Pétalas de Girassol: Silêncio escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 1
Único




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Silêncio

O lugar em que Hinata atualmente morava não poderia ser mais diferente do que o lugar onde havia crescido. Enquanto o complexo Hyuuga com sua construção ampla e tradicional era austero, silencioso e monocromático, o pequeno apartamento que ela praticamente dividia com Naruto – tecnicamente eles ainda não estavam morando juntos mesmo que a maior parte dos pertences dele estivesse lá – era na parte recém construída de Konoha, com arquitetura moderna que tentava otimizar o máximo o possível seu pequeno tamanho. A decoração era alegre, com muitas plantas coloridas e sinal de vida em todo canto. Também era longe de ser silencioso, já que geralmente Naruto ligava rádio, televisão, computador, enfim, tudo que fazia barulho ao mesmo tempo. Então ela deveria saber que alguma coisa estava errada quando chegou em casa, cansada de uma missão trabalhosa e burocrática, e encontrou todos os eletrodomésticos desligados e Naruto na cozinha – eles haviam começado a aprender juntos a cozinhar, mais por influência dela do que dele que ficaria satisfeito comendo macarrão instantâneo pelo resto da vida – descascando legumes.

— Naruto-kun?

Com um sorriso largo, ele largou a faca e a cenoura na pia e secou as mãos no avental de sapinhos que usava.

— Seja bem-vinda.

Intrigada com a recepção fria para os padrões de seu namorado, Hinata largou a chave em cima do balcão da cozinha e começou a inspecionar o que ele estava fazendo.

— Hmmm, o cheiro está bom, o que você está fazendo?

— Nada demais, só salada de cenoura – era o único vegetal além de batata que ele comia, ela desconfiava que era basicamente por ser laranja, embora fazer ele comer abóbora ainda não fosse um feito que ela houvesse conseguido realizar – arroz e peixe grelhado.

— Quer ajuda?

— Não precisa’ttebayo. E você deve estar cansada da missão.

Ela estava mesmo.

— Que eu ainda não terminei totalmente. Ainda tenho que escrever o relatório. Mas tem certeza que não quer ajuda?

Finalmente se aproximando dela, Hinata se preparou para receber um beijo na bochecha, mas nunca aconteceu, ele só tinha... cheirado seu pescoço?

Ela sentiu o rosto queimar, mas ele pareceu não notar, voltando para a pia.

— Vai tomar um banho e fazer seu relatório, daqui a pouco a janta fica pronta.

Ainda se sentindo estranha depois daquela interação atípica, ela resolveu obedecer.

Deixou a cozinha, tomou uma longa ducha morna que fez com que seus pensamentos se distanciasse de Naruto para outras coisas mais mundanas como a missão chata de que havia acabado de sair, o quanto o relatório daria trabalho e a pequena discussão que havia tido com Hanabi dois dias antes, ela ainda estava magoada por Hinata ter ido morar sozinha logo após sua abdicação.

Quando saiu do banheiro Naruto anunciou que a comida estava na mesa e eles jantaram, em silêncio. No final ela se ofereceu para lavar a louça, mas ele protestou veementemente dizendo que ela ainda tinha o relatório.

Derrotada, mas agradecida, Hinata se sentou à escrivaninha da sala para começar a trabalhar. Ainda lhe passou pela cabeça o quão havia sido estranho que ele não havia lhe beijado, abraçado, feito inúmeros inquéritos sobre o seu dia, dito palavra sequer durante a refeição e nem mesmo cantado enquanto fazia suas tarefas, ou seja, nada do que se configuraria como um comportamento tipicamente Naruto Uzumaki.

Mas, ela pensou, vai ver ele só estivesse cansado também. Apesar de ter chegado em casa mais cedo que ela, Naruto era uma pessoa ocupada e geralmente tinha dias cheios. Vai ver ele só estava com a cabeça cheia de outras coisas também, não é mesmo?

Entretanto, ela não terminaria aquele relatório naquela noite, alguns minutos depois de ser deixada para fazer sua tarefa Hinata foi interrompida pelo som estridente de todas as panelas do armário caindo.

Mais do que rapidamente ela se levantou e correu para a cozinha adjunta.

— Naruto-kun! Você está bem?

— Estou. Desculpe, eu não queria atrapalhar você’ttebayo. Eu sou um idiota. Desculpa, Hinata.

— Que?

— Eu derrubei tudo, fez um barulhão – ele suspirou, enfiando o rosto nas mãos, os ombros caídos – um idiota!

— Naruto-kun – disse ela se aproximando dele por entre as panelas caídas – porque você está falando assim de você mesmo? – Ela colocou as mãos sobre as dele num gesto mudo para que ele as tirasse da frente e ela pudesse ter acesso ao rosto que ele escondia. – Você sabe que eu não gosto disso.

— Desculpe – ele abaixou as mãos revelando um rosto triste, Hinata franziu o cenho e mordeu o lábio inferior, Naruto apertou as mãos dela entre as suas.

— Porque você está se desculpando? E daí que você derrubou as panelas. Poderia acontecer com qualquer pessoa.

— Mas você estava tentando se concentrar, eu devia ter tomado mais cuidado’ttebayo.

— Não. Não é isso. Tem alguma coisa de errado. Você está agindo estranho. Aconteceu alguma coisa.

— Não foi nada demais.

Ela suspirou.

— Vem – ela o agarrou pela mão e o levou até a sala o colocando sentado no sofá e se sentando em um dos joelhos dele – me conta o que tem de errado.

Ele levou um tempo para começar a falar. Se jogou primeiro no encosto do sofá, com a cabeça para trás, encarando o teto.

— Você vai achar bobo.

— E daí se eu achar bobo? Eu acho você bobo, o meu bobo.

A resposta conseguiu um pequeno sorriso dele e Hinata se sentiu uma fagulha de vitória.

— Hoje eu vi a Sakura-chan.

— Hmm?

— Ela estava com uma aparência bem feliz, sabe como? Tão feliz que nem me bate quando eu implico com ela? Então, eu brinquei que parecia que ela tinha acabado de ver o Teme e ela ficou toda estranha. E adivinha só’ttebayo. Ela tinha mesmo visto ele.

— Sasuke-san esteve na vila?

— Aparentemente ele faz muito isso.

— E você não sabia...

— Não. E sabe o que é pior? Se fosse só pra ver a Sakura-chan eu ainda tentaria entender, eles têm aquele rolo lá deles e eu tento não me meter, mas ele também visitou o Kakashi-sensei e Sakura-chan disse que ele geralmente também passa no memorial antes de ir embora.

— Oh... E ela disse alguma coisa sobre porque ele não vê você?

— Não fica chateada com a Sakura-chan, Hinata – ela franziu o cenho, porque ela ficaria chateada com a Sakura? O que aquela conversa tinha a ver com essa possibilidade? – Mas ela disse que é provavelmente porque o Teme não quer – ele fez aspas com as mãos e ela se sentiu um pouquinho orgulhosa pois havia sido ela quem havia ensinado a ele aquele gesto – “muita agitação”. E sabe como eu sou né?

O cenho de Hinata se franziu mais ainda, ela não estava gostando nada daquilo.

— Viu, eu disse que era bobo. E além do mais, eu já devia estar acostumado. Na verdade, eu nem sei como você me aguenta – ele riu, mas o riso não tinha humor algum – deve ser um saco pra alguém tão calminha como você ter que aturar um cara barulhento e que não para quieto como eu dattebayo.

— Não. Para, para com isso Naruto-kun. Eu não aturo você, e não acho nada relacionado com minha vida com você “um saco”.

— Não precisa mentir pra me agradar, Hinata, eu sei que é difícil gostar de mim.

— Quem te disse isso?

— Ninguém’tteayo e todo mundo... É só ver o quanto foi difícil pras pessoas começarem a ir com a minha cara. Mesmo fora o lance do Kurama, a maioria do pessoal da nossa idade não sabia disso, por exemplo, e todo mundo sempre pareceu irritado e incomodado quando eu estava por perto.

— Eu já aparentei me incomodar com você alguma vez, Naruto-kun?

Ele parou um pouco pra pensar.

— Não... Mas eu sou ruim de notar essas coisas também né.

— Pois me parece que você é na verdade bem sensível a como as pessoas percebem você.

Ele fez silêncio.

— Naruto-kun, olha pra mim que eu vou te dizer uma coisas muito importante agora – ele voltou a ficar ereto e ela segurou o rosto dele com uma das mãos o encarando nos olhos. – Eu já fiz muitas coisas difíceis, me esforçar para ser ninja, uma coisa por qual eu nunca tive gosto ou talento, lutar contra minha irmãzinha quando nós ainda éramos crianças,  tentar não desabar quando eu perdi e passei a ser tratada como lixo por toa minha família, enterrar Neji-nii-san, abdicar de meu lugar como herdeira e ainda ouvir a baboseira descarada que era porque já que pretendo me casar com o futuro Hokage e não poderia ter conflitos de interesses, como se esse fosse o real motivo e não minha própria incompetência...

— Hinata...

— Não, eu ainda não terminei. Todas essas coisas foram difíceis e tiveram muitas outras coisas que eu daria um membro pra não ter feito e fiz mesmo assim, mas amar você Naruto-kun? Amar você nunca foi difícil. Amar você foi a coisa mais fácil que eu já fiz na minha vida.

E dizendo isso, ela o beijou, um simples tocar de lábios que ele fez desenvolver em um beijo lento, mas aprofundado e que os deixou sem fôlego mesmo depois de terminado, quando eles, ainda de olhos fechados, mantiveram as testas unidas.

— Eu não sei porque Sasuke-san não tem vindo te ver – disse ela numa voz fraquinha – mas seja o motivo que for, é uma escolha dele e não por sua causa. Não quero mais ouvir você falando desse jeito de você mesmo, Naurto-kun. Você não me deixa falar mal de mim mesma, então nada mais justo que eu faça o mesmo por você.

Ele a beijou de novo, dessa vez com mais paixão, sua mão boa descendo pelas costas de Hinata até o quadril.

— Obrigado, Hinata – disse ele entre os beijos que se distanciavam dos lábios dela para a bochecha, ouvido, ombro,... – eu não sei o que eu fiz pra merecer você.

Ela sorriu enquanto se sentia sendo inclinada para uma posição deitada no sofá.

— Naruto-kun, eu devia mesmo voltar para aquele relatório.

Ele se fez de surdo, deitando-a completamente no sofá e lhe beijando na garganta, clavícula e indo para baixo.

— Naruto-kun... – ela para ser me tom de aviso, mas saiu mais como um suspiro.

Ele a beijou de novo e, sabendo que ele precisava mais dela do que Kakashi precisava daquele relatório que ele provavelmente nem iria ler mesmo – mas que ela provavelmente acordaria ridiculamente cedo para fazer – Hinata abraçou Naruto pelo pescoço e se pôs a garantir que ele não fizesse mais silêncio algum pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

NaruHina, aquele ship do hurt/comfort/fluff, como não amar?

Esse plot apareceu outro dia aí, resolvi escrever. Pra mim se passa mais ou menos no mesmo universo da fic anterior, mas pode ser lida como independente também.



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