Over Game escrita por Kang SoRa


Capítulo 3
Primeiro Toque


Notas iniciais do capítulo

Essa semana, eu não perdi a data, então está aí mais um capítulo.
Boa leitura.



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Depois do intervalo, gravamos mais 40 minutos de programa até que pudéssemos dá-lo como completo. Dirijo-me novamente para o canto da comida, afinal, essa é a única coisa realmente legal em gastar meu sábado vindo aqui. Além, é claro, do dinheiro.

—ESTOU DE OLHO EM VOCÊ, ANA!!! EU SEI QUE É VOCÊ QUE VEM ROUBANDO O ESTOQUE DE COMIDA!!! -grita o diretor para mim.

Dou-lhe um falso olhar de ignorância.

—Mas, diretor, achei que fosse permitido comer durante as gravações… -falo.

—Sim, querida… claro que é permitido, mas -fala, calmamente- LEVAR PARA CASA É DIFERENTE DE “COMER DURANTE AS GRAVAÇÕES”.

—Porra.

—O QUE VOCÊ DISSE?

—Que recolherei minha insignificância, querido diretor.

Saio do set, iniciando a minha trajetória rumo casa. Chego ao corredor e abro a porta para as escadas. Sempre desço de escada para evitar ter de socializar no elevador. Detesto ter de me comunicar com as pessoas mais que o necessário, por isso, para mim, ter de descer oito andares de escada por esse motivo é totalmente justificável. Preparo-me para começar minha jornada na longa descida, quando alguém pergunta:

—Você não está mesmo pensando em descer seis andares de escada, está?

Olho para trás e encontro um Hongbin encostado na parede com o celular na orelha.

—Não.

—Engraçado. Segundo a minha avaliação, você parecia ser exatamente o tipo de pessoa que faria isso para, sei lá, evitar ter de olhar na cara de outros seres humanos, por exemplo.

—Oito.

—Sim?

—São oito andares, ahjussi. -falo e começo a descer tranquilamente.

 

 

Ao chegar em casa, peço uma pizza —graças ao diretor, agora, terei de passar a comprar minha janta aos sábados e não, apenas, malocar algo nas gravações- e ligo a televisão. Sempre chego ás duas da tarde de todo o sábado ao prédio da MBC para gravarmos o programa. Só começamos as gravações por volta das três e meia, mas chego antes para poderem me arrumar. Fico lá até umas cinco e, dessa forma, posso chegar uma hora depois em casa, bem a tempo de assistir ao programa gravado duas semanas antes.

Bem como o esperado, o programa estava começando. Assistia a Minjae e uma garota muito parecida comigo -mas que nunca seria verdadeiramente eu, visto que a minha pessoa nunca usaria um cropped com saia alta e justa por vontade própria- apresentando os convidados quando meu telefone toca e saio a sua procura, sem muita animação, visto que as únicas pessoas que me ligam são o diretor e, muito ocasionalmente, meu pai. Animo-me com a possibilidade de ser Davi, meu irmão mais novo, a única pessoa legal que eu conheço.

Finalmente, acho o aparelho. É o diretor.

—Alô.

—PORRA, GAROTA, ESTOU TE LIGANDO JÁ FAZ SÉCULOS. ESQUECEU DE COMO SE ATENDE UM CELULAR?

—Desculpa, diretor.

Escuto um barulho de respiração.

—Esqueça. Liguei para avisar que o programa que gravamos hoje irá ao ar semana que vem e não na próxima, como o de costume, ok?

—Sim.

—Agora que avisei, estou desligando. VÊ SE ATENDE NO PRIMEIRO TOQUE NA PRÓXIMA VEZ, OUVIU?! Tchau. -Diz, antes de desligar sem ouvir qualquer resposta.

Olho para a televisão novamente. Penso sobre a ligação. Droga. Esqueci de perguntar o porquê. Ah, mas quer saber? Foda-se. Não afeta em nada a minha vida mesmo. Na tela, a-menina-que-parece-comigo diz algo quase que roboticamente, o que me deixa irritada e faz com que desligue o aparelho.

Olho para os prédios de Seul através da grande vidraça do meu apartamento.

E o que afeta, Ana?

 

 

Mais uma semana passa e outro sábado chega. Só mais um dia de tédio como outro qualquer. Chego à MBC e arrumo-me. Os convidados do dia são representantes do iKON e do GFRIEND, B.I e Yuju. Como sempre, sabendo apenas isso, sinto-me pronta.

As gravações seguem normais até que, no intervalo, recebo uma ligação.

—Alô. -reparo que esqueci de ver quem estava ligando.

—Alô, noona.

—Da! -sou tomada por felicidade que não sei de onde vêm. Meu irmão é a única pessoa que consegue fazer isso- Quanto tempo você não liga para sua noona. Está tudo bem? Como está a escola?

—Está tudo bem. Desculpa, noona. Tem ficado difícil ligar para você. Papai e mamãe vivem dizendo que você não é uma boa influência e tals. Além disso, as coisas estão mais difíceis… -sua voz morre.

—Por quê? É o coreano? -pergunto, já duvidando. Davi sempre estudou em escolas para crianças superdotadas e, mesmo assim, estava sempre entre os melhores.

—Até parece...  -ouço alguém o chamando ao fundo- noona, preciso ir. Ligo depois.

—Tudo bem. Nessa sexta, eu te pego depois da natação, ok?

—Não dá. Agora, eu faço robótica também. Mamãe fez a matrícula ontem.

—Porr… que droga, ein? Pode ser depois da robótica, então?

—Ok. Assistirei ao seu programa hoje.

—Ok. Deixa que eu falo com mamãe. Tchau.

—Tchau, noona.

Aproveitando o tempo restante do intervalo, mando uma mensagem, como sempre, curta para meu pai:

Sexta. Eu e Davi. Fala para mamãe.

A gravação segue normal, ou seja, convidados nervosos, Minjae com sua falsa animação, característica de todos os apresentadores, e uma eu-não-eu totalmente alheia à sua volta e incapaz de esconder isso.

Terminamos tudo e sou liberada, podendo ir para casa -não sem antes roubar um pacote de salgadinho, bem na surdina. Estou seguindo o meu trajeto a pé, já que meu prédio fica próximo, até que, de repente, uma menina tromba em mim, deixando cair uma faca no chão. Dou um pulo para trás como um gato acuado.

—Mas que porra... ?!

—Não entenda errado. -fala, enquanto cata não só a faca, quanto um garfo, que eu não tinha reparado, do chão- sou uma não-asiática que não sabe usar a merda dos palitinhos e tem de ficar levando essas porcarias para todos os lugares. Algum problema? -fala mal-humorada.

Garota estranha.

—Oxe.

Encaramo-nos um tempo até que percebemos algo.

—Você falou em português?! -perguntamos ao mesmo tempo.

—Caralho, não encontrei nenhum “br” autêntico desde que cheguei aqui, mas estando na sua presença por menos de um minuto e meio consigo constatar que achei uma bem verdadeira! -falo.

—Digo o mesmo. “Br’s” sempre na merda. Prazer.

—Prazer.

Com isso, parece que notamos o quão estranho essa situação é e lembramo-nos de que tínhamos uma vida, que por mais merda que seja, tem de ser vivida. Assim, seguimos para onde estávamos indo, em direções opostas.

 

 

Chego em casa e sigo o procedimento padrão, tirando pedir uma pizza, já que consegui pegar comida no set hoje -insira carinha feliz. Ligo a televisão, uns 15 minutos atrasada, e vou ao banheiro. Meu celular começa a tocar assim que fecho a porta e os gritos do diretor vem a minha mente, num flashback. Faço tudo o mais rápido possível, mas, ainda assim, só atendo ao terceiro toque.

—MAS QUE PORRA, ANA! JÁ FALEI PARA VOCÊ. PRIMEIRO. TOQUE.

—Eu sei, eu sei.

—SE SABE, POR QUE FAZ MERDA?

—...

—VOCÊ ESTÁ OUVINDO?!

—Sim. -ouço um toque.

—AGUARDA NA LINHA QUE TENHO OUTRA LIGAÇÃO.

Fico esperando com o celular ainda na orelha, enquanto abro o salgadinho. Olho para a tv e vejo a eu-não-eu olhando algo fixamente. Que episódio é esse mesmo? A câmera troca, tornando possível ter um vislumbre do que -ou quem- eu estou observando fixamente, enquanto dou um risinho. Mas que porra é essa, Ana?

—DEU MERDA!


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Notas finais do capítulo

Erros de português? Já sabem.
Comentem o que acharam do capítulo.
XD



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