Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 7
Capítulo VI - Uma noite para recordar (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Primeiro preciso contar algo para vocês: essa capa maravilhosa da fic veio em um momento muito importante. Fiquei tão animada com a ideia de ter uma capa de verdade para ela e tão feliz com o resultado!!!
Quezia (Kate Robbie), esse capítulo eu dedico a você :D

Eu sei que com mais alguns dias faria 1 mês sem postar mas esse capítulo me deu um trabalho. Eu reescrevi algumas vezes até chegar a esse ponto. Primeiro seria narrado em terceira pessoa mas depois troquei. Gostei mais dessa versão. Daqui para frente vou fazer mais capítulos assim e logo teremos personagens novos.



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Solano me olhava com os olhos cheios de preocupação e mistério. O que ele poderia me mostrar no quarto dos meus pais que eu não tivesse visto várias vezes desde criança? Sua mão tocou um espaço na parede próximo a um dos candelabros e um rangido se ouviu, como se algo velho e que não fosse usado há muito tempo começasse a se mexer. Eu fiquei surpresa com isso e ao mesmo tempo curiosa para saber o que viria a seguir quando  parte da parede se moveu lentamente e uma abertura surgiu na frente dele, na qual uma escada formava um caminho para o desconhecido, como se a escuridão a engolisse.

— O que é isso? — Eu não fazia ideia do que estava acontecendo e ele estava mais sério do que o normal.

Sem responder, Solano segurou o manto e começou a descer. Os degraus eram estreitos e a escuridão não me favorecia. Eu mantive as mãos na parede, caminhando lentamente com Solano logo à minha frente, o manto sendo engolido pelo breu; e embora estivesse cheia de perguntas, não ousei dizer nada enquanto descíamos. A escada fazia um caracol e tive a impressão de que corria no interior do palácio, em algum espaço entre suas paredes e o nada. Como isso seria possível? Me apoiava em uma superfície fria e áspera, nada se ouvia. A sensação era de ser tragada para um caminho sem fim, como se caísse no vazio, onde nada além de nós dois e os degraus existia. Só então notei que até mesmo respirar não parecia ser algo natural, e o coração; mal o sentia.

Depois de alguns minutos, um pequeno feixe de luz surgiu à frente no que parecia ser a última curva do caminho. Uma luz azul cobria um espaço formado por uma abertura e passando por ela, Solano me estendeu a mão. 

A luz fez meus olhos piscarem várias vezes. Primeiro pensei que tínhamos saído mas ainda seria noite, depois Solano me soltou e cobri os olhos com as mãos, tentando ver e me proteger ao mesmo tempo. O local, levando em consideração o comprimento, não era maior que nenhum cômodo do palácio e não parecia ter um teto pois as paredes sumiam rumo ao alto. Elas eram formadas por uma pedra escura e ainda assim refletiam a luz que vinha do centro.

— Esse é o único lugar deste palácio que você ainda não conhece, Diana. Esperava te trazer aqui mas não pensei que seria tão difícil para mim. Te ver coroada e chegar nesse local indicam que você cresceu... não é mais a menina que foi entregue a meus cuidados. Isso aqui indica perigo também. — Solano falou a última frase com amargura.

Sem compreender exatamente onde ele queria chegar, olhei para o centro e me deparei com a fonte da luz. Uma pedra negra partindo do chão formava um tipo de suporte, com detalhes semelhantes a galhos secos intrincados subindo até o topo, como se tivesse sido entalhada com muito cuidado. Sua base era mais fina e rodeada por pedras de diversos tamanhos, com as pontas fincadas no chão. A outra extremidade do suporte era plana e nela estava encaixada uma pedra azul, em um pequeno orifício, de estrutura semelhante a um losango mas com diversas faces. Seu comprimento era pouco maior que o tamanho da minha mão aberta e seu brilho, tão intenso como se recém saída da oficina de um ourives.

De repente, a intensidade de seu brilho diminuiu e eu me aproximei devagar me sentindo atraída pela luz. Uma sensação de calor e bem estar correu pelo meu corpo e então era como se já tivesse sentido isso antes, sem nunca ter visitado aquele lugar. Estendi a mão trêmula na direção da pedra, a toquei levemente e uma lembrança me veio à mente: minha mãe na sala do trono segurando um colar e as luzes que escapavam por entre seus dedos. Eu me sentia mais viva, tal como se cada parte do meu corpo recebesse uma carga de adrenalina intensa.

Se colocando ao meu lado, Solano disse:

— Não creio que já a tenha visto, não é mesmo?

— Uma vez. Ela segurava algo que emitia uma luz como essa. Foi na noite em que Adones morreu. — Eu me lembrava claramente embora só tivesse cinco anos. — O que significa isso? Onde estamos exatamente? — Eu atropelava uma pergunta com outra, ávida por saber de tudo.

— Eu tenho muitas coisas para te contar e sei que há perguntas sem respostas em sua mente. Deixe-me te dizer primeiro sobre a Joia, era assim que sua mãe a chamava, e sobre a magia que você sabe que existe mas nunca viu acontecer bem na sua frente. — Colocando as mãos atrás do corpo ele se afastou e começou a caminhar pelo local. — Não sei te dizer exatamente quando mas desde muito tempo sua família guarda essa Joia. Eu procurei por alguns registros para me orientar, porém não creio que seus bisavôs ou os que vieram antes deles tenham sido muito cuidadosos com a história do reino. Essa pedra... ela detém um poder que nenhum de nós viu antes e eu não creio que vamos ver ou que seus antepassados tenham presenciado algo tão forte assim. Essa câmara — ele estendeu os braços e girou o corpo, se voltando para mim — foi construída muitos anos atrás, após o término do palácio. É como se ela dividisse o espaço com as outras áreas dele, ocupando o mesmo lugar e não — ele balançou as mãos imaginando que eu faria uma pergunta — não me pergunte como isso é possível. O objetivo era guardá-la a salvo, proteger o reino.

— Protegê-lo de quê exatamente? — Perguntei imaginando se finalmente saberia a verdade.

— Esse lugar foi construído com magia para evitar que o poder estivesse ao alcance de todos, bem como o muro branco que nos cerca; no entanto ele é bem mais recente. Se essa pedra cair em mãos erradas, o reino pode ser destruído. Ela tem a capacidade de construir e proteger mas há quem defenda a teoria de que ela pode ser usada para destruir também e dominar outros povos. Sua família não queria correr o risco e descobrir da pior forma se isso era verdade ou não. Sua mãe foi a última a usá-la e tudo que sabia foi passado por sua avó.

— Por que minha mãe? Meu tio Clermon é o mais velho dos irmãos. — Minha mente dava voltas e todos os meus questionamentos, adormecidos pelo tempo e as obrigações, retornaram.

— Seus avós, Anna e Valmor, levaram algum tempo para ter o primeiro filho e todos esperavam que seu tio pudesse assumir o trono, mas a Joia o repelia. Depois vieram John e Vanda e por último, sua mãe. Todos eles foram trazidos aqui e de uma forma que eu não saberia te dizer, a criança que dominaria a Joia foi escolhida. Talvez seja um dom, uma habilidade com a qual alguns nascem. Sua mãe é a mais nova de todos mas é a única que fez a pedra responder e essa é a condição para subir ao trono. De que alguém se lembre, nunca houve um só homem na família que fosse capaz de usar a Joia, mas todos os filhos foram trazidos aqui.

— Por que só está me contando isso agora? — Eu o encarava com os olhos cheios de perguntas. Só então percebi que ainda segurava a Joia e sua luz formava círculos em minha mão, criando uma energia crescente ao redor dela.

— Você é a próxima que manterá esse lugar seguro. Isso implica em cuidar para que pessoas mal intencionadas não se aproximem desse poder mas você também deve saber usá-lo. E isso você precisa aprender rápido, mas infelizmente dessa vez eu não posso ajudá-la muito.

Eu olhava para ele sem ver, eu ouvia sem acreditar em uma palavra somente, sem conseguir juntar as coisas e entender. Como eu podia estar tão perto de tudo isso e não saber? Como usar um poder que eu não conhecia, sabendo que a única pessoa que poderia me ensinar não estava mais comigo? Olhando fixamente a pedra em minha mão, pensei na noite em que minha vida começou a mudar. Quantas perguntas sem respostas. Quanta gente trabalhou para esconder de mim a verdade? Por um tempo eu as busquei mas depois me deixei levar pelo que contavam pois as portas para chegar a elas pareciam intransponíveis.

— Diana, diga alguma coisa. Seu silencio é pior que uma adaga.

— Quero que me conte sobre a noite em que Adones morreu. Quero saber exatamente o que aconteceu naquela noite. — Eu queria começar de onde, para mim, era de fato importante.

— Eu imaginava que seria uma de suas primeiras perguntas. — E dando uma pausa, olhou fixamente para mim. — Um homem chamado Willian Telamon prestava serviços a família mas queria roubar a Joia, dar fim ao Conselho e usurpar o trono. Sua avó o expulsou do reino mas anos depois ele ameaçou a família com magia. Ninguém imaginava que isso seria possível, que poderia existir outra forma de usá-la que não por essa pedra mas ele aprendeu e não sabemos como. — Sua voz demonstrava angústia e inquietação. — Sua mãe usava a Joia naquela noite na esperança de conseguir proteger todos que saíram acompanhando seu pai. Eles queriam por um fim as ameaças desse homem e conseguiram mas ele ocultou de nós todo o conhecimento dos 20 anos de exílio. Não sabemos como mas ele fez desaparecer todas as suas anotações. Reviramos sua antiga casa no reino, procuramos em cada palmo e nada, nenhum mísero livro, anotação, um símbolo ou rabisco sequer, mas sabemos que eles existem. — Solano estava agitado e seu rosto ficou vermelho, como se contivesse uma raiva imensa por aquele homem. — Temos receio de que alguém possa reunir isso e começar a ameaçar-nos novamente.

Eu me mantive calada e apertava a pedra com tamanha força como se quisesse quebrá-la. Os círculos azuis estavam à altura do meu cotovelo e a pedra reluzia agora com mais intensidade.

— Depois meus pais faleceram...

— Sim. — Ele se encolheu como se um peso fosse colocado sobre seus ombros ou se estivesse contra a parede e o declarassem culpado por tudo isso. Por que ele aparentava culpa?

— Esse... esse tempo todo. Ninguém nunca me disse nada sobre isso. Todo mundo sabia e me deixaram crescer as escuras?

— Era uma opção feita por sua mãe. Ela cresceu sabendo que ocuparia o trono, que teria a responsabilidade de manter essa pedra longe das mãos erradas e de usá-lo adequadamente. Estava claro que ela não era a única que tinha a habilidade de usar magia — fazendo uma pausa respirou fundo — mas depois da morte de Telamon, seu pai a convenceu de que estavam novamente seguros. Ela esperava estar aqui para te ensinar tudo e queria que você crescesse até certo ponto livre desse peso. Não é uma simples responsabilidade...

— Qual a versão verdadeira sobre a morte deles? — Eu o interrompi bruscamente. Um misto de indignação, raiva e mágoa cresciam dentro de mim já que minha própria história foi mantida em segredo absoluto. Fizeram uma ótima peça e eu não conseguia decidir quem ganhou o prêmio pela atuação.

— Como assim? Seu pai saiu sozinho e teve um acidente com o cavalo. Ele galopava muito rápido naquele dia, provavelmente ele não viu o tronco e bateu a cabeça. O cavalo o arrastou e você sabe, Diana.

— E minha mãe?

— Ela adoeceu, nada do que fizemos foi capaz de salvá-la. Também nunca superou a morte de seu pai. — Me olhando com ar questionador ele respondeu o que eu já ouvira tantas vezes.

— Algo mais que eu deva saber? Já que essa é a noite para as surpresas. — Vi seu rosto ficar como mármore, os olhos se estreitaram e ele assumiu uma postura ereta como um dos guardas. Ficou ofendido com o tom de minhas palavras.

— Não sei a que se refere, Imperatriz. Tudo o que tinha para lhe contar foi dito.

Suas palavras soaram como mera formalidade mas eu não quis me desculpar. Eu queria nunca ter ouvido nada daquilo. Eu desejei não receber essa tarefa de lidar com algo desconhecido e ter de aprender sozinha. Ao mesmo tempo eu sentia que essa história estava longe do fim. Coloquei a Joia novamente no suporte e me apoiei nele, de costas para Solano, com as mãos crispadas. Sua luz estava novamente intensa e eu me sentia um pouco cansada.

— Creio que já é hora de me retirar, Imperatriz. Com sua licença.

Eu não me virei para vê-lo sair e tampouco fiquei com receio de não achar o caminho de volta. Solano deixou a chave do quarto no chão, próximo a abertura por onde passamos, e eu permaneci como estava um longo tempo pensando em tudo que ouvi. Por fim, as lágrimas insistiram em rolar mas eu resisti e respirando fundo, as contive. Deixei a câmara pela estreita escada, subindo a passos lentos e desejando começar o dia novamente e mudar tudo. Ao chegar ao quarto eu não tive vontade de sair dele, tranquei a porta e tentei esvaziar a mente e dormir contudo, nada me pareceu mais difícil.

 

********************

Já era madrugada e todos estavam em seus quartos. A luz da lua iluminava fracamente o jardim aos fundos do palácio e a escuridão tomava conta de quase tudo. Havia uma pequena luz acesa na extremidade mais distante das alas principais, que não poderia ser vista pelas grandes janelas dos quartos no segundo e terceiro andar. Uma figura de capa negra e rosto encoberto por um capuz se aproximava a passos largos e firmes desse local. Outra figura já o aguardava igualmente encoberto.

— Não pensei que fosse demorar tanto.

— Eu sempre venho mesmo que alguém tenha de esperar um pouco.

— Você soube o que aconteceu ontem? Alguém está se aproximando da recém coroada.

— Sim, mas isso não é nenhum problema. Seremos mais rápidos se agirmos conforme te falei.

— O plano começou bem. Receio que tenhamos de investir mais para resolver isso logo. Quero encerrar isso rapidamente e pegar o que é meu! — Sua voz se elevou mais do que o recomendado, correndo o risco de serem descobertos por algum integrante da Guarda.

— Não seja tão apressado! Nós viemos até aqui com um objetivo e não podemos colocar tudo a perder agora. Quer mesmo o seu lugar por direito? — E se aproximando do outro, o olhou diretamente nos olhos, com firmeza e ocultando a raiva e o desprezo que sentia. — Então faça o que eu disser.

Não muito distante dali, no segundo andar de uma das casas do reino, uma terceira pessoa contemplava parte do palácio e do muro que o circundava. Naquela noite algo diferente aconteceu: quase imperceptíveis, linhas de um tom de azul apareceram no muro, criando desenhos aleatórios como se uma criança brincasse de fazer rabiscos por toda uma folha em branco, para depois desapareceram; tão rápido como começaram. Era certeza que ela tinha descoberto tudo, ou melhor quase tudo.

— Hora de agir. —  Um sorriso brincou em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Alguns detalhes:
— Frida e Arth, os pais de Diana, faleceram em datas próximas. Eu dei algumas dicas sobre isso capítulos atrás mas não pensem que foi simples assim como Solano explicou. Os avós dela também já faleceram.
— Não, Solano não contou tudo o que precisava. Ainda tem mais informações de onde vieram essas rs ele só está chateado com Diana mesmo.
— O lugar para onde foram está realmente dentro do palácio. Imaginem duas dimensões que se encontram. Ela vai aprender sobre isso mais tarde.
— Diana está magoada afinal, esconderam coisas importantes dela. Sua mãe teve de deixar muitas coisas de lado para o aprender a usar o poder e não queria que a filha passasse pelo mesmo.

Espero que tenham gostado.
Até o próximo!



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