Suponho que quanto menos nos importamos com a presença do tempo, mas rápido ele tende a passar. Nossos 400 anos de treinamento na academia haviam enfim acabado, eu, Meren, Safira e Madeleine estavam saindo da cerimônia de formatura em meio a uma multidão de outros alunos.

— O que acham de sairmos para comer algo? Vocês sabem, uma comemoração mais ao nosso estilo. - sugere Safira

— Desde que não seja um lugar muito caro, estudante é o ser mais pobre que existe. - Meren suspira

— Ex-estudantes agora. - Madeleine diz aliviada

Saímos todas juntas para comermos em uma lanchonete próxima, Safira e Madeleine nos parabenizaram por termos sido recompensadas pela própria mestre Ophis para fazermos parte de seu exército, o infeliz acontecimento de 400 anos atrás, com o começo da guerra que durou cerca de mais 10 anos com a vitória de nosso país, fez com que a mestre visse potencial em nos duas, após termos sido salvas por ela, claro, aquela grandioso dragão negro e roxo que nos salvou era nossa mestre.

— E vocês? - pergunto para Madeleine e Safira - Para onde vão agora?

— Na verdade..... - Começou Madeleine

— Estamos voltando para casa. - Safira parecia tensa ao completar a frase

— O que? Achei que tinham fugido. - disse

— E fugimos, mas.... - Madeleine faz uma pausa - Meu pai, ele não é mais o lobo que foi um dia...... eu sou a próxima na linha de sucessão, é meu dever voltar

— E quanto a Safira?

— Ah, não se preocupem com isso, lobisomens só tem um real parceiro para toda vida, não podem interferir na decisão dela agora que está feita - Safira responde

— Então......... nunca mais nos veremos de novo? - Meren pergunta

— Claro que nos veremos, querida, apenas não será com a frenquência que gostaríamos que fosse

— Quando vocês vão? - pergunto triste

— Amanhã de manhã

— Tão rápido.....

— Por isso faremos questão de fazer dessa noite uma noite inesquecível para nós 4. - Safira exclama animadamente

Quando saímos da lanchonete, as duas tomaram sua forma lupina e nos pediram pra subirem em suas costas, elas nos levaram para bem longe, não tinha ideia para onde estávamos indo, a viagem foi regularmente longa, imaginava se elas não estavam cansadas por correrem assim. O lugar onde paramos era uma clareira numa floresta, os céu estava repleto de estrelas formando um manto brilhante acima de nós, Safira e Madeleine voltaram a sua formas normais.

— Por que nos trouxeram aqui? - Meren olha em voltar por um tempo analizando

— Uma vez, quando éramos menores - Madeleine começa a contar e nos convida silenciosamente a nos sentarmos na grama como ela fizera - Eu e Safira saímos para brincar longe da aldeia, corremos floresta a dentro por quase 2 horas e não conseguimos achar o caminho por onde tínhamos vindo, eu estava chorando muito com medo de alguma coisa nos atacar por estar escurecendo, eu sabia que Safira estava com medo também, mas ela agia muito calmamente para me fazer ficar melhor, encontramos essa clareira e fizemos uma fogueira, duas pequenas lombinhas perdidas no meio da noite

— Madeleine estava tremendo de medo o tempo todo e não parava de agarrar meu braço. - ri Safira - Eu continuei dizendo à noite toda que eu não ia deixar nada de mal acontecer com ela

— Foi então que você fez o pedido

— Pedido? - eu e Meren perguntamos

— Safira disse que no futuro, ela seria minha esposa e me protegeria o tempo todo

— Ora, isso foi a anos atrás. - retruca Safira

— E deixou de ser verdade?

— Claro que não

— Como é a aldeia de vocês? - pergunto

— Vejamos.... - começa Safira - Podemos dizer que era bem simples, crianças correndo por aí, lobos mais velhos caçando, casas de madeira

— Um dia chamaremos vocês para lá, quem sabe, no nosso casamento

Ficamos mais um tempo por ali, elas nos contavam algumas histórias sobre sua aldeia e nós sobre como foi nossa infância, olhamos as estrelas e conversamos sobre o futuro, certamente sentiria falta delas, ficamos juntas por bastante tempo e eu não me imaginária mais tendo que viver a vida sem ter que ignorar os “barulhos íntimos” que as duas faziam no meio da noite. Amanhã teríamos que arrumar as coisas e nos despedir de nosso dormitório também, iríamos começar o treinamento no exército da mestre, mas, naquele momento, eu sentia que o tempo havia parado apenas pra nós estarmos ali, conversando, brincando e cantando, era como se fôssemos as únicas no mundo, a real definição do que é ser infinito, e, dessa forma, sabia que aquilo não era um despedida, apenas um “até logo” um pouco duradouro.