Um chá para dois escrita por Arisusagi, Nat King


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Arisusagi: E lá vem o primeiro encontro dos pombinhos.
Essa história tá tão gostosa de escrever ;w; (Principalmente as partes TadoMaki, cof cof)
Geralmente não sou de mendigar atenção nas minhas histórias, mas eu queria muito saber a opinião de quem tá lendo essa aqui. Eu e a Nat estamos escrevendo com todo o carinho e cuidado, seria legal ter um feedback :D
Enfim, boa leitura o/



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Aoyagi digitou a mensagem para o moço durante os três minutos que seu cup noodles precisava pra ficar pronto. Ela só havia se dado conta de que não havia praticamente nada na geladeira nem nos armários quando chegou em casa, então, aquela seria sua janta (e era melhor que Tadokoro não soubesse disso).

Ela não sabia exatamente o que escrever, então optou pelo clássico “Boa noite, tudo bem com você?”. Depois de enviar, Aoyagi voltou sua atenção para seu copo de macarrão instantâneo, que já estava pronto. Mas, assim que ela pegou o pote de isopor, seu celular vibrou com uma nova notificação, e ela quase derrubou o conteúdo fervente em seu próprio colo.

“Quem é?”

Ela encarou o celular por um bom tempo, escrevendo e apagando uma mensagem várias vezes, até que decidiu simplesmente enviar seu nome e o curso. Ele ia saber, com certeza.

Depois disso, os dois engataram em uma conversa enquanto Aoyagi comia seu cup noodles. Ele era simpático e era bem agradável de se conversar, mesmo que por mensagens. Ela já podia claramente se ver em um encontro com ele. Os dois sentados na padaria de Tadokoro, tomando um chá e comendo alguns doces.

Entretanto, uma coisa passou pela sua cabeça. Ele não sabia… Sabia? Se ele soubesse, eles estariam tendo uma conversa tão boa assim? Uma pontada de medo fez seu estômago pesar. Ela ainda não havia nem pensado em como se assumiria para ele. Será que ele ficaria com raiva dela? Ou ficaria com nojo? Provavelmente, ele se sentiria enganado. Era assim que a maioria dos homens se sentia quando descobriam que ela era trans.

Quando Aoyagi se deu conta, as lágrimas já transbordavam de seus olhos. Ela as enxugou com as costas das mãos, enquanto tentava se acalmar. Tirar conclusões precipitadas assim nunca era bom, assim como ter uma crise de pânico por pensar demais.

Aoyagi sabia que não teria coragem para se assumir frente a frente com aquele rapaz, então ela tinha duas opções: fazer isso por mensagem ou pedir para alguém falar com ele. Com isso em mente, ela voltou para a caixa de mensagens e abriu outra conversa.

“Tadokoro-san, posso te pedir um favor?”

.:.

Tadokoro estava ajeitando alguns croissants na vitrine quando a sineta da porta de entrada tocou, anunciando o novo cliente que havia acabado de entrar. Ele estava prestes a dizer um “bem vindo” quando viu o cabelo verde tão familiar.

— Maki! — Tadokoro abriu um sorriso ao vê-la.

— Com licença — ela murmurou, ajeitando uma mecha atrás da orelha. — Já está livre, Tadokorocchi?

— Sim, eu já estava me arrumando pra sair. — Ele fechou a portinha de vidro da vitrine e começou a desamarrar o avental. — Você acabou de sair também?

— Sim. Um milagre eu conseguir sair cedo assim.  — Ela suspirou. — Enfim, tem algum plano para a noite?

— Na verdade, eu ia te chamar para jantar lá em casa, tava pensando em fazer uns rolinhos primavera.

— Ah, ótimo! — Makishima abriu um sorriso e Tadokoro não pôde deixar de sorrir também.

— Eu vou só avisar a mãe que eu estou saindo.

Tadokoro foi para os fundos da loja e assim que ele voltou, os dois saíram juntos. O prédio onde ele morava não ficava muito longe dali, então eles foram a pé, aproveitando a brisa fresca da noite.

O apartamento de Tadokoro era minúsculo. Um balcão dividia a cozinha da área que servia de sala e quarto e, à esquerda da entrada do apartamento, ficava um banheiro e uma pequena área de serviço. Ele até que conseguia manter o pequeno espaço em ordem, mesmo com a rotina corrida da padaria. Naquele momento, por exemplo, as únicas coisas fora do lugar eram uma camiseta jogada no chão da sala e algumas louças sujas acumuladas na pia.

Makishima já estava acostumada com essas pequenas desordens no apartamento do namorado. Ela o visitava tanto que aquele lugar era sua segunda casa, sendo possível encontrar pelo menos uma troca de roupas suas e um par de chinelos de sua grife. Depois de tirarem os sapatos na entrada, ela se acomodou em uma das almofadas ao redor da mesinha de centro da sala, enquanto Tadokoro preparava o jantar.

— Quer beber alguma coisa? — Ele perguntou assim que abriu a geladeira.

— Não, obrigada. — Ela se acomodou em uma almofada junto à mesinha de centro e ligou a TV. — Aliás, eu preciso conversar com você sobre a Aoyagi.

— Ah sim, ela me mandou uma mensagem, disse que queria me pedir uma coisa, mas só depois que você conversasse comigo, o que aconteceu?

Um chiado alto tomou conta do apartamento, indicando que Tadokoro estava começando a fritar os rolinhos. Makishima abaixou o volume da televisão e se levantou, indo até o balcão e se debruçando sobre ele para que Tadokoro pudesse a ouvir melhor.

— Ela vai chamar um rapaz pra sair.

Tadokoro botou a escumadeira que segurava na pia e virou a cabeça bruscamente para encará-la.

— Como assim?! — Ele abaixou o fogo da boca em que a frigideira estava. — Quem é esse cara? Onde foi que ele conheceu a Aoyagi?

— Na faculdade. Eu não lembro a história toda, mas ele passou o número pra ela e perguntou se ela não queria sair algum dia.

— E aí?

— E aí que ela vai chamar ele para ir na sua padaria. — Tadokoro abriu a boca para dizer algo, mas sua namorada o interrompeu. — E você vai ficar quietinho atrás do balcão, nada de atrapalhar o encontro dela.

— Mas e se ele fizer alguma coisa? — Dessa vez, foi ele que interrompeu Makishima. — Ele sabe que…?

— Acho que não, por isso ela queria sua ajuda. — Ela deu a volta no balcão e parou ao lado dele. — Eu não sei se ele vai fazer alguma coisa, mas se fizer, você vai estar lá.

Tadokoro suspirou, mas não disse nada. Ele começou a tirar os rolinhos do óleo e colocá-los em um prato forrado com papel toalha. Depois disso, ele se abaixou e pegou uma panela no armário, ainda sem dizer uma palavra.

Makishima cruzou os braços e se encostou na pia, observando ele pegar os ingredientes para preparar o molho. Tadokoro estava muito preocupado, isso estava bem claro. Ele sempre foi super protetor com Aoyagi, desde que ela se assumiu durante o colégio. Foi ele que a ajudou a arrumar seu primeiro emprego, na padaria da família, e foi na casa dele onde Aoyagi se abrigou quando seus pais a expulsaram de suas vidas. Era mais do que normal que ele estivesse preocupado, mas Tadokoro precisava entender que Aoyagi podia muito bem se virar sozinha.

— Eu vou ligar pra ela — ele disse finalmente, despejando o molho agridoce em uma tigela.

— Manda mensagem, ela não gosta de falar no telefone. — Makishima pôs a mesa para dois enquanto Tadokoro passava os rolinhos para uma travessa.

— Ok, ok. Mas primeiro, vamos comer.

.:.

Dentro da maison, Kanzaki sempre procurou se comportar da melhor forma possível, para fazer assim render seu emprego e a garantia do salário no fim do mês. Para ela, obedecer as ordens de Makishima e evitar a todo custo os chiliques de sua requintada clientela, era seu único objetivo e nada além disso poderia distraí-la. Nada, a não ser o profundo interesse de Aoyagi em seu celular nos últimos dias.

Desde que Aoyagi Keiko havia entrado na maison, ninguém poderia contestar seu comprometimento. Séria, responsável, pontual — um pouco calada demais, mas esse detalhe já era irrelevante —, era uma colega de trabalho agradável. Não comentava muito de sua vida pessoal e as outras funcionárias já imaginavam o motivo, evitando incomodá-la. No geral, Aoyagi era o tipo de pessoa que poderia facilmente ver estampando o quadro de funcionária do mês em todos os meses do ano e, apenas por esse motivo, Miki havia ficado muito surpresa ao notar a ligeira distração da jovem estudante de artes plásticas. Quando comentou com as outras atendentes, ninguém conseguiu acreditar.

Mas ali estava a prova mais uma vez. Calada em sua sala, Aoyagi havia abandonado os croquis e amostras de tecido para pesquisar algo em seu celular, podendo ser visto de longe o tutorial de maquiagem. De tanto evitar escândalos de terceiros, a garota fez seu próprio show.

— Eu adoro essa maquiadora!! — gritou em seu timbre agudo, fazendo Keiko saltar pelo susto. Muito constrangida para falar alguma coisa, Aoyagi tentou esconder o celular, enquanto a colega continuava tagarelando sobre paletas, sombras, pincéis e um tal de côncavo escondido que ela tinha. — … você sabe qual o seu tipo de olho, Keiko-chan? — pela confusão presente no rosto corado, era evidente que não. — Nunca vi você usando além do básico, por que o repentino interesse?

Aoyagi ficou encarando o chão muito tempo antes de falar e, embora tivesse lhe custado muito esforço fazer isso, a outra não conseguiu entender.

— Desculpe, pode repetir?

Respirando fundo, Aoyagi hesitou antes de responder.

— É que eu tenho um encontro.

Pela falta de reação, Keiko pensou não ter se feito entender, arriscando olhar para cima novamente. No entanto, tão logo o fez e a colega de trabalho já estava se movendo para fora da sala, em uma rapidez que era de se desconfiar ela ter esquecido alguma cliente. Mal teve tempo de encarar aquela teoria como a verdade absoluta e voltar à sua pesquisa, quando ouviu o chamado bradado para toda a maison — e o resto da quadra — ouvir:

— Keiko-chan tem um encontro!!

A vontade de Aoyagi foi a de se esconder embaixo da mesa, mas não teve tempo hábil para tal. Sua sala, que já era pequena, ficou ainda menor com todas as seis funcionárias se espremendo lá dentro para saber da novidade. A tão calada e eficiente Keiko, com um encontro marcado! O que tanto elas não sabiam?

— Vai falando tudo! Não nos esconda nenhum detalhe!

— Quer mais detalhe que ela namorando e nós sem saber nada? — a outra funcionário lamentou, resmungando chateada a falta de informações.

— Qual é o nome dele?! — Kanzaki atravessou as lamúrias para conseguir respostas.

Keiko encarou tantos pares de olhos interessados e sentiu o ar escapando dos pulmões. Acuada, ainda com os ombros encolhidos, ela parecia sem saber como fugir daquela situação, só lhe restando a opção de responder ao questionário.

— T-Teshima Junta. — murmurou e corou logo em seguida. Ouvir sua voz pronunciando o nome dele fazia seu coração aumentar a frequência cardíaca. Os cochichos das outras garotas também não ajudavam.

— Bonito? — perguntou outra, com um sorrisinho no rosto. Aquele sorrisinho insinuava muita coisa.

Aoyagi abriu a boca para responder duas vezes, antes de desistir e engolir a resposta, preferindo acenar ao invés de exteriorizar em palavras. Sim, ele era bonito, ou pelo menos ela achava. Também não tinha o encarado por muito tempo para saber se tinha algum defeito ou sinal em seu rosto, ou talvez fosse o filtro que seu deslumbramento com um rapaz tão gentil causava. No fim, Keiko não era assim tão confiável, já que…

— … ela está apaixonada! — Tachibana zombou, trazendo a atenção sobre si. — Keiko-chan fica suspirando pelos cantos, com certeza enxerga esse Teshima como um príncipe!

— Eu não estou apaixonada! — erguendo a voz, coisa rara para ela, Aoyagi surpreendeu as colegas. — Claro que não, nós nem saímos ainda!

Não disse muita coisa, mas o suficiente para inflamar as risadas e fazer voar a imaginação de cada uma delas. Todas sabiam que o tempo para se apaixonar era muito curto, mas existia um prazer mórbido em ver alguém constrangido, principalmente quando o assunto envolvia o campo sentimental. Particularmente, Aoyagi queria evitar que o interesse em Teshima evoluísse para algo mais sério. Ela não queria sofrer, tampouco espantar uma boa amizade ao se confessar, caso se metesse naquele tipo de enrascada.

— Eu saio meia hora e volto para encontrar minha maison às moscas. — Makishima fez sua voz se sobressair a das funcionárias. — Achei que tivessem matado vocês, mas estavam matando serviço, mesmo.

Com exceção de Miki, todas se calaram, observando a chefe deixando o chapéu verde de largas abas no cabideiro. Ela já imaginava o que poderia ser tanta agitação, lançando em Aoyagi um olhar compreensivo e um pouco piedoso. Mulheres costumavam ser insuportáveis em grupo, principalmente quando o tema em comum era relacionamento.

— Keiko-chan tem um encontro, Makishima-san! — Kanzaki quase gritou. Ouvir outra pessoa falar sobre Teshima aumentou as palpitações de Aoyagi.

— E isso é motivo de parar o funcionamento da loja? Quero todas de volta, agora! — repreendeu em um tom afável. Entendia a animação das jovens, mas não podia deixar que aquilo se estendesse mais.

— Mas Makishima-san, é a primeira vez que Keiko vai em um encontro desde que trabalha conosco! — outra tentou justificar.

Na verdade era o primeiro encontro de toda vida dela, porém não era um detalhe relevante.

— E quando será isso? — a pergunta de Maki foi para a loira. Calada em seu canto, ela precisou se esforçar para responder.

— Amanhã, depois do expediente.

A proximidade do evento fez explodir a excitação das jovens.

— Use decote! Assim se faltar assunto ele terá com o que se distrair! — aconselhou uma das garotas, fazendo outras duas concordarem prontamente.

— Que horror, ele vai achar que Aoyagi é uma oferecida! — Aya reprovou o conselho.

— Que nada, é assim que eu vou para os meus encontros!

— E é por isso que todos pensam que é uma oferecida.

Indignada, a jovem pareceu engasgar.

— Poderíamos ondular seu cabelo, Keiko-chan! — sugeriu Miki, puxando uma mecha de cabelo loiro. — Só para dar um charme! Aya-chan sabe fazer isso com chapinha!

— Eu não. — ignorando a colega bufando de raiva, Tachibana entrou no assunto.

— Claro que sim, foi você quem arrumou meu cabelo para a formatura do Ensino Médio.

— Miki, no meu cabelo não para nem presilha, como é que eu saberia usar uma chapinha para ondular ele?

— Evite gloss. — atravessou a colega ofendida por Aya anteriormente. — Se bater um vento errado o cabelo gruda na boca, horrível.

— E pode ser incômodo na hora do beijo.

Beijo?! — a palavra ecoou na mente de Aoyagi e o andamento daquela conversa fez com que ela olhasse para Makishima com desespero, esse inflamado pelo rosto risonho da chefe. Como conseguia aquela maldita se divertir com a situação?!

— Compre uma calcinha nova! Não, compre um conjunto novo, assim ele vai saber que foi escolhido! — Kanzaki surpreendeu ao sugerir algo tão ousado, arrancando uma risada de Maki, disfarçada com o bater de palmas dela.

— Eu queria que vocês tivessem o mesmo entusiasmo e disposição assim para vender. — o leve puxão de orelha foi o bastante para calar a todas. — Agora parem de apavorar a colega de vocês, Keiko conseguiu o encontro sozinha e não precisa de ninguém aqui para que a noite dê certo. Só ofereçam ajuda se ela pedir.

— Sim, senhora. — concordaram em uníssono.

— E o que estão esperando para voltarem a seus afazeres? — novamente agitadas, elas se organizaram em uma fila meio torta, deixando a sala, levando consigo as conversas e o peso das cobranças para cima de Aoyagi. — Tudo bem?

Aoyagi continuou com os olhos grudados no piso, sem conseguir falar. Entendendo que ela precisava de um tempo para recuperar a calma, Makishima não insistiu, pronta para voltar ao serviço, quando ouviu a voz baixa murmurar alguma coisa.

Deixou que a própria Keiko criasse coragem de erguer a voz, aguardando pacientemente. Tinha ideia de como tudo aquilo era assustadoramente novo e, por essa razão, não forçaria ou tentaria adivinhar o que a garota tinha a dizer. O silêncio, por via das dúvidas, sempre se mostrava o melhor tipo de conforto e resposta.

— Maki-san, você acha… — tentou uma vez, parando no meio da frase. Enrolando uma mecha de cabelo loiro em seus dedos, ela encontrou coragem para continuar. — Acha que ficaria bom se eu ondulasse o cabelo?

Seu rosto corado concluiu o fim da pergunta. Sorrindo para ela de forma amável, Maki se aproximou com mais calma do que as outras funcionárias teriam feito, tirando a franja da frente dos olhos baixos.

— Claro… Ondas emolduram o rosto e você tem um tão bonito… — elogiou sincera, observando satisfeita o pequeno sorriso de Keiko. Ela sempre teve muita dificuldade para aceitar elogios quanto sua aparência. — Também posso te emprestar alguma maquiagem se quiser.

— Pensei em pedir ajuda para a Kanzaki-san. — conseguiu falar uma frase inteira sem gaguejar. — Não que eu não aprecie sua ajuda, eu só…!

— Eu sei, querida, não precisa se justificar. Tenho certeza que ficará linda.

Aoyagi gostaria de ter aquela certeza também, mas no momento contentaria-se com o apoio daquelas pessoas para o dia seguinte.

.:.

Tendo cabelos cacheados, Teshima sabia que para garantir um volume controlado e uma definição bonita, ele precisaria lavar os cabelos no dia. O simples gesto de repousar sua cabeça em um travesseiro garantia o embaraçar dos fios até um amontoado de cabelo indefinido se formar, como uma nuvem negra feita de fios arrepiados. Ele sempre poderia resolver o problema prendendo o comprimento — ou cortando, como a mãe sempre gostava de frisar —, mas ele queria causar uma boa impressão em Aoyagi. Garotas se esforçavam para manter a boa aparência, ele queria deixar claro que também se importava com o encontro, garantindo uma troca de roupas limpas e pelo menos o cabelo arrumado.

O problema é que estava chovendo e ele veio a descobrir, com o passar dos anos e dos fios ganhando comprimento, que tempos úmidos não eram lá muito amigos de cabelos cacheados. Também se deu conta de não ter um par de roupas limpas que fosse decente o bastante para o tal chá que tomariam, e o calçado mais novo em seu armário de uma porta só, era o All Star trazido dos anos de Ensino Médio.

Por que ele foi o primeiro a sugerir um chá? Teshima estava perfeito para um primeiro encontro no Mc Donalds, não um chá em algum lugar elegante. Queria ter percebido mais cedo a enrascada em que estava se metendo, afinal estava muito óbvio o gosto refinado de Keiko; ela era tímida, silenciosa e reservada, sensível para a arte e de fala baixa. Era mais fácil imaginá-la em um cenário refinado e cheio de pompa do que dividindo um hambúrguer com ele.

Infelizmente, como em uma comédia romântica sem a parte do romântica (porque ele não estava tendo nenhum sentimento afetivo pela garota, claro que não, nem tinha tido tempo para isso!), nem dinheiro para uma porção de batatas Teshima tinha e isso tanto o frustrava quanto deixava evidente que nem a parte da comédia existia em sua patética existência. Era quase como uma tragédia não romântica.

Morando em uma quitinete de duas peças, longe da família e praticamente vendendo o almoço para comprar a janta, em momentos como aquele ele gostaria de ser um pouco mais afortunado, ou saber como pegar em uma xícara decentemente. Era de fato um apreciador de chás, mas os tomava sempre no mesmo copinho japonês quando ainda vivia com os pais, sem ter desenvolvido a habilidade necessária de lidar com xícaras de porcelana e suas asas para os dedos. Mas que ideia imbecil, ele poderia ao menos ter visto algum vídeo no youtube. Será que ainda dava tempo de dar meia volta e parar na loja mais próxima para fazer isso?

Tão ridículo quanto considerar aquela ideia foi seu rosto, completamente abobalhado, ao ver Keiko sentada dentro da padaria, mexendo no celular. Não percebeu os olhos delineados, as bochechas coradas de blush ou no batom cuidadosamente escolhido para a ocasião. Não… Para Teshima, tudo aquilo fazia parte dela, tão natural quanto seu gesto delicado de arrumar a franja ondulada na frente dos olhos, ou sorrir gentilmente ao grande homem que vinha certamente perguntar o que ela gostaria de tomar.

Junta não percebeu ter parado no meio da calçada, do outro lado da rua, guarda-chuva em mãos e um sorriso de acompanhamento. Só notou sua distração quando os olhos de Aoyagi o viram de relance, arregalando ao notarem a chegada de Teshima. Acenando discretamente, ela o cumprimentou e ele atravessou o espaço entre os dois, se esquecendo de que não sabia segurar uma xícara de chá.


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Notas finais do capítulo

Nat King: Que lindos os namoradinhos - que ainda não são namoradinhos - :,D Estamos mas na expectativa desse encontro que os próprios personagens, talvez porque tenhamos escrito isso qq Uma maior participação de TadoMaki aqui, casal mais do que especial e essencial no apoio à Aoyagi. Talvez, quem sabe, sejam até um exemplo para o ship que pode vir a se formar futuramente? :v Deixando no ar...
Muito obrigada pela leitura e até o próximo capítulo! ♥



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