A Cura Entre Nós escrita por Duda Borges


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Oi minha gente! Como estão? Tudo certo?

Bem, queria começar com um SUPER AGRADECIMENTO ESPECIAL a Biana, que me fez uma linda recomendação que me fez SURTAR de feliz! Obrigada mesmo sua linda, fez meu ano começar melhor aindaa! Fiquei feliz demaisss ♥

Queria agradecer também a Lady Arsyn e Giih, duas lindas que não me abandonaram nem no final do ano ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/726760/chapter/31

Pov Alexa Lee.

Cansada. Era essa palavra que me definia no momento: completamente cansada e sem forças para nada. Eu sentia o suor escorrendo pelo meu rosto a todo momento, e era como se meu corpo tivesse perdido toda a vitalidade que antes tinha. Eu estava um trapo.

— Segura ele, mais forte! - Sasha falou fracamente, me fazendo voltar ao mundo presente. Estávamos na cela 10, fazendo de tudo para segurar o corpo doente de Henry, que se debatia sem parar enquanto tinha um ataque tremendo de tosse.

Segurei mais seus dois braços, fazendo toda a força que conseguia ter para os deixar parados. Seus olhos estavam arregalados abaixo de mim, e eles não paravam de se mexer. Estava com um olhar totalmente frenético.

— Henry, eu preciso que se acalme. Estamos tentando ajudar. - Hershel falou, calmamente, tentando enfiar um tubo para melhorar a respiração do homem. Dei uma risada sarcástica , nunca que o homem que estávamos tentando segurar iria raciocinar as palavras dele. Não tinha essa de se acalmar.

Já era a sexta pessoa que começou a ter problemas de respiração desde a quarentena, e sua garganta estava tão apertada que Hershel quase não conseguiu inserir o tubo. Sua boca estava completamente cheia de sangue, mas finalmente o veterinário conseguiu, e Henry se acalmou ao sentir o ar passar mais facilmente por sua traqueia. Respirei, aliviada. Meus braços estavam doloridos.

— Bebam um pouco disso, vocês três. - O idoso falou, enquanto apertava a bolha que levava ar para os pulmões de Henry, que agora parecia dormir .

Observei meus companheiros, elevando com dificuldade o meu olhar. Sasha e Glenn não paravam de tossir, e estavam totalmente pálidos e suados, com olheiras profundas e assustadoras ao redor dos olhos. Eu deveria estar igual.

— Então, que tal uma reunião do conselho? - Hershel perguntou, nos fazendo o encarar. O conselho foi algo criado por Rick, no qual vários membros do grupo se reuniam para fazer as decisões. Eu fazia parte dele.

— Estamos com dois membros a menos.- Sasha murmurou, enquanto pegava o copo que eu estendia a ela. Michonne e Daryl também faziam parte dele. Pensar no caçador pesava meu coração, e a preocupação de algo ter acontecido com eles me assombrava.

— Acho que devemos fazer novas regras antes que voltem. Eu declaro que teremos macarrão as terças feiras e toda quarta. - O homem falou, conseguindo arrancar sorrisos fracos de nós três. Ele era muito querido em tentar fazer a gente rir em uma situação dessas. - Primeiro precisamos achar macarrão.

— Acho uma ótima ideia. - Falei, tomando um gole do chá de Hershel no copo frio e fazendo uma careta ao engoli-lo. Senti o gosto amargo descer pela minha garganta, como se a queimasse, e fechei os olhos. Geralmente os chás ruins que fazem mais bem.

— Tudo bem se você assumir? - Perguntou a Sasha, se referindo a Henry, e ela assentiu, se movendo lentamente. - A cada 5 ou 6 segundos, aperte. Se começar a se sentir zonza, arrume outra pessoa para assumir.

— Nós faremos turnos. - Falei, pegando o copo de Sasha, e o veterinário me encarou, pensativo.

— Quer me ajudar nas minhas rondas?- Perguntou, e eu assenti, levantando e o seguindo pelo corredor a fora.

— Quanto tempo isso ira o manter vivo? - Perguntei quando estávamos mais afastados, lembrando que das 6 pessoas que tiveram problemas para respirar , 4 morreram antes que pudéssemos fazer algo.

— O tempo que estivermos dispostos a mantê-lo vivo. O tempo que for necessário.- Disse, simplesmente. Essa resposta me deixou cheia de calafrios, mas concordei. Infelizmente, essa era a realidade. A maioria das pessoas aqui dependiam de nós para sobreviver até a vinda dos remédios.

O ar dentro do bloco estava cheirando a morte e pura doença, e todos dentro dele estavam totalmente tomadas por sintomas da gripe . Variavam de varias crianças até idosos, e infelizmente vários dos doentes ja tinham morrido.

As rondas eram necessárias para impedir qualquer pessoa morta de ressuscitar e atacar os outros, pois isso se tornou algo comum aqui dentro. E isso era extremamente assustador.

Em uma das celas, encontramos o Sr. jacobsen, um senhor negro e completamente querido, morto em sua cama. Logo Hershel trouxe uma maca, e suspirei.

— Ok, faremos isso agora, mas em algumas horas quando o Henry morrer...- O coreano começou, como se lesse a minha mente.

— Glenn..

— Como que pegaremos seu corpo e levaremos escada abaixo, pelos blocos, passaremos pelas portas, sem ninguém perceber? - Finalizou, e concordei. Não tínhamos como perder esse tempo.

— Se acontecer. SE. E vocês irão me ajudar.- Disse simplesmente, e suspirei novamente, puxando o ar com força para os meus pulmões logo depois.

— E se a gente morrer? - Glenn perguntou, baixo, e segurei sua mão, a apertando. Infelizmente era uma pergunta ideal para a nossa atual situação.

— Cala a boca e me ajudem a coloca-lo aqui. - Finalizou a conversa, e logo nos pusemos a levar o morto para longe do bloco, para mata-lo afastado de todas as pessoas.

Eu admirava a tentativa de Hershel de deixar as pessoas tranquilas, mas na realidade isso só nos tomava tempo e se tornava perigoso. Alguns dos mortos ressuscitavam no meio do caminho, e alguns na própria cama.

— O que estão fazendo? - Lizzie perguntou sorrateiramente, observando a maca coberta de lençóis nas nossas mãos. A menina tinha se aproximado tão silenciosamente que eu nem tinha percebido sua presença ate ela falar algo.

— Levando o Sr. Jacobson para um lugar mais tranquilo. - Hershel respondeu, colocando a mão na testa da menina. - Pegue a cópia de “ Tom Sawyer “ no meu quarto. Quero que lei-o ate o fim do dia. Todos temos trabalhos para fazer. Este é o seu.- Disse, e isso foi o suficiente para afastar a Lizzie, que foi andando devagar de volta aos blocos.

— Você ainda não fez isso, fez?- Glenn perguntou , observando Hershel ler uma bíblia enquanto desviava o olhar do corpo a sua frente. Parecia estar tentando fazer de tudo para não ter que matar alguém. Ele negou.

— Teve um ontem a noite. Sasha o matou. As pessoas não precisam ver isso. Não quero que vejam. - Falou,mais para si mesmo,  e no momento que acabou a frase, o Sr Jacobson acordou,abrindo a boca por baixo do pano. Meti a faca na cabeça dele,o silenciando, e a limpei em minha calça. Encarei Hershel, e sai. 

Todos tínhamos trabalho para fazer.

...

Maggie veio até a janela de visitas querendo nos ver, mas ambos recusamos . Não queríamos que ela nos visse nesse estado, pois tinha certeza que ela iria querer entrar . Principalmente com Glenn em jogo. Hershel conversou com ela para nós, e fiquei feliz ao saber que ela esta bem. 

Judith e Beth ficaram separadas do resto do pessoal, e admirei a loira por ficar isolada para cuidar da bebê. Toda a família Greene tinha um coração de ouro, isso eu não podia negar.

Pelo que falaram, as cercas estavam completamente tomadas de novo, e o medo de elas cairem aumentou. Ja não bastava essa doença, agora isso? Dependíamos das estruturas, e isso era um inferno. E se a prisão fosse tomada com todos ainda doentes? Como iriamos nos defender? 

Fechei os olhos, sentindo todo o meu corpo tremer involuntariamente.  Eu estava com febre, e sentia como se a doença se espalhasse cada vez mais pelas minhas veias. Eu estava suando, mas ao mesmo tempo estava com frio.

Glenn estava com Henry, tentando o manter vivo, e eu tinha sido obrigada a deitar um pouco. Eu estava evitando pensar que estava doente, mas era foda quando seu corpo todo parecia conspirar contra você mesmo, em todos os sentidos.

Lembrei momentaneamente das coordenadas do CCD da resistência, aquele que meu pai me deu, e por um momento me senti a pessoa mais burra do mundo. Poderíamos ter ido pegar remédios lá ao invés de ir no hospital veterinário. Porém, a qual custo seria? 

Nem sei se ele ainda estava inteiro depois de dois anos e vários meses, não queria arriscar. 

Doutor Caleb estava muito pior, e se recusava veemente a receber ajuda. Como falam, os médicos são os piores pacientes. Ele disse que estava em um estágio que não tinha mais volta, e que deveríamos focar em quem ainda possa conseguir.

“Ainda possa conseguir”. Essa frase era uma sentença. 

— Fiz algumas injeções intravenosas , para os doentes. Se não esta pronto para perder um, Hershel, vai acabar perdendo todos, você precisa entender isso. É como apagar uma luz, vai apagar uma atrás da outra. E eles não morrem apenas.- Ouvi Caleb falando na cela do lado, e estava explícito na sua voz a fraqueza que dominava seu corpo. Caleb estava morrendo, mas suas palavras faziam todo o sentido possível. 

— Não vou desistir de ninguém. Não ainda.- Ouvi Hershel responder , e revirei os olhos lentamente, com um sorriso minúsculo. Obvio que ele não ia. 

— Só certifique-se que a porta de todos os doentes estejam fechadas, você sabe porque. - Doutor S continuou a falar, dificultado pelo começo da falta de ar. - Só certifique-se disso! - Gritou, antes de ter um ataque de tosse, provavelmente recheado de sangue. Doutor S estava nos finalmentes dele, e isso poderia ser um problema enorme.

Suspirei, e levantei novamente , ignorando o meu estado péssimo. Comecei a fechar as pessoas dentro das celas, ignorando as perguntas. Eu não estava com forças para responder , e nem com paciência. Tinha vezes que era melhor apenas fazer. 

Enquanto isso, um homem saiu de sua cela e simplesmente morreu no meio do bloco, e percebi o quanto Hershel estava abalado com tudo isso . Ele estava fazendo tudo para sobreviverem, e devia ser complicado ver as pessoas morrendo assim.

O veterinário disse que o homem que acabara de morrer tinha conversado com ele sobre livros ontem. Ontem, o homem estava bem.

Agora, estava morto.

Estávamos queimando os mortos atrás dos blocos , pois não poderíamos deixar os corpos por ai. É o que precisa ser feito, mesmo que doa.

Segurei o colar com “ R” da resistência em meu pescoço, sentindo o relevo. Esse símbolo tinha se tornado um amuleto de esperança para mim, mesmo que eu não pude chegar a ver a resistência. Mas conheci seus homem. Eles me tiraram daquele laboratório, e eu não iria morrer por uma gripe. Nem a pau.

— Alexa! - A voz assustada de Hershel me tirou de meus pensamentos, e corri para o andar de baixo, me deparando com Sasha desmaiada no chão. Seus cabelos negros estavam totalmente descabelados e fora do lugar, e seus olhos estavam com olheiras vermelhas , contrastando com sua pele pálida . 

Por um momento pensei que ela estava morta, mas graças ao universo seu peito estava mexendo. Coloquei sua cabeça apoiada em um travesseiro, no chão mesmo, com medo de piorar a situação.

Mas por sorte, não demorou muito para ela acordar.

— Bem vinda de volta. - Falei, suspirando de alívio. Não podia perder mais um, principalmente alguém que eu confiava.

— Você desmaiou, esta desidratada. Ser uma heroína tomou muito de você. - Hershel falou, sorrindo com o mesmo alivio que eu. 

Mas não tivemos tempo para conversar mais que isso .

— Que som é esse? - Sasha resmungou, e o inconfundível formigamento se apoderou de mim. Arregalei os olhos ,encarando Hershel. 

Errantes.

Uma morta saiu de uma das celas, totalmente cheia de sangue, que contrastava com as suas roupas brancas. Ela caiu em cima de Hershel, que fazia de tudo para afastar as outras pessoas, gritando. 

Eu senti meu mundo virar.

Vi um homem saindo com uma arma de uma cela, mas ele não atirava, apenas encarava a cena assustado.  Seus olhos estavam arregalados, e o reconheci como um habitante de Woodburry. Por que diabos ele tinha uma arma? 

— Hershel. - Murmurei, tomando consciência da situação e ficando em pé, tentando me concentrar no ambiente ao meu redor. 

Uma mulher chutava a morta que estava em cima do veterinário,gritando e passei a ajuda-la, dando uma pesada na cabeça do errante, que caiu para o lado. 

— Sindy, se afaste. - Pedi a loira, que tinha o olhar frenético, mas a mulher simplesmente se abaixou e puxou o zumbi para cima, liberando Hershel. Ergui meu braço, pronto para jogar o errante dos braços da mulher, mas quando percebi, um tiro foi disparado.

O cheiro de sangue se infiltrou no ar,e gotículas batizaram meu rosto

O homem que tinha a arma estava sendo devorado por um errante no chão, e a cada mordida, o cara atirava com a pistola. Chutei a errante para longe, e finalmente o homem com a arma morreu, parando de atirar. Olhei para Hershel, e fiquei feliz ao ver que ele estava bem. 

— Vamos, Henry. -Arregalei os olhos ao ouvir a fina voz de Lizzie, no andar de cima, misturada a gritos e grunhidos de errantes. Ergui o olhar, analisando a cena de maneira perplexa. 

 A menina estava andando de costas, falando lentamente com o que um dia foi o Henry, atraindo a atenção dele para o outro lado do corredor de cima. Ou seja, Glenn caiu. 

Estava acontecendo muitas coisas em poucos segundos, e eu era uma só. Minha mente estava girando, e eu não conseguia colocar meus pensamentos em ordem. Dei dois tapas em meu rosto, tentando me pôr a ativa. 

— Puta que pariu.- Resmunguei, e mordi minha boca, sentindo o gosto metálico de sangue a invadir. 

Três mortos ao mesmo tempo.

Chutei novamente a primeira errante com  um dos meus pés, quebrando seu crânio contra o chão, mas deixei o trabalho pra lá quando ouvi os gritos desesperados de Lizzie. Algo tinha dado errado.

Eu não tinha nenhuma arma, mas subi correndo de qualquer jeito, ouvindo o som alto de meus sapatos contra o metal frágil das escadas. Henry estava em cima da menina , que gritava e se debatia desesperadamente, tentando deixar a boca dele longe. Corri e peguei sem jeito algum a camisa do morto, e simplesmente o joguei para o lado, o  fazendo ficar preso em uma das contenções de rede que separava o andar de cima e o de baixo. Observei Henry preso la, e virei meu olhar, completamente frenética. 

— Você esta bem? - Perguntei, agarrando Lizzie com as mãos e a deixando em pé, enquanto a vasculhava para ver se tinha alguma mordida ou arranhão  

— Eu... eu distrai ele. Ele não arranhou Glenn, pensei que ele escutaria. - Ela murmurou, mas não tive tempo de pensar no sentido de suas palavras. Seu rosto indicava claramente estado de choque, mas eu não podia lidar com isso agora.

— Lizzie, onde esta Glenn? - Perguntei, segurando o rosto da menina com as mãos, e ela finalmente focou meus olhos. 

— Na cela de Henry.

Assenti, passando a mão em seus cabelos, e gritei por Hershel, que ja tinha conseguido lidar com o outro errante que comia o cara da arma. Coloquei Lizzie e outro menino desconhecido rapidamente em uma cela, e a fechei.

— Não saiam de jeito nenhum, ok? Não se envolvam. - Falei rapidamente, e os dois assentiram.

— Aguente firme Glenn, aguente . - Ouvi Hershel falar mais para o lado, e senti mais formigamentos ao redor do meu corpo. 

Mais errantes.

Eu estava no meu limite. Meu ouvido começou a zunir.

— Caleb,  preciso de ajuda! - Gritei, lembrando do médico,  me aproximando de sua cela. Mas descobri que ele estava morto. Se não fosse pela cela trancada ,ele teria me atacado, e eu não teria forças para me defender. Quebrei seu braço com a força que consegui e forcei sua cabeça para uma das barras, ate ele finalmente morrer com a cabeça esmagada. Não foi nada delicado. Lembrete: nunca mais ficar sem armas.

Entrei correndo em sua cela, tremendo ao tentar pegar a arma de baixo de sua cama. O suor deixava tudo mais escorregadio, e o zumbido em meus ouvidos não me deixava me concentrar.  Eu sentia minha cabeça pulsar , e todas as coisas estavam cada vez mais turvas .

Segurei a arma na mão, e finalmente me levantei.

Fui até o topo da escada, e observei outra mulher subindo , totalmente com a cara cheia de sangue e simplesmente atirei , explodindo a cabeça dela em vários pedaços. 

— Alexa! Precisamos da bolsa pro Glenn! - Hershel gritou, tentando ajudar o coreano, que agonizada na cela, tremendo. 

— Merda merda merda. - Falei, jogando a arma no chão e pulando onde o Henry estava, o que foi uma péssima ideia. Eu não conseguiria mata-lo sem estourar a bolsa. O apoio era puro elástico, e fiquei presa com o morto em cima de mim.  

Sua mandíbula estava quase estourando, e fiquei cara a cara com os olhos leitosos e o cheiro ruim de um errante. Eu estava entrando em pânico. 

Ouvi a voz de Maggie, muitos passos e alguns tiros, e o formigamento foi diminuindo. Eu conseguia ouvir as pessoas correndo e gritando abaixo de mim, e finalmente vi Maggie abaixo de mim.

— Maggie! - Gritei, não me importando com o fato de ela ter entrado na área de quarentena. - Não acerte a bolsa, precisamos dela para o Glenn!

Fiquei mais alguns segundos lutando com Henry, torcendo para que minha irma tivesse ouvido, e finalmente ouvi um tiro. Henry tinha parado de se movimentar.

— Onde ele está? - Maggie gritou, desesperada, enquanto eu me sentava e tombava o corpo para o lado, me libertando.

— Aqui em cima, cela 10. - Falei, já desconectando a bolsa de ar do cano de Henry e tentando sair do lugar de onde estava. 

— Ele esta ficando azul. - Ouvi Maggie gritar , e percebi que Hershel estava mais afastado. Provavelmente foi pegar mais canos. Espero que ainda tenhamos. 

— Limpe suas vias aéreas, estou indo! - Hershel respondeu, apressado, passando por mim com algumas coisas na mão. Entreguei a bolsa para ele, exausta, e finalmente me aproximei.

Percebi que as coisas la em baixo estavam controladas, e gritei para que todos se trancassem em suas celas por enquanto. 

— Pai?- Maggie chamou, aflita, enquanto segurava o coreano de lado em seu colo, enquanto sangue e outras coisas saiam de sua boca. 

— Vire ele para cima! agora! Segura seus braços! - Falou, e me joguei na cela, sem forças para uma aterrissagem delicada. - Vamos, você sabe como isso funciona , filho. - Hershel murmurrava, enquanto tentava colocar o respirador em Glenn.

— Você ficara bem. - Maggie começou a falar, acariciando o rosto do coreano, após o veterinário conseguir inserir o cano. Glenn começou a ficar rosado novamente. 

Me encostei pra trás , respirando com muita dificuldade , enquanto repassava tudo que tinha acabado de acontecer. 

Ouvi passos, e logo Lizzie apareceu em cima de mim, com um olhar mais tranquilo. Estava tudo mais silencioso. 

— Eu falei pra você ficar la dentro. Precisa obedecer o que falamos, Lizzie. - Suspirei, sabendo que não adiantaria falar alguma coisa. O formigamento tinha parado , finalmente. Eu me sentia quase que em paz. 

— Acabou?

— Espero que sim, que...- Falei, mas não consegui terminar a frase. Um súbito impulso percorreu todo o meu corpo, e me joguei para fora da cela, tentando não acertar Lizzie , e vomitei.

Puro sangue.

— Alexa. - Ouvi uma voz falar, e um toque bruto, mas eu ja não conseguia identificar quem.

Minha visão começou a piscar, e percebi que eu estava me movendo involuntariamente, e não conseguia me controlar por mais que tentasse. 

Até que tudo ficou escuro, e a única coisa que eu conseguia ouvir era um apito ao longe.

A imagem de meu irmão se formou em minha cabeça.

Aaron.

“ - Eu te amo mais que tudo, ok? Só vou sumir por algum tempo, até o papai se acostumar- Aaron falou, segurando meus braços e me encarando profundamente. Seus olhos estavam inchados e seus cabelos fora do lugar, e uma mochila jazia em suas costas.

Encarei meu irmão, sentindo lágrimas pesadas correrem por meus olhos. Aaron era gay, mas meu pai não aceitava isso. Então , ele decidiu simplesmente dar um tempo na família e focar apenas em si mesmo.

— Você não tem o direito de esquecer das pessoas que sempre te apoiaram. Se cuida. - Falei, fechando a porta. A raiva jazia em mim, e mal eu sabia que depois disso, ele realmente evitaria todo tipo de contato com a gente”

Depois disso, vi o caçador, e senti minha mente sorrir antes de tudo ficar escuro e sem nenhum tipo de estímulo.

Apenas eu, e a escuridão. 

Pov Daryl.

O dia estava nublado, mas por sorte não estava chovendo. Eu conseguia sentir o vento batendo leve em meu rosto, e quanto mais eu acelerava, mas ele batia em mim. Eu estava preocupado. 

— Finalmente! - Gritei, acelerando mais ainda ao avistar os grandes portões da prisão a nossa frente. Tínhamos demorado mais do que eu previa, e por algum motivo eu sentia que algo estava errado no momento em que entramos. 

Rick abriu o segundo portão , e finalmente entramos no nosso lar novamente, depois de toda a confusão no hospital veterinário. 

— Sasha! Como ela esta? - Tyreese falou, praticamente pulando para fora do carro ao abrir a porta ainda em movimento. 

Eu só conseguia pensar em Alexa.

— Não sei, desculpe. Vai la, estamos no controle aqui. - Rick falou prático, se aproximando, e logo comecei a catar todas as bolsas possíveis junto a Michonne e Bob, e levamos tudo para o bloco, apressados. Tinha realmente algo errado. 

Eu não conseguia pensar, simplesmente seguia o caminho, sem ligar para o que falavam ao meu redor. A porta do bloco dos doentes estava escancarada, e sangue e corpos jaziam para todos os lados. 

Um sentimento de impotência me cercou, e meu mundo parecia estar mais frenético ainda. 

— Alexa! ALEXA! - Comecei a berrar, olhando para todos os olhares assustados dentro da celas que me encaravam, como se não entendessem. Eu não encontrei o rosto dela. - Cade ela? - Gritei, para ninguém em específico, agarrando um homem aleatório que passava por ali pelo colarinho, o erguendo. Eu sabia que estava fora de mim, mas não conseguia voltar.

— Daryl, la. - Bob falou, apontando para cima, e observei a cena que decorria acima de nós. Soltei o homem, boquiaberto. 

Hershel e Lizzie seguravam a platinada enquanto seu pequeno corpo se movia aleatoriamente, para todos os lados. Ela estava coberta de sangue e outras coisas, e seus olhos estavam totalmente virados , brancos. Eu só consegui a reconhecer por conta dos cabelos brancos, pois tirando isso, ela estava irreconhecível. 

— Daryl, um tubo, agora! - Maggie gritou la de cima, me tirando do transe,  e percebi que o Coreano também estava no chão. Ignorei o homem e me obriguei a ficar consciente, tentando não deixar os sentimentos me dominarem. 

Abri desesperadamente a mochila, pegando um tubo e qualquer outra coisa que fosse e poderia ser utilizada. 

Alexa tinha parado de tremer .

Subi o mais rápido que pude, totalmente possesso e com todos os tipos de pensamentos pulsando dentro da minha cabeça. Cheguei tarde demais? Ela iria morrer? A mulher que amo, morreria? 

Apenas peguei a platinada no colo , afastando os cabelos sujos de seu rosto enquanto Hershel enfiava um tubo em sua boca, sem nenhuma delicadeza. 

Não era de delicadeza que precisávamos agora.

— Você vai ficar bem, vai sim. Aguenta , por favor. - Murmurei, sentindo os batimentos fracos de Alexa em meus dedos, que jaziam em seu pescoço pálido. Acariciei levemente seu cabelo, e eu soube que a imagem dela nesse estado ficaria pra sempre em minha mente.

Ela tinha olheiras profundas e vermelhas ao redor de seus olhos, e sua boca continha sangue ao redor. Sua pele, naturalmente pálida, estava da cor de seu cabelo, e suas roupas estavam totalmente sujas e desgastadas. Ela suava muito, mas ao mesmo tempo tremia levemente. 

Era a imagem de uma pessoa doente no seu limite de força. 

No mesmo jeito que o pânico começou, ele parou. Alexa já estava com a aparência mais tranquila, e o tom azulado que tinha tomado o seu rosto por uns momentos sumiu. 

— Daryl, ela vai ficar bem. - Hershel falou, batendo levemente as mãos nas minhas costas e apertando o balão, colocando ar nos pulmões da platinada. O encarei, irritado. 

Eu estava com dor, pura dor. Eu devia ter sido mais rápido, ter me esforçado mais... não deveria ter deixado ela sozinha.

Está acontecendo de novo.

”- Ela morreu, Daryl. Não tem nada que possa fazer. - O policial moreno disse para mim, se abaixando e ficando da minha altura. Seus olhos indicavam pena, e sua mão jazia apoiada em meu ombro, como se isso fosse me reconfortar. 

Os bombeiros , ao fundo, estavam apagando os últimos focos de incêndio de minha casa, causado por uma bituca que cigarro má apagada. Minha mãe fumava cigarro, e ela era a única na casa. 

Eu tinha acabado de voltar da minha volta de bicicleta, e ainda estava segurando o guidão. Encarei perplexo o rosto do policial, enquanto ouvia a voz de meu pai gritando furiosa ao longe.

A culpa era minha. Eu que decidi sair de casa de deixa-la sozinha. Minha mãe estava morta por minha causa. ” 

—Daryl, vamos botar ela em uma cama. É melhor. - Maggie falou, e tentei me acalmar, pensando comigo mesmo. Eu fiquei com raiva do Hershel, mas eu sabia que ele tinha feito tudo que conseguia. Ele não merecia minha raiva.

Assenti, elevando lentamente a platinada com todo o cuidado do mundo,  com Hershel ainda tomando cuidado para continuar bombeando ar para o corpo dormente de Alexa. 

...

Bob ja estava trabalhando com os equipamentos que conseguimos, quebrando os comprimidos e os diluindo, fazendo injeções intravenosas. Eu conseguia ouvir o som de pessoas conversando ao longo, e o som de remédios em seus devidos potes.

Ja tinha passado 28 horas desde que saimos para pegar os remédios.

13 pessoas tinham morrido desde lá.

—Como Glenn esta? - Perguntei, quando vi Hershel parar na frente da cela em que estávamos, provavelmente para ver Alexa. Sasha estava junto com nós dois, na cama do lado,  e ja estava com uma aparencia muito melhor do que a de antes.

Alexa continuava desacordada.

—Bem, ja esta respirando sozinho. Maggie e Bob estão com eles. - Falou, enquanto se agachava e erguia a injeção. Eu ainda pulsava o ar dentro dela. 

—Você é duro na queda, sabia Hershel?- Falei, ainda com os olhos fixados em Alexa. Seu rosto parecia mais calmo agora, como se ela estivesse dormindo. Fiquei aliviado com isso. - Obrigada por mantê-la viva.

—Daryl, ela ajudou a manter todo mundo vivo, só parou quieta quando seu corpo realmente não aguentou mais. - Falou, e observei o rosto da platinada se contrair ao ter a pele rompida pela agulha.. Dei um meio sorriso, ao mesmo tempo irritado e orgulhoso da informação. 

No final, era Alexa quem merecia um agradecimento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam , gente? Comentem, por favor, os comentários decairam muito em quantidade nesses últimos capítulos, queria saber o porquê!

Obrigada a todos os que favoritaram e estão acompanhando, adoro vocês fantasminhas ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Cura Entre Nós" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.