Depois que tomamos café da manhã juntas, nós 3 fomos para fora onde o resto do grupo de novatos também se misturava e esperava por Lucius. Ele nos deu as instruções sobre como ele nos treinaria, passaríamos 4 meses treinando com ele a parte física de nossos corpos, isso significava que não tínhamos permissão de treinar magia por hora, esse era um exercício importante para casos extremos onde pudéssemos ficar sem magia por algum motivo, todos no exercito da mestre deveriam estar 100% preparados para qualquer coisa.

Antes de começarmos ele chamou a melhor soldado que tinham ali para demonstrar perfeitamente como o percurso deveria ser efetuado, mas não foi surpresa para mim quando Maya apareceu, Serafina havia dito que ela era a melhor veterana dali e quando a vi passando tranquilamente por um campo cheio de minas terrestres, atravessar uma barricada com um salto, se equilibrar tranquilamente em um tronco a mais de 5 metros do chão e ainda escalar uma parede de pedras, ainda mais sendo uma centaura, o que deixou mais impressionante, eu percebi o que eles queriam dizer com "a melhor", acho que qualquer um em minha posição agora sentiria um pouco de inveja, mas só conseguir pensar em o quão empolgada estava para começar e, ao olhar Meren nos olhos, vi que ela tinha o mesmo pensamento que o meu no momento.

Lucius deu o sinal para que começássemos, dividiu os novatos em 3 grupos de 10, eu e Meren estávamos no primeiro grupo e todos saímos apressadamente para conseguirmos completa-lo, mas todos acabávamos causando a queda uns dos outros, nas primeiras vezes que caiamos não realmente nos importávamos, apenas levantávamos e continuávamos, só que depois de um tempo, quase 4 voltas pelo mesmo percurso e ainda não sendo capaz de fazê-lo perfeitamente, comecei a me sentir realmente frustrada. Fomos todos liberados ao meio dia para almoçarmos e nos limparmos, ainda bem que nossos baús vieram com roupas extras, porque eu nunca imaginária que elas ficariam sujas assim tão rápido.

Antes de comer, eu e Meren voltamos para o quarto para trocarmos de roupa, deixamos as sujas em um cesto que ficava no campo, nós teríamos que lavá-las mais tarde, porque só tínhamos tempo livre até as 14, quando teríamos que voltar para fora e continuar o treinamento. Termino de me trocar e fico em silencio por um tempo olhando para o lado de fora e deixo um pequeno suspiro escapar.

— Algo errado, querida? - Meren pergunta

— Nada demais

— Vamos, não fique assim. - ela me abraça por trás e beija meu ombro

— É apenas um pouco cansativo fazer a mesma coisa tantas vezes e ainda assim não ter um bom resultado

— Não desanime agora por causa de algo assim, você realizou seu sonho, eu realizei o meu, e agora estamos nessa juntas, não estamos? Você mesma me dizia sempre que ia ficar tudo bem, e vai ficar tudo bem, eu tenho certeza disso

— Eu sei

— É só o primeiro treinamento do primeiro dia, ainda temos muito chão pela frente, se te deixar melhor, nós poderíamos pedir algumas dicas da senhorita aluna perfeita

— Acho que tem razão. - fico em silencio ainda contemplando a vista da janela - Poderíamos falar com ela depois do treino da tarde

— Por hora, que tal apenas fazermos uma pequena visita à Serafina e à Francine?

— Isso certamente melhoraria os ânimos de qualquer um. - dou uma pequena risada

— Deveríamos chamar Max também, ela fica assustada quando está sozinha

Descemos as escadas em direção ao salão para procurarmos Maxine, mas ela aparentemente já estava em boa companhia, ela estava sentada na mesma mesa que Lucius, ainda não sabia se ela havia o chamado ou se ele decidiu se sentar no lugar mais vazio, que por coincidência, seria o que ela estava sentada, de qualquer forma, ela parecia feliz falando com ele e não deveríamos atrapalhar uma das únicas chances dela de ficar sozinha com ele.

Voltando a subir as escadas que pareciam mais infinitas a cada passo que dávamos, finalmente chegamos à sala de alquimia, estava tudo escuro como de costume, mas agora cheirava a fumaça e comida.

— Vocês estão ai dentro? - pergunto

— Ah, p-professora? Nós juramos que não estamos roubando equipamentos dessa vez, você sabe que odiamos comer com todo mundo, não sabe? - a voz de Serafina se espalha pela sala indicando eu estavam ali como de costume, Meren acende as luzes - Ah, são vocês! Que visita agradável, venham, entre, sintam-se em casa

— Você deveria parar de tratar a sala de alquimia como casa, o que acontece quando outros alunos precisam usa-la para as aulas?

— Outros alunos? Alquimia é uma ciência avançadíssima, minha cara, apenas bruxas são capazes de realiza-la de forma 100% eficaz, outras criaturas magicas já tem sua magia de nascença, não precisam da alquimia do jeito que a usamos

— E as outras bruxas não usam a sala?

Serafina repentinamente ficou em silêncio, eu sentia um pânico imenso crescendo dentro dela através dos seus olhos, ouvia o coração dela batendo como louco, e podia vê-la suando frio, Francine, que ainda estava escondida embaixo da túnica, se colocou para fora com dificuldade protegendo seus olhos dá luz e nos encarou, não do jeito inexpressivo de costume, mas de uma forma realmente fria.

— Nossa, nossa, realmente, não é? - Serafina parecia dar um riso forçado - Onde será que elas estão? Não vemos bruxas por aqui a séculos, não é mesmo, Fran? - a garota a encara com a expressão habitual e balança a cabeça afirmativamente - Devem ter sido transferidas para outro quartel, não é mesmo? Ah, sim, sim, é hora do almoço, vocês devem estar famintas, fizemos um pouco de comida, vocês se importam de comer macarrão com carne de raposa-camaleão? Temos o sangue dela também para você, Emma, nossos próprios animais familiares que a caçaram, eles só trazem do bom e do melhor

— ...... Obrigada, eu acho. - deixo o assunto de lado, elas não pareciam querer falar sobre isso por algum motivo, devo ter perguntado algo que não deveria

— Ótimo! Fran, por favor, poderia pegar algumas cadeiras? A comida está quase pronta, coloque esses pedaços de carne crua perto da janela e eu chamarei Pain e Death para comer depois para que você não tenha que ficar no sol

Serafina preparava a comida em um grande caldeirão sendo aquecido por uma lareira na frente da sala, a mesa do professor (ou da professora) foi usada para comermos juntas, conversamos por um tempo, bem, pelo menos a maioria de nós, mas Francine esboçava um sorriso para Serafina vez ou outra ou acenava com a cabeça.

De tarde voltamos ao campo, não continuamos no percurso, mas recebemos boas aulas de luta, o que fizeram meus músculos ficarem doloridos ao fim do dia, mas admito que era muito útil que Lucius fosse tão cauteloso com nossos movimentos ou a forma com que nos posicionávamos, fazia parecer que tudo que eu havia aprendido sobre luta corporal na academia foi errado, me senti bem melhor quando ele disse que eu aprendia rápido a concertar minhas falhas e elogiou Meren pela rapidez, precisão e delicadeza de seus movimentos, "ela é uma elfa afinal, sempre perfeita", pensei alegremente quando nos dispensaram para voltarmos para dentro, eram 18, estava quase anoitecendo.

— Eu estou totalmente quebrada. - digo me jogando de costas na cama e sentindo minha costela estalar

— Eu nunca achei que tal dor fosse caber em um corpo tão pequeno. - reclamava Max rolando em sua cama

— Não sejam assim. - Meren ri - Isso é apenas um começo afinal

— Elfos sabem usar poderes de cura, se você consegue fazer sua dor muscular parar não deveria nos culpar por não conseguirmos. - murmuro com escondendo o rosto no travesseiro

— Deite de barriga

— O que?

— Apenas faça

Eu a obedeço e rolo para o lado e fico de barriga para baixo na cama, Meren senta nos meus quadris e levanta um pouco minha camisa deixando minhas costas à mostra, começa a massagear a parte que estava doendo por um tempo e logo a dor para.

— Melhor?

— Muito. - eu me viro para o lado e a puxo para um abraço, quase me esquecendo que Max estava ali também, fazendo com que eu logo parasse e sentasse na cama

— Isso não é justo, apenas eu vou ficar com dores aqui? - diz sem parecer notar o que acaba de acontecer

— Posso fazer nela também? - Meren pergunta baixo para mim

— Se não se sentar nela tudo bem. - eu acaricio sua coxa e subo um pouco para o quadril de forma sutil - Essa parte é só minha

Ela ri e logo vai ajudar Max que não consegue parar de gemer de dor em tom baixo, Serafina e Francine entram no quarto depois de um tempo e parecem se divertir implicando com Max, enquanto isso, eu e Meren tiramos um tempo para cuidarmos de Hana, colocarmos comida, limpar o viveiro, trocar a água e coisas assim. Maya demora um tempo para chegar, ela era a ultima sempre e parece que esse era um habito recorrente, me pergunto o que a deixa tão ocupada se as lições acabam as 18 e já eram mais de 20:00, de toda forma, eu e Meren fomos até ela e a perguntamos se ela não poderia nos ajudar de alguma forma, ela não pareceu muito interessada, como era de se esperar na verdade, então Meren apenas aceitou que ela não iria nos ajudar tão facilmente e deixou de lado, eu, por outro lado, não aceitaria isso tão fácil, eu acharia um jeito de convencê-la.

Max,  Meren e eu descemos para pegar comida na hora da janta e a levamos de volta para o quarto para comermos com Serafina e Francine.

             ~Serafina quando as meninas estão fora do quarto~

— Então, Maya. - eu a observo ler silenciosamente o livro sem me dar atenção alguma - Como foi hoje com ela?

— Não sabia que isso era de seu interesse, não me pergunte coisas que não tem haver com você. - ela responde friamente sem tirar os olhos do livro

— Respostar calorosas como sempre, minha cara, polidez em pessoa

Ela bufa sem me olhar.

— Não seja tão carrancuda sempre, não é como se isso fosse arruinar sua carreira, esse é um país livre, não acha que seus pais ficariam felizes de te ver assim?

— Antes de se preocupar com o meu passado, que tal se preocupar com o seu?

— Touché, velha amiga, touché. - suspiro

— Amiga...... - ela sussurra para si

— Vamos, Fran, abra um pouco a janela para que Death e Pain venham comer o jantar

                           ~de volta a Emma~

Voltamos ao quarto em alguns minutos, Maya continuava lendo seu livro enquanto Serafina e Francine alimentavam um corvo e um rato na janela e acariciavam suas cabeças.

Logo depois de comer e jogarmos um pouco juntas, decidimos dormir para acordarmos cedo no outro dia, Meren, como de costume, continuava a dormir ao meu lado e me abraçando ou segurando minha mão, ela dizia que logo ficaríamos bem melhores e orgulharíamos nossas famílias e nossa metre também, eu acredito nela.

Algumas semanas se passaram e eu ainda não era capaz de fazer perfeitamente o percurso.