No tempo de viagem que se seguiu, Eden estava cada vez melhor, conseguia se segurar com o braço bom e fazia movimentos leves com o outro, ao estarem próximas a Amphípolis decidiram descansar antes do dia seguinte, quando teriam que dar a volta no lago, pararam em uma cidade, pois a chuva havia ficado violenta demais.

Quando o sol raiou elas já estavam de pé, Eden foi com Gabrielle a cidade conseguir comida, ambas estavam observando uma barraquinha que tinha algumas frutas e peixe, pareciam bons.

um burburinho corria solto e de repente uma confusão começou: uma mulher berrava, um bandido havia roubado o dinheiro que ela trazia, seus dois filhos pequenos choravam assustados e o homem correu. Ela gritava para segurarem ele, então quando ele passou, a menina pôs o pé para que ele caísse, os muitos dinares que ele carregava caíram no chão e foram apanhados pela multidão, devia ter roubado várias pessoas antes daquela mulher.

Enfurecido ele sacou sua espada apontando para o pescoço da garota, antes que ele pudesse tomar qualquer atitude, Gabrielle já tentava desarmá-lo, a espada dele acabou jogada a uma grande distância, ele correu e todos riram. Eden começou a pensar em como devia ser legal essa vida de aventuras, ajudar as pessoas, perigo constante, a sensação de recompensa em ajudar os fracos e oprimidos.

Enquanto comiam, ela decidiu perguntar mais sobre a heroína.

— Gabrielle? Como minha mãe achou você e como fez para vir atrás de mim?

— Está curiosa, não é? – Disse a loira sorrindo, mas pensando em que mãe a garota se referia, tentou pensar em Cyrene.

A jovem acenou com a cabeça e ouviu prontamente tudo o que a outra falou.

— Sua mãe veio atrás de mim quando você foi levada por Lorcan, eu aceitei te resgatar.

— Porquê?

— Por que é uma boa ação, é isso que eu faço.

A garota não perguntou, mas sua expressão dizia que sabia haver algo mais.

— E fiz isso por Xena também...

— Xena?

— É, sua irmã – Gabrielle resolveu entrar na mentira para evitar que a ouvinte sofresse ou se irritasse com Cyrene.

— Você parece saber muito sobre ela.

— Nós éramos grandes amigas, muito unidas, ela é mais que uma irmã para mim.

— Eu não sei quase nada sobre ela – Disse a jovem triste – Minha mãe não gosta de falar sobre isso, magoa muito.

— Não deve ter sido fácil.

— Será que você poderia me contar um pouco sobre ela?

— Posso, acho que não tem ninguém no mundo que a conhecia como eu conheci.

A jovem de olhos azuis sorriu fraco e concentrou-se nas palavras de Gabrielle.

— Eu conheci Xena quando ela me salvou, eu era bem jovem, apenas uns anos mais velha que você, ela estava arrependida e decidiu ajudar as pessoas e eu quis partir com ela.

— Você tem família?

— Tenho sim, meus pais já estão mortos, mas minha irmã Lila está viva.

— E você deixou tudo isso para seguir a minha irmã?

— Sim e não me arrependo, eu precisava me revelar, todos me achavam uma garotinha indefesa, eu queria provar que podia ser forte, não é fácil provar que se é uma pessoa diferente.

— Como era ela? — Disse a menina com olhar sonhador.

— Linda, por dentro e por fora, cabelos pretos, forte, tinha lindos olhos azuis.

Eden tentou imaginar tudo isso em uma só pessoa.

— Olhos idênticos aos seus, olhar para você é como ver os olhos da minha amiga.

— Acho que agora meus olhos são realmente de uma amiga sua, pois quero que seja minha amiga.

A loira achou graça nesse gesto infantil, pegou as mãos de Eden e a menina reparou que ela carregava um círculo de ferro.

— O que é isso? Um bumerangue?

— Bumerangue? É um Chakram!

— Deve ser quase a mesma coisa, eu já vi um desses de madeira, jogava com Colossus. Disse a menina ficando ligeiramente vermelha.

— E quem é Colossus?

— É meu amigo, um viajante – Ela agora mais parecia uma cereja, arrependida de ter citado Colossus.

Era estranho ficar tão vermelha por um amigo – Gabrielle pensou.

— Posso tentar?

— Cuidado, isso é bem afiado, se achar que não consegue pegar abaixe a cabeça, sim?

— Ok!

Então Eden ficou de pé, mirou em uma árvore e lançou. O disco de prata ricocheteou em lugares da floresta que ela não imaginara até voltar em sua direção, mesmo sabendo que teria ajuda caso não conseguisse, ela estendeu a mão e o chakram veio como um imã.

Talvez tenha vindo com velocidade demais, pois sua mão ficara toda vermelha, mas Gabrielle tinha um sorriso orgulhoso no rosto.

— Foi muito bom!

— Bom para uma primeira vez?

— Não, foi bom mesmo.