Hoje era o ultimo dia de nossas lições sem magia, graças à Maya conseguimos passar sem problemas, foi a primeira vez que passamos pelo percurso sem cair nenhuma vez, Lucius nos parabenizou, dentre todos os novatos a maioria passou, apenas 5 ou 6 reprovaram, mas o importante agora era que eu, Meren e Max havíamos passado, Maya inclusive nos parabenizou e disse que não deveríamos mais incomodá-la a menos que fosse extremamente importante, eu entendi como um "não odeio vocês tanto quanto odiava antes".

Na hora do almoço fomos todas juntas para a sala de alquimia e contamos a novidade para Serafina e Francine.

— Mesmo? Vocês passaram? Isso é ótimo! eu sabia que vocês conseguiriam! - Serafina diz animada com muito macarrão instantâneo na boca

— Foi difícil para vocês na primeira vez que fizeram isso?

— Não realmente, mas só fizemos um dia desses 3 meses e o resto do tempo passamos dentro dessa sala fazendo armas

— Um dia? Por que?

— Porque passamos de primeira. - ela continua comendo - Fran, querida, coma seu macarrão antes que esfrie, as armas de lava podem esperar até você terminar de comer. - ela pega os instrumentos de trabalho da amiga e os deixa de lado enquanto Francine suspira e faz uma cara emburrada pra ela. - Nada disso, você sabe que se não comermos não poderemos dar nosso melhor na dominação mundial, já tentamos ficar sem comer e não tivemos um resultado agradável

Francine apenas aceitou e começou a comer, eu ainda estava impressionada com o fato de as duas terem passado por aquela pista quase impossível logo de cara.

— E Maya? - pergunto

— O que tem ela? - Serafina responde ainda concentrada na refeição

— Ela passou de primeira?

— Não, não, ela levou um bom tempo também, teve que pedir ajuda de nós

— Assim que vocês se conheceram?

— Isso mesmo

— E viraram amigas?

— Amigas? Não acho que ela nos veja tão carinhosamente

— Mas um dia já viu, não foi?

— O passado fica no passado, querida Emma

Continuamos comendo e mudamos de assunto, Serafina começou a brincar sobre como perderíamos nossos músculos a partir de agora, porque o treino iria se intensificar o triplo. Esse dia foi normal como todos os outros, com apenas um pequeno problema, os generais responsáveis por nós começaram a achar armas clandestinas sendo guardadas com soldados não autorizados, ou seja, alguns de nós estávamos portando armas perigosas e proibidas, Serafina e Francine foram as primeiras interrogadas por nossos superiores e acabaram tendo de ficar sob vigilância, elas voltaram para o quarto bem tarde naquela noite.

— Poxa, poxa, por que será que fomos as primeiras suspeitas? Nunca fizemos nada de mal aqui por enquanto, Fran. - Serafina entra no quarto suspirando

— Talvez porque sejam as que fazem armas todos os dias quase 16 horas por dias? - Meren responde tirando os olhos do cabelo de Maxine, onde fazia tranças, para encarar as duas

— Ainda não é justo! - Serafina se joga dramaticamente de cara na cama e Fran senta encima de suas costas - Obrigada, amiga, mas isso não vai ajudar hoje. - Francine a cutuca fazendo Sefi virar o rosto e olha-la, ela a encera em silencio por alguns segundos e Serafina mudou sua expressão, ficando automaticamente feliz de novo - É isso, é isso, parceira, essa é a única coisa que pode me animar essa noite! Vamos sair por um tempo, não nos esperem acordadas! - ela puxa Francine e a carrega em um braço enquanto pega dois casacos dentro do baú com a mão livre

— O que acha que vão fazer? - Meren me pergunta

— Provavelmente só coletar coisas perigosas ou venenosas por ai, talvez colocar fogo em algum lugar da floresta e fazer um ritual

— Isso é cruel de se dizer. - ela ri e volta a cuidar do cabelo de Maxine, que pendia a cabeça sonolenta

Quando Maya chegou no quarto apenas reparou que as camas das duas estavam vazias e elas não estavam conosco, que jogávamos xadrez no chão, ela apenas fez uma expressão seria e sussurrou para si mesma um "de novo?" e voltou a sair do quarto. Haviam muitas coisas sobre essas 3 que eu não sabia, parecia ter uma grande historia não contada em cada ato delas, mas nem Serafina nem Maya pareciam dispostas a falar sobre isso e Francine DEFINITIVAMENTE não contaria nada, Meren concordava comigo nesse quesito. Fomos nos deitar um pouco mais cedo, Maxine dormia profundamente em sua cama enquanto eu conversava com Meren na nossa cama conjunta.

— Amanhã é o grande dia. - ela disse animada

— Vamos usar magia até esgotarmos, espero que 3 meses não tenham nos enferrujado

— Talvez até possamos aprender a usar armas feitas de emoções como o papai nos mostrou uma vez

— Ah, verdade, lembro do quão animada ficamos quando ele mostrou, mas acabamos nunca pedindo para ele ensinar. - rimos e depois eu a encarei por poucos segundos - Quando estivermos em um posto amis alto e tivermos a oportunidade de escolher entre trabalhar em outra cidade ou ficar dentro de um quartel em tempo integral, o que vamos fazer?

— O que quiser dizer com isso? É obvio o que vamos fazer

— O que então?

— Vamos comprar uma casa em Verafenda, uma afastada do tumulto das feiras e dos portos e que fique relativamente perto de onde Safira e Madeleine moram, vamos construir nossa vida, casar e ter muitos filhos

— Não lembro de ter concordado com nada disso. - rio

— Vai dizer que não é um bom plano?

— É um ótimo plano. - eu a dou um beijo

— Não tem ninguém aqui e Maxine dorme igual a uma pedra, acho que poderíamos... - ela coloca a mão por dentro da minha blusa - Nos divertir um pouco, não acha?

— Também é um bom plano

Eu continuo a beijá-la enquanto ela passa as mãos pelas minhas costas e vai tirando lentamente minha blusa, mas logo paramos com o susto ao ouvirmos a porta se abrindo violentamente. Serafina e Francine estavam na porta de mão dadas, Francine continuava com sua expressão de sempre e Serafina sorria como de costume, estiquei o braço e liguei o interruptor ao lado da minha cama, com o quarto iluminado pude notar que as duas estavam sangrando e tinham alguns cortes no rosto e nos braços.

— Estamos de volta. - Sefi diz sorrindo

— O que diabos aconteceu com vocês? - pergunto me levantando junto com Meren para as ajudarmos

— Apenas fizemos uma visita à nossa velha aldeia, fomos pegar uns ingredientes que crescem naturalmente por lá e procuramos algumas peças que Fran pudesse usar na nossa velha casa

— Ok, mas isso, não explica o que aconteceu. - Meren diz preocupada

As duas continuam em silencio, eu sabia que elas não contariam nada não importa o quanto as pressionássemos.

— Meren, pegue o kit de primeiros socorros do banheiro, por favor

Ela o buscou e ajudamos as duas a limparem seus cortes, Maya entrou no quarto um tempo depois, olhou as duas garotas e acenou silenciosamente com a cabeça para elas, que repetiram o gesto. Já com os ferimentos cuidados, as duas meninas colocaram suas roupas de dormir, Maya estava na sua cama já pegando no sono e eu e Meren fizemos o mesmo, fichei os olhos por um tempo e depois abri um só para olhar pela janela que ficava perto da cama de Serafina, ela havia puxado uma cadeira e estava sentada olhando para fora com Fran em seu colo, ambas estavam de costas para mim, então me surpreendia quando Serafina, sem se virar, falou:

— Boa noite, Emma

— ....... Boa noite, meninas