—DEU MERDA! -berra o diretor aos meus ouvidos.

—Que foi?

—ABRA O TWITTER. AGORA.

—Aish… -levanto do chão, procurando meu computador.

—VAI LOGO!

Acho o aparelho num canto da sala. Bem como o ordenado, entro no twitter.

—Hum. Que foi?

—COMO ASSIM O QUE FOI? OLHA OS TREND TOPICS!

Olho as tags mais usadas no canto da tela: #por1mundo100megeras, #noiztrupicamaisnaocai… pera, essas são Br’s. Na Coréia... #RunningMan… #savehongbin... #TheGS...

—Não…

—NÃO. É EXATAMENTE ISSO.

—Tá, o TheGS teve a popularidade aumentada. Isso não é bom? Agora, teremos mais audiên…

—NÃO, SUA JUMENTA. VEJA O QUE ESTÃO POSTANDO COM ESSA MERDA. FODEU TUDO.

Vejo os posts feitos com a tag:

@allkpop: QUE MERDA É ESSA????!!!

@kangSoRa: Que porra essa vadia pensa que está fazendo com meu Hongbin?!

@ilovevixx: É bom ela passar a olhar bem para os dois lados ao atravessar a rua. Se a vejo, atropelo na certa!

@saranghehongbin: ENDEREÇO DESSA VACA!!! AGORA!

@memyselfandi: HONGBIN OPPA! TADINHO DELE!

@tchekatcheka: ESSA COBRA!

@honbinmylove: PUTA DO CARALHOOO!!!

@vixxhongbin: VEJA BEM O QUE ESTÁ COMENDO, VACA. NÃO PERDERIA UMA CHANCE DE TE ENVENENAR!! NÃO MEXE COM MEU BIAS NÃO!!!

@monstaxfan: E O MINHYUK!!! NO LADO DESSA VADIA!!!

@kpopismylife: SALVEM O HONGBIN!!!

@firstmonbebe: QUEM É ESSA MULHER???!!!

C-a-r-a-l-h-o.

—...AMANHÃ, BEM CEDO, ÀS SETE, OUVIU?!

—...

—PORRA, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?!

—O quê foi?

Ele dá uma forte fungada e solta o ar lentamente. Depois, fala sem pressa:

—A-na, estava dizendo que, amanhã, teremos uma reunião com o manager desse tal de Hongbin para tentar arrumar essa MERDA, ok?

—Hum… uhum… ok.

—Amanhã, às sete, no endereço que te mandarei agora.

—...

—Ana, você REALMENTE entendeu?!

—... hum… -falo, ainda atordoada com os comentários. Finalmente, volto à conversa- sim, diretor. Entendi REALMENTE.

—Tchau, então.

—Tc… -começo, até perceber que ele já desligou na minha cara.

Que merda está acontecendo? Que porra toda é essa?

Sinto meu telefone tocando. Olho e vejo que Davi está ligando.

—Alô, noona.

—Ah… oi, Da.

—Noona, o que está acontecendo? Que programa foi esse? O que você estava fazendo? -ouço um barulho.

—Da, acho que tenho outro número na linha. Espere um pouco.

Atendo a outra linha:

—Alô?

—SUA VADIA, VAI SE FODER! QUERO VER VOCÊ ARDER NO FOGO DO INFERNO! QUEM VOCÊ ACHA QUE É?! SUA P… -toque. Outra pessoa na linha.

Assustada. Migro para a outra linha:

—HONGBIN OPPA! COMO VOCÊ OUSA MEXER COM ELE?! VAI TOMAR NO…!

Outra:

—PUTAAAAA…!

Volto a falar com Davi:

—Da, estou muito fodida.

—...

—Da?

—Noona! Acabaram de divulgar seu número no twitter!

Droga. Era só o que faltava nessa minha vida de merda.

—Da, vou dormir. Tchau. -desligo sem esperar por resposta.

Olho para a vidraça a minha frente. O céu lá fora não está tão escuro, apesar de ser noite. Fico um bom tempo olhando para a paisagem, enquanto analiso o tamanho do buraco no qual me enfiei.

Triii! Triii! Triii!

Acordo com o despertador vibrando, mas não o desligo. Como de costume, fico olhando para o teto, até que a voz da Hatsune Miku toma o ar. Levanto e viro-me para o despertador. 5:30.

Sigo para o armário, aos trôpegos, e tiro o meu uniforme de lá. Começo a me vestir, bem lentamente, quando ouço a vibração do meu celular. Por que está no silencioso? Vejo que se trata de um número desconhecido.

Hum… vai se foder… quem liga a essa hora da manhã…?

Atendo:

—Alô?

—SONHOU COM LÚCIFER, VACA?

MAS QUE PORRA…?!

Depois do choque logo ao acordar, lembro-me do que aconteceu no dia anterior, bem como tomo consciência de que é domingo e não segunda, como acreditava. Sou obrigada a tirar o meu uniforme e sair para tomar um café da manhã rápido, visto que não tenho nem geladeira no meu apartamento, quem dirá comida, e estou em cima da hora.

Entro num Subway peço uma combinação qualquer, sem nem mesmo olhar para a cara de quem me atende. Pago e saio. Confiro o endereço enviado pelo diretor, enquanto como o sanduíche e caço um táxi. Estou jogando o endereço no Google, quando finalmente entro em um veículo:

—Hum… Jelly… fish... -falo, lendo no telefone- Entertainment...

—Você está brincando comigo?! -o taxista responde grosseiramente- Esses jovens de…

—... perdão?

—... hoje em dia que não sabem respeitar o trabalho dos outros! -o senhor olha para mim- Ha. Ainda por cima é estrangeira. Tinha que ser, para ficar enchendo o saco dos outro assim só…

—...

—Saí daqui. Por que ainda está aí?! VAZA!

Saio do carro, sem entender nada. Senhor doido. Como pôde ser rude comigo primeiro? Desbloqueio a tela do celular e leio o que a página do Google indica: Jellyfish Entertainment.… endereço… tempo estimado a pé: cinco minutos… ah…

Olho para a hora e vejo que ainda tenho quinze minutos para chegar no destino. Apesar disso, ando o mais rápido possível, pois algo me diz que meu dia só começou. É como dizem: melhor prevenir que remediar.

Chego adiantada ao destino e olho os arredores. Avisto um café quase em frente ao prédio e como ainda tenho doze minutos, decido comprar alguma bala, para tentar compensar os dentes não escovados.

Adentro o local, cheio demais para um café aparentemente normal antes das sete da manhã, e sinto que todos os rostos viram-se para mim. Normal, quando se trata de mim. O problema é que, quando chego ao balcão, percebo que os olhos não saem de mim. Tudo aquilo começa a me deixar até desconfortável, a ponto de olhar para o meu corpo só para conferir se tinha colocado roupas.

Quando, finalmente, compro minha bala e viro-me para a saída, deixando o rosto visível para todos os que ainda não o tinham visto, é que as coisas complicam.

Um terço pessoas presentes arrancam celulares e câmeras de todos os cantos e começam a tirar fotos.

Bom, e os outros dois terços?

Esses vêm para cima de mim.