Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 3
Capítulo II - Aproximação


Notas iniciais do capítulo

Finalizando a coroação e mais personagens surgindo. Tramas aparecendo também rs
A primeira parte do capítulo fala de alguém que vocês vão conhecer mais pra frente.

O que vocês estão achando? Algo precisa ser melhorado?



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Era dia mas dentro da densa floresta aos pés das chamadas Montanhas do Desespero, a escuridão era quase total, envolvia e dominava quem quer que se aproximasse. As árvores altas e de copas arredondadas formavam uma muralha que impedia o sol de chegar ao solo, como um convite para aqueles que desejassem ficar ocultos.

No chão, as folhas secas faziam um som abafado mesmo quando os pés com cautela buscavam a trilha antes percorrida. Era um caminho a pouco tempo conhecido mas que foi facilmente memorizado. Uma caminhada de meia hora pelos lugares certos e pronto: estava onde tudo começou. Claro que não era simples decorar o caminho mas se você tinha uma habilidade natural para se localizar,  jamais se perderia.

A escuridão parecia se tornar mais e mais densa à medida que se adentrava aquela região. A frente se abria um profundo declive, coberto por fria neblina e no fundo dele, ainda que escondida, estava a entrada para uma caverna; mas chegar era um desafio devido às pedras soltas. Entrando devagar, as mãos apalpando as paredes frias, caminhou até o fundo com certo receio. Escondida por uma pedra lá estava mais uma abertura que deu acesso a uma câmara. Sorrateiramente, como se fosse roubar a casa de alguém, andava pelo local com os olhos atentos, o coração acelerado com a expectativa do que poderia encontrar e a sensação de que não estava só, de que algo frio e perverso estava à espreita. Queria ir até o fim, queria descobrir exatamente do que aquelas anotações tratavam e principalmente, quem era Telamon.

— Devo ter esquecido alguma coisa. Tem que estar aqui em algum lugar.

 

***************

O dia seguia calmo após a coroação. Os convidados se dividiam entre o salão principal e a sala do trono enquanto a Imperatriz recebia os cumprimentos. Primeiro seus tios, Aurora, John, Martha e Vanda, e seus primos; Ailla e Marcon. Logo após veio o Conselho com suas recomendações e opiniões. Andreas foi o primeiro.

— Imperatriz, meus parabéns! Espero que seu reinado seja grandioso.

— Claro, e que dê atenção a experiência que esses velhos tem que outros desprezam. — Allef completou olhando de esguelha para Solano.

— Obrigada aos dois. Farei tudo o que for necessário para o bem estar do reino e, a experiência de vocês será bem-vinda, Allef.

— Tenho certeza de que serão — Solano fez uma pequena pausa, ponderando as palavras — brilhantes, Imperatriz.

— Excelente escolha de vestido, Imperatriz. Devo admitir que é de muito bom gosto, bem adequado para a ocasião. — Sarah a examinava em detalhes com um olhar de um deboche mal disfarçado.

— Tenho certeza de que haverá outro momento para discutir sobre vestidos, Sarah. Não vamos tomar vosso tempo. — Solano se aproximou dela e observava quase como se fosse chorar de alegria. — Meus parabéns e que seja um reinado de paz, Imperatriz. — Completou curvando a cabeça e se colocando sob um dos joelhos.

— Será uma honra servi-la, Imperatriz. — Completaram Agenon e Daniel, imitando o primeiro. Emocionada Diana os olhava e quase não conseguiu formar uma resposta para aquela demonstração sincera de lealdade.

— Eu... agradeço a confiança e estima por mim.

 

****************************

A Sala do Trono estava lotada, não havia um só lugar para colocar os pés. O salão ao lado também estava cheio e após o breve pronunciamento da Imperatriz todos se aproximaram para cumprimentá-la. Todos com boa vontade, menos ele. Era obrigado a isso mas após fazê-lo saiu sem chamar atenção. Chegando perto de um dos sofás no lado esquerdo do salão, mais vazio, sentou-se para refletir sobre seus planos. Uma nova Imperatriz, inexperiente, fraca e provavelmente fácil de aniquilar como os pais. Não deveria ter deixado que a situação chegasse a tanto pois a essa altura outra pessoa deveria ocupar o trono. Essa menina jamais deveria chegar a assumi-lo, deveria ter sido mais cuidadoso e escolhido ajudantes melhores, pensava.

A vigilância de Solano fora um grande empecilho e qualquer coisa errada poderia levantar ainda mais suspeitas. Agora ele tinha um novo aliado que o ajudaria a conseguir o poder e se falhasse, também conseguiria algo para ele; afinal quando tivesse a fonte do poder de Kandor, ninguém poderia pará-lo. Não importava o que fosse fazer, deveria dar um fim a Imperatriz e ocupar o trono mas enquanto isso, manipulá-la o quanto fosse necessário.

******************************

 

Henry estava atrasado para a coroação. Dormira mais que a cama e agora precisava chegar o quanto antes ao palácio. Era a primeira vez que teria a oportunidade de conversar com a Imperatriz, e com sorte por tempo suficiente e sem interrupções. Não que conversassem muito pois ele estava quase sempre com a Guarda e ela, quando não estava em alguma aula, participava de alguma reunião com seu tio, membros do Conselho ou fazia outra atividade. Embora aquele fosse o dia da coroação e ela tivesse apenas dezoito, desde muito cedo participava de quase tudo no palácio.

Caminhando pelas ruas cheias e enfeitadas pensava no quanto seu pai iria reclamar do atraso. Teria sido mais fácil se morasse na antiga casa deles, mas a decisão por morar sozinho o ajudou a não depender dos outros e fazer também seus próprios horários. Tinha dias em que praticamente não ficava em casa: havia o treinamento, as rondas e turnos no palácio para fazer e tinha se dedicado ainda mais nos últimos três anos que não sobrava muito tempo para se preocupar também com a casa. Chegar muito tarde e dormir pouco só iria preocupá-lo ainda mais e isso certamente atrapalharia suas funções no Conselho.

Dedicação. Sacrifícios. Não era nenhum sacrifício ficar até mais tarde nas rondas mas o que seu pai sempre falava era sobre trabalho e sacrifícios para o bem estar de um todo. Ele mesmo se dedicava demais ao serviço no palácio, e defendia seu ponto de vista com extremo cuidado. Obtivera muitos sucessos, não era um homem que fazia as coisas sem pensar e sem uma boa base. Assim como ele, Henry tinha um objetivo que poderia se transformar em realidade em breve. Havia algumas coisas que ele gostaria de mudar e só havia um jeito: se tornar general da Guarda.

Envolvido em seus pensamentos, ele esbarrou em uma senhora.

— Me desculpe senhora. Deixe-me ajudá-la.

— Não foi nada jovem. — Os cabelos brancos e as rugas davam sinal dos muitos anos que se passaram. Era uma senhora de baixa estatura, pele morena e que andava com dificuldade. Entretanto, os olhos atentos davam a impressão de que era lúcida e sua voz firme de que gostava de comandar.

— Eu estava distraído...

— Estava com a cabeça na lua. Mas por hoje eu desculpo já que todos estão agitados. — Disse a velhinha interrompendo Henry com um sorriso misterioso. — Vejo que você está todo arrumado. Vai a coroação? 

— Sim, é um dia muito especial para nós.

— Ouvi dizer que a Imperatriz tem um gênio forte. Não vai querer aborrecê-la. — A velhinha levantou algo semelhante a uma bengala, feita com um galho de árvore e indicava a direção do palácio. 

Henry tratou de seguir seu caminho. Velhinha estranha, o que ela queria dizer? Analisou sua roupa pensando que havia alguma coisa errada pela forma como ela o olhou. Gênio forte? Ele não permitiria que isso atrapalhasse seus planos mas seria interessante lidar com ele. Mulheres, não é possível agradá-las totalmente nunca! Então se lembrou do outro motivo pelo qual estava tão atrasado: demorou ajudando sua amiga Celeste com um baú muito pesado que ela achou em casa. Quem guardaria um baú velho como aquele?

— Celeste... — Chegou a conclusão que era melhor não contar a seu pai sobre ela.

Quando entrou no palácio as pessoas já saiam para o Salão, o que significava que a maioria já cumprimentara a Imperatriz. Isso era ruim já que ela logo perceberia que Henry não estava presente no momento. Seria o mais cortês possível para tentar apagar essa falta e se desculparia se ela questionasse. Com as palavras prontas começou a se aproximar quando alguém o segurou pelo braço.

— Henry.

— Pai, como o senhor está?

— Bem.

Agenon o observava atentamente como se quisesse descobrir o que trazia no fundo da alma. Há pouco tempo parecia que ele tinha acabado de nascer e agora na sua frente, vestido com elegância, barba feita e mais alto do que ele, esse dia parecia muito distante. Ele tinha os olhos acinzentados como o da mãe, Elba, e o cabelo castanho-escuro.

— Você está um tanto atrasado.

— Estive resolvendo algumas coisas na Guarda.

Seu pai estreitou os olhos, provavelmente pensando se era verdade ou não o que dizia.

— Claro. Muito trabalho até tarde eu suponho.

— Sim, esses dias foram agitados. Toda essa preparação me tomou algum tempo.

— Sim, é um dia importantíssimo. Sei que tem se esforçado muito mas mentir não vai te ajudar a conseguir o posto que tanto deseja. — Fez uma breve pausa contemplando o rosto surpreso de seu filho. — Vou te levar até a Imperatriz antes que ela saia para o Salão e você não fale com ela.

Virando-se, Agenon seguiu a passos firmes em direção ao trono. Como ele sabe o que eu pretendia? Eu mesmo não paro mais que uma hora na semana para conversarmos

Mesmo intrigado Henry o seguiu. A Imperatriz recebia os cumprimentos de um homem, que a julgar pelas roupas era comerciante, mas quando seu pai se aproximou o homem deu uma desculpa e saiu. O Conselho tinha esse efeito. 

— Imperatriz, gostaria de lhe apresentar meu filho, Henry. Provavelmente já o viu algumas vezes com a Guarda mas fez questão de vir saudá-la.

— Meus cumprimentos. Estou certo de que todo o reino está muito contente com sua coroação. Será uma honra servi-la, Imperatriz. — Disse se colocando sob um dos joelhos e de cabeça curvada, tal como os outros fizeram.

Diana olhava com atenção. Agenon se retirou devagar enquanto ela estava entretida e tratou de dispensar discretamente para o Salão as pessoas que ainda restavam para conversar com ela.

— Obrigada. Será um desafio e um aprendizado muito grande. Farei o melhor que puder por todos.

Seus olhos traziam sinceridade. Agora de pé, ele reparou que de fato o vestido era mais simples do que imaginava, diante do que todos falavam que ela usaria. As joias eram discretas e a tiara completava muito bem a imagem de uma jovem segura, o poder em suas mãos. Não reparava tanto na garota nos últimos meses mas parecia que tudo se encaixava muito bem. Era só um pouco mais baixa que ele; de um moreno dourado, cabelo castanho-escuro emoldurando seu rosto e olhos castanho-claros. Não era por acaso que a Guarda andava comentando mais ainda sua beleza, já que parecia que ser coroada a tinha aumentado.

— Com licença, Imperatriz. Os convidados estão esperando sua presença no salão.

Marcon, filho de Clermon e Aurora, se aproximara dos dois. É 9 anos mais velho que Diana, alto, os cabelos negros muito bem penteados, os olhos cor de mel, com algumas rajadas verdes. Brigavam muito quando crianças mas se aproximaram nos últimos anos. Olhava Henry com ar superior, talvez se perguntasse o que estava conversando com ela.

— É claro. Marcon, já conhece Henry, integrante da Guarda?

— Não. Ainda não fomos apresentados. Como está Henry?

— Muito bem. Creio que já nos vimos nos treinamentos da Guarda, afinal, você também é um dos integrantes.

— Sim, que distraído eu sou. Sou péssimo em gravar nomes. — Com uma breve pausa finalizou. — Desculpe incomodá-la, mas os convidados a esperam.

— Conversamos depois, Henry.

Contrariada, Diana se colocou a caminho para o salão, seguida de perto por Marcon. Henry observou o casal com desgosto. Não fomos apresentados. Priminho metido. Tinha que aparecer logo agora.


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Notas finais do capítulo

Quem será o inimigo da Imperatriz? Ou seria mais de um?
Gente o pai de Henry foi curto e grosso. Ele é assim mesmo.
Sarah é um amor de pessoa...

Com esse capítulo fechamos a coroação. Daqui para frente vamos ver como Diana se sai e conhecer outros personagens.



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