Finalmente, adeus escrita por Selene


Capítulo 1
O primeiro e último desejo do Goblin


Notas iniciais do capítulo

Para bad completa, eu recomendo que vocês leiam ouvindo a OST ♥
Espero que gostem, sofram comigo!



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Ahjussi?

O homem hesitou, mas virou-se em direção à menina atrás de si. Ela tinha um cabelo longo o suficiente para chegar à cintura, quase tão claro quanto sua pele, brilhando sob a luz da luminária de metal. Os olhos azul-gelo – de um tom quase cinza – o encaravam com muito mais sabedoria do que deveriam.

— Dói?

Ele apenas a olhou, confuso. A menina deu um passo à frente, aproximando-se do homem mais velho com um sorriso pequeno nos lábios, tão triste que ele quase a abraçou. Nenhuma criança deveria sorrir daquele jeito.

— Perdê-la. Dói?

Kim Shin assentiu, segurando as mil perguntas que ele queria fazer. Era tão óbvio que a garota era uma divindade que ele se sentiu estúpido por não ter notado antes. Ele a observou seguir o caminho até sentar-se ao seu lado. Quem os observasse de longe talvez não percebesse que nada além do cabelo da menina estava molhado, apesar da chuva torrencial. Mas ele notou. Notou que os passos dela não tinham som. Que a pele dela não tinha cor, e que a única coisa que mostrava vida na menina era o brilho dos olhos azuis.

—  Você sabe que essa foi apenas a primeira vida dela, não sabe? O que fará agora?  - Ela esticou a mão, observando enquanto os pingos de chuva atingiam sua pele sem molhá-la, e ele imaginou que tipo de deus cruel possuiria uma criança. Mas, observando a pequena figura pálida de perto, ele percebeu que aquela era sua verdadeira face. Talvez apenas uma delas, mas sua verdadeira face.

— Você não é a Mãe¹. – Ele começou, após alguns instantes. – Também não é o Todo-Poderoso².  Você não é o Goblin, ou sua noiva.  Quem é você? Um Ceifeiro?

Ela sorriu, encarando seu vestido e capa, ambos pretos. Realmente, ela se vestia como um deles.

— Você não me respondeu. – A garotinha encarou o Goblin nos olhos, e ele sentiu como se os dois fossem os únicos seres no mundo. – O que você vai fazer agora?

Kim Shin suspirou, observando sua respiração condensar-se em uma névoa frente ao seu rosto. Provavelmente os meteorologistas estavam surtando em confusão vendo clima mudar tanto. O primeiro floco de neve caiu do céu, e ele fechou os olhos com força. Era a primeira neve, mas ela não estava ali para segurar sua mão. Não mais.

— Eu vou esperar. – Ele olhou para a menina, observando-a pegar alguns flocos de neve com as mãos. – O que mais eu deveria fazer?

— Bem, é sua decisão. – Ela levantou-se, o mesmo sorriso triste nos lábios. – Fique, ajude os humanos. Dê a eles pequenos milagres, como você sempre fez. Você pode fazer chover, pode fazer nevar. Pode encontrar um amigo, ou passar anos buscando sua noiva. Só lembre-se: viva ao máximo. Mesmo que às vezes doa, você também precisa viver feliz, e corajosamente. Essa é a resposta adequada à todo o amor que você recebeu. – Ela observou enquanto a expressão dele passava de surpreso para irritado, e sorriu. – Ela me pediu para lembrá-lo. E para que você controle a chuva, pelos humanos. Faça isso por ela.

— Quem é você? – Ele perguntou outra vez, e ela deu um passo para trás. Em seguida, esticou a mão em sua direção, e ele sentiu um calor confortável aquecê-lo de uma forma que ele nunca havia experimentado. – Quando você estiver pronto, encontrará meu nome na parte mais profunda do seu coração. Chame, e eu virei por você. Agora, vá até seu amigo. Quando ele lhe der adeus, volte para Quebec. Encontre seu passado, presente e futuro. Encontre a felicidade, você merece.

E ele foi. E viu sua irmã e seu melhor amigo em uma vida em que poderiam ser tão felizes quanto possível. Ele encontrou um homem de coração bom e, pela primeira vez, foi o que recebeu um sanduíche de incentivo. Ele viu o fantasma de um jovem canadense, e assistiu as folhas descerem ao chão. E então ele ouviu a voz de seu amor, viu seu rosto novamente. E, como um milagre, flores apareceram no meio do outono canadense.

 

 

 

A chuva torrencial já durava três dias, confundindo e frustrando todos os moradores de Seul. Dentro de uma grande e confortável casa, um homem chorava. Ele tinha acabado de perder sua esposa, o amor de sua vida. Estava sozinho no mundo, ninguém para segurar sua mão e fazer a chuva parar.

O Goblin sentou-se na cama que, pela última vez, dividira com aquela que tanto amara. Mas, dessa vez, ele sabia que ela não voltaria, e ele sentia como se tivesse o coração atravessado por uma espada novamente.

Kim Shin sentou-se na cama e, enquanto chorava como nunca antes, um nome surgiu em sua mente, tão alto que claro quanto seu próprio nome.

— Mi Young³. – Ele sussurrou, fechando os olhos. E então gritou, chorando, sentindo o coração queimar. – Mi Young!

O homem sentiu o vento frio tocar-lhe o rosto, balançando seus cabelos e amortecendo sua dor, como se estivesse em uma bolha de paz. Encarou a mulher a sua frente, talvez tão alta quanto ele, usando um vestido negro que ia até os pés, os ombros e cabeça cobertos por uma capa longa, tão negra quanto o céu da meia noite. Ele observou enquanto as mãos pálidas retiravam o capuz, revelando o rosto de beleza inigualável. O cabelo da mulher era tão claro quanto sua pele, e os olhos azul-acinzentados o encaravam com uma sabedoria que ninguém deveria ter. Ela deu o mesmo sorriso triste de antes, e ele sentiu como se fossem os únicos no mundo.

— O que eu faço? – Kim Shin perguntou, e ela observou enquanto as lágrimas varriam o rosto do homem a sua frente, tanta dor que ela sentia o próprio coração doer.

— Foi a última vida dela. – A loira sussurrou, e ele assentiu. Ela andou até ele, parando em frente ao destroçado Goblin. – Eu não posso te dizer o que fazer, meu querido, essa decisão é sua.

— Quem é você? – A voz do homem estava baixa, rouca pelo choro. Ela sorriu, suspirando.

— Eu sou a eterna. A primeira a vir, e a última a partir. Sou a que está aqui desde o primeiro dia. Eu vi Goblins irem e virem, Ceifeiros viverem e morrerem. E, a menos que você decida ficar, eu serei a única de pé após o fim do mundo. Esperando pelo meu descanso.

— Você é a morte. – Ele sussurrou, e ela assentiu. Agora ele entendia o sorriso, e o olhar da mulher. – É sua culpa. Você a levou. Levou todos eles.

— É verdade. – Ela apoiou uma mão na outra, depositando-as frente ao corpo, parecendo tão pacífica que ele quase se sentiu mal por querer matá-la. - Tudo tem um tempo para vir, e um tempo para ir. Sem escuridão não há luz, sem dor, não há felicidade. Sem a morte, a vida não merece ser vivida. – Ela levou as mãos frias ao rosto do Goblin, limpando o rastro de lágrimas do homem. – Não chore, criança. Eles estão todos em paz.

— Você veio por mim? – Ele murmurou, a mão direito no lugar em que, antes, uma espada atravessava seu corpo.

— Apenas se você quiser, meu querido.

— Por que? Por que você?

— Eu te observo desde o primeiro dia de sua nova vida, criança. Você tem sido punido por tempo demais, assistindo todos os que ama partirem por quase dois mil anos. Você merece paz.

— Eu devo ir, então? Após todo esse tempo?

— Isso é com você. – Ela sorriu, olhando pela janela, para a chuva que ainda caía, apesar de mais fraca. – Mas você deveria segurar suas lágrimas. Eun Tak está preocupada com você, e com os efeitos dessa chuva para a humanidade.

— Por favor, me deixe ir.– Ele perguntou, levantando-se assim que ouviu o primeiro nome de sua noiva.

— É esse o seu desejo, Kim Shin? – Ela perguntou, e sorriu ao vê-lo assentir.

— O que eu preciso fazer?

Ela deu um passo mais perto dele, segurando-o pelos ombros.

— Apenas seja feliz, minha criança. – Ela sussurrou, após beijar-lhe a testa.

Mi Young observou enquanto o céu parava de derrubar as lágrimas de um outro alguém, e riu quando percebeu que ela mesma estava chorando. A mulher olhou para o quarto vazio e, pela primeira vez em uma eternidade, sorriu com alegria.

— Você geralmente os beija em outro lugar. – Uma voz masculina falou atrás de si, e ela riu, virando-se para o Todo Poderoso.

— Os lábios dele pertencem à noiva do Goblin. É uma barreira que nem mesmo a morte pode quebrar.

— Ou não quer.  – O homem sussurrou, segurando a mão da Morte.

— Isso, também. – Ela riu. – Eles têm mais de mil anos de história. Garanta que suas almas se encontrem.

— Sim senhora. – Ele sorriu, enquanto ela revirava os olhos e murmurava um “idiota”. 

Fora da casa, todos encaravam o céu claro, com um Sol brilhando forte pela primeira vez em dias. O que seria mais estranho, a súbita mudança climática ou as flores que brotaram do nada? Enquanto os fantasmas percebiam o que acabara de acontecer e os Ceifeiros riam para o céu brilhante, uma delicada voz infantil sussurrou para o vento.

— O casal Goblin está junto outra vez, não é?

— Sim.... Eles estão felizes agora.


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Notas finais do capítulo

¹ A deusa do nascimento, aquela linda senhorinha dos legumes/diva do batom vermelho. Não me lembro se eles atribuem algum nome a ela durante o dorama.
² A "Divindade". Também não consegui encontrar nenhum nome específico além desse.
³ A Eterna

Espero que tenham gostado, queridos! Até ♥



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