(Pov Jasper)

    Enquanto Bella desabafava, eu conseguia sentir cada emoção que passava por ela, formando uma bola de neve. Ninguém nunca tinha me dito coisas tão bonitas e tão sinceras. Minha garganta fechou e meus olhos ardiam, formando um choro silencioso.
Isabella Swan era a pessoa mais especial que eu já conhecera. Eu me sentia extremamente tolo por me perguntar porque Edward e todos os outros machos da escola a queriam. Eles viram primeiro do que eu a menina maravilhosa e pura que ela é. Parecia até ironia que eu, o demônio, estivesse apaixonado pelo anjo.
Se era um amor impossível, porque parecia tão certo quando estávamos juntos? Ou quando ela olhava para mim com aquele olhar doce e depois sorria gloriosamente, como se eu fosse sua pessoa preferida no mundo?
— Major? – Ela chamou, após terminar. Eu precisava fazer isso; me inclinei, segurando seu rosto com as mãos, olhando no fundo dos olhos mais bonitos que eu já havia visto em toda a minha existência. A certeza me preencheu, tirando o espaço para qualquer outra coisa. Colei nossos lábios em um movimento rápido e urgente. Uma pontada de sede me atingiu, mas a ignorei; nada iria estragar aquele momento. Seus lábios se entreabriram e eu a invadi, delicadamente. Era a coisa mais deliciosa que eu já havia experimentado, superando qualquer sangue. Suas mãos subiram para o meu pescoço e ela me puxava para si enquanto sua língua dançava com a minha. Empurrei-a de leve, deitando-a na grama e pairando em cima dela. Sua boca era macia e quente, me aquecendo por dentro. Enrosquei minha mão em seu cabelo e o puxei de leve; ela gemeu baixo. Seu desejo havia aumentado exponencialmente, fazendo com que o meu beirasse a loucura. Eu precisava parar agora ou isso iria longe demais. Com muita relutância me afastei, rolando e deitando de barriga para cima ao seu lado. Seu coração batia furiosamente, como se quisesse sair do peito e seu rosto estava fortemente corado.
— Bella? Bella, me desculpe. Por favor, eu não sei o que deu em mim. – Eu disse nervosamente, quando me dei conta de tudo o que havia acontecido. Seus olhos ainda estavam fechados e ela respirava fundo, tentando se acalmar. Aquele silêncio era torturante, mas esperei. Ela se sentou alguns segundos depois e abriu os olhos lentamente. Seus sentimentos estavam confusos e o desejo ainda estava lá, diminuindo lentamente. Mas em seus olhos havia algo diferente... uma espécie de brilho. Será que meus sentimentos vão começar a me fazer ver o que não existe?
— Edward... Alice... – Ela murmurou e a culpa quase explodiu entre nós. Fiquei surpreso por um momento, já que eles dois foram completamente esquecidos por mim.
— Bella, me desculpe. Eu fiquei... as coisas que você falou... é que... foram muito emocionantes. Ninguém nunca falou metade daquilo para mim. – Eu disse, tropeçando nas palavras. Um sorriso brincou em seus lábios, mas a culpa estava esmagando-a. O ar ficou pesado de repente e eu tinha a sensação de que ela poderia sentir isso mesmo sem ter poder algum.
— Jasper, não fale como se eu não tivesse correspondido. – De fato ela havia correspondido, mas isso não significava para ela o mesmo que significou para mim.
— Você ficou confusa e se deixou levar, me desculpe.
— Sim, eu estou confusa, mas eu não me deixei levar... eu quis. – O choque me atravessou e ela ficou de pé. – Mas eu tenho Edward e o amo apesar de tudo e você tem Alice. – O ciúme se manifestou, me obrigando a engolir seco. Olhei para seus braços e os hematomas ainda estavam ali. Respirei fundo, tentando não voltar a fazer planos de arrancar a cabeça de meu irmão. Como ela poderia pensar neles? Tudo o que eu pensava naquele momento era o seu gosto na minha boca. E eu queria mais, muito mais. – Me desculpe também.
— Eu e Alice não estamos mais juntos.
— Não?! – Ela gritou e seus olhos quase pularam das órbitas, mas sua culpa diminuiu consideravelmente, aliviando um pouco o clima.
— Não, não estamos. Contei a verdade no domingo passado. Ela merecia saber. – Uma pequena fagulha de alívio passou por ela e a culpa diminuiu ainda mais, quase sumindo. O beijo estava deixando-a mais culpada pela irmã do que pelo namorado?
— Você vai... deixar sua família? – O desespero apareceu e não consegui conter a satisfação. Era bom saber que ela tinha medo de me perder, embora isso não adiantasse de nada.
— Você quer que eu vá? – Chequei, levantando e parando na sua frente. Ela me olhou e depois abaixou a cabeça, encarando as mãos. Seus sentimentos estavam tão intensos que ela parecia que estava projetando para mim e não apenas os sentindo.
— Sabe que não. – Sua voz era um leve sussurro. – Vamos esquecer isso, fingir que não aconteceu. – Ela disse firmemente, virando de costas e caminhando em direção a casa. Aquilo magoou. Sei que não foi o certo, mas fingir que não aconteceu? Como seria possível para eu - um vampiro - esquecer? Eu havia a desejado durante todo esse tempo sem nem saber, mas doía demais a possibilidade de nunca mais tê-la tão perto. Toquei meus lábios de leve, quase sentindo-a ali. Eu pequei, provei do fruto proibido e sabia que a última coisa que iria fazer era não lembrar.

                                                  (Pov Bella)

    Assim que virei as costas para Jasper, pude sentir as lágrimas escorrendo em minhas bochechas. Entrei no quarto que ele havia dito que era meu e me tranquei no banheiro, apoiando-me na pia. Aquele havia sido o momento mais intenso da minha vida. Saber pelo o ele passou, entender direitinho a extensão de suas feridas... a vontade de protege-lo era quase sufocante. E aí nos beijamos; meus lábios nunca haviam se encaixado com outros tão perfeitamente antes. Eu disse para esquecermos, mas seria impossível, pelo menos para mim. Sacudi a cabeça, tentando não enlouquecer.
Eu nunca liguei para garotos e para esse mundo romântico. Nunca sequer me interessei por alguém até Edward aparecer e quando ele apareceu, superou expectativas que eu nem tinha. Eu o amava e isso era óbvio, mas não dava para ignorar o fato de Jasper me fazer bem de um jeito... único. Sua aura melancólica e misteriosa era quase como um imã para mim e era tão fácil estar com ele. Era como sair de um lugar tenso e respirar o ar puro de uma manhã gelada; eu amava essa sensação.
    Após tomar um longo banho e comer alguma coisa, resolvi que era hora de encara-lo. Ao sair do quarto, notei a casa extremamente silenciosa. Caminhei com cuidado e pela janela da sala pude vê-lo sentado na grama próxima a cerca, encarando o luar. Ele estava surrealmente pálido e deslumbrante, enquanto sua pele cintilava sutilmente. Não sei porque, mas a expressão ‘diamante bruto’ ocorreu em minha mente. E era exatamente isso que ele era; um diamante bruto, mas ao mesmo tempo muito frágil e que precisava ser lapidado por mãos delicadas, ou se quebraria em milhões de pedaços.
Abri a porta e caminhei até lá, me sentando ao seu lado. Ele não se virou para me olhar; era como se eu não estivesse lá.
— Oi. – Eu disse, tentando conter o nervosismo e a dor no estômago. Será que ele irá se afastar por conta do nosso... beijo?
— Olá. – Ele respondeu. Apesar de ser sido educado, seu tom era quase como um animal sufocando.
— Obrigada pela comida. – Agradeci, tentando entender o assunto.
— Não há de que. – Ele estava triste? Senti-me culpada; eu havia sido um pouco rude mais cedo. Virei-me para ele, puxando o seu rosto.
— Está tudo bem? – Ele assentiu, retirando minha mão do seu rosto e colocando-a em minha perna. Não, ele não estava bem. Senti minha garganta inchar. – Me fala. – Insisti, mas seu corpo não se moveu um centímetro. – Jasper, o que eu fiz? – Implorei pelo óbvio. Ele respirou fundo duas vezes antes de me olhar e me puxar para seus braços, aninhando-me em seu colo; o alívio foi instantâneo. Isso era errado e eu deveria me afastar, mas só conseguia me sentir plena ali.
— Você não fez nada. Só estou com medo. – Ele sussurrou.
— Medo de que?
— Do meu futuro. – Meu coração se apertou. Ah Jasper...
— Por quê?
— O para sempre é muito tempo para se viver sozinho, Bella.
— Você não está sozinho agora e eu estarei no seu para sempre. Mais cedo ou mais tarde irei me transformar. – Ele fez uma careta, me colocando de volta na grama. A frustração era evidente em seu semblante. – Não quer que eu me transforme? – Perguntei, confusa. Uma pequena pontada de rejeição me atingiu e eu quase fiz um bico involuntário.
— Sim, quero.
— Então qual é o problema?
— Não quero falar sobre isso. – Disse ele, fechando a cara. Já havíamos passado dessa fase de ‘Jasper hostil’, então porque ele estava agindo assim?
— Por favor... fala comigo. – Pedi. Ele balançou a cabeça, negando. – Me diga o que tanto pensa, principalmente se tiver algo a ver comigo. Não acha que mereço saber?
— A única coisa que eu acho é que terei que quebrar a minha promessa. – Olhei para ele, confusa. - Terei que partir. – O que?  Me levantei abruptamente, sentindo tudo rodar a minha volta.
— Não! – Gritei. Ele olhou para cima, surpreso. – Você não pode fazer isso comigo! – Senti a maldita umidade chegar em meus olhos, embaçando minha visão. Eu não posso perder mais ninguém... muito menos ele, que havia entrado na minha vida sorrateiramente e tinha se tornado uma das partes mais importantes dela com o passar do tempo. Como eu viveria para sempre sem Jasper?  
— Você tem a minha família.
— Sim, mas não será completo. – Respondi, rapidamente. O desespero transbordava em minha voz e uma pequena parte de mim sabia que eu estava ignorando toda e qualquer parte racional do meu cérebro, incluindo o meu orgulho.
— Será sim.
— Você não pode me deixar!
— Você tem Edward.
— Mas eu quero você na minha vida! – Gritei, sem titubear. – Não posso... ficar sem você. - Como se não tivesse acontecido, ele estava de pé em minha frente.
— Quer? – Ele perguntou, surpreso. Meu coração explodiu em meu peito.
— Jasper... eu... – Tentei responder, mas nada parecia coerente. Eu não conseguia entender o que estava havendo comigo mesma. A ideia de Jasper ir embora era mais dolorosa do que o dia em que Edward disse que iria me deixar. Isso ia além da minha compreensão e eu sentia como se fosse desmaiar. Ele me olhou como se me analisasse e se aproximou.
— Bella... – Ele chamou, puxando meu rosto para olhar melhor nos meus olhos. – Eu gosto muito de você. - Minha respiração parou. – Gosto mesmo.
— O q-que? – Gaguejei. O que ele queria dizer com isso?
— Porque você acha que eu te beijei?
— M-mas... – Eu não sabia o que dizer. Jasper gostava de mim. Não como amiga, não como família. Ele gostava de mim.
— Essa descoberta é recente para mim também e espero que ela não atrapalhe nossa amizade, porque ela é mais importante do que qualquer coisa. Só que... eu não posso mais mentir.
— Jasper... – Sussurrei. Parecia que o mundo tinha parado e que tudo à nossa volta desaparecera. Como ele poderia gostar de alguém como eu?
— Eu quero que você entenda o que está acontecendo aqui. - Ele pausou, cedendo os ombros. - Bella... eu quero ficar com você. Esse é o principal motivo para eu ter terminado com Alice. – Minha boca se escancarou. Ele estava maluco, era a única explicação para isso. - Bella... se permita sentir, por favor. – Ele pediu, segurando-me pela cintura. – Você está lutando contra o seu interior. Deixe fluir. – Franzi o cenho, confusa. Ele se aproximou e se inclinou, acariciando meu ombro com a ponta do seu nariz. Meu corpo se arrepiou e eu prendi o ar involuntariamente.
 – Você já se sentiu assim antes? – Ele subiu, sussurrando em meu ouvido. Me desequilibrei e ele me segurou, novamente olhando profundamente em meus olhos.
— Não. – Murmurei. Ele sorriu, puxando-me ainda mais e colando nossas testas. Aquilo parecia um caminho sem volta.