta da sujeira subterrânea de Gotham.

Surpreendo-me ao ouvir cada vez mais próximo o som de uma torrente de água. Pelo mapeamento que havia feito, não haveria nada parecido naquela região. Busco contatar meu amigo na Caverna em busca de auxílio.

— Penny-Um, poderia enviar-me os mapas? Acabo de encontrar algo que não deveria estar aqui. – peço.

Alfred confirma o envio. Em seguida, saco do sinto um singelo projetor holográfico, do tamanho de um espelho de bolso, que transmite a minha frente um pequeno holograma dos túneis.

Todavia, a imagem falha. Por ser algo em fase de testes, é comum que o sinal sofra interferências em razão da distância de sua fonte. Em uso de uma atitude popular, dou leves tapas no aparelho na esperança de que funcione. Por sorte, este obedece.

Há algo errado. O mapeamento é feito em tempo real e mostra que logo a frente há uma espécie de vão entre a galeria. O mesmo segue desde a entrada para o Departamento de Polícia, até um pouco a frente de minha posição. Desligo o holograma e sigo em frente guardando o projetor.

Como suspeitava, a anomalia não significaria nada de bom. Homens mantinham-se próximos a caixas do outro lado do vão que seguia para o resto da galeria e consequentemente para a entrada do edifício da polícia. Este era interligado por uma passarela de aço visivelmente recém-implantada graças ao baixo nível de degradação. Um cano estourado fazia jorrar a torrente de água impura no buraco abaixo de onde retornava ao fluxo comum do esgoto.

Os indivíduos pareciam fazer o transporte das caixas. Dois deles seguram as alças de uma delas e seguem para a passarela em direção a uma passagem mais abaixo. Busco focalizar e noto o selo das Empresas Wayne no que transportavam. Poderia assegurar que nenhum deles seria um funcionário credenciado da Empresa. O que estariam fazendo com aquilo?

— Visão. – pronuncio fazendo com que as lentes infravermelhas de meu capuz se ativem. Apenas um deles porta armamento. E mesmo assim trata-se de um revólver. Baixo desafio. Por perto há um pé-de-cabra. Uma possível arma. Vasculho um pouco mais e chego à conclusão de que se trata de apenas três homens. Desativando as lentes, salto em direção ao combate.

Caio por sobre a caixa que transportavam. O susto os faz larga-la no chão. Com cada uma de minhas mãos, seguro a cabeça de ambos e pulando forço as duas a se chocarem. Caem inconscientes a minha frente. O restante não fora rápido o suficiente para notar o que ocorria. Sacando um “batrangue” (céus Alfred, vê o que fez?) miro em um específico ponto próximo a seu ombro. Com sucesso atinjo o que queria antes mesmo que meu oponente saca-se sua arma. Atingira um nervo que impossibilitaria que este movesse o braço para qualquer ação nos próximos momentos. Aproveitando-me ainda de sua surpresa com a precisão do arremesso, quando próximo, giro e com o calcanhar acerto sua nuca o levando a nocaute.

Tendo chego ao fim do embate, pego um dos pés-de-cabra jogado por perto para abrir as caixas. O conteúdo que vejo é desanimador. Tratavam-se das mesmas armas que os criminosos do roubo ao Banco Central de Gotham utilizavam na noite anterior. Como mais daquele armamento poderia estar ali? E... Tão perto do Departamento de Polícia. Os homens da lei não teriam motivos para passar este tipo de poder de fogo adiante, e muito menos para bandidos. Isto era algo que requereria mais atenção no futuro.

— Penny-Um, preciso que faça uma ligação anônima ao D.P.G.C. logo. Informe a eles que há um carregamento de armas a nível militar extraviado das Empresas Wayne na rede de esgotos logo abaixo de seu prédio. – digo ao contatar meu amigo.

— Armas Senhor? E das Empresas Wayne? Como isso é possível? – indaga o mordomo.

— Não sei. Ainda. Falaremos sobre isso depois. – retruco e em seguida desligo.

Largo o pé-de-cabra e busco retirar do braço de um de meus inimigos o batrangue anteriormente lançado. Policiais logo estariam ali, não iria querer qualquer tipo de envolvimento do Batman nisto caso algo desse errado. A situação já era complicada o suficiente.

Seguindo até meu objetivo inicial divago sobre o que acabara de descobrir. As Empresas Wayne de fato lidavam com armamentos, contudo, apenas diretamente com o governo dos Estados Unidos. E mesmo assim, nada de tamanha potência. Com todo o foco que dava ao resto da cidade, esquecia-me de avaliar meu próprio gramado. Precisaria pagar uma visita a meu tio Phillip logo, logo para averiguar isto mais a fundo.

Finalmente chego até às escadas que levariam ao alçapão da sala onde a rede de computadores do Departamento estaria. Este possui uma fechadura extremamente fácil de ser aberta. Ao fazê-lo, abro-o na certeza de que ninguém estaria no recinto. Prudentemente, havia avaliado os horários em que alguém faria presença no local. Aquele, não era um destes. A sala era circular e grande. Abrigava um vasto aglomerado de servidores, todavia, o espaço em que um ser humano de fato poderia se locomover, era mínimo. As luzes estavam apagadas e o ar propositalmente frio afim de resfriar as máquinas.

Entro e logo sigo para os computadores principais onde poderia inserir o dispositivo para liberar o “Sanguessuga”. No entanto, o som leve de passos às minhas costas faz-me notar que não estou só.

A presença que sinto provavelmente empunha uma arma. Todavia, o faz de forma incorreta. Sua postura faria com que na eventualidade de um disparo, se desequilibrasse, possibilitando um recuo desnecessariamente alto do revólver, levando-o a errar o tiro. Trata-se de um amador. Não possui prática alguma. Girando, desarmo-o e com um golpe do ombro levo-o ao chão. Com um puxão desloco a parte superior da arma desmontando-a.

A respiração do indivíduo está ainda mais ofegante quando indago-o:

— Quem é você?

— Mi-Mil perdões senhor. Meu nome é Edward Nygma, e venho te observando a um bom tempo. – finalmente replica o ser emergindo das sombras que tomavam o local por completo e vindo à luz que era emitida pelos diversos monitores de computador posicionados no pequeno espaço.

Edward Nygma fora há muitos anos, um dos empregados de maior valor das Empresas Wayne. Papai lhe tinha grande estima, e costumava dizer que este teria um futuro brilhante. Entre outros detalhes, havia sido ele quem ajudara-me a identificar Joe Chill como o assassino de meus pais.

O homem era magro. O cabelo castanho e bagunçado estava mal aparado dando-lhe ares de loucura. No rosto magro de uma pessoa que não se alimentava direito, os olhos de cor homônima ao cabelo escondiam-se por trás dos óculos. Trajava uma camisa formal branca extremamente abarrotada, luvas sem dedo roxas nas mãos, calça jeans, a qual em um dos joelhos havia um rasgão, e sapatos pretos sociais. Não aparentava ter mudado tanto desde a época em que nos encontramos, afinal, era apenas um jovem. Exceto que agora, sua pele estava mais clara, indicando a baixa frequência com que via o Sol.

— Desculpe pela arma e tudo mais. Mas precisava saber se você era tudo o que aparentava. E uau! Você não desaponta! – comentava o mesmo espanando a poeira da roupa e buscando uma cadeira para sentar-se.

— O que faz aqui? Não deveria haver ninguém aqui. – digo voltando-me finalmente para encará-lo com mais precisão.

— Bem, eu trabalho aqui. Não é uma coisa exatamente recente... Acho que há um ou dois anos... Três talvez...? O que importa é que trabalho aqui. E quem deveria estar fazendo essa pergunta sou eu. Exceto pela parte em que não deveria estar ninguém aqui, afinal, eu deveria estar aqui, pois trabalho aqui. – tagarelava em alta velocidade em resposta.

Grunhindo, volto-me para os computadores para alojar o programa de desvio de dados. Nygma ergue-se pronto para fazer um comentário.

— Ei, este é um dispositivo bem legal! O que ele faz? Por acaso é algum tipo de retransmissor de arquivos? Você quer...

Interrompo-o segurando sua gola quando a proximidade que de mim chegava beirava o limite.

— Ok, ok. Vai com calma. Eu só ia dizer que esse tipo de equipamento não vai funcionar aqui. O nível de encriptação é extremamente alto.  – diz enquanto procura apresentar um nervoso sorriso - Eu não quero te fazer qualquer mal, tá? Se quiser, posso até te ajudar. – faz-se silêncio - Eu... Eu te admiro. Olha.

Edward estende o braço para utilizar o interruptor e ligar as luzes. As paredes estavam tomadas por fotos minhas. Por fotos do Batman. Sem qualquer tipo de foco ou qualidade. Todavia, cada uma delas havia captado parte de meu corpo. Reconhecia algumas de crimes que havia impedido nos últimos onze meses.

— Você é uma das poucas pessoas que está tentando fazer algo de bom por Gotham. Eu trabalho aqui porque quero o mesmo. Mas, bem, é difícil. – segue-se um silêncio enquanto nos encaramos – Pode me soltar agora?

Solto-o e retorno ao que antes fazia. Ao inserir o dispositivo noto do que falava. De fato, o sistema possui forte criptografia. São doze níveis de segurança e cada um é guardado por uma... Charada?

— Era exatamente disso que eu estava falando. É sério, eu posso te ajudar. Você deve ser alguém extremamente ocupado e tempo, bem, é algo muito raro. Vou resolver isso. – Nygma diz ao se aproximar do computador e após certo tempo simplesmente desativar qualquer medida de segurança sobre o sistema imposta.

Após inserir o programa lhe pergunto:

— Por que está fazendo isso?

— Como eu disse, você está tentando fazer a diferença por aqui. Assim como eu. Não somos tão diferentes. Eu posso realmente te ajudar nisso tudo. A acabar, de uma vez por todas, com essa podridão em Gotham. – replica Edward, desta vez desacelerando a voz e suavizando o tom.

— Eu não preciso de ajuda.

— Tem certeza? Eu faço parte dos “homens da lei”. Sabe o quanto isto lhe poderia ser benéfico? Só... Pensa bem. E se necessitar, sabe onde me encontrar. – conclui desanimando-se e retornando a cadeira onde se sentava.

— Se. – retruco retirando o dispositivo dos servidores e desaparecendo pelo alçapão.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até o final. E fiquem ligados, logo, logo será postado o terceiro capítulo.

Edward Nygma
Primeira Aparição - Detective Comics #140 (1948)

Barbara Eileen Gordon
Primeira Aparição - Batman #404 (1987)

Barbara Joan Gordon
Primeira Aparição - Detective Comics #359 (1967)

Os personagens aqui presentes são propriedade intelectual da Editora DC Comics.



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