Anxiety

Renesmee Cullen tinha uma parcela humana em seu organismo, e tal parcela a transformava em algo entre a imortalidade e a mortalidade. Ela não era nem humana nem vampira, era uma híbrida, que no sentido mais bruto da palavra seria mestiça.

Renesmee nunca teve nenhum problema em ser o que era, sempre fazia o possível para se adaptar e continuava a repetir para si mesma que não tinha nada de errado consigo. Afinal, ela tinha uma família que a amava, seus pais estavam lá junto com ela desde que nasceu e ela estava feliz em ter pessoas que amava por perto.

Se Renesmee Cullen nunca soubesse sobre a história da sua mãe, e a dor que esta sentiu ao nascer, talvez ela continuasse assim.

— Eu gosto do Trevor, ele é legal! — gritou para sua mãe numa briga que tiveram certa vez, ela estava irritada, ela era uma adolescente e mestiças ou não, adolescentes se irritavam.

— Não estou te proibindo de ser amiga dele, Renesmee, apenas estou dizendo que não pode sair para essa festa por que isso pode acabar nos expondo. — Isabella explicou aflita, não gostava de discutir com sua única filha, ainda que agora esse fosse o único jeito.

— Mãe, você está implicando com o Trevor desde que eu te apresentei à ele, eu tenho certeza que isso tudo é só por que eu finalmente estou me misturando! — Deu as costas para começar a andar, mas sua mãe estava em frente à ela quando se virou.

— Não dê as costas para mim, Renesmee! — Bella se alterou finalmente.

— Não pode me obrigar a ficar ouvindo você falar mal dos meus amigos! — desviou saindo em pisadas.

— Renesmee!

— Queria que você não fosse minha mãe!

— Renesmee.

A voz de seu pai a fez parar, olhou de escanteio para ele e sua expressão era cheia de repreensão.

— Não! — estava com os olhos cheios de lágrimas. — Eu não vou pedir desculpas por ser egoísta uma vez na vida! Eu não pedi por isso, eu não pedi para nascer assim! Por que eu não posso ser uma humana normal? Eu detesto isso! Eu me detesto!

Claro que ela pediu desculpas mais tarde, Renesmee era uma boa garota. Mas tudo que disse não deixava de ser menos verdadeiro, ela queria ter uma vida normal, e apesar de entender que seu pai e sua mãe se amavam, não podia deixar de sentir que nunca iria entender por que sua mãe abriu mão da humanidade.

Seu pai vivia dizendo que ela era amada, que sua mãe teria se tornado uma vampira mesmo que ela não houvesse sido gerada. E apesar de assentir, Renesmee não conseguia deixar de sentir que tudo tinha acontecido por sua causa.

Ela não deveria ter nascido.

Fora ainda os problemas físicos, Renesmee não era totalmente humana, e isso a vazia ter espinhas como uma adolescente normal, ter problemas com peso como uma adolescente normal e ser insegura como uma adolescente normal.

Mas ela não era uma adolescente normal.

Ela herdou o pior dos humanos e o pior dos vampiros, ela não era absurdamente perfeita em aparência como sua família era.

Já havia escutado isso algumas vezes.

— Você é da família Cullen?

— S-Sim.

— Ah, é que você não parece com nenhum deles, sabe.

Ou

— Você é da família Cullen?

— S-Sou.

— Desculpe, é que você parece tão diferente.

Renesmee ouvia isso em quase todas as escolas que frequentava, era irritante e a deixava com a auto estima baixa, mas não podia fazer nada para mudar isso. Com o tempo, deixou de se vestir de maneira moderna e descolada como seus parentes, ia para escola com calças jeans e qualquer blusa que achasse no caminho, em seu cabelo ruivo apenas um trança prevalecia.

— Nessie, você deveria se cuidar mais. — sua tia Alice reclamou.

A resposta era sempre a mesma.

— Eu estou bem, obrigada.

Mas era mentira.

Ela não estava bem, se sentia péssimo e o ódio junto com a inveja das garotas de sua turma não ajudavam em nada. Já colocaram o pé para que ela caísse certa vez, o que não deu certo graças aos seus instintos vampíricos, já tentaram a atingir com uma bexiga com água, o que também não sei certo.

Não dava certo fisicamente, mas emocionante, Renesmee ia se sentindo pior a cada dia que passava.

— Você é linda do jeito que é, Nessie. — Disse sua avó, sorrindo docemente.

— Você não deveria pensar assim de si mesma, você é bonita. — Jacob elogiou.

Entrava por um ouvido e saía pelo outro.

Renesmee Cullen não era nada em comparação à sua família, e isso a fez querer tomar um rumo diferente.

Numa manhã de sábado, ela se levantou e observou seu próprio reflexo no espelho. Tirou os longos cabelos do rosto, observou seus traços com atenção e suspirou fundo.

Tirou suas roupas, verificando cada pequeno detalhe, seus pequenos defeitos humanos, tudo que herdou de sua mãe quando ela não era a deusa da perfeição. Tudo aquilo que a fazia ser simplesmente Renesmee e notou que apesar de suas falhas, ela se alegrava das suas qualidades.

Achou sozinha uma maneira de se levantar do seu poço que até segundos atrás não tinha fundo.

Queridos papai, mamãe e família.

Eu sei que tenho estado muito distante e indiferente, mas quero que saibam que eu amo muito todos vocês. Mas não é exatamente isso que quero para mim, não quero mais que as coisas sejam do jeito que são.

Por favor, entendam que serei mais feliz do jeito que vou ser de agora em diante.

Agora, uma jovem de cabelos muito curtinhos e ruivos saía de um ônibus e andava em direção à casa de seu avô, onde tudo havia começado. Não na grande Nova York em que sua família morava, não, era somente um pequeno lugar com pessoas simples.

Entrou pela porta com sacolas na mão, e percebeu que seu avô Charlie tinha visitas.

— Oh! Você é a neta do Charlie?

— Sim, eu sou Renesmee. — cumprimentou.

— Vocês são muito parecidos.

Não pôde conter o sorriso.

Renesmee descobriu que não precisava julgar seus próprios defeitos, apenas encontrar um lugar onde suas qualidades fossem valorizadas.

E aqui, com seu avô humano, sua ansiedade foi curada.