CAPÍTULO VIII

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Acho que ficamos por pelo menos mais meia hora no escritório, chorei bastante, em silêncio, Natsu apenas ficou ao meu lado, me abraçando e falando algumas palavras de tranquilidade que mesmo sendo bobas, me deixavam mais calma.

Nunca fui alguém muito chorosa, gostava de filmes de romance, dramas e essas coisas, morria chorando em filmes com animais, mas por incrível que pareça, não costumo chorar na “vida real”, exceto quando Igneel e mamãe morreram, não lembro de ter chorado desde então. Acho que a quantidade de coisas que aconteceram em tão pouco tempo apenas aflorou uma enxurrada de emoções que eu estava guardando a bastante tempo.

Pedi para ir para casa e almoçarmos, Natsu concordou e saímos, o caminho até o apartamento foi silencioso, eu podia notar que Natsu estava tenso e preocupado, já que a cada trinta segundos me olhava com o canto do olho e por vezes colocava a mão sobre a minha, sorrindo fraco.

— Já está mais calma? – Eu estava preparando nosso almoço, cozinhar me fazia bem, era como uma espécie de refúgio para tudo que me incomodava.

— Sim – O encarei e sorri, ele veio até mim e me abraçou por trás, encaixando o queixo em minha cabeça.

— Vai me contar porque estava chorando?

— Acho que por tudo.

— Tudo?

Suspirei e desliguei o fogo – Hoje recebi uma enxurrada de coisas que ainda estão meio que entaladas, acho que chorei porque nunca lidei muito bem com pressão – Ri sem humor e Natsu me virou, ele estava sem camisa, o peitoral rijo era como uma parede e para mim, cumpria perfeitamente o papel de proteção, encostei a cabeça em seu peito, escutando o coração bater tranquilo.

— O que exatamente aconteceu?

— Gray terminou comigo – O encarei, eu não estava arrependida, não estava triste, na verdade, me surpreendi um pouco com a frieza que disse.

Natsu, no entanto estava surpreso, ele ficou sério e suspirou – Não parece que isso esteja incomodando tanto você.

Sorri – Exato – Me afastei dele, servi duas porções do ensopado de legumes e frango em tigelas e fomos para o sofá – Eu fiquei sabendo de mais algumas coisas hoje.

Tive uma longa conversa sobre o que estava pensando e sobre o que descobri com Gray e Juvia. Natsu me escutou em silêncio, eu percebia que por vezes ele estava segurando para não falar nada, mas ficava quieto.

— Seja sincera Lucy, comigo e com você – Natsu pegou minhas mãos e as juntou com as suas, ele mantinha o olhar focado no meu – O que você está sentindo com isso tudo?

Fiquei em silêncio por um tempo, eu estava confusa, mas o que realmente estava aflorando em meu peito, era um sentimento de alívio – Por incrível que pareça, estou me sentindo aliviada – Suspirei e sorri, senti como se um peso fosse tirado de minhas costas – Obrigada Natsu – Me joguei em seus braços e o abracei com força.

— Pelo que exatamente?

— Por sempre me ajudar nessa miscelânea de sentimentos que eu sou.

— Sempre às ordens baixinha – Senti a suave pressão dos seus lábios sobre minha cabeça – Por que não vamos até o parque?

— Eu queria ficar em casa.

— Tudo bem – Natsu me soltou e levantou – Você deveria pegar mais sol Luce, está cada vez mais branca – Lhe joguei uma almofada, que foi facilmente desviada – Ultimamente tem ficado muito em casa, apenas assistindo a filmes.

— Se está achando ruim, não precisa ficar comigo – Fingi estar magoada e me virei abraçando outra almofada, Natsu riu e escutei seus passos até a escada.

— Vou pedir uma pizza, podemos assistir a qualquer filme que queira – Sorri e me virei rapidamente para encará-lo – Mas isso é só porque está passando por um pé na bunda – Ele correu antes que eu atirasse outra coisa em sua cabeça.

Natsu é com certeza o melhor, por vezes tenho uma inveja tremenda de Lisanna, ela provavelmente o terá para o resto da vida como marido e poderá usufruir de tudo que Natsu tem a oferecer, de certa forma isso me machuca um pouco, o pensamento dele saindo daqui para ir morar com Lisanna era como sentir pequenas agulhas alfinetando meu peito. Eu sei que sou egoísta por quere-lo só para mim, mas Natsu é muito importante, é o que tenho de mais precioso.

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No outro dia fui para faculdade, Erza e Levy deviam estar preocupadas, não retornei nenhuma das ligações que elas me deram ontem, não queria falar nada por telefone. Natsu me largou em frente a universidade, já que eu acabei por deixar o carro passar a noite por lá.

Assim que entrei, vi Levy chegando, e adivinhem só, Gajeel era quem a estava trazendo, os dois estavam rindo baixinho e ele estava com o braço apoiado sobre os ombros dela. Me apressei para alcançá-los, assim que consegui, cutuquei o ombro de Levy, que virou e abriu mais o sorriso.

— Hey Lucy! – Se afastou de Gajeel para me dar um abraço – Como está? Por que não retornou minhas mensagens ou me atendeu?

— Está tudo bem, mais tarde conversámos – Encarei Gajeel – Bom dia Gajeel.

— Bom dia Bunny Girl! – Ele sorriu como sempre e encarou Levy – Vou ter que ir embora, eu fiquei de ir para gravadora logo cedo, estou quase atrasado – Levy concordou e ele lhe deu um beijo na testa, logo saindo e a deixando com um sorriso muito bobo.

— Vejo que estão bem próximos – A cutuquei rindo, Levy ficou vermelha e tentou esconder o sorriso.

— Ele tem sido muito gentil.

— Vocês só se conhecem a três dias.

— E temos saído a três dias.

— Não está meio rápido?

— Não, se quer saber, nem mesmo trocamos um beijo na boca.

— Ele já viu o santuário que você tem no seu quarto? – Levy arregalou os olhos e ficou ainda mais rubra.

— Ga-gajeel... Ele não foi no meu quarto... Ainda... – Segurei o riso, Levy estava sussurrando como se nem mesmo ela quisesse escutar o que falava.

— Então ele não sabe da sua “fixação” por ele?

— Falei que era uma grande fã e que conhecia suas músicas, nada além disso.

— Ok, acho que é melhor que ele não saiba que está se envolvendo com uma fã maluca – Levy me deu um tapa no braço e não consegui segurar a risada, a deixando emburrada.

— Do que as duas estão discutindo? – Erza chegou e passou os braços sobre nós duas, nos puxando para andarmos – Lucy, posso saber por que está me ignorando desde ontem? – Senti medo ao escutar o timbre de voz de Erza mais grave e perigoso e o aperto em meu pescoço, levemente mais forte.

— Eu estava resolvendo algumas coisas, precisava ficar sozinha.

— O que houve?

— Mais tarde conversámos, já estamos atrasadas e o que tenho para contar vai demorar um pouco – Ambas concordaram e fomos para aula.

Hoje eu não teria aula com Juvia, o que seria melhor, mas a vi pelos corredores, ela estava como antes, rindo e com a pose provocativa, os lábios bem pintados de rosa e um sorriso debochado estampando o rosto delicado, piscou para mim quando passou ao meu lado.

Até a hora do almoço resolvi me focar nas aulas, essa semana tem sido turbulenta o suficiente para que já tivesse perdido algumas aulas e estivesse distraída em outras, aproveitei que estava com a cabeça um pouco mais relaxada para tirar o atraso, os dias de provas seriam na semana seguinte.

No almoço encontrei Levy e Erza no refeitório, Jellal também estava junto, pegamos a mesma mesa de sempre, próxima as janelas, com uma vista do pátio principal e de um dos blocos, o da reitoria.

— E então Lucy, pode começar a falar – Erza como sempre, direta.

— Eu e Gray não estamos mais namorando – Larguei a bomba de maneira rápida e direta, não adiantaria ficar enrolando – Ele e Juvia já foram noivos a alguns anos e ela voltou porque ficou sabendo que ele estava falido – Eu deveria rir da cara dos três a minha frente, mas acho que a situação não permite.

— Você... Como assim? Gray está falido? – Ah sim, Erza sempre foca no menos relevante.

— Sim, vendeu o apartamento para tentar pagar os inúmeros processos que está sofrendo por quebra de contrato e pelo que fiquei sabendo, alguns por lesão corporal – Ontem Natsu havia falado com um amigo que é advogado e soube de mais alguns detalhes sobre a situação de Gray, resumindo, ele está bem ferrado.

— Ok Lucy, explique isso tudo direitinho – Levy falou e eu suspirei, estava ficando cansativo repetir toda essa história.

Resolvi resumir tudo, ocultei alguns fatos da história de Juvia e também sobre o que estava pensando, apenas deixei claro que não estava me sentindo mal com tudo, apenas um pouco confusa e de certa forma, bastante aliviada. Erza me deu os parabéns, disse que não gostava de Gray, revirei os olhos, ela sempre tem as melhores respostas, já Levy ficou bastante surpresa, ela falou que Gajeel havia comentando que estava com um amigo passando um tempo em casa e que Juvia não estava muito bem com isso. Eu imagino que ela realmente não deva estar, já que aparentemente esperava que Gray a recebesse de braços abertos e na verdade ele estava sendo frio e rancoroso.

O almoço passou rápido, quase não comi por estar entretida com a conversa, fomos para as aulas, a tarde foi tranquila, até mesmo tediosa, mais tarde, fui para casa, Natsu ainda não havia chegado, resolvi tomar um banho e dormir um pouco.