Meus Olhos Enxergam escrita por phmmoura


Capítulo 19
Meus Olhos 2 - Epílogo




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Eliza estava deitada e com dificuldade para respirar. Todo o seu corpo estava quente e suando conforme ela ofegava.

— Bianca… Não consigo… aguentar… mais… Por favor…

A ruiva se inclinou para mais perto da namorada, envolvendo seus braços na garota.

— Sei que pode… Na verdade, já vi você aguentando mais… vamos… por mim…

Apesar de sussurrar com aquela voz doce e tentadora que Eliza amava, não foi o bastante para a garota reganhar sua força.

— Só mais uma vez e eu vou fazer aquela coisa com o gelo que você gosta.

Quando Eliza ouviu aquelas palavras, ela abriu os olhos. Lentamente, ela olhou para a namorada.

— Tá falando sério? Não tá me provocando, né? — perguntou ela, sentindo suspeitas. Bianca já usara o mesmo truque antes.

— Mais uma volta e você vai descobrir — sussurrou a ruiva, com o sorriso muito malicioso e atraente;

Eliza pressionou os lábios. Ela mal tinha energia para sentar no banco, muito menos dar outra volta no parque. Mas, graças ao que Bianca disse, ela se esforçou. Não acredito que fui facilmente manipulada assim. Aposto que ela não faz muito aquilo com o gelo só pra servir de propina pra mim…

Para sua própria surpresa, a oferta de sua namorada funcionou.

Ela conseguiu caminhar aos poucos, apesar de seus músculos reclamarem. Bianca corria casualmente ao lado dela. Porém, assim que Eliza acelerou, mesmo que não tenha ganhado tanta velocidade, a ruiva também acelerou seu ritmo para acompanhá-la.

— Vamos, amor. Só mais uma volta ao redor do parque — disse Bianca com um sorriso genuíno enquanto corria um pouco na frente de Eliza.

 Usando tudo que restava de sua força, Eliza perseguiu a namorada. Antes que percebesse, elas estavam novamente no banco perto da entrada do parque, o qual usaram como ponto de partida.

No instante em que Eliza viu a superfície dura, ela não pensou duas vezes antes de se jogar contra ela.

— Já deu… Estou morrendo… Eu te amo, Bianca… Queria que a gente tivesse ficado mais tempo juntas…

— É incrível quão dramática você consegue ser mesmo dizendo que não pode se mexer mais. — A ruiva riu.

— Não é ser dramática ou não. E como você tem a cara de pau de rir enquanto eu estou morrendo aqui? Eu sabia que você era uma sádica, mas não tanto. Minha primeira e única namorada adora me ver à beira da morte…

— Se tem energia o bastante pra falar bobagem, tá muito que bem. — Bianca ergueu a cabeça de Eliza, sentou no banco e usou seu colo como um travesseiro para a namorada.

— Sei que ainda não decidi se vou me juntar à polícia. Mas se for coisa desse tipo, não tem como eu passar na prova física… Não fui feita pra isso… Posso muito bem virar uma consultora como a Angélica. — Enquanto Eliza reclamava, Bianca pressionou os lábios e desviou o olhar. A garota teve um mau pressentimento ao ver aquilo. — Que foi?

A ruiva tentou conter o riso da melhor forma que podia. Ainda era irritante demais para Eliza.

— A gente já fez o mínimo da polícia umas cinco voltas atrás — disse ela, contendo o riso.

Eliza teve dificuldade para entender aquilo. Então ela respirou fundo enquanto a raiva aumentava dentro de si. Mas, no instante seguinte, ela desistiu; estava cansada demais para ficar com raiva.

— Ótimo. Agora tenho provas de que me apaixonei por uma ruiva gostosa e sádica que aprecia fazer uma frágil garotinha como eu sofrer — disse ela com uma voz pacífica, quase como se tivesse uma epifania.

— Você me acha gostosa? — perguntou Bianca, seu rosto corado pressionou os lábios para conter o sorriso que ameaçava escapar.

Eliza corou e empurrou o rosto da namorada para longe.

— Calada… você sempre se foca nessa parte e ignora o resto do que digo…

— A culpa não é minha. Nunca vou cansar de ouvir você falando isso. — Bianca mostrou um grande sorriso, apesar da mão no rosto. — Você pode ficar chocada, mas eu escuto muito isso. Porém, quando vem de você, não dá. Meu coração bate mais forte e eu apenas quero te abraçar e enterrar de beijos.

— E eu não me importaria com isso… — Eliza desviou o olhar. O sorriso de Bianca era fofo demais para ela. — E não é como se eu gostasse de me gabar da beleza da minha namorada. Mas não tenho vergonha alguma de falar que ela é gostosa pros outros. Melhor do que sair por aí falando que você é uma sádica.

— Não acredito que ainda me chama de sádica! — Bianca mostrou uma expressão chocada e colocou uma mão no peito. — E se eu for, o que não admito, é tudo culpa sua. Você que traz isso dentro de mim à tona.

— Então você quer me culpar agora? Logo eu, a vítima nisso tudo?

Elas olharam uma para a outra por um instante. Depois riram ao mesmo tempo.

— Mudando de assunto, finalmente consegui o requerimento mínimo… — disse Eliza após um tempo, fechando os olhos. — O que falta agora é…

— A corrida de obstáculos — completou a ruiva com um tom alegre.

Eliza estremeceu só de imaginar.

— Não tente deixar ela divertida. Só de pensar nisso faz meu corpo doer… Eu prefiro passar por outro teletransporte…

— Não desista antes de tentar. Sei que você consegue. Se não acredita em si mesma, acredite em mim que eu acredito em você.

— Parece que você já esqueceu que a gente já tentou uma vez.

Desde que o período letivo acabou e elas se formaram do ensino médio, Bianca esteve treinando artes marciais com JP sempre que ele podia. De manhã, porém, ela vinha se exercitando para poder se juntar à polícia. De alguma forma, ela convenceu Eliza a ir com ela.

Embora a garota ainda não tivesse decidido se queria entrar no departamento de polícia do JP ou não, ela decidiu acompanhar a namorada no treino matutino. Em parte porque não queria ser uma daquelas pessoas que acordava ao meio-dia só porque estava de férias. Mas também sabia que, se decidisse ser uma policial, ela precisaria treinar o corpo.

No começo, Eliza pensou que o maior problema seria acordar cedo. Mas, após começarem, a garota desejou que aquele fosse o problema. Embora nunca fosse do tipo que gostava de atividade física, ela sempre acreditou que tinha vigor o bastante para não fazer feio. Algumas voltas em torno do parque da cidade seriam o bastante para mostrar que estava errada.

Bianca não queria que a namorada desistisse, então sugeriu que tentassem a corrida de obstáculos uma vez, dizendo que poderia ser mais fácil para alguém com a condição física de Eliza.

A primeira tentativa não foi tão ruim. Eliza conseguiu se livrar de um terço do percurso sem problema. Mas seu corpo cedeu antes de ela alcançar a metade.

— Não se preocupe. Vamos conseguir — disse Bianca na hora, esforçando-se para motivar a namorada.

— Acho que isso significa que me darei melhor sendo uma consultora independente, como a Angélica — disse Eliza, se posicionando no colo de Bianca para ficar confortável. O colo dela é confortável mesmo quente.

— Não fale isso. Por favor, não me abandone — disse Bianca com um tom exagerado.

— Agora quem é que está sendo dramática? — riu Eliza de sua própria piada. — A gente ainda trabalharia juntas. Mas é só uma hipótese. Lembre-se de que não decidi ainda.

— Eu sei, eu sei… — Bianca suspirou e acariciou o cabelo da namorada gentilmente. — É que não consigo parar de pensar em nós duas trabalhando como policiais. Lutando contra crimes sobrenaturais e tudo mais.

— Você transformou isso em um enredo de filme ruim. E tem certeza de que só não quer me ver em um uniforme policial?

Bianca abriu a boca. Mas então a fechou e sorriu.

— Não dá pra negar — murmurou, desviando o olhar e com as maçãs do rosto levemente coradas.

Eliza mostrou um sorriso malicioso. Ela tinha feito o mesmo com a namorada.

— Sabe, se comprar uma daquelas fantasias de policial, eu usaria só pra você — sussurrou ela no tom mais provocador que tinha.

O rosto da ruiva ficou tão vermelho quanto seu cabelo.

Eliza riu; foi justo a reação que ela queria.

— De todo jeito, como o seu treinamento com o JP está indo? Você não tem falado nada disso. Não acredito que tá fazendo segredo pra cima de mim…

— Ah, bem… sabe… São artes marciais e tal…

— Olha essa ladainha de novo. Apenas desembucha. Ou vai dizer que é algo que te deixa tão envergonhada que não vai me contar? — Eliza semicerrou os olhos.

— Claro que não…

— Então me conte. Ou vou ficar imaginando um bando de coisas estranhas que vão me deixar louca e aí…

— Tá bom, tá bom. Eu vou te contar — murmurou Bianca, procurando dentro do bolso do shorts. — Queria guardar segredo até que tivesse progredido o bastante pra mostrar…

A ruiva tirou uma luva de couro marrom. Tinha símbolos estranhos e um botão no meio da palma.

— Olha só, é que nem a do JP! — exclamou Eliza ao se lembrar. — Ele te deu?

— Sim… Eu tenho treinado artes marciais com ele, mas ele também me ensina a usar magia — disse Bianca, com a voz sumindo.

— Puta merda! Eu nem fazia ideia! Você está aprendendo a usar magia? — disse Eliza, mais alto do que deveria.

— Porque não tá indo bem — disse a ruiva com voz baixa. — Apesar de ser treinada toda a minha vida, magia e artes marciais são diferentes demais…

Eliza parou de pensar por um instante.

— Como você treina magia?

— Meditando…

— Só isso?

— Tem alguns clichés de filme também…

— Tipo o quê? Treinar debaixo de uma cachoeira? Vai fazer o fluxo da água ir na direção contrária?

— Não estou treinando para ser um Cavaleiro — disse Bianca com um pequeno sorriso no rosto. — Além do mais, não tem cachoeira por perto… Após o treino de artes marciais, eu fico debaixo de uma ducha forte e recito um mantra para despertar meu lado espiritual…

— Quê? Sério?

— Sim… mas não está funcionando… Segundo o JP, eu me foquei demais no treino físico.

— Não é um jeito legal de dizer que você é cabeça dura?

— Não foi bem assim que ele disse… — Bianca mostrou um sorriso culpado.

— Não acredito que é tão simples assim usar magia…

— O JP disse que é como correr. Qualquer um pode fazer uma maratona. Mas é preciso treino.

— Então você vai mesmo ser uma policial sobrenatural… — Eliza sorriu e olhou para o céu.

— Agora que você falou, parece algo brega… Vou perguntar se tem um jeito melhor pra gente.

— Pergunta, vai. Não acho que vai ser legal se eu disser que estou namorando uma policial sobrenatural. Faz você pensar em um daqueles policiais que usam videntes pra resolver casos…

— Pode não ser tão ruim se você vier comigo…

— Você não vai descansar até eu aceitar, né? — Eliza suspirou e apertou a mão de Bianca.

— Só estou tentando dar um empurrãozinho pra este lado.

— Você tem feito isso desde que a gente se conheceu… — Ela olhou nos olhos de Bianca. — Graças a isso, eu me apaixonei por você.

O rosto da ruiva ficou com um tom forte de vermelho enquanto ela sorria.

— Você sabe deixar uma garota envergonhada…

— Não. Sei como deixar você envergonhada. — Eliza puxou Bianca para perto de si e a beijou.

— Se tá boa o bastante para isso, significa que pode dar mais uma volta? — perguntou ela quando as duas pararam de se beijar.

— Minha nossa senhora, não. Me poupe, pelo amor — implorou Eliza, com uma risada cansada.

— Ah, vai. Só mais uma… por favorzinho?

— Isso não vai funcionar… não de novo… — Ela desviou o olhar, com as maçãs do rosto levemente coradas. — Mas sei o que você está tentando fazer.

— Como assim…?

Eliza sorriu e balançou a cabeça.

— Você ainda é uma péssima atriz… Sei que está tentando manter minha mente ocupada porque hoje é o dia em que os resultados do ENEM saem.

— Ah, é hoje? Eu tinha esquecido completamente… Acho que você não tá preocupada com isso, já que nem percebeu.

— Eu adoro que você seja uma péssima atriz. Vou descobrir na hora caso me coloque chifres.

— Como se tivesse outra garota doida o bastante para ficar comigo.

As duas riram ao mesmo tempo novamente.

— Você sabe que estou brincando, né? — perguntou Bianca com um tom mais sério após um instante de silêncio. — Eu adoraria que a gente trabalhasse juntas, mas se decidir se tornar uma jornalista, eu vou te apoiá-la por completo. Sabe disso, né?

— Jamais duvidei. — Eliza sorriu.

Bianca se inclinou para beijar a namorada.

— Eu só pressiono você porquê…

— Quer flertar no serviço? — interrompeu Eliza com uma sobrancelha erguida. — Não preciso dos poderes do Teo para saber dos seus esquemas, Vermelha.

— Eu não vou mentir que isso parece legal. Mas estou pensando mesmo em você. — Bianca riu.

— Ahãm, sei…

— Eu falo sério. Você pode ser uma jornalista incrível. Pode descobrir e expor muitos segredos que as pessoas jamais nem sonha. Mas seria difícil provar como você conseguiu. No entanto, trabalhando com aquele departamento da polícia, você pode ajudar muitas pessoas, ainda que não tenham ideia.

Eliza ficou em silêncio. Ela me conhece mesmo… Eu também tava pensando nisso

— Você pensou bastante nisso tudo, hein?

— Claro. — Bianca olhou para o céu azul. — Sei que estamos namorando só há sete meses… na verdade, nós conhecemos há menos de um ano… mas não posso ficar sem imaginar a gente… você sabe… no futuro… — O rosto dela ficou ainda mais vermelho, mas ela olhou nos olhos de Eliza mesmo assim. — Eu amo você e quero construir uma vida contigo…

— Você sabe como envergonhar uma garota… — Eliza pressionou os lábios e desviou o olhar. O rosto dela queimava. — Eu também quero isso…

Antes que Bianca dissesse qualquer coisa, o celular de Eliza tocou com uma mensagem. A garota sentou e o tirou do bolso.

— É a minha mãe… Ela disse que os resultados do ENEM saíram…

Ela pressionou os lábios e encarou a tela.

— Não vai conferir.

Eliza ficou quieta por um bom tempo. Depois guardou o celular e se virou para Bianca.

— Não é como se o site fosse funcionar agora. Milhões de pessoas provavelmente estão conferindo nesse momento…

— Você tem razão…

— Além do mais… Eu não acho que vou precisar — murmurou Eliza.

A ruiva sorriu.

— Quer dizer que…?

— Sim… tudo que você disse agora pouco… Eu já sabia… Estive pensando na mesma coisa — admitiu Eliza, sem encontrar o olhar de Bianca. — E embora eu não esteja fazendo isso por você, pode ser divertido trabalhar contigo…

Bianca sorriu ainda mais e abraçou a namorada.

— Vai ser demais! O JP vai amar ficar sabendo disso. Ele tem dito que o seu poder vai ser uma adição ótima ao time. Ele tem dado indiretas tão diretas quanto um tapa na cara. Você e o Teo serão a maior dupla de espiões que tem.

— Se ele puder ficar de boca fechada, é claro…

Bianca se levantou e ofereceu uma mão para a namorada.

— Na verdade, vai ser se você puder dar mais uma volta.

Eliza olhou para aquela mão e então para a dona.

— Acha que esqueci quando você falou que corremos mais que o necessário?

— Mais uma volta não vai te matar. — O sorriso de Bianca estava cheio de energia.

Eliza suspirou e aceitou aquela mão.

— Não tenho como resistir a isso — murmurou ela sob sua respiração.

Apesar das palavras, ela não conseguia conter seu sorriso.

A garota não fazia ideia do que a aguardava no futuro, mas tinha uma certeza: se estivesse com Bianca ao lado, ela poderia ir além do que jamais imaginou.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até aqui.
Espero que tenham gostado.
Esse foi o final da história de Eliza e Bianca, mas as duas ainda vão aparecer em outras histórias.
Infelizmente vai demorar um pouco.



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