Entre elfos e vampiros escrita por neko chan


Capítulo 36
A garota na aldeia


Notas iniciais do capítulo

esse capitulo vai ser narrado pela Jackie



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— Ter que andar para chegar em algum lugar. - suspiro - Que primitivo. - chuto algumas folhas e flores caídas no meu caminho

— Não temos muita escolha, os outros levaram o carro para a mina. - Emma responde olhando distraidamente para as árvores floridas junto com Meren, ela abraçava o braço de Emma e eu podia escutar meus corações batendo no mesmo ritmo

— Que inveja. - murmuro andando alguns passos a frente

— O que disse? - Meren pergunta

— Eu disse que estou com fome. - minto - Espero que tenha boa caça por aqui, afina, é primavera, então onde tem 1 tem 2 ou 3 no mínimo

As garotas dobram para a direita saindo da trilha, após alguns segundos de caminhada eu vejo a aldeia, casas de madeira comuns, crianças brincando, adultos conversando, idosos cochilando juntos, guerreiros treinando e pais voltando para casa com a caça do dia e sendo elogiado por suas mulheres, era tudo tão assustadoramente normal.

Emma e Meren começam a andar para a maior casa dali, eu as seguia com as orelhas abaixadas e me escondendo vez ou outra, sempre que passava perto dos outros eles sentiam meu cheiro e me olhavam com um olhar ameaçador, sentiam aquele cheiro de humano, o cheiro que herdei de meu pai. Meu pai era um humano e humano são assassinos, vez ou outra ele surtava e se tornava violento, ele nunca fez nada de mal para mim, minha mãe ou meus avós, sempre que ele se descontrolava ele se acorrentava bem longe de nós, meu pai foi um homem gentil e minha mãe, uma lobisomem, se apaixonou por ele mesmo ele sendo humano, mas os outros lobisomens... eles nunca entenderiam isso. Ao ver os adultos me encarando e levando as crianças para dentro, alguns já em forma lupina se aproximando sorrateiramente percebi que qualquer passo em falso poderia levar a minha morte em poucos segundos, isso me lembrou do dia em que aquela mesma espécie matou meus pais, a raiva pelas lembranças daquele dia me deixavam descontrolada e eu podia sentir meus dentes e unhas crescendo gradualmente, usava toda a força possível para fazer parar e sentia meu corpo doendo como se estivessem me espetando com agulhas da cabeça aos pés.

Finamente chegamos até a porta da casa, aqueles segundo pareceram horas de caminhada, Emma bate da porta e duas garotas a abrem, uma morena e uma ruiva, as duas cheiravam como flores desabrochando, elas tinham o mesmo cheiro, então assumi que eram parceiras, a ruiva também cheirava a leite e sua barriga estava bem grande, provavelmente seus filhotes nasceriam em algumas poucas semanas.

— Finalmente vieram visitar. - diz a morena sorrindo

— Sentimos falta de vocês. - a ruiva acaricia sua barriga

— Desculpe, esses meses foram terríveis, não tivemos um segundo de descanso, essa semana dos dragões veio para salvar nossas vidas. - Meren diz animada

— Nem me fale, tem sido bem complicado caçar desse jeito, os animais grandes fogem para bem longe com medo deles quando começam a passar. - a morena sorri, mas logo para ao farejar levemente e me encara seriamente se posicionando a frente de sua parceira, provavelmente seus instintos a fazendo proteger os filhotes - Essa garota..... vocês a trouxeram? - parecia assustada e com raiva ao mesmo tempo

— Ah, sim. - Emma vem para perto de mim e segura meu ombro - Essa é Jackie, Jackie, essas são Safira e Madeleine. - aponta para as garotas

— É um prazer. - dou um passo a frente e estendo a mão para Safira, que solta um leve rosnado e mostra os dentes, Madeleine parecia atenta atrás dela, mas sem parecer muito ameaçadora

— O que deu em vocês duas? - Emma pergunta se colocando a minha frente e Meren me puxa me abraçando pelos ombros para me proteger

— Ela cheira a humano, cheira a sangue... - Safira parecia seriamente furiosa

— Humana? - Emma e Meren me olham confusas e eu me encolho envergonhada, apenas nesse momento percebi o quão em perigo podia estar, mal conhecia aquelas duas e os lobisomens dali não hesitariam em me matar na primeira oportunidade

Eu me abaixo fugindo dos braços de Meren e corro o mais rápido que posso em direção à floresta, me escondo em um arbusto grande que encontro depois de ter certeza que estaria bem longe, respiro fortemente tentando recuperar o fôlego, estava cansada, triste, perdida e sozinha, como quando Leo me encontrou quando ainda era filhote, algum tempo depois dos meus pais morrerem, eu abraço meus joelhos e me permito deixar as lagrimas saírem.

Fiquei na mesma posição por um tempo até escutar um barulho, parecia o som de pequenos ossos quebrando, enxugo as lágrimas e saio do esconderijo, ando com passos leves como fui treinada para fazer para trabalhar como assassina, vejo uma garota sentada a alguns passos de distância, vestido preto com as bordas sujas de terra e lama, cabelo preto e longo, cheirava a sangue e exalava um instinto assassino impressionante, as chances de estar ali para me matar eram grandes. Permito que as unhas de uma das minhas mãos cresçam e me aproximo sem a deixar me ouvi e pulo nas costas dela ficando por cima da garota com uma mão em seu pescoço e a outra, a com unhas afiadas, perto de seu rosto a ameaçando.

— Humano... - ela sente o cheiro - Sangue... - continua farejando, mas, no lugar de seu instinto assassino aumentar, ele foi diminuindo gradativamente

Olho para o lado e vejo um esquilo de penas morto no meio das folhas.

— Você fez isso? - pergunto

— Fiz. - responde neutra

— Você vai come-lo?

— Não

— Então por que?

— Porque não posso matar uma coisa maior

Eu a olho por um tempo, sinto o cheiro de sangue nela, não apenas do sangue em suas mãos, um cheiro muito mais antigo impregnado nela, saio de cima da garota, que se senta na minha frente me olhando de cima a baixo.

— De onde você é?

— Da aldeia que você acabou de sair

— Como sabe que eu...

— Senti o cheiro. - me interrompe - Eu odeio aquele lugar

— Por que?

— São todos muito iguais, simples, normais...

"Normais" essa palavra tão assustadora que eu nunca havia tido, nunca tive nada em mim que pudesse ser considerado normal, minha família, meus amigos, eram todos diferentes do que poderia ser considerado normal aos olhos de qualquer um.

— Me diga... - ela se inclina pra frente ficando de quatro perto de onde eu estava sentada - De onde você é?

Fico calada por um tempo encarando minhas pernas cruzadas e rasgando algumas folhas do chão.

— Entendo. - ela volta para onde estava - Acho que é melhor eu ir. - Se levanta

— Espere... - eu inconscientemente estico um braço em direção a ela - Não vá... - estava com medo de ficar sozinha, a garota se senta bem mais perto de mim do que antes e me encara - Você não tem medo de mim?

— Eu deveria ter?

— Claro que sim, eu sou metade humana

— Então é uma assassina, é isso que quer dizer? - balanço a cabeça afirmativamente - Não preciso ter medo de alguém como eu

— Você não cheira a humano

— Não disse que sou. - ela coloca o rosto muito perto, sentia o cheiro de sangue muito mais forte, notei seus olhos vermelhos, a pele branca, as orelhas de lobo negras saindo de sua cabeça que tinham uma ponta branca - Mas não precisa ser humano para ser um assassino

Ela se levanta e estende a mão para mim me levantando junto, a garota começa a me rodear sentindo o meu cheiro.

— Sangue.... - dá um leve sorriso - Tão doce e atraente... - seus dentes começam a parecer e seu pelo cresce muito, estava se transformando - Eu quero sentir mais esse cheiro. - a garota crava suas unhas nas minhas costas e tenta morder meu pescoço

Seguro sua cabeça a frente da minha, elas estava perto, muito perto, sentia seu bafo quente em meu rosto, seus olhos vermelhos tremiam de excitação com a vontade de rasgar minha carne, podia sentir que ela queria mesmo acabar com aquela vontade, queria uma presa maior do que um esquilo de penas. Acaricio sua cabeça, não entendia bem o motivo, não estava sendo movida por lógica naquele momento, eu me sentia fascinada, fascinada pela forma como ela me olhava, como ela se parecia comigo, como ela me lembrava meu pai quando se descontrolava, fascinada com seu cheiro, que agora se parecia tanto com o cheiro que sentia em mim mesma e tão odiava até poucos segundos atrás, fascinada com aquela expressão assustada ao notar meu sorriso logo após ela tentar arrancar minha cabeça com os dentes.

— Você não fugiu. - sinto as unhas dela voltando ao normal e saindo das minhas costas, os pelos voltaram ao tamanho normal e ela ajeitou o cabelo na frente do rosto como antes - Por que?

— Porque..... - tentei pensar numa resposta - Me pergunto o mesmo...... acho que não odiei a ideia

— A ideia de perder a cabeça? - ela ri baixo se escondendo atrás do cabelo

— A ideia de perder a cabeça para você. - dou um sorriso de volta

— Você é realmente uma garota estranha. - sussurra em meu ouvido fazendo meu corpo estremecer meu minha cauda balançar inconscientemente - Você ficou assim só com isso? - ela se afasta rindo

— Você diz isso mais... - aponto para sua cauda que também balançava - Não sou a única gostando disso aqui

— Ok, me pegou. - coloca uma mecha do cabelo para trás da orelha, deixando apenas o lado direito do rosto coberto pelos cabelos negros - Agora deite

— Deitar?

— Isso, vamos, deite!

Obedeço e me deito de barriga para cima no chão em meio as folhas, ela se senta ao meu lado se apoiando em um braço só.

— Se transforme. - diz sorrindo

— Eu não..... - paro por um segundo - .... você não vai gostar

— Eu não me importo

Respiro fundo e sinto minha coluna se contorcendo, pelos pequenos e cinzentos crescendo, dedos se alongando, eu parecia uma criatura humanoide cos pelos ralos cobrindo o corpo, aquelas pernas e braços tortos como uma mistura de membros normais com patas de animal, era um pouco mais magro que um lobo comum, eu odiava aquilo, odiava aquele lobo meio formado que era, aquelas patas, aqueles pelos curtos, aquele focinho, a forma meio torta que andava de duas patas com as costas curvadas, me viro de costas para a garota com vergonha daquela forma, mas ela segura meu ombro e me vira para ela.

— Você é tão bonita, por que se esconde?

— Isso não é bonito. - dou um riso fraco - É estranho

— Por isso que é bonito. - ela começa a se transformar, as patas, os pelos, o focinho, havia um belo lobo negro a minha frente, aqueles pelos longos e macios, aqueles olhos vermelhos olhando nos meus, era tão reconfortante que me fazia querer abraçar aquele animal e não sair dali numa mais, a escuridão daqueles pelos brilhava com o sol batendo em nós duas enquanto as flores eram arrancadas das árvores pelo vento forte e caiam sob nós

— Isso que é bonito. - digo

— É normal

— É bonito

— Apenas fique parada um pouco

Ela se deita ao meu lado e lambe as feridas que fez nas minhas costas, era uma sensação calma, o calor me envolvia e me deixava sonolenta, depois que o sangue parou de escorrer ela parou e voltou a forma normal, fiz o mesmo.

— Você ainda não me disse seu nome. - digo

— Preciso?

— Como vou te encontrar de novo se não souber?

— Você quer me ver de novo?

— Claro que quero

— Por que? - pensei na pergunta por um tempo, não sabia como responder, se era por me sentir bem com ela ou por saber que tinha alguém como eu, se era o seu cheiro ou o conforto que ela me trazia

— Porque eu quero

Ela sorri e se deita ao meu lado olhando para cima sem falar nada por um tempo.

— Eu estou indo embora. - diz finalmente

— Por que?

— Não quero ficar aqui, esse lugar, essas pessoas, esse ambiente..... eu não quero isso, é tudo muito.....

— Normal?

— Isso.... normal

— Você quer vir comigo?

— Com você? Pra onde?

— Pra onde formos mandadas. - suspiro - Não é um lugar legal, fazer trabalhos desagradáveis, vivemos muito tempo escondidos, mas é um bom lar, todos são esquisitos e muito acolhedores, algumas vezes sinto até que sou da mesma espécie de um leão, um elfo, uma raposa, uma fada e duas bruxas

— E você quer me levar com você?

— Não vai ser fácil, teremos que enfrentar muitos problemas, mortes o tempo inteiro, invasões, recuperações de coisas roubadas....

— Eu quero ir com você

— Tem certeza disso?

— Eu quero. - ela se vira e fica por cima de mim se apoiando em seus braços e joelhos - Me leve com você - se abaixa um pouco deitando em cima de mim, o peso dela no meu corpo de deixava incomodada e agitada ao mesmo tempo

— Se me disser seu nome

— Lena

— Jackie

— Jackie... - ela repete acariciando meu rosto - Você vai me tirar daqui?

— Agora mesmo

Nós nos levantamos e vamos de volta a aldeia, os outros pareciam ficar ainda mais na defensiva com duas de nós, pareciam furiosos, mas Lena segurava minha mão com força e andava de cabeça erguida.

— Jackie! Onde diabos você estava? - Emma pergunta preocupada

— Pelos mestres, eu quase morri de preocupação - Meren suspira

— Eu encontrei. - digo dando um passo a frente

— Encontrou o que? - Emma pergunta

Puxo Lena cuidadosamente para mais perto de mim.

— Eu vou leva-la comigo. - digo sorrindo

— Emma, querida, Jackie sequestrou uma garota. - Meren sussurra rindo


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Notas finais do capítulo

perdão pelo tamanho



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