Todo aquele clima romântico do Dia dos Namorados soava um tanto melancólico para Momoi Satsuki, e ela tinha um motivo para se sentir assim. Desde que Aomine Daiki conseguiu a bolsa para jogar basquete na Universidade da Califórnia em Los Angeles e se mudou para a Costa Oeste nos Estados Unidos da América, eles não se viam. Desde o aniversário dele, eles não se viam – pois o moreno pegou o voo no mesmo dia, após aproveitar todo o tempo que pôde ao lado dela. O semestre começava em setembro, e mesmo ela avisando que ele se atrasaria, Daiki não abriu mão de passar seu aniversário com ela.

Uma coisa que deixava Satsuki mais aliviada era saber que Kagami Taiga tinha ido junto, após ser também aprovado no programa de admissão de estudantes estrangeiros da UCLA. Nos últimos anos colegiais, os dois tinham se tornado grandes amigos, ainda que a rivalidade entre eles perdurasse. Também era bom saber que Alexandra Garcia cuidaria dos dois, sendo a mentora deles e ensinando inglês ao namorado – se encarregou de intimidá-la o bastante para manter a boca longe dos lábios dele, onde ela se defendeu ao dizer que só tinha vontade de beijar pessoas fofas, e Aomine não se enquadrava nisso.

Nunca se sentiu tão feliz por ter um namorado nada fofo.

Já era fevereiro e bem, estava morrendo de saudades daquele ganguro estúpido. O fato ser dia 14 também não ajudava em nada. Maldito seja o Dia dos Namorados para aqueles que namoram a distância, ela entoava mentalmente. Tentou sobreviver ao dia da melhor maneira que pôde, indo para a faculdade normalmente, checando o celular a cada minuto. O que era inútil, uma vez que a diferença de fuso horário entre Tóquio e Los Angeles era de 17 horas – o que dificultava muito a comunicação entre eles. E por tal motivo, o moreno de cabelos azuis foi obrigado a criar todas as redes sociais possíveis, e fazer relatos de seus dias nelas para que ela pudesse acompanhar. O mesmo valia para ela, que documentava seus dias sem ele pelo Instagram, Snapchat e outros aplicativos idiotas.

O restante de seu dia transcorreu como o esperado, esquivou-se de todo o romantismo da data ao se refugiar na própria casa. Nem se incomodou em comprar ingredientes para fazer chocolates porque não tinha como entregar para o amor de sua vida. E momentos assim, que ela realmente o quão doloroso era estar longe dele – logo eles, que estavam juntos desde sempre. Sentia o peito apertar ao se lembrar da despedida no aeroporto, onde ele a abraçou com tanta força que a deixou sem ar. Enquanto ela se desatava em lágrimas, ele prometia que voltaria. Que viria visita-la.

“Espere por mim, Satsuki. Apenas espere... Eu sempre voltarei para você.”

Percebeu que tinha se perdido em devaneios em meio ao jantar, com os olhos marejados. Pediu licença aos pais ao se levantar da mesa e recolher seus utensílios para deixar na pia, mas sua mãe disse que faria isso. Que ela poderia ir descansar, embora não estivesse de fato cansada. Como não conseguia se distrair com nada, ela tomou um longo banho de banheira com os sais que ele tinha lhe dado de presente de aniversário, e vestiu um dos casacos de frio que ele tinha deixado em casa e que ela pegou emprestada do armário dele, pedindo permissão para sua sogra. Era um pouco mais de 21h quando ela conseguiu adormecer, depois de rolar de um lado para o outro na cama.

Do outro lado do mundo, o despertador do celular de Aomine Daiki tocava, acordando-o. Da outra extremidade do local, seu colega de quarto resmungava que não era obrigado a acordar tão cedo, e o moreno fez questão de xingar Kagami Taiga antes que este adormecesse novamente. Após desligar o despertador, checou as mensagens e um pequeno sorriso abriu-se nos lábios dele, ao ver um pequeno texto escrito pela namorada, que resumia-se em falar sobre a relação deles e que sentia saudades, além de felicita-lo pelo dia. Mas tinha acordado às 6h da manhã por uma razão. E não a responderia por mensagem.

Acendeu a luz do quarto sem se importar com o ruivo, e fez uma ligação via Facetime para ela.

A garota de cabelos rosados acordou de súbito com o celular tocando. Desnorteada, acendeu a luz do abajur e pegou o celular no criado-mudo ao lado da cama. Ao ver que se tratava de um Facetime, sentou-se na cama e posicionou o celular na altura de seu rosto e então atendeu.

— Dai-chan? – proferiu com a voz sonolenta, esfregando os olhos.

O que aparecia na tela do telefone não era a imagem de Daiki, e sim de um ursinho de pelúcia.

— O que é isso?! – ela disse, ao sorrir.

— É o seu presente, Satsuki. – ainda era a figura do bichinho de pelúcia que aparecia na tela.

Era um ursinho pequeno, com a barriga em formato de coração que dizia “I love you”, e tinha o pescoço envolto numa fita vermelha amarrado num laço bonito.

Ela começou a chorar enquanto sorria.

— É muito... b-bonito... D-Dai-chan... – mal conseguia articular palavras, então ele apareceu na câmera.

— Oe, Satsuki! Por que você tá chorando? – aquela expressão carrancuda podia ser vista no rosto dele.

Céus, como ela sentia falta daquilo.

Reparou que ele estava com um corte diferente de cabelo, ainda que estivesse bagunçado pelas horas de sono. Era bem mais curtinho que o habitual, mas que tinha combinado perfeitamente com o rosto dele.

— Já disse que você fica muito feia chorando.

Nessa hora ela sentiu vontade de soca-lo, e praguejou mentalmente contra os vários quilômetros que os separavam.

— Mas fica linda quando sorri. – sorriu de volta quando a viu sorrindo, ao limpar as lágrimas. – Feliz Dia dos Namorados, Satsuki.

Foi naquele momento que ela percebeu que eram 23h e fez os cálculos, ele tinha acordado cedo apenas para comemorar com ela, antes que o dia 14 de fevereiro se encerrasse no Japão. Aquele pequeno gesto a deixou um pouquinho mais apaixonada por ele, percebeu.

— Feliz Dia dos Namorados, Dai-chan! – disse, alegremente, como se não estivesse chorando momentos antes.

Após a troca de juras de amor, conversaram sobre coisas do cotidiano, coisas corriqueiras do dia-a-dia, enquanto ele lhe contava empolgado sobre os treinamentos que fazia junto aos integrantes do UCLA Bruins – time de basquete pelo qual jogava – e sobre como Los Angeles era cheio de lugares legais que a levaria assim que ela pudesse visita-lo. Conversaram por mais uns 40 minutos antes dele se despedir ao se aprontar para as aulas.

Ao desligar a chamada, Aomine Daiki colocou o notebook sobre o colo e finalizou uma transação que tinha feito em nome dela, a compra de passagens de Tóquio para Los Angeles –ida e volta – que tinha conseguido numa promoção e, surpreendente, a data cairia justamente em seu Spring Break.

Mal podia esperar para ver a reação de Momoi Satsuki ao saber que aquele era o seu presente de Dia dos Namorados, e não somente aquele ursinho. E mal podia esperar pela vinda dela, onde teriam uma semana inteira para matar as intensas saudades que sentiam um do outro.