Grupo de Ajuda das Princesas Desafortunadas escrita por Cherry Pitch


Capítulo 2
Dois: [Branca de Neve]




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— Catorze anos. - Branca começou, logo depois de Cinderela. - Eu tinha catorze anos quando eu fugi de casa, da minha madrasta. Eu a amava, sabe? Eu amava de um jeito bem... Peculiar, mas eu a amava. Eu queria ajuda-la. Ela sofria, e eu via isso. Ela era uma mulher triste, e eu sabia que estava sendo vendida como escrava quando meu pai a encontrou. Uma mulher triste que via sua beleza como refúgio. Ela era linda, por fora. Era por dentro também, mas tamanha era sua sede por poder, e por mais e mais beleza, sal sede por ser a melhor, a mais bonita... Ela destruiu a sua beleza interior.

Branca olha para o chão.

— Eu a amava, e queria ajudá-la. Mas o que uma menina de catorze anos podia fazer? Eu via que ela me odiava, por meu pai me amar mais que ela, e por todos sempre comentarem da minha beleza e não da dela. Por isso eu fugi, sabe? Eu não aguentava mais aquilo. Alguns podem não entender, mas dói querer ajudar alguma pessoa, tentar incansavelmente e... Bem, e a única coisa que essa pessoa tem para dar a você é ódio.

Todas as mulheres ali assentem. A história de Branca era diferente das outras muitas histórias que flutuavam pelo ar naquele momento. Ela era sutil, e dolorosa, mas não era algo romântico. O amor que Branca sentia era uma vontade enorme de ajudar ao outro, e não conseguir. Era ver a dor do outro, e não conseguir alcança-la, não conseguir fazer com que essa dor parasse. E isso era horrível. Era como pisar em cacos de vidro e, quando olha em volta, vê que você está cercada de outros cacos, sem conseguir ver onde acabava aquela trilha de vidro.

— Eu fugi, e fiquei na casa de sete anões. Eles eram bons comigo, muito bons. Até que a minha madrasta me achou. Eu ainda queria ajudá-la, e ela continuava não me permitindo. Ela ainda continuava visando a beleza máxima, e tentou me matar, acho que pela primeira vez. Eu fiquei em coma por algum tempo, até que... Bem, quando eu acordei do coma, eu vi um homem, beijando os meus lábios. Num primeiro momento, fiquei um pouco assustada, mas ele era tão lindo, e eu sentia algo, como se já o tivesse visto antes, algo familiar. E acho que foi ele que me salvou, sabe? Acho que, quando ele me beijou, tive que acordar. Acho que foi uma mistura de coisas tão grande que fui incapaz de ficar no coma. - Branca respira, e começa a fazer movimentos circulares com os dedos, batendo na própria saia amarela algumas vezes. - Até que ele começou a voltar bêbado para casa. Eu não sabia o que estava fazendo de errado. Na verdade, o que uma menina de dezessete anos poderia perceber estar fazendo de errado como esposa, não é? Eu não deveria estar casada naquele momento. Eu gostaria de ter voltado no tempo, sabe? Gostaria de não ter me casado com aquele príncipe, gostaria de não ter descobrido que a minha madrasta morreu durante a sua busca incansável pela perfeição. Gostaria de ter conseguido ajudá-la. Mas eu não consegui ajudá-la, eu descobri que ela morreu durante essa busca, eu me casei com o oríncipe, e não posso voltar no tempo. E cá estou eu, num grupo de ajuda, com uma psicóloga, falando sobre os problemas da minha vida e do meu casamento, aos vinte e dois anos. Todos os anões e outros amigos que fiz durante os anos comentam que eu pareço mais velha do que sou, que os meus olhos já não tem o mesmo brilho de antes, e sei que isso faz o total sentido. Eu estou perdendo o brilho, a minha alma está perdendo o brilho, e, se isso está acontecendo, não posso impedir que os meus olhos percam o brilho e a cor junto.

Branca para de falar e fecha os olhos. Ela tinha falado rápido tudo aquilo, com medo de que desistisse de falar no meio. Ela quase obrigou a si mesma de desabafar ali. Por quê? Ela sentia que precisava daquilo. Organizar seus pensamentos na fala, ver se ela realmente tinha razão para ver que a sua vida estava uma tragédia. Que ela, em si, era uma tragédia ambulante.

Branca chegou à conclusão de que ela era, de fato, uma tragédia. Uma bela tragédia, mas, ainda assim, uma tragédia.


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