CAPÍTULO VII

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Deixei o carro no estacionamento e fui caminhando até a empresa, pela hora, Natsu ainda deve estar lá, pelo menos espero que esteja. Durante todo o trajeto, a conversa com Juvia rodou minha cabeça, ela parecia tão frágil, toda a pose que exibia durante as aulas ou mesmo na festa, caiu por terra, ela estava destruída, como se um animal a dilacerasse de dentro para fora.

Gray e eu nunca trocamos nada como “Eu te amo” ou declarações de amor eterno, nunca foi isso. Nos conhecemos em um jantar beneficente ao qual Natsu estava sediando pela empresa, Gray estava lá como mais uma das diversas celebridades, eu tinha uns dezoito anos e estava entediada com aquela quantidade de gente velha e rica falando sobre ações, dinheiro investido e propriedades, as poucas pessoas que regulavam de idade comigo eram um bando de filhinhas de papai e Gray.

Estava sentada com a cabeça apoiada nas mãos, observava Natsu conversar animado com Lisanna e algum dos idiotas que gostavam das “obras de arte” que ela pintava, de repente alguém senta do meu lado e reclama na comida e de como aquelas pessoas eram chatas. Gray nunca foi muito de sorrir, mas quando virei o rosto para concordar, ele estava com um sorriso de lado encantador, não foi algo como sentir que fogos de artifícios estourassem todos de uma vez ou como se o mundo voltasse a ter cor, meu coração não acelerou, não senti os dedos formigarem e as mãos suadas, mas fiquei feliz, apesar do jeito sério, ele era muito divertido, passamos o resto da noite conversando, no fim, trocamos contato e na semana seguinte Gray me chamou para sair, desde então começamos um “lance” que alguns poucos meses depois virou um namoro, que havia durado até hoje cedo.

De certa forma, não foi um dos piores “términos”, a algum tempo tínhamos uma relação parecida com a de grandes amigos, o pouco tempo que passávamos juntos, era vendo algum filme, e nós realmente assistíamos o filme, sexo não era importante, havíamos passado daquela fase onde quando podíamos ficar juntos íamos para cama, eu achava que isso era porque nosso relacionamento estava amadurecendo, mas a verdade é que não existia mais aquela “chama” do início, a paixão havia passado.

Cheguei no enorme prédio, que de certa forma eu também tenho uma parte, mas nunca dei bola para isso, deixando que Natsu tomasse conta de tudo, inclusive do que me pertencia. Todos ali me conhecem, então entrei direto, o escritório da presidência é no vigésimo quinto andar, ou seja, o último, fiquei alguns bons minutos no elevador. Quando cheguei, a secretária de Natsu estava lixando as unhas, Selina, uma ruiva com curvas avantajadas, dona de seios siliconados que ela fazia questão de exibir com decotes extremamente chamativos e sutiãs de rendas e babados, fora a saia “tapa-nada”, uma legítima vadia, com “V” maiúsculo e todas as outras letras em neon. Não era apenas na aparência, Selina era realmente uma V-A-D-I-A, a única vez que fiquei feliz com algo que Lisanna fez, foi quando ela deu um tapa, bem estalado, no Botox da ruiva queimada, isso porque até então, Selina insistia em tentar levar Natsu para cama, ou no caso, a mesa do escritório.

— Senhorita Heartfilia? – Não percebi que estava parada em frente ao elevador, divagando, até que Selina sorrisse com aqueles dentes tão brancos quanto o maldito sutiã rendado.

— Olá Selina – Forcei um sorriso – Natsu está?

— Sim, Nat... – A encarei séria – O Sr. Dragneel está com uma visita.

— Visita?

Selina suspirou e vi que controlou revirar os olhos – Zeref e Lacarde estão com ele – Pensei em repreende-la pela falta de “respeito”, mas deixei passar pela surpresa.

Não falei mais nada e abri a porta, dando de cara com o “irmão” mais velho de Natsu e o sobrinho, Zeref virou o rosto e abriu um sorriso de canto, já Lacarde veio me abraçar, na verdade, quase me tirar do chão, já que estava mais alto do que eu.

— Ei garotão, você está grande! – O abracei com força, não os via a alguns anos.

Zeref não é bem um irmão para Natsu, ele é resultado de uma “escapada” que a primeira esposa de Igneel havia dado quando eles namoravam, disso acabou resultando em Zeref, porém, assim que ela morreu, Igneel o assumiu até que fizesse dezoito anos, lhe deu o sobrenome para que tivesse pelo menos alguma coisa para viver caso precisasse. Natsu e Zeref não tiveram muito contato, são amigos, se veem a cada cinco anos, pelo menos.

— O que está fazendo aqui Lucy? – Natsu levantou e veio até mim, me dando um beijo na testa, senti uma vontade enorme de chorar e o abraçar, mas apenas sorri e passei a mão em seu paletó.

— Queria almoçar com você – Percebi que minha voz falhou, Natsu também viu.

— Está tudo bem?    

— Sim – Sorri mais uma vez e desviei até Lacarde e Zeref.

— Quando chegaram?

— Hoje cedo – Zeref podia ter 36 anos, porém, a aparência não passava mais que 25, o mesmo com Mavis, sua esposa – Mavis tinha algumas coisas para resolver por aqui e resolvi fazer uma visitinha para meu irmãozinho – Natsu sorriu fraco, Zeref não é alguém que você possa chamar de... “simpático”, ele é educado, cordial, porém, mantém um ar soturno que assusta à primeira vista.

— E estão aonde?

— Em um hotel, não pretendemos ficar muito tempo, Lacarde tem que resolver alguns... assuntos em casa – Encarei Lacarde que sorriu sem graça.

— Foi expulso de novo? – Ri e o abracei, ele concordou e me deu um beijo na ponta da cabeça – Que idade já está?

— Dezesseis.

— Vai deixar seus pais com o cabelo branco se continuar assim – Ele riu. Lacarde é muito bonito, pegou o melhor de cada um dos pais, porém, é mais alto, bem mais alto, com uma personalidade muito forte ele passou boa parte da vida escolar sendo expulso das escolas que Zeref o colocou, até que o mesmo desistiu de pagar por escolas caras e o colocou na rede pública. Apesar do jeito marrento, é doce e gentil quando está comigo e com Natsu.

— Eles já estão – Zeref fez uma careta.

— Ok, vamos Lacarde, sua mãe deve estar nos esperando, apenas viemos fazer uma visita para Natsu – Zeref levantou e Lacarde acenou me dando outro abraço e logo fazendo o mesmo com Natsu – Foi bom te ver Lucy – Me deu um beijo na bochecha – Nos vemos em breve – Concordei e eles saíram.

Me joguei no sofá que havia de frente para uma grande janela com vista para boa parte de Magnólia, incluindo o porto, Natsu logo sentou do meu lado e passou o braço por meus ombros.

— Ok, pode me contar o que está acontecendo? – Nem eu mesma entendi porque havia começado a chorar, apenas deixei que as lágrimas caíssem e me abracei o mais forte que podia em Natsu.