Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 24
Capítulo XXIII - A morte manda recado


Notas iniciais do capítulo

Queridos (as) leitores (as)!!! Como estão?
Estou muito atrasada né? Então nada de enrolação nas notas iniciais.

Vocês bem tem que Henry foi condecorado General, John e sua esposa partiram e que alguém morreu, certo?
Vamos descobrir nesse capítulo quem foi.



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O silêncio anormal da manhã me surpreendeu mas me senti grata por não ter que falar muito. Estava agitada internamente e ficar em silêncio me ajudava a não falar o que não deveria. Todos tomaram o café da manhã sem pressa, ensaiando meias frases a mesa. Desde o dia da partida de meus tios para o litoral, três semanas atrás, alguns se tornaram mais taciturnos.

Não conseguia esquecer aquela manhã. Tão logo o dia amanheceu e a saudade já se fizesse presente, Bernardo me levara até o local no qual encontraram um homem caído e para minha tristeza, ele estava morto.

— Algum de vocês viu o que aconteceu?

— Não, Imperatriz mas nós o encontramos deitado de bruços. – Respondeu um dos guardas.

— Quem o encontrou primeiro?

O silêncio inicialmente foi minha resposta enquanto eles se encaravam, como que decidindo quem falaria. Um jovem alto, de cabelos negros e tez morena, que certamente despertaria suspiros em muitas pela sua beleza, respondeu cauteloso.

— Imperatriz, eu o encontrei aqui enquanto fazia minha última ronda.

Eu não me recordava de tê-lo visto antes no palácio mas seu modo de agir lembrava com certeza alguém que participava há algum tempo dos treinamentos.

— Qual o seu nome e há quanto tempo está na Guarda?

— Me chamo Aaron Vilain, soberana. Tenho a honra de servi-la há sete meses.

Os demais se encolheram como que temendo estar manchada a honra do novato. Era comum eles se preocuparem com isso e evitarem se envolver em qualquer coisa que pudesse lançar desconfiança sobre eles ou sua família. Ele não parecia estar mentindo nem demonstrava nervosismo.

— Vamos levá-lo para dentro. Solano, chame Thompson com urgência. Precisamos saber o que aconteceu.

Vi Robert se juntar ao grupo de pessoas cada vez maior ao redor do corpo. Se Aaron estava terminando seu turno então havia outros na mesma condição. Poderia ser que alguém tivesse presenciado algo anormal.

— Robert, preciso que todos os guardas que estão terminando o turno estejam presentes na sala do trono imediatamente. Por favor, faça chegar ao ouvido de todos.

Enquanto eles o levavam, abracei Nãna que sufocava os soluços com um pano de cozinha e caminhamos para dentro com minhas lágrimas se juntando as dela. Fiquei ainda mais atordoada ao ver, por entre a túnica dele, uma pena negra e reluzente como a dos corvos que me atacaram na Floresta Negra, mas parecia que eu era a única a vê-la. Era com certeza um aviso e eu sentia raiva de mim mesma por não ter ido até o fim quando estava na floresta.

Nenhum sentinela viu movimentos suspeitos durante toda a noite e foram firmes ao alegar que ficaram atentos a tudo. Eu interroguei as criadas e pedi que tentassem se lembrar de algo, por mais que pensassem que era simples e bobo porém foi em vão. Ninguém deu uma pista que pudesse levar a algum lugar e eu incumbi Henry de sondar todos novamente.

Thompson nos mostrou que não havia marcas ou arranhões mas a pele abaixo das unhas estava levemente roxa, bem como o rosto, o que leva a crer que foi asfixiado. Ele alegou que teria sofrido uma queda ou um mal súbito e a posição que caiu não colaborou em nada. Não fiquei satisfeita pois a principal pergunta era o que ele estava fazendo alí? Seu costume de caminhar pela manhã era conhecido por todos mas o que teria acontecido de errado naquele dia?

Depois que Thompson comentou com tristeza que o encontramos tarde demais, não me restava mais nada a fazer a não ser providenciar um enterro digno. Por ser um conselheiro, os familiares poderiam escolher se o enterrariam no cemitério comum ou se o deixariam na área reservada para minha família. Ele tinha sobrinhos e após reuni-los no palácio, todos decidiram que o melhor era deixá-lo aqui, visto que foi para minha família que dedicou muitos anos de sua vida.

Na manhã seguinte havia novamente muita gente nas terras do palácio. Trajando roupas em cores sóbrias, nos dirigimos para um lugar que eu evitava colocar os pés para que as lembranças não me consumissem. A frente da família seguiam três guardas com o brasão e mais quatro levavam o caixão de madeira. O brasão do reino tremulava no vento frio do outono, um prelúdio do que seria o nosso inverno.

Eu vinha logo atrás com Solano e Nãna ao meu lado, seguida do restante da família, incluindo Ariana, e por último o novo General e mais dois companheiros. Henry não estava totalmente bem e se esforçava para que não notassem e para mim era um mau começo. Um dia estávamos todos comemorando e no outro, enterrávamos um conselheiro.

Os demais membros do Conselho se vestiram de preto e seguiram silenciosos no cortejo e, como Daniel ainda estava preso, permiti que o visse antes de o levarmos. Sua comoção era profunda mas não mais do que a de Aleff, seu amigo fiel. Amparado por Agenon, teimava em se manter de pé na cerimônia, com as lágrimas a correr sem cessar.

Enquanto Zanon, um ancião responsável por cerimônias fúnebres e também por casamentos dizia belas palavras sobre Andreas Willys, minha mente vagava na noite em que ele me entregou o colar. Curiosa sobre a pedra, eu a levei até a câmara, temendo que não estivesse segura em meu quarto. Ele não disse nada sobre mantê-la em segredo mas eu duvidava que muitas pessoas soubessem da existência dela.

Quando Zanon terminou, Allef foi o primeiro a se aproximar do caixão e deixar flores brancas. Aos poucos, um por um se aproximou para fazer o mesmo que ele. Eu detestava flores daquela cor desde o dia em que as entreguei para meus pais e por isso os jardins do palácio não tinham uma só flor daquelas. Solano e o sobrinho mais novo do falecido foram os últimos, levando as vermelhas e uma tocha flamejante, simbolizando que estaria sempre em nossas lembranças. Quanto mais a chama queimasse naquele dia por sobre o túmulo, mais tempo a tristeza assolaria cada membro da família, diziam as pessoas de idade avançada.

Ao final, Solano me entregou uma medalha incrustada em pedras preciosas, a mesma que Andreas recebeu bons anos antes quando entrou para o Conselho. Eu me dirigi silenciosa até seu sobrinho mais velho, Luiz, e a entreguei. Ele a recebeu emocionado e agora ela seria uma relíquia para a família, motivo de orgulho e com certeza ficaria em local de destaque na casa. A mim só restavam mais perguntas que tenho certeza de que Solano também as compartilhava.


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Notas finais do capítulo

E é isso. Matei o primeiro personagem.
O que acharam do capítulo?
Estou escrevendo o próximo. Daniel será julgado e é a única coisa que posso adiantar.

Até mais!!