Depois que fomos praticamente expulsas da sala de alquimia, Meren e eu decidimos que seria bom procurarmos nosso quarto, com sorte, acabamos conseguindo ficar no mesmo dormitório novamente e ele ficava no 3° andar, quarto número 42. Por dentro era bem maior do que o esperado, haviam 6 camas, 3 de um lado do quarto e 3 do outro, um baú para guardas as coisas pessoais no pé de cada cama, paredes brancas, piso de madeira e um único banheiro, fora isso, era um quarto vazio, não haviam decorações e nem nada marcante além da grande janela que tinha uma bela vista da floresta lá fora.

— Ah, são vocês. - disse uma voz conhecida - Que sorte, achei que ficaria num quarto com vários desconhecidos, quer dizer, não que eu as conheça muito bem, mas é melhor do que ficar sozinha. - Maxine se aproxima animada, ela era uma sátirozinha engraçada, tinha um cabelo castanho claro, curto e muito cacheado, não usava calças, suas pernas de bode ficavam expostas, mas usava a camisa que Lucius nos dera mais cedo e o chapéu também, a cauda dela balançava freneticamente quando ela se animava

— Já viu os outros colegas de quarto? - pergunto

— Hmmm. - ela para pra pensar um pouco - Ah, apenas uma, uma centaura veio aqui agora pouco, mas ela não parecia novata, acho que foi apenas transferida de quarto, ela não parecia muito contente, batia o cascos com força no chão. - ela encena com suas patinhas como foi a cena - Fiquei com medo de falar com ela e apenas me escondi no banheiro até ela sair

— Ela era tão assustadora assim? - pergunta Meren se abaixando um pouco para ficar da altura da garota

— Isso mesmo! Muito assustadora! - ela levanta as mãos pro alto, de alguma forma, ela me parecia um criança, era difícil vê-la como alguém de mesma idade que nós

— Me diga, Maxine... - começo

— Max, eu prefiro, Max

— Ah, certo. - sinto que essas pessoas tinham algum prazer em apelidos - Diga, Max, bem.. quantos anos você tem?

— 2300 anos. - sorri erguendo o queixo

— Mesmo? - ela era 300 anos mais velha, mas agia como se fosse 1000 anos mais jovem - Eh....  e por que você escolheu entrar no exercito? - tento mudar de assunto para ela não notar minha surpresa

— Meu avô fez parte do exercito quando ele era mais jovem, ele tinha muito orgulho disso e eu cresci ouvindo as historias dele sobre esse lugar, então ele me incentivou a entrar também

— Pensei que sátiros raramente entravam no exercito. - Meren diz

— É verdade, sempre somos considerados pequenos e fofos demais para entrarmos em lutas, nossos ancestrais era muito pacifistas, mas se fossemos considerar por estereótipos, elfos e vampiros não deveriam ser amigos. - ela nos encara por um momento, parecia querer fazer uma pergunta - De toda forma, eu sou mais forte do que aparento, não é por ser pequena que sou fraca, meu tamanho pode me dar vantagem em agilidade

— Acho que ela está certa. - Meren sorri para mim

— A proposito. - Max fala - Vocês parecem se conhecer a bastante tempo, não?

— Ah, sim, somos amigas de infância. - eu digo

— Boas amigas. - complementa Meren

— Isso explica o motivo de andarem tanto de mãos dadas, vocês realmente parecerem se completar. - ela suspira - Isso me faz sentir tanta falta de casa, minha aldeia era bem pequena, então todos eram bons amigos, como sinto falta do vovô, minha nana*, mama, papa, senhorita Hamiton, minha vizinha, dos meus amigos......

— Acalme-se. - Meren se abaixa e segura os ombros da garota - Você poderá ver sua família nas folgas, e, no futuro, se conseguirmos alcançar um cargo mais alto, não teremos que morar aqui, poderemos sair, ter nossas casa, você pode voltar para sua aldeia e ainda trabalhar no exercito, ok?

— Ok. - ela parecia mais calma, ela fica quieta por um tempo e volta a perguntar - Como se conheceram?

— Eu e minha família tivemos um pequeno problema no lugar onde vivíamos e tivemos que nos mudar para cá, fomos morar numa casa a frente da casa da Meren, então ficamos amigas, porque as outras crianças tinham medo de mim

— E eu sempre dava uma boa lição naquelas crianças, não é, querida?

— Querida? - Max parecia confusa

— Ah, não se incomode, ela é apenas muito carinhosa com quem é intima. - disfarço e Meren parece confusa também, mas Max parece acreditas

— Eu vou dar um volta por ai, talvez eu encontre outros sátiros, seria um alivio saber que não sou a única por aqui, vejo vocês mais tarde. - ela sai do quarto e nos deixa sozinhas com o barulho da porta se fechando

— Acho bom começar a explicar, "boa amiga". - diz

— Meren, você sabe que eu amo você, mas você sabe bem que as pessoas já acham a amizade entre elfos e vampiros um caso estranho, agora imagine um romance entre os mesmo, e pior, romance entre mesmo sexo

— Eu não me importo com o que eles vão pensar. - ela bufa

— Por mim eu também não me importaria, meu amor. - eu a beijo - Mas não estou com a mínima vontade de ver algum babaca perturbando você por uma coisa assim, nem todos são como Madeleine e Safira, e relacionamentos entre seres de espécies diferentes é uma coisa que ainda está começando a ser aceita, se fossemos da mesma espécie não haveria problema, porque é bem comum, principalmente entre lobos, apenas peço para que não deixe tão aparente

— Mas....

— Eu sei, eu sei, mas ainda estaremos juntas o tempo todo, você pode dormir na minha cama comigo, apenas não pode mencionar que estamos namorando e nem me beijar na frente de outros

Ela parecia triste coma noticia.

— Eu queria que fosse diferente também, juro que queria

— Tudo bem, acredito em você

— Essa é minha garota. - eu a beijo novamente - Quer ir dar uma volta? Vou levar a sombrinha por precaução, não sei quanto tempo essa poção dura e não estou afim de virar pó

— Ok, vamos apenas colocar essas fardas logo, não quero arrumar problemas

Trocamos de roupas e demos uma volta pelo lado de fora, estava tudo bem calmo, mas ainda conseguia escutar a conversa de alguns grupos próximos, entre os que eu conseguia ver aquela distancia, vi lobisomens, centauros, minotauros, elfos e algumas bruxas. Ali perto havia um rio, não parecia fundo, a agua era clara, Meren colocou os pé para dentro e disse que estava gelada, fiz o mesmo, mas vampiros não tem um bom sentido térmico, então apenas senti um friozinho, nada fora do comum.

Num contexto geral não havia muito a ver, mas encontramos um estábulo, com animais de diferentes espécies, além dos tradicionais unicórnios, pegasus e cavalos, também haviam dragões jovens, tigres-dente-de-sabre, panteras de fogo e bodes demoníacos. Passamos pelo campo de treinamento, senti dores no corpo apenas de olhar pelo que passaríamos amanhã, mas ao mesmo tempo me senti animada, me distraio olhando as nuvens por um segundo e esbarro em alguma coisa que me faz cair.

— Deveria prestar mais atenção por onde anda - disse uma centaura de pé a minha frente, tinha um cabelo longo, ondulado e vermelho, e usava uma corrente com duas placas de prata, em uma estava gravado um "E" e no outro um outro um "M"

— Ah, me desculpe, eu me distrai um pouco. - falei me levantando

— Tente não fazer isso outra vez

Ela foi embora depois disso, tinha um ar de superioridade, o que me fez sentir um pouco de raiva, afinal, ela havia me derrubado, ela deveria no mínimo pedir desculpas também, não?

— Você esta bem?

— Precisa de mais do que isso para me machucar

— Que garota rude. - ela faz um careta

— Tá tudo bem, ainda temos alguns lugares pra olhar, vamos

— Espera. - ela segura minha mão e beija meu dedo indicador - Um machucado pequeno, talvez melhore com isso. - uma pequena parca de sangue ficou na sua boca e ela sentiu o gosto - Como pode gostar disso? Sangue tem um gosto azedo e metálico

— Jura? - eu beijo a marca de sangue nos lábios dela - Eu particularmente acho meu sangue ótimo

— Sangue tem um gosto terrível, como você pode viver comendo só isso? sua vida é muito sem graça, nem ao menos come doces!

— Claro que como doces. - eu me aproximo, seguro sua cintura e sussurro em seu ouvido - Seu sangue tem um gosto muito doce, alias, eu adoraria provar mais um pouco algum dia

Ela começa a rir e tenta se soltar de mim.

— Para, para! - continuava rindo - Está fazendo cócegas! Isso é luta injusta!!!! - ela tenta se virar para fugir, mas eu a agarro de costas e enfio a cara no seu pescoço a fazendo rir ainda mais

— Não vou deixar o meu jantar fugir assim! - dou pequenos beijos no meu ombro e pescoço

— OK, ok, você venceu, agora, por favor, eu vou ficar sem ar. - falava com dificuldade porque não parava de rir

— Então vou ter um bom jantas mais tarde? - eu a viro e a deixo recuperar o folego, mas ainda seguro sua cintura

— Não sei, quem sabe? - ela ri com o rosto vermelho, mas não conseguia distinguir se era porque rira demais ou porque estava com vergonha - Você nunca tentou pelo menos

— Ah, então está duvidando de mim? Por que não tentarmos agora?

— Eh, com licença.... - uma voz feminina falou e nos separamos rapidamente, era Serafina e Francine vinha logo atrás se cobrindo com a barra da túnica da garota - Estão muito ocupadas?

— N-não, Meren estava apenas reclamado de um cisco no olho, então eu estava olhando para ver se conseguia tirar

— Tá, tá, o que fazem no tempo livre de vocês não é problema nosso, apenas queria perguntar se viram algum cogumelo roxo e laranja por ai ou então alguma cobra, rã ou um animal venenoso, viram?

— Acho que não

— Droga! Sem veneno não poderemos fazer poções, que tipo de bruxas somos assim, Fran? - ela se encolhe dramaticamente no chão enquanto a amiga dá tapinhas em seu ombro, mas logo se levanta violentamente - Teremos que achar outra coisa para testar em nossas cobai... - Francine dá uma cotovelada em sua perna - AMIGAS! Isso, isso, boas amigas com um bondoso coração que nos ajudariam com toda certeza a testas nossas poções 100% seguras. - Francine bate palmas ainda sentada no chão

— Bem, ficaríamos felizes em ajudar, eu acho. - fala Meren

— Esse é o espirito, pequena elfa. - ela tira uma lista do bolso e nos entrega - Caso achem algum desses itens se importariam de nos entregar? É meio complicado quando somos só nós duas e a Fran não consegue procurar ao ar livre

— Ah, certo

— Muito obrigada, agora precisamos roubar... eh, quer dizer, emprestar algumas ferramentas do deposito para a Fran construir algo nada perigoso e nem ilegal, talvez nos encontremos pelos corredores depois. - ela diz se virando para ir embora enquanto Francine se levanta e ficar colada em suas costas de baixo da túnica

— Excêntricas, não acha? - Meren me pergunta sorrindo

— Loucas, quer dizer?

— Eu gosto delas

— Acho que gosto também, melhor do que uma centaura rude. - rio

— Vamos, deveríamos ir comer algo lá dentro, o jantar já deve estar pronto

Voltamos para o salão, muitas pessoas estavam lá, todas sentadas na mesas espalhadas pelo salão e conversando entre si, a porta da cozinha se abre e alguns elfos e fadas vieram para  entregar as comidas, era melhor do que eu imaginava pra falar a verdade. Depois de comermos fomos para o quarto e, para nossa surpresa, Serafina e Francine estavam lá, Francine segurava Max de costas se inclinando um pouco para trás para suspende-la do chão, ambas eram igualmente pequenas, enquanto Serafina se abaixava um pouco para observar a garota de perto, Max movia os braços freneticamente pedindo para que a soltassem até que nota nossa presença.

— EMMA! MEREN! ME AJUDEM AQUI! - ela gritava

— Ah. - Francine e Serafina nos olham - Não digam, são desse quarto também? Que coincidência agradável! Veja, vejam! - Serafina aponta para Max - Eu nunca mais tinha visto um sátiro por aqui, os pelos de bode dela são ótimos para feitiços de maldições!

— NÃO ARRANQUE MEUS PELOS E NEM ME AMALDIÇOE!

—  Segure-a bem, Fran, essa parece resistente. - diz com empolgação

— Ok, ok, chega disso. - pego Max no colo enquanto Fran me encara, ainda não podia dizer o que aquela expressão significava

— Não íamos fazer mal a ela, apenas precisávamos dos pelos!

— Olhe, Max. - ela olha pra mim - Eu sei que elas podem parecer..... - as olhos por um momento - Um pouco diferentes, mas garanto que não são más. - "ao menos espero que não" penso rindo - E são nossas amigas, a própria mestre deve confiar bastante na habilidade delas para as pedir pessoalmente que fizessem uma poção para mim, então o que acha que tentar se dar bem com ela. - Max, para e pensa um pouco

— Se você diz..... - ela ainda parecia insegura com essa decisão

— Parece que todas vamos ser colegas de quarto, pode ser divertido! - diz Meren animada

— Tirando pela outra garota. - completa Max, a aporta se abre logo depois dessas palavras e a centaura de mais cedo entra no quarto

— Boa noite. - ela fala indo em direção a sua cama e se sentando para ler um livro

— Boa noite, Maya! - acenavam alegremente Serafina e Francine

Ela as encara friamente e volta a ler seu livro.

— Ela é reservada, talvez meio fria e rude também, mas é a mais talentosa daqui. - Serafina sussurra para nós - Mas, pessoalmente, não a acho tão mal. - ri - De toda forma. - volta a falar alto - Gostariam de jogar cartas magicas? É o preferido da Fran, ela nunca perde!

Brincamos até as 22:00 com as outras, até que Fran e Max pegassem no sono, Sefi coloca Fran na cama e a cobre, indo se deitar na cama ao lado, fiz o mesmo com Max, a deixei na ultima cama do nosso lado do quarto. Meren empurra sua cama para perto da minha e ficamos juntas até dormir, acho que a essa altura ela não conseguia mais dormir sem mim por perto, ela segura minha mão.

— Você disse que teria elfa para o jantar. - diz com os olhos fechados e um sorriso no rosto

— Acho que vou guardar essa refeição para uma ocasião especial