CAPÍTULO IV

{...}

— Seu primeiro porre, estou tão orgulhosa! – Erza me abraçou sobre a mesa, chamando a atenção das pessoas em volta.

Erza foi me buscar para irmos ao shopping mais tarde e fomos em uma sorveteria, onde ela pediu seu tão adorado bolo de morango com chantili. Levy ficou de nos encontrar ali mais tarde.

— Poderia ser um pouco menos escandalosa?

— Mas isso é algo a se comemorar Lucy! Você sempre foi tão certinha, a única vez que fez algo errado, foi aquela corrida de carros com Racer e Angel.

— Aquilo foi o suficiente para Natsu me atormentar até hoje – Dei de ombros e tomei um gole do milk-shake de banana que havia pedido – Não gosto muito dessas coisas, prefiro ficar em casa assistindo algum filme, ou então ir ao cinema, nada com muito barulho e agitação. Concordei em ir nessa festa porque Levy insistiu muito.

— Falando nela, onde aquela safada se meteu? – Realmente, Levy estava sumida desde ontem, não me mandou mensagem, não ligou e Natsu disse que ela não estava mais na festa quando foi nos buscar. Erza só disse que ela foi para faculdade de manhã, mas saiu do meio do segundo período.

— Pare de me difamar demônio ruivo – Levy chegou e apertou as bochechas de Erza que se esquivou e a puxou com uma chave de braço. Escondi meu rosto entre as mãos, estávamos chamando muita atenção.

— Você está muito feliz Levy, transou foi? – Erza e sua boca suja, meneei a cabeça e vi que Levy ficou com o rosto rubro.

— Não! Você só pensa em besteiras!

Erza deu de ombros e comeu um generoso pedaço de torta – Pra você é besteira, mas para mim é...

— Ok Erza, tem crianças na mesa ao lado – A interrompi antes que a mulher da mesa ao lado chamasse o gerente e nos mandassem para fora – Mas Levy, o que aconteceu ontem?

— Você não lembra?

Revirei os olhos – Se está falando sobre meu showzinho de strip-tease, Natsu me contou sobre isso hoje cedo.

Levy riu – Não era isso, mas já que comentou, não sabia que dançava tão bem Lucy – Tive ímpetos de jogar o refrigerante de Erza sobre Levy – Natsu deve ter ficado furioso com você.

— Sim, mas não fez tanto escândalo quanto eu imaginava que faria.

— Natsu sabe que não pode domar você para sempre – Erza falou distraída enquanto separava as pedras de gelo no copo.

— Ele não é assim, apenas se preocupa comigo – Às vezes demais— Mas Levy, ele me disse que quando foi me buscar, você já havia ido para casa.

Levy abriu um sorriso – Sim, um pouco antes, Gajeel se ofereceu para me levar, já que minha mãe havia mandado uma mensagem pedindo que voltasse.

— Gajeel Redfox levou você para casa? – Confesso que fiquei um pouco surpresa com isso.

— Sim! – Levy estava nas nuvens – Ele é tão fofo! Aquela aparência esconde quem ele realmente é. Gajeel disse que queria me ver de novo e se despediu com um beijo na testa.

Levy era uma romântica incorrigível, apesar de alguns gostos um tanto peculiares, ela era na verdade uma menininha em um mundo cor de rosa, gostava de pequenos gestos, tais como um singelo beijo na testa. Ri com seu entusiasmo ao contar sobre como Gajeel era melhor do que ela imaginava, fiquei um pouco preocupada com a possibilidade de ele machucá-la, visto que sua reputação não é das melhores, mas vou dar uma chance, Gray é parecido com ele e até hoje mostrou-se “inofensivo”. Senti o celular vibrar, vi que era Gray e resolvi ignorar mais uma discussão que Levy e Erza haviam iniciado e me afastei um pouco.

 - Olá princesa! – Sorri ao escutar sua voz rouca, parecia que ele havia acabado de acordar – Como você está?

— Com saudades – Escutei ele rir – Deve ser madrugada aí, você estava dormindo?

— Sim, mas tenho que acordar cedo hoje – O escutei bocejar – Estou pegando um voo para Magnólia daqui uma hora.

Arregalei os olhos e sorri - Sério? Você está voltando?

— Sim! Eu queria fazer uma surpresa, mas gostaria que você me buscasse no aeroporto amanhã cedo.

— Claro! Eu busco você sim! Aliás, vai ter a sorte de andar comigo no meu carro novo!

Gray riu – Natsu realmente te deu o carro?

— Sim! O que eu queria!

— Isso é bom... Estou com meu seguro de vida em dia, Meredy vai ficar feliz com a grana que vai ganhar... — Fechei a cara e bufei, Gray gargalhou – Estou brincado Lucy, vou adorar andar com você no seu carro, sei que quando quer, é responsável.

— Ok, vou ignorar isso, só porque estou com saudades – Suspirei e encarei a mesa, fiquei surpresa ao ver Gajeel e Juvia parados conversando com Levy e Erza – Não vai adivinhar quem está conversando com Levy e Erza nesse exato momento.

— Quem?

— Seu melhor amigo e a prima dele – O telefone ficou mudo por alguns segundos - Gray?

— Juvia está aí? – Percebi a mudança brusca no tom de voz de Gray.

— Sim – Bati com a mão na testa – Esqueci de dizer, mas ela é minha nova professora de Enologia, ontem fui em uma festa no apartamento dela e conheci Gajeel, Levy está toda apaixonada – Ri a encarando, estava bastante empolgada – Aliás, eu não sabia que Gajeel tinha uma prima e que você a conhecia tão bem.

— Lucy, eu tenho que desligar, vou acabar me atrasando, depois nos falamos, ok? – Estranhei um pouco Gray falar assim, tão sério, parecia incomodado.

— Está tudo bem?

— Sim querida – Gray só me chama de “querida”, quando algo estava errado – Até mais, beijos! – Não tive tempo de responder, o celular ficou mudo.

— Que estranho – Encarei o aparelho em minhas mãos por alguns segundos antes de ir para mesa. Gray devia estar cansado.

Juvia e Gajeel haviam sentado, Gajeel estava conversando animadamente com Levy e Juvia ria com Erza, ambas sorriram quando me viram, puxei uma cadeira e sentei em frente as duas.

— Olá Lucy, como se sente? – Pode ser algo da minha cabeça, mas o tom na voz de Juvia não era algo muito agradável.

— Agora bem, mas fiquei com uma ressaca terrível hoje de manhã.

— Você arrasou ontem, Bunny Girl – Gajeel piscou rindo, ele estava confortavelmente atirado na cadeira, o braço direito sobre os ombros de Levy que sorria com os olhos brilhando.

— Não quero lembrar disso – Todos na mesa riram.

Conversamos por mais algumas horas, às vezes pegava Juvia me encarando séria, porém, assim que via que eu percebia ela sorria doce. Natsu me ligou e perguntou onde eu estava, logo ele veio me buscar e para minha infelicidade, acompanhado de Lisanna, que me ignorou o caminho inteiro até sua casa, fez questão de trocar um beijo pra lá de quente com Natsu assim que desceu do carro, me largando uma piscadela antes de entrar.

Depois de largar Lisanna em casa, seguimos até nosso apartamento, estávamos em silêncio, mas como sempre, não era algo constrangedor, era apenas pacífico e tranquilizante.

— Gray chega amanhã cedo – Comentei assim que entramos – Vou pegar o carro e busca-lo do aeroporto.

— Achei que ele fosse voltar semana que vem.

— Eu também, mas acredito que o trabalho dele tenha durado menos que o esperado.

Natsu riu tirando a camisa – Isso se ele não bateu em alguém e acabou saindo de novo.

— Por que implica tanto com Gray?

— Por que implica tanto com Lisanna?

O segui até seu quarto e me joguei na cama – Touché – Abracei o travesseiro e aspirei, sentindo aquele cheiro clássico de um perfume almiscarado misturado com um cheiro próprio que só Natsu tinha – Por que sua cama é mais confortável que a minha?

— Porque a sua está sempre desarrumada – Senti o colchão ceder ao meu lado e Natsu suspirar deitado, enquanto encarava o teto.

O observei por alguns minutos, Natsu é bonito, é uma beleza diferente, ele não costuma chamar atenção na rua ou faz muitas garotas suspirarem quando o veem na praia, não que não seja musculoso, Natsu cuidava muito bem do corpo, porém, ele é bonito como um todo, é gentil, carinhoso, protetor e justo, eu poderia ficar a noite enumerando suas qualidades e mesmo assim não conseguiria dizer tudo.

Quando era mais nova, tive o que pode se chamar de um “crush” por Natsu, isso foi antes do acidente com nossos pais, antes de ver Natsu como meu completo porto seguro, depois do acidente foi como se tudo o que sentia por ele amadurecesse e chegasse em um ponto que ele era muito mais do que alguém eu tinha ao meu lado, alguém por quem eu pudesse nutrir sentimentos tão frágeis quanto um “crush”, Natsu era tudo o que eu tinha, depois que mamãe e Igneel morreram, senti como se meu mundo tivesse sido completamente queimado e as cinzas tivessem sido jogadas no furacão de sentimentos que eu estava sentindo, Natsu controlou esse furacão e me ajudou a reconstruir cada pedacinho. Posso dizer com toda certeza de que o amo mais do que jamais irei amar alguém.

— Acho engraçado quando fica desse jeito – Despertei de meus devaneios com a voz rouca e baixa de Natsu.

— Que jeito?

— Quando fica concentrada demais, esquece completamente do mundo ao redor e mexe as sobrancelhas e a boca conforme muda de pensamento – Ele tocou entre meus olhos, na testa – Vai criar rugas se ficar assim por muito tempo – Tirei sua mão do meu rosto e virei de bruços, escondendo a cabeça em baixo do lençol.

Senti a mão de Natsu em meus cabelos, acariciando como sempre faz, aos poucos fui relaxando e não senti quando o sono me pegou, apenas tive a sensação de um beijo suave na testa e o calor do corpo de Natsu ao meu lado.