Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 2
Capítulo I - Coroação


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, lá vai mais um capítulo.
Por agora as coisas serão devagar mas depois esquentarem, espero que se segurem.
Quero postar um capítulo por semana. Estou revisando os que já tenho e incluindo algumas informações.
Esse capítulo se passa 13 anos depois do prólogo, Diana tem 18 anos e vai assumir o trono. Incluí um pequeno diálogo entre os pais dela após a noite da morte de Adones, do capítulo anterior.
Espero que gostem.



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Flash Back

Frida caminhava de um lado a outro no seu espaçoso quarto no palácio. A cama ainda arrumada, mesmo sendo tão tarde, fazia contraste com a escrivaninha abandonada à desordem das folhas espalhadas. As cortinas combinavam com sua inquietação: o vento as balançava sem piedade e se movia pelo quarto; frio e impiedoso.

— Você também não consegue dormir? — Arth entrara no cômodo a passos lentos com uma pergunta que soava mais como afirmação. Seus olhos castanhos escuro observavam atentamente sua esposa, que lhe respondia com um olhar que dizia mais do que palavras.

— Ela está dormindo como um anjo. Não há com o que se preocupar, tudo já passou. — Disse envolvendo-a em um abraço protetor e afagando seus cabelos.

— Sinto como se não tivesse acabado mesmo com a morte desse traidor. Mamãe não devia tê-lo mandado para longe, isso só piorou as coisas.

— Anna fez o que era conveniente 20 anos atrás. Expulsá-lo foi a melhor opção.

— John e Martha perderam um filho — as palavras saíram entrecortadas — Telamon, esse traidor, aprendeu a manejar magia e...

— E você vai ensinar nossa filha a fazer o mesmo, só que melhor e bem mais forte. Ou está pensando em nos deixar? —Arth a envolveu ainda mais em um abraço terno e ela repousou a cabeça em seu peito. — Se esqueceu que não há uma só pessoa na família, além de você, capaz de controlar a Joia?

Seu sorriso divertido dizia que estava brincando sobre Frida abandonar o palácio. Ela se afastou um pouco e olhou seu marido com carinho, agradecendo por ter encontrado alguém que a completava tão bem. O coração vivendo aquele momento, a mente perdida em questionamentos e mal sabia ela que o perigo estava à espreita.

 

**************

 

Kandor é um reino localizado em uma vasta planície e rodeado de rica floresta e montanhas. Seu equilíbrio reside na magia de uma pedra, controlada desde muito tempo por alguma das integrantes da família Wood, que ocupam o trono desde que o reino foi criado. Nunca existiu um só homem capaz de realmente usar esse poder. Não que os registros da história contassem até agora.

O passado do reino foi perdido no tempo tal como as histórias que se tornam lendas e assim não se sabe a origem da Joia, apenas que foi guardada durante anos por temerem que um dia alguém pudesse descobrir como usar seu poder contra os habitantes ou para dominar os reinos próximos. Ela pode criar o que a mente humana não imagina que seja possível e proteger aquele que a detém. Alguns pensaram em destruí-la mas isso afetaria diretamente todos os que estivessem no reino.

Praticamente no centro dele se localiza o palácio, imponente construção formada por tijolos e pedras e composto por três andares. É a residência de toda a família da Imperatriz e seu Conselho, que em geral, são pessoas que se dedicam exclusivamente ao seu serviço. Além dos jardins belíssimos e de uma grande biblioteca, há também o estábulo e uma área de treinamento para os guardas.

As ruas do reino, calçadas por pedras, são muito movimentadas em quase todos os dias da semana devido às atividades de seus habitantes, mas hoje a cidade está agitada por um motivo especial. As casas decoradas com fitas verdes e brancas, janelas abertas com moças a admirar a multidão que se espalha lá embaixo; tecidos amarrados de uma varanda a outra e crianças correndo pelas ruas. No centro do reino, há ainda mais colorido nas casas que circundam o palácio e seu branco muro suntuoso. Nem sempre houve um muro ali mas agora as pessoas não parecem se importar tanto com isso ou procuram não lembrar do motivo pelo qual o ergueram.

O sol entrava pelas amplas janelas do palácio naquele verão, os jardins estavam cheios de cores e todo o lugar pulsava agitado como um coração que recebeu uma carga de adrenalina. Pelos corredores guardas e serviçais se apressavam em conferir se estava tudo pronto para a comemoração. Tudo deveria sair perfeito, afinal só se é coroada uma vez.

Diana contemplava pensativa sua imagem no espelho: ansiava por aquele dia e agora que chegara não sabia muito bem como agir. Toda aquela atmosfera de comemoração, todo o povo esperando por ela, atento a seus movimentos.

— Independente de como estiver não devo permitir que ninguém saiba. Sou a Imperatriz e devo me mostrar segura. O reino depende disso. Nunca vão confiar em mim se eu me mostrar fraca.

Diana, você não vai descer?

Focada no que dizia ela não reparou que alguém tinha entrado no quarto. Ariana estava parada a alguns passos da porta, corpo perfeitamente ereto, a euforia estampada em seus olhos verdes, que combinavam perfeitamente com sua pele bronzeada. Quando criança foi encontrada pelos guardas perambulando pelo jardim, para confusão de todos que não conseguiram entender como ela entrou sem ser vista e Diana interveio, ávida por ter com quem brincar além dos primos. Foi bom ter uma pessoa que não lhe fizesse centenas de reverências ao dia, que para variar visse alguém além da futura Imperatriz.

— Você não consegue esperar, não é?

— É que eu tenho esperado isso desde que éramos crianças. — Disse se aproximando com um sorriso. — Alguma coisa errada?

— Não. Estou só pensando. É que as vezes não acredito que esse dia chegou.

— Eu também não! Lembra quando a gente recortou a cortina pra fazer um vestido pra você, um que parecesse com os que sua mãe usava?

— Lembro também que levei uns puxões de orelha. — Disse cruzando os braços e olhando feio pra outra. Ariana era alegre praticamente todo o tempo e isso quebrava a seriedade que Diana foi obrigada a assumir desde criança.

— Eu sei mas se você não quiser a gente pode sair pela janela, pegar uns cavalos, fugir e ir morar nas montanhas, frias e cheias de neve. A sua amiga aqui iria com você. Pra que servem os amigos?

Diana continuava de braços cruzados e agora com um sorriso de lado. Ariana foi uma amiga fiel todos esses anos. Algumas pessoas queriam que ela fosse sua dama de companhia mas estava claro que ela era muito mais do que isso; para a inveja de alguns. Era sua confidente e seu apoio em todas as horas.

— Avise que vou descer, mas para o salão.  Nada de janelas hoje.

Na Sala do Trono, os membros do Conselho dividiam espaço com os guardas atentos, alguns comerciantes e representantes do povo de Kandor; aguardando ansiosamente pela chegada de sua futura Imperatriz. Solano, o chefe do Conselho, observava os convidados mais próximos da porta de acesso ao salão conversarem: se a Imperatriz chamaria mais guardas ou se abriria definitivamente os portões. Preocupavam-se com qual seria sua primeira ordem e sobre a vigilância nas Montanhas do Desespero. Nesse ponto os pensamentos se perderam e não houve mais assunto que lhe interessasse. As Montanhas eram vigiadas constantemente para que ninguém se aproximasse do local, por vontade própria ou por engano. Embora ficassem muito afastadas da área central do reino, não era aconselhável permitir que alguém entrasse na região, primeiro pela mata que ficava aos seus pés, a qual deram o nome de Floresta Negra alguns anos atrás, e segundo por ter sido o esconderijo de um dos inimigos do reino. Após sua expulsão por seus crimes pela Imperatriz Anna, se instalou nas Montanhas de onde observava o reino e tramava para tomar o trono e lançar a escuridão sobre todos. O desfecho dessa história foi de longe o pior mas o que viria depois o deixara com mais responsabilidades do que julgava ser capaz de lidar: educar a filha da Imperatriz Frida com Arth, antigo chefe da Guarda.

— Solano? Solano? Está com a cabeça perdida em algum lugar fora da Terra?

— O que há com você hoje Solano? O primeiro sol do verão já lhe torrou todos os miolos?

Os seis explodiram em gargalhadas que sacudiram as cabeças mais brancas e as mãos mais enrugadas dos membros antigos no Conselho. Andreas e Allef: os dois mais engraçadinhos do grupo adoravam fazer piadas dos outros membros e de quem achassem pelo caminho que lhes aborrecesse. Embora Solano fosse o chefe, e também o mais novo de todos com 50 anos, não escapava quando resolviam pegar em seu pé. Certamente o fato de ser o mais novo e ter todo o apoio da Imperatriz anterior, contribuiu para ser um dos alvos preferidos. Magno era o segundo mais novo, com 55, e concorreu junto dele; tinha um humor um tanto negro de vez em quando mas era com certeza resultado da idade que chegava. Dizia não ter rancor por perder o cargo, contudo no fundo todos sentiam certa oposição. Daniel não tinha ainda nem a metade da metade dos cabelos brancos dos outros, porém havia dias que parecia mais rabugento que a maioria, por vezes se mantendo afastado dos demais e sério frente as piadas. Costumava concordar com as decisões mas quando era o contrário, sua tendência era discutir fortemente. Sarah era a única mulher no grupo, ria especialmente de Solano e provocava sempre que podia. Conquistou o lugar devido a grande influência entre o povo e apoiou fortemente a Imperatriz Frida, se tornando uma de suas mais fiéis amigas. Agenon também soltou algumas gargalhadas e agora o olhava pensativo. Era um homem cuidadoso, nunca tomava uma decisão precipitada.

— Vocês não tem o que fazer além de rir as custas dos outros?

— Não se zangue Solano. Só queremos saber o que passa na sua cabeça. — Sarah sorria com um brilho perigoso nos olhos.

— Com certeza na nossa nova Imperatriz, motivo de estarmos todos aqui.— Magno sorria ainda mais misterioso do que antes.

— Será que consegue pensar em alguma coisa depois do sol ter torrado seus miolos?

Queria dar uma resposta muito boa e calar a boca de todos mas viu Ariana descendo e comunicando algo aos guardas que se postaram dos dois lados da escada que dá acesso ao salão principal do palácio.

— Tenha mais respeito Andreas. A Imperatriz está chegando.

Descendo as escadas lentamente Diana se preparava para o que seria o acontecimento mais importante de sua vida. Usava um vestido branco e longo de manga estilo acampanada com detalhes verdes, as cores do reino. A cintura foi levemente marcada por uma fita também verde, descendo até a barra do vestido, bordada com primor. Ficará ainda mais bonita e elegante, dissera Nãna, e teve de concordar pelo menos em alguma coisa depois de rejeitar as outras 100 ideias dela do vestido perfeito. Não queria dar a impressão de ser alguém que ela não é usando um vestido luxuoso demais, principalmente por se tratar de uma comemoração diurna. Embora Nãna estivesse com ela há muitos anos, estava claro que pensava no momento da coroação, no qual deveria mostrar a que veio e estar elegante, e não em ser ela mesma. O cabelo castanho escuro estava solto em cachos, emoldurando seu rosto levemente moreno de longas horas ao ar livre, nas cavalgadas ou passeios pelas ruas do reino, mesmo que tivesse de fugir deixando Solano e Nãna com os nervos à flor da pele.

Os convidados se aproximaram ainda mais do trono quando ela entrou na Sala, passando pelos conselheiros. Olhando fixamente para Solano, esperava se lembrar de tudo que fora ensinado todos esses anos. Sabia que não seria uma tarefa fácil mas desejava ser tão querida quanto sua mãe fora.

Clermon, seu tio e então governante de Kandor, aguardava para a cerimônia. Sorrindo lhe estendeu a mão e substituindo os pais de Diana, ele iniciou a cerimônia falando o quanto estava feliz por ter chegado o momento de passar o trono para a real sucessora de sua irmã Frida. Os convidados bateram palmas e olhando para eles Diana se perguntava o que estariam pensando dela, sentia-se estranha tendo toda atenção voltada para si. Não era a mesma coisa participar de um jantar ou reuniões quando seu tio ainda ocupava o trono e agora se imaginar respondendo as perguntas como única responsável por todo o reino. Sentia medo, porém não deixaria transparecer e sorrindo, tentou pensar em seus pais e em como dirigiam o reino. Sua mãe sempre dizia que tudo ficaria bem e que não haveria com o que se preocupar; sentia-se protegida e há anos a proteção acabou. Solano e Nãna tinham se desdobrado para suprir ao máximo a falta deles e seu tio, assim como toda a família, tentaram mantê-la alegre e longe de lembranças ruins, exaltando a bravura do pai e o quanto sua mãe fora correta com todos, mas tudo isso não foi a mesma coisa que tê-los por perto. Só sabia que faria de tudo para não desapontar as pessoas mais especiais para ela e, sobretudo, o povo de Kandor.

Perdida nesses pensamentos Diana se surpreendeu quando Clermon finalmente levantou a tiara, composta por vinte e seis pedras azuis, dispostas em linha de um lado a outro, e uma gema, da mesma cor incrustada no centro dela. Ao redor delas, pequenos diamantes foram colocados para finalizar a peça. O local explodiu em aplausos e surpresa, ela observou seus rostos animados, se deixando levar pela euforia do momento.


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Notas finais do capítulo

Bem, não foi dessa vez que os pais de Diana puderam ensinar a ela o necessário.

Personagens novos na área. Imaginaram alguma coisa sobre o Conselho ou sobre o tio de Diana?
E essa amiga que adora confusões?
Postarei depois uma imagem da tiara que ela usou.



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